Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 445
Capítulo 445
Restos (1)
A Rainha dos Demônios da Noite, Noir Giabella, não sonhava. Mais precisamente, ela não podia.
Quase não havia nada que ela não pudesse alcançar na realidade. Mesmo as tarefas aparentemente impossíveis podiam ser realizadas com um pouco de esforço ou problema.
Ainda assim, havia momentos em que ela ansiava por desfrutar de sonhos, mas mesmo assim, Noir não sonhava enquanto dormia. Para ela, criar e desfrutar dos sonhos dos outros era muito mais fácil e conveniente do que sonhar em seu próprio sono.
Apesar de ser conhecida como a Rainha dos Demônios da Noite, ela não conseguia sonhar seu próprio verdadeiro sonho, um sonho que ela não perceberia que era um sonho até acordar.
Então, ela queria experimentar um sonho.
Esses eram os pensamentos que ela havia entretido em um momento.
Infelizmente, tais sonhos não eram algo que ela poderia ter apenas fazendo um desejo. Alguma vez ela sentiu arrependimento por isso? Ela não tinha certeza. Esses sentimentos eram um tanto estranhos para Noir.
— Hmm… — ela ponderou.
Era o mesmo agora. Ela estava sentada no meio de sua vasta cama e piscava em contemplação. Era uma cama grande o suficiente para dezenas de pessoas.
Hmmm.
Só porque ela não sonhava não significava que ela não dormia. Embora um demônio do calibre dela não precisasse mais dormir, Noir escolheu dormir diariamente por uma duração determinada. Embora ela não precisasse dormir, ela não sentia a necessidade de pular o sono também.
Ela caiu em pensamento enquanto brincava com seu cabelo desgrenhado.
Ela não podia ter certeza absoluta, já que era a primeira vez que experimentava isso, mas ela se perguntou se havia acabado de sonhar seu primeiro sonho. Parecia um sonho. Ela sentia como se isso fosse o que sonhar seria, um sonho que alguém não poderia se lembrar. Suas memórias desapareceram no momento em que ela acordou de seu sono, e apenas emoções tênues ficaram para trás.
— O que foi…? — ela murmurou, tentando lembrar o que viu enquanto se envolvia nos cobertores.
Falhando em recapturar o sonho, ela se deitou novamente depois de rolar em sua cama. Ela havia ouvido sobre essa sensação daqueles que sonhavam regularmente enquanto dormiam.
O que ela sentia era o desejo persistente de continuar um sonho inacabado. Mesmo depois de acordar, ela queria fechar os olhos e adormecer. Ela queria continuar de onde havia parado.
Então ela fechou os olhos e convidou o sono. Ela não precisava se esforçar e facilmente voltou a dormir profundamente.
Mas apenas dezenas de minutos depois de começar a respirar pacificamente em sono profundo, seus olhos se abriram repentinamente.
— Não está funcionando — Noir comentou.
Ela percebeu que não tinha sonhado nada. Além disso, ela tentou conscientemente criar um sonho em seu sono, mas não conseguiu capturar a mesma sensação.
Em primeiro lugar, ela havia adormecido esperando uma continuação de seu sonho anterior, mas ela não conseguia nem lembrar qual sonho tinha sonhado. As emoções tênues eram tudo o que restava.
— O que foi? — ela repetiu enquanto emergia dos cobertores.
Seu cabelo ficou mais desgrenhado enquanto ela se revirava, tentando agarrar as emoções desaparecendo. Ela mais uma vez contemplou as emoções que desapareciam.
Ela não conseguia lembrar o conteúdo do sonho. As emoções persistentes eram… Eram tristeza, saudade ou arrependimento? Ela sentia que deviam ter sido emoções tão pungentes.
— É a estação? — ela brincou consigo mesma.
— A estação? — Noir deu uma risada vazia enquanto saía da cama. Ela arrumou seu cabelo e recriou seus chifres, que havia removido enquanto dormia.
Noir tentou sacudir as emoções e se livrar delas, mas elas teimosamente se agarraram a ela. Os sentimentos, inicialmente tênues, haviam afundado profundamente em seu coração. Ela não conseguia tirá-los da cabeça.
— Sobre o que era o sonho? — Ela pensou enquanto olhava para o espelho, mas não conseguia lembrar de nada. Frustrada, ela tocou seu rosto, bateu em sua têmpora e despenteou seu cabelo cuidadosamente penteado.
Então, de repente, ela percebeu seu colar e o anel em seu dedo anelar esquerdo. Ela nunca os tirava, nem mesmo enquanto dormia, embora dormisse nua. Durante o último mês, eles haviam sido seus companheiros constantes.
— Hmm… — ela murmurou.
Lembrando-se da noite que se estendeu até o amanhecer, representando as doces memórias, emoções e reminiscências, ela sentiu um doce flutter em seu coração. Ela estendeu sua mão esquerda.
O anel em seu dedo branco e esguio brilhava intensamente. Depois de observar o anel em seu dedo por um momento, ela ergueu o outro anel entrelaçado com seu colar.
Noir Giabella — esse era o nome gravado no interior do anel. Noir colocou o anel em seus dedos enquanto sentia o batimento em seu coração. Esse era o anel que um dia seria usado por Hamel enquanto ele respirava seu último suspiro. O anel era feito para se encaixar perfeitamente no dedo anelar de Hamel, e era muito grande até mesmo para o polegar de Noir.
— Mãos grandes — ela pensou, recordando os dedos robustos de Hamel, ou melhor, de Eugene. Suas mãos poderiam envolver completamente as dela. Ela riu enquanto agitava sua mão de forma brincalhona.
— Eu sinto sua falta — Noir murmurou enquanto convocava uma tela holográfica no ar.
A tela exibia o parque aquático na Adventure Square, onde Eugene estava sentado sob um guarda-sol, seu rosto inconfundivelmente carrancudo. Mesmo através da tela, era evidente que ele não queria estar lá e tinha sido arrastado pelas crianças.
— Já é hora de partir? — Noir se perguntou.
Havia se passado um mês desde que Eugene chegou ao Parque Giabella.
A situação em Nahama havia mudado. Embora não fosse anunciado abertamente, Noir sabia que Nahama estava à beira da guerra. O Sultão devia ter decretado isso, mas Amelia Merwin, escondida em Ravesta, era a verdadeira força por trás disso.
Desde aquele amanhecer, Noir não havia visitado Eugene.
Ela não queria diluir as intensas emoções que sentiu enquanto