Reencarnado no Reino das Sombras (Novel Nacional) - Capítulo 04
Capítulo 04: “O Caminho Entre Sombras”
Lucas ainda sentia a cabeça rodar. A ideia de ser o “Escolhido das Sombras” parecia absurda, quase como se fosse um pesadelo do qual ele não conseguia acordar. O império de Noctaris, o equilíbrio entre luz e sombras, tudo parecia grande demais, longe demais da sua realidade. No entanto, ali estava ele, rodeado por pessoas que o encaravam como se fosse a última esperança de um mundo à beira do colapso.
— Espera, espera… — Lucas ergueu as mãos, sua voz tensa. — Como assim “restaurar o equilíbrio”? Eu nem sei onde estou, quem são vocês, ou o que está acontecendo! Isso tem que ser algum tipo de engano.
O homem mais velho, de barba grisalha, deu um passo à frente. Sua postura era tranquila, mas seus olhos revelavam uma seriedade intensa.
— Não é um engano, garoto — disse ele, a voz rouca mas firme. — Meu nome é Renato, e sou um dos Guardiões da Ordem. Esta é Marina — ele apontou para a mulher de cabelo negro, que ainda o observava com cautela —, e este é Tiago — o jovem de olhos atentos acenou levemente. — Fomos enviados para encontrá-lo.
— Mas eu não sou ninguém especial — Lucas interrompeu, um desespero crescente em sua voz. — Eu só quero voltar para casa!
Marina deu um passo à frente, a expressão fria suavizando um pouco.
— Eu entendo como você se sente — ela disse, sua voz mais baixa. — Todos nós, em algum momento, queríamos voltar. Mas o Guardião não o teria trazido aqui se você não fosse essencial. O equilíbrio entre a Luz e as Sombras está quebrado, e sem você, Noctaris pode ser destruído.
Lucas abriu a boca para argumentar, mas foi interrompido por Tiago, que agora se aproximava mais.
— Você acha que isso é só um sonho? — disse ele, quase num sussurro. — Que pode acordar a qualquer momento e tudo estará bem de novo? Isso é real. Noctaris é real. As Sombras são reais. E se não fizermos algo, esse mundo — nosso mundo — desaparecerá, e as consequências não se limitarão a Noctaris.
Lucas sentiu um calafrio descer por sua espinha. Ele estava confuso, perdido, e mais do que tudo, com medo. Tudo ao seu redor gritava para ele fugir, para encontrar uma saída, mas as palavras de Tiago pesaram em sua mente. Se aquilo era real, se ele realmente estava envolvido, o que aconteceria se ele simplesmente virasse as costas?
— E se eu disser que não quero? — Lucas perguntou, tentando esconder o tremor em sua voz. — E se eu me recusar a ajudar?
Renato suspirou pesadamente.
— Não temos o luxo dessa escolha, garoto. O Chamado já foi feito. As sombras já o escolheram. Se você tentar fugir, elas o seguirão. O único caminho agora é para frente.
Lucas sentiu o peso das palavras caírem sobre ele como uma tonelada. Fugir já não era mais uma opção. Mas ainda assim, ele não conseguia compreender o papel que teria que desempenhar. Ele, um garoto de 16 anos, que até dias atrás estava preocupado com provas e videogames, agora era a chave para salvar um império que nem deveria existir.
— Então, o que eu tenho que fazer? — perguntou ele finalmente, a resignação em sua voz.
Marina trocou um olhar rápido com Renato antes de responder.
— Primeiro, você precisa entender o poder que carrega — disse ela. — As sombras responderam ao seu Chamado, mas você ainda não sabe como controlá-las. Se entrar em Noctaris sem esse controle, será tão vulnerável quanto qualquer um de nós.
— Controlar as sombras? — Lucas olhou para suas próprias mãos, como se esperasse ver algo diferente nelas. — E como eu faço isso?
Tiago sorriu, pela primeira vez, mostrando uma ponta de empolgação.
— Você aprende — disse ele, puxando um pequeno objeto do bolso. Era uma pedra negra, que brilhava de forma sinistra sob a luz da lua. — Isso é uma Pedra das Sombras. Use-a como guia. As sombras vão responder a você, mas apenas se você estiver disposto a aceitá-las.
Renato deu um passo à frente, colocando a mão no ombro de Lucas.
— Não será fácil — ele disse. — As sombras são poderosas, mas traiçoeiras. Você precisará de tempo para dominá-las, mas esse tempo é algo que não temos muito.
Lucas observou a pedra nas mãos de Tiago. Algo nela o atraía, como se uma parte dele já a reconhecesse, mas, ao mesmo tempo, havia um medo profundo.
— Você não está sozinho, Lucas — Marina disse, sua voz mais suave. — Vamos estar ao seu lado, guiando-o até que esteja pronto.
Lucas não sabia se estava preparado para aquilo. Na verdade, sabia que não estava. Mas ali, na clareira, cercado por pessoas que confiavam cegamente nele, não parecia ter outra opção. Pegando a pedra das mãos de Tiago, ele respirou fundo.
— E agora? — perguntou, segurando o objeto com firmeza.
Renato e Marina se entreolharam antes de se afastarem um pouco.
— Agora, Lucas — disse Tiago com um sorriso malicioso —, é hora de enfrentar suas sombras.
De repente, as árvores ao redor deles começaram a tremer novamente. As sombras que antes estavam adormecidas sob o luar se agitaram, como se tivessem sido despertadas. Elas começaram a se mover, rastejando pelas raízes das árvores, subindo pelos troncos, envolvendo Lucas como uma cobra.
Lucas engoliu em seco, tentando não entrar em pânico, mas o medo o envolveu. As sombras começaram a sussurrar, chamando por ele, provocando-o. Ele tentou afastá-las, mas quanto mais ele lutava, mais fortes elas pareciam se tornar.
— Pare de resistir! — gritou Tiago. — As sombras não podem ser controladas pela força. Elas respondem à aceitação.
Aceitar? Como ele poderia aceitar aquelas coisas, quando tudo que queria era se livrar delas?
Lucas fechou os olhos e respirou fundo. As palavras de Tiago ecoaram em sua mente. As sombras não eram inimigas, pelo menos não ainda. Ele precisava aceitá-las, entender seu papel, mesmo que aquilo fosse contra tudo o que seu instinto dizia.
E então, de repente, ele relaxou. Parou de lutar. Parou de resistir. E, pela primeira vez, deixou as sombras se aproximarem.
As sombras se entrelaçaram ao redor dele, mas desta vez, ao invés de tentar sufocá-lo, elas pareciam… proteger. Como se estivessem esperando por sua permissão.
Lucas abriu os olhos e viu que as sombras, que antes se contorciam violentamente, agora estavam quietas. E ele, no meio de tudo isso, estava calmo.
Renato sorriu, cruzando os braços.
— Bem-vindo, Escolhido — disse ele. — Sua jornada finalmente começou.
Lucas respirou fundo, sentindo o poder das sombras ao seu redor. Ele ainda não entendia completamente o que aquilo significava, mas, de alguma forma, soube que sua vida nunca mais seria a mesma.
E Noctaris o aguardava.