Reencarnado no Reino das Sombras (Novel Nacional) - Capítulo 02
Capítulo 02: “O Portal das Sombras”
A escuridão o envolvia por completo. Lucas sentia o peso do vazio ao seu redor, como se o mundo tivesse desaparecido, deixando apenas ele e seus pensamentos flutuando no nada. Por alguns segundos, ele questionou se estava morto. Se aquilo era o que vinha após o fim. Mas então, uma luz fraca e azulada começou a brilhar, e ele percebeu que ainda estava ali… onde quer que “ali” fosse.
Suas pernas estavam trêmulas quando finalmente tocou o chão. O que antes parecia ser o túnel comum da cidade agora havia se transformado em algo completamente diferente. À sua frente, erguia-se um imenso portal negro, rodeada por sombras que pareciam vivas, dançando ao redor dela como serpentes.
Lucas olhou para suas mãos, ainda tremendo. Ele havia tropeçado em algo no túnel, e de repente tudo mudara. Isso não fazia sentido. Nada fazia. Ele deu um passo à frente, seus olhos fixos no portal misterioso. Mesmo que quisesse correr, fugir dali e fingir que nada daquilo era real, algo dentro dele o puxava para aquele portal, como se soubesse que a única resposta estava além dela.
As sombras pareciam se agitar, quase impacientes, como se estivessem esperando por ele.
— Isso… não pode ser real — murmurou, sua voz ecoando de volta em um sussurro assustador.
Respirou fundo e deu mais um passo, se aproximando do portal. Cada vez mais próximo, o ar ao redor dele parecia ficar mais pesado. O sussurro que ouvia antes voltou, mais claro agora, quase como palavras incompreensíveis sussurradas nas profundezas do vento.
“Venha…”
O som da palavra fez Lucas parar no mesmo instante. Não havia ninguém ali. Pelo menos, não que ele pudesse ver. E mesmo assim, ele sentia a presença de algo, ou alguém, escondido entre as sombras. Forçou-se a avançar, tentando ignorar o frio na espinha que aquela voz causava.
Quando finalmente alcançou o portal, Lucas estendeu a mão hesitante para o centro do portal. O centro estava frio, como se o portal estivesse ali há séculos, esperando por ele. No momento em que tocou o centro, as sombras ao redor do portal se acalmaram, parando de se mover.
Sem outra escolha, ele entrou no portal.
O portal se abriu lentamente, causando um “rugido” grave e profundo como se estivesse sendo usado pela primeira vez em muito tempo. O interior revelado não era o fim do túnel, como Lucas esperava, mas sim um espaço vasto e escuro, sem fim à vista. A luz azulada que o cercava aumentou de intensidade, revelando um caminho à sua frente, um chão de pedra gasta que se estendia em direção ao horizonte.
De repente, o portal atrás de Lucas se fechou com uma ventania forte.
— O quê? — ele correu de volta, tentando ver se ele ainda estava ali, mas era inútil. Ele não estaria. Estava preso naquele lugar desconhecido.
Ele olhou ao redor, procurando por algum sinal de vida, algum indicativo de que não estava completamente sozinho naquele mundo bizarro. Mas tudo que ele via eram sombras que se moviam e sussurravam, se escondendo à beira de sua visão. A cada passo que dava, o eco de seus passos soava mais alto do que o esperado, como se o vazio ao seu redor amplificasse o som.
Lucas andou por alguns minutos, seus olhos fixos na escuridão à sua frente. Ele não tinha certeza de onde estava indo, mas sabia que precisava continuar. Era a única opção. O caminho à sua frente parecia interminável, e o silêncio era tão opressor que ele podia ouvir sua própria respiração ofegante.
Foi então que algo chamou sua atenção. À distância, ele avistou uma luz fraca piscando. Sem pensar duas vezes, ele começou a correr em direção a ela, seu coração batendo forte. À medida que se aproximava, a luz ficava mais clara, até que finalmente chegou a uma espécie de praça subterrânea, onde uma única lâmpada flutuava no ar, iluminando vagamente o que parecia ser uma figura encapuzada, sentada em uma grande cadeira de pedra.
— Finalmente, você chegou — a voz da figura era baixa, quase um sussurro, mas firme.
Lucas parou bruscamente, o coração na garganta. Ele não conseguia ver o rosto da pessoa sob o capuz, mas a presença dela era imponente. De repente, tudo ao redor parecia muito mais denso, como se o ar tivesse ficado mais pesado.
— Quem… quem é você? — Lucas conseguiu perguntar, embora sua voz soasse muito mais fraca do que gostaria.
A figura se levantou lentamente, cada movimento calculado, quase como se o tempo ali seguisse suas próprias regras.
— Eu sou o Guardião deste lugar — respondeu a figura, dando alguns passos em direção a Lucas. — E você, Lucas, foi chamado aqui por um motivo.
Lucas ficou ainda mais confuso. Como aquela pessoa sabia seu nome? E, mais importante, que lugar era aquele?
— Que lugar é esse? — ele insistiu. — E como você sabe meu nome?
A figura parou na frente dele, a luz fraca revelando apenas um leve sorriso no rosto encapuzado.
— Este é o Portal das Sombras, e seu nome… foi sussurrado pelas próprias sombras. Você é especial, Lucas. Você foi escolhido.
Lucas deu um passo para trás, sentindo o pânico começar a subir.
— Escolhido? Eu? Não! Eu só quero voltar pra casa!
A figura riu baixinho, o som ecoando no vazio ao redor deles.
— Voltar? — a figura sacudiu a cabeça lentamente. — Não há mais “voltar”, Lucas. O caminho para o Império de Noctaris já foi aberto. E agora, você deve descobrir por que foi trazido aqui.
Lucas tentou processar o que ouvia, mas era demais. A palavra “Império de Noctaris” ecoava em sua mente. Ele estava preso em um pesadelo. Não havia outra explicação.
— O quê… o que você quer de mim?
— Não é o que eu quero — disse o Guardião, sua voz se tornando mais séria. — É o que você deve fazer. O equilíbrio entre a luz e a escuridão está em jogo. E, acredite ou não, você está no centro disso.
Antes que Lucas pudesse responder, as sombras ao redor começaram a se mover novamente, mais rápidas e agitadas. Ele sentiu o chão tremer levemente sob seus pés, e de repente, tudo ficou claro.
Ele não estava mais no túnel. E, de alguma forma, sabia que sua vida nunca mais seria a mesma.