Vilão da Minha Própria Novel - Capítulo 11
Capítulo 11 – A Prova na Spectra(5)
Após a saída do grupo de Arthur, o silêncio tomou conta do lugar, pesado e estranho.
O corredor à frente, antes guardado com tanta ferocidade por Morbus, parecia mais vasto e sombrio agora que não havia monstros à vista.
A única coisa que restava era a sensação de que aquele lugar ainda escondia algo importante.
O grupo avançava devagar.
A tensão da batalha havia diminuído, mas todos ainda sentiam o peso do cansaço.
Enquanto caminhavam, os olhos eram atraídos por detalhes nas salas ao redor, itens escondidos em meio à poeira e às ruínas, esperando para serem descobertos.
― Ei, olha isso!
Alex chamou a atenção do grupo, segurando um cristal azul nas mãos.
Maya inclinou a cabeça, observando o cristal com atenção.
― Eles não deveriam ser dropados dos monstros?
Evan que estava quieto até então respondeu.
― Deve ser porque o monstro que derrotamos era forte. Então seria justo ganharmos cristais de graça sem ter que matar monstros por isso.
Do outro lado, Jenna mexia em uma prateleira quase desmoronando, seus dedos afastando o pó acumulado. Quando encontrou algo, seus olhos se arregalaram.
― Acho que encontrei alguma coisa!
Todos se voltaram para ela enquanto Jenna segurava um pergaminho antigo, com inscrições que brilhavam fracamente.
― Isto parece… importante.
Ela examinava os símbolos que dançavam pela superfície do papel.
Maya, como sempre, se aproximou, olhando de perto.
― Um pergaminho? Pra que serve?
Jenna demorou um segundo antes de abrir um sorriso de surpresa.
― É um pergaminho de retorno! Ele nos permite voltar direto para a Spectra e finalizar a prova.
Alex ergueu uma sobrancelha enquanto girava o cristal nas mãos.
― Então a gente pode terminar agora? ― Sem mais correria, sem mais monstros?
Jenna acenou.
Maya cruzou os braços, ponderando.
― Parece útil, mas talvez seja melhor guardar. Se as coisas derem errado mais tarde, pode ser a nossa única saída.
Alex deu de ombros, mas concordou.
― Justo. Além disso, a gente ainda pode encontrar mais pedras ou algo ainda melhor. Não vale a pena parar agora.
Jenna guardou o pergaminho com cuidado na bolsa enquanto o grupo retomava o caminho pelos corredores.
A falta de inimigos parecia um alívio, mas o ambiente ainda tinha um peso estranho, como se algo estivesse prestes a acontecer.
Evan, quieto como sempre, vinha mais atrás.
Seus passos eram pesados, e seus olhos estavam fixos à frente, mas era óbvio que sua cabeça estava em outro lugar.
Ele não dizia nada, mas o jeito como parecia observar cada detalhe ao redor deixava claro que ele percebia mais do que os outros.
― Será que ele tá bem? ― Maya murmurou para Jenna.
― Hmm… eu não sei, acho que―
Mas antes que pudesse responder, Alex a chamou de volta para ajudá-lo a vasculhar outra sala.
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A cada item que coletávamos, eu sentia um alívio momentâneo, não queria ficar atrás da outras equipes em questão de pontos.
No entanto, não conseguia ignorar Evan.
Ele estava ali, caminhando conosco, mas era evidente que algo não estava bem.
Seu andar era pesado, não apenas pelo cansaço físico, mas por algo mais profundo.
Parecia perdido em pensamentos, como se algo pesado o acompanhasse.
― Eii, está tudo bem?
Minha voz quebrou o silêncio, talvez mais incisiva do que eu pretendia, mas não consegui evitar.
Ele levantou os olhos, um esforço óbvio para esconder o que quer que estivesse sentindo.
― Sim, só exagerei um pouco na energia mágica. Nada grave.
‘Será mesmo?’
Havia algo em seu tom que não me convencia.
‘Rachel e ele conversaram sobre algo que o deixou assim? Não, me lembro de ter ouvido boa parte da conversa, mesmo que sem querer.’
O silêncio dele sempre foi algo que me incomodava, mas, resolvi respeitar sua distância.
“……”
“…”
O som de nossas botas ecoava pelos corredores vazios da estrutura.
