Thanatos: O Fardo da Honra - Capítulo 10
Praticamente entrei correndo na forja, ansioso, procurando a encomenda que já deveria ter sido entregue. Aquela seria minha desculpa. Contudo, não foi isso que aconteceu. Esdom não me recebeu de bom humor.
— Moleque maldito! Além de faltar por um dia, ainda chega fuçando em tudo! Acha que a forja é brincadeira?
— Não, eu estava na academia.
— Academia! Que merda você foi fazer lá?
— Chiaro achou que seria bom.
— Bom para quem? — rosnou Esdom. Ele sempre fazia isso quando discordava de alguma coisa.
— Pegue a marreta e me ajude com este machado. Já que está aqui, vai trabalhar!
— Como vou trabalhar com o braço quebrado? — protestei, indignado.
Esdom fixou o olhar no meu braço. Deixou o machado de lado e se aproximou para examinar. Sem tirar o braço da tipoia, apertou-o. A dor foi tão forte que fez todo o meu corpo estremecer, mas não soltei nenhum gemido. O ferreiro era um bom homem, mas odiava escândalos. Cada gemido seria retribuído com mais dor.
— “Um ferreiro não pode gritar por qualquer dorzinha. Seja homem”, dizia ele sempre.
— Pegue a marreta.
— Eu já falei, meu braço está quebrado!
A impaciência de Esdom era nítida, e isso me deixou temeroso.
— Quem você acha que é, molecote, pra me ensinar alguma coisa? Já vi coisas que fariam você tremer de nojo. Acha que no campo de batalha você pode parar de lutar quando cortam seu braço tão fundo que você ouve a lâmina roçar no osso? Não pode! — Ele mostrou uma cicatriz.
— Não pode parar de lutar quando furam sua barriga e você não sabe se é sangue ou bosta saindo da ferida, ou os dois. — Mostrou outra cicatriz.
— Nem quando te apunhalam pelas costas! Ou você luta, ou você morre!
Ele me encarou, feroz:
— Aprenda de uma vez por todas, moleque. Ninguém se importa com sua dor. Pegue a marreta e me ajude. Seu braço não está quebrado.
Abaixei a cabeça, tirei o braço da tipoia e senti a pior dor da minha vida. Trinquei os dentes quando apertei o cabo da marreta. Ela pesava cerca de cinco quilos, mas naquele dia parecia mil. A primeira martelada descansou no chão. A segunda acertou o machado, e eu desejei não ter conseguido. A vibração do cabo me fez suar frio. Eu já tremia de dor e estava prestes a desmaiar, mas o grito do ferreiro me despertou:
— O QUE VOCÊ ESTÁ ESPERANDO?! Se o aço esfriar, vai ser pior.
Naquele momento, pensei seriamente em largar a marreta e correr para chorar nos braços da minha mãe, mas não o fiz. A dor seria terrível, mas eu não tinha escolha. Apertei o cabo com força e o soltei com ódio contra o lingote que já estava quase negro. A dor era indescritível.
Encostei na parede, respirando rápido e fundo. O gosto de sangue enchia minha boca enquanto espasmos percorriam meu corpo. Observei quando Esdom tirou o machado da bigorna e o colocou de volta no forno. Agradeci aos Deuses Brancos pelos preciosos minutos de descanso. Quando o aço voltou a ficar vermelho, lancei-me outra vez à tortura. A cada martelada, o ódio aumentava, e a dor, embora ainda presente, parecia diminuir.
Por fim, já estava trabalhando normalmente, como em todos os outros dias na forja. As marteladas, antes disformes e hesitantes, agora eram firmes e precisas. Senti orgulho quando o machado ficou pronto — e vergonha por ter pensado em desistir.
— Meu braço estava doendo muito, achei que estava quebrado.
— Você acha muita coisa. Já está na hora de começar a saber. Vá para casa. Amanhã, quero você cedo aqui.
Tentei encontrar Izi, mas ela estava fora, entregando frascos de aromas na vila interna.
Quando cheguei em casa, minha mãe estava furiosa.
— Onde você estava, Kannof Marru?
Engoli em seco.
— Meu braço não estava quebrado, mãe — falei, tentando amenizar a situação.
— Você mal conseguia segurar um copo, e agora me aparece todo sujo! Você estava trabalhando?
— Meu braço não está doendo mais, mãe! Ele não estava quebrado.
— Venha aqui, quero ver!
Ela apertou meu braço várias vezes. Quando viu que eu não reagia, disse:
— Vamos ver daqui a uma hora…
E ela estava certa. Quase não dormi aquela noite. A dor no braço era insuportável. Minha mãe entrou no quarto, furiosa ao ouvir meus gemidos.
— Eu avisei! — Ela examinou meu braço, mediu minha temperatura com as costas da mão e me deu uma longa bronca.
— Eu sei, mãe, mas amanhã vou trabalhar — respondi, com firmeza. Seu olhar reafirmou cada palavra do discurso. Eu estava com febre e dores por todo o corpo, mas precisava trabalhar. Era a única forma de ver Izi.
— Faça como quiser! — ela resmungou, saindo irritada do quarto. “Igualzinho ao seu pai”, murmurou.