Cada passo parecia mais lento, mais arrastado, enquanto a lanterna mágica de Jenna iluminava as paredes desgastadas e os objetos cobertos de poeira ao redor.
De repente, uma claridade inesperada surgiu.
“Shhssh…”
A luz do dia nos cegou por um momento quando emergimos em uma área aberta.
Os corredores estreitos deram lugar a um espaço amplo e peculiar, com construções antigas espalhadas pelo campo.
― Isso era inesperado.
Não pude evitar a surpresa pela mudança repentina no ambiente.
Evan estava ao meu lado.
Seus olhos percorreram o local com uma expressão que era difícil de ler. Talvez alívio, talvez algo mais.
― Parece que estamos do lado de fora novamente, ― disse ele.
Era como se ele estivesse mais falando consigo mesmo do que com o grupo.
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Deixamos o momento de surpresa passar e voltamos à tarefa de explorar.
Enquanto os outros vasculhavam as construções, Evan parou repentinamente, o olhar fixo em um ponto na parede antiga à sua frente.
Seus olhos pareciam distantes.
Por alguns segundos, ele permaneceu imóvel, o cenho ligeiramente franzido, como se analisasse algo invisível aos olhos dos outros.
‘O que ele está olhando tão fixamente?’, ― pensei, mas antes que eu pudesse questioná-lo, ele se virou, quebrando o silêncio.
― Pessoal, vou dar uma olhada ali, ― disse ele, apontando para uma área afastada.
Sua voz estava calma, mas firme, carregando um tom que claramente não esperava objeções.
― Acho que tem algo… interessante.
A maneira como ele falou, como se já soubesse o que estava procurando, era intrigante.
Não era o tipo de observação casual de alguém que apenas explorava um lugar novo.
Alex, que estava do outro lado, franziu o cenho e deu um passo em direção a Evan.
― Vai sozinho? Posso ir com você, caso…―
― Não precisa, ― Evan o interrompeu com um aceno.
― Continuem procurando por aqui. Não vou demorar.
Havia algo em seu tom que fez todos pararem.
Nenhum de nós insistiu.
Eu o observei por mais um momento antes de desviar o olhar, focando na tarefa à frente.
Enquanto Evan se afastava, Alex quebrou o silêncio se sentando no chão:
“Sigh” ― Será que deveríamos usar o pergaminho agora? Não sabemos o que mais pode aparecer, e já temos bastante pontos com as pedras que encontramos.
Maya respondeu primeiro, cruzando os braços enquanto olhava para o céu.
― Talvez. Mas também seria bom encontrar o artefato principal. É o que dá mais pontos, não é?
Jenna, sempre meticulosa, hesitou.
― Sim, mas não dá pra esquecer o que Evan disse, se formos gananciosos por querer o artefato principal, podemos acabar perdendo o que já conseguimos para outras equipes. E sinceramente, já estou quase no meu limite.
― O mesmo para mim. Vamos esperar Evan voltar esperar o Evan voltar, ai decidimos.
Assenti, mas minha mente já estava longe dali.
Meus olhos instintivamente seguiram na direção em que Evan desapareceu, e uma sensação estranha se instalou no fundo do meu peito.
‘O que ele está procurando?’
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O silêncio na floresta era quase opressor, como se a natureza tivesse prendido a respiração.
As árvores altas projetavam sombras longas e retorcidas sob a luz fraca, criando formas indistintas que pareciam se mover à medida que Evan avançava.
O ar estava denso, carregado com algo que ele não conseguia identificar, mas que pressionava seu peito como um peso invisível.
Cada passo ecoava levemente no chão úmido, os galhos secos estalando sob seus pés.
“Creak.”
Evan parou por um momento, olhando ao redor, seus olhos atentos varrendo a escuridão entre as árvores.
― Até quando você pretende ficar só me observando?
Ele deu mais alguns passos, parando em uma pequena clareira.
As sombras ao seu redor ondulavam sutilmente, reagindo ao seu estado de espírito.
Suas mãos se apertaram em punhos, enquanto ele girava a cabeça, tentando localizar algo. Ou alguém.
― Se tem algum assunto comigo, apareça logo. Não gosto de jogos.
O vento soprou, mas o som foi estranho, como um sussurro carregado pelo ar.
As árvores se inclinaram levemente, e o ambiente ao redor pareceu mergulhar em uma escuridão ainda mais densa.
A pouca luz que atravessava as copas das árvores começou a desaparecer, como se estivesse sendo engolida.
“Shhhhk…”
Um som baixo, como o de algo se movendo pela terra, alcançou os ouvidos de Evan.
Ele não recuou.
Suas sombras reagiram contra a sua vontade, tremulando ao seu redor como se soubessem o que estava vindo, prontas para atacar a qualquer momento.
Um som grave e abafado preencheu o espaço.
Uma luz suave, prateada e fria, surgiu do chão da clareira, espalhando-se como um riacho que fluía em todas as direções.
Conforme a luz se expandia, partículas brilhantes começaram a se agrupar, rodopiando como poeira carregada pelo vento.
E então, do centro desse brilho surreal, surgiu a figura.
Primeiro vieram as asas.
Enormes e intricadas, pareciam feitas de um material que desafiava a lógica, oscilando entre um tecido de estrelas e névoa densa.
Eram imponentes, mas silenciosas, estendendo-se com uma leveza sobrenatural.
Logo, o restante da figura tomou forma.
Era uma entidade feminina, mas de uma beleza perturbadora e impossível de definir.
Seus traços mudavam levemente, como se nunca fossem feitos para serem capturados pela visão humana. Seus olhos, dois orbes vermelhos brilhantes como galáxias distantes, refletiam a vastidão do cosmos e o vazio absoluto ao mesmo tempo.
Suas vestes, escuras como a penumbra, pareciam um mar em constante movimento, envolvendo-a como se fossem parte de sua própria essência.
E então ela falou.
― Finalmente, nos encontramos, Evan.
A voz dela não era alta, mas reverberava na clareira como se a própria realidade estivesse moldada em torno de suas palavras.
Evan deu um passo para trás, as sombras ao seu redor reagindo imediatamente, ondulando com ferocidade.
Ele levantou as mãos, moldando-as em tentáculos negros que tremulavam no ar, prontos para atacar.
― Como você sabe meu nome? O que você quer de mim?
Mesmo com uma voz firme, mas havia tensão em suas palavras.
A figura inclinou levemente a cabeça, os olhos brilhantes fixos nele.
― Não pergunte o que quero, mas o que tu buscas, ― disse ela, cada palavra carregada de um peso esmagador.
― Sou uma observadora. Testemunha dos destinos entrelaçados. E você… você é uma dissonância.
Evan franziu o cenho, a palavra “dissonância” ecoando em sua mente como uma nota fora de tom.
‘Dissonância? O que ela quer dizer com isso? Por acaso está falando de mim estar aqui… nesse mundo que eu criei?’ ― ele pensou, sentindo um aperto incômodo no peito.
A ideia de ser algo que não deveria existir, uma falha no fluxo natural, era ao mesmo tempo absurda e inquietante.
‘Mas… como ela sabe sobre isso? Nunca havia mencionando um ser assim em minha novel’
Seu olhar estreitou enquanto a entidade continuava a encará-lo, mas as dúvidas permaneciam.
― Dissonância?
Evan apertou os punhos, as sombras ao seu redor vibrando com intensidade crescente.
― Não estou interessado nos seus enigmas. Se tem algo a dizer, diga logo.
Um leve sorriso curvou os lábios da entidade, mas não havia humor nele. Apenas uma quieta melancolia.
― Arrogância e medo… sempre andando lado a lado. Não há necessidade de esconder um com o outro.
― Argh…!
O ar ao redor parecia solidificar, prendendo-o em um aperto invisível.
Ele tentou mover os braços, mas era como se correntes invisíveis tivessem se fechado ao seu redor.
Suas sombras reagiram, lançando-se como lâminas negras na direção dela, mas assim que se aproximaram, desapareceram na energia que circundava a entidade, tragadas como se nunca tivessem existido.
Ele cerrou os dentes, lutando contra a pressão esmagadora enquanto sua mente martelava com um único pensamento:
‘É assim que termina?’
A consciência de Evan parecia começar a esvair-se, como se o aperto não apenas dominasse seu corpo, mas drenasse sua própria alma.
O mundo ao seu redor parecia distante, cada som abafado, cada sensação mais fraca, enquanto uma escuridão iminente ameaçava consumi-lo.
Não havia mais nada que ele pudesse fazer; suas sombras haviam falhado, e ele já estava quase no limite por conta da batalha anterior. O peso ao seu redor parecia inescapável.
Sua visão oscilava, e, ao mesmo tempo que a força o abandonava, a pergunta emergiu de forma frágil, quase arrancada de seus lábios.
― O… que… você… quer?
Sua voz saiu irregular, quebrada, cada palavra arrancada de seu peito como se pesassem toneladas.
De repente, a pressão que o imobilizava começou a diminuir.
O aperto esmagador que prendia seu corpo afrouxou, mas não trouxe alívio imediato.
Em vez disso, algo ainda mais desconcertante aconteceu.
A entidade se aproximou, movendo-se de forma etérea, como se deslizasse pelo ar.
Evan tentou recuar, mas não havia para onde ir.
Ele esperava um ataque fatal, dor, ou mesmo a morte. Mas o que encontrou foi completamente diferente.
Sem aviso, o ser o envolveu em um abraço.
Não parecia um toque físico, mas algo além da compreensão.
A essência dela parecia se projetar, envolvendo a alma de Evan em uma onda etérea.
Era ao mesmo tempo leve como o vento e esmagadora como o peso de uma montanha.
Evan ficou imóvel, confuso.
O calor que o cercava era estranho, quase reconfortante, mas o peso emocional era insuportável, como se cada pedaço de sua existência fosse avaliado.
― Tua alma carrega um destino… sombrio, o que antes parecia destinado a se perder, já não existe. E, mesmo assim, aqui estás, resistindo àquilo que não podes mudar.
As palavras dela ecoaram dentro de Evan, atravessando a barreira de sua determinação com uma melancolia cortante.
A presença dela parecia menos ameaçadora agora, mas ainda carregava um peso que ele não conseguia compreender.
― Sinto muito, Evan.
O arrepio percorreu sua espinha novamente.
A frase, dita com uma voz quase gentil, o desconcertou mais do que qualquer ataque.
Ele tentou reagir, suas sombras se agitando ao seu redor, mas era inútil.
A força que antes sentia parecia ter sido sugada, deixando apenas um vazio momentâneo.
Evan sentia seu corpo estremecer, mas não tentou escapar.
Sua mente gritava para reagir, mas o cansaço, o peso emocional e a sensação esmagadora dela o mantiveram imóvel.
― Quero ver até onde vais, Evan. Quero ver… o quanto pretendes mudar do destino que te aguarda.
O tom dela parecia um sussurro, mas cada palavra reverberava como se o ambiente inteiro as carregasse.
― O que… você está… ― tentou perguntar, mas sua voz falhou.
Sua visão começou a turvar, e um som distante, como um vento melancólico soprando em um desfiladeiro, preencheu sua mente.
― Descansa, Evan, ― murmurou a entidade, quase como um lamento.
― Há mais para ver, e ainda mais para carregar.
As últimas palavras dela vieram como um sussurro que parecia reverberar dentro de sua alma.
Antes que ele pudesse processar, o peso em sua consciência se tornou insuportável.
Sem conseguir lutar, sem palavras ou forças, a consciência de Evan desvaneceu-se completamente, deixando apenas o silêncio eterno que os envolvia.
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O som abafado das botas contra o chão de pedra ecoava ao meu redor enquanto caminhávamos pelas ruínas.
― Acho que isso é tudo aqui, ― disse Maya, terminando de guardar os cristais que estava contando.
― Nada mal, pelo menos não saímos de mãos vazias.
Alex estava sentado no chão, girando uma flecha entre os dedos.
― Será que Evan encontrou algo? Ele já deveria ter voltado, não?
Jenna sentada na beira de uma parte da construção desmoronada. Seus dedos arrancavam pequenos tufos de grama do chão, como se isso fosse a única forma de fazer o tempo passar.
― Verdade… ele disse que não demoraria.
Alex franziu o cenho, mas eu já estava ajustando a espada ao lado, pronta para agir.
― Eu vou ver o que ele está fazendo, ― disse de forma direta, cortando qualquer possibilidade de discussão.
Alex ergueu a mão, hesitante.
― Quer ajuda?
― Não. Fiquem aqui, eu sei por qual caminho ele foi, e será mais rápido se eu for sozinha.
Sem esperar resposta, me afastei do grupo, seguindo o caminho por onde Evan havia desaparecido.
“…..”
Enquanto avançava pelo caminho percebia a atmosfera ao meu redor mudar gradualmente.
As paredes de pedra deram lugar a uma trilha apertada entre árvores altas e raízes expostas.
O vento soprava baixo, mas havia algo diferente.
O chão úmido rangia sob meus pés.
‘Por que isso parece tão… estranho?’
Avancei mais, uma névoa rastejante começou a se formar entre as árvores, envolvendo tudo com um abraço gélido.
“Huff…”
Minha respiração estava irregular, cada passo trazia uma nova sensação de desconforto.
A floresta parecia mais viva, mas não no bom sentido.
‘será que ele encontrou algum monstro?’
O silêncio ao redor era opressor.
De repente, um som ecoou.
“Crrrkk!”
Meu corpo congelou por um segundo.
Meus olhos varreram a área, buscando a origem do som.
― Evan?
Chamei, mas minha voz parecia ser engolida pela névoa densa, abafada como se o próprio ambiente conspirasse para silenciá-la.
Senti meu coração martelar no peito, ecoando na minha cabeça como um tambor frenético.
Respirei fundo, tentando afastar o pânico que ameaçava tomar conta.
Apertei o cabo da espada, sentindo o suor em minhas palmas, e dei mais alguns passos cautelosos.
As árvores ao redor pareciam dobrar em minha direção, seus galhos torcidos como garras afiadas, sombras grotescas projetadas pela pouca luz que restava.
E então, finalmente, algo rompeu a névoa.
Uma figura ao longe.
― ~Evan?…
O ar escapou dos meus pulmões.
Corri sem hesitar, o som abafado dos meus passos no chão úmido e minha respiração ofegante preenchendo o silêncio.
“Huff, huff…”
A cada passo, a cena à frente se tornava mais clara, e um nó apertava meu estômago.
Evan permanecia de pé, mas seu corpo estava rígido, como se estivesse preso em algo invisível, incompreensível.
Ao redor, a névoa parecia ganhar forma, distorcendo-se em sombras ondulantes, mas foi a figura diante dele que congelou meu olhar.
A mulher era ao mesmo tempo fascinante e aterrorizante.
Ela vestia algo difícil de descrever, como se fosse tecido de sombras e luz.
Das costas, asas negras se expandiam, elas se moviam suavemente, quase como se tivessem vida própria, ignorando qualquer lógica.
Os braços dela estavam ao redor de Evan, em um abraço.
― Ei! Solte ele!
Minha voz cortou o silêncio pesado do ambiente, carregada de uma mistura de raiva e medo.
A figura não reagiu imediatamente.
Lentamente, ergueu o rosto na minha direção, e nossos olhares se encontraram.
Senti um calafrio intenso.
Seus olhos eram como um abismo cintilante, refletindo algo vasto demais para ser compreendido.
Olhá-los me fazia sentir pequena, insignificante, e meu instinto gritava para recuar.
Mas não recuei.
― Eu disse, solte ele!
Minha voz foi mais firme, mas meus pés hesitaram.
O ambiente parecia pesado, como se o ar ao meu redor tivesse se tornado denso e sufocante.
A entidade inclinou a cabeça, quase como se estivesse me estudando.
Finalmente, seus braços se afastaram de Evan, e ela o colocou no chão com um cuidado que parecia intencional.
Ele estava desmaiado, mas respirava.
‘Pelo menos ele está vivo’, pensei, mesmo que a sensação de alívio fosse temporária.
― O que você fez com ele?
Minha voz soou como um desafio, mas a mulher apenas me observou com uma calma inquietante.
― Ele caminha por um destino que tenta reescrever, mas o quanto ele pode mudar é algo que apenas o tempo dirá.
Franzi o cenho, minhas mãos apertando o cabo da espada.
― Pare de jogos idiotas. Quem é você? E por que está aqui?
Por um momento, o silêncio voltou.
Seus olhos se fixaram nos meus, e a sensação de ser despida por aquele olhar era insuportável.
Então, ela inclinou a cabeça levemente, como se achasse a pergunta desnecessária.
― Sou uma testemunha. Do que foi, do que é… e do que está por vir.
Seus olhos brilharam, e sua próxima frase fez meu corpo gelar.
― E tu, Seraphina, estás mais entrelaçada a este destino do que podes imaginar.
Meu nome saindo de seus lábios foi o suficiente para disparar algo em mim.
O medo deu lugar à raiva, e antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, eu me movi.
― Cale a boca!
Ergui minha espada e avancei, desferindo um golpe direto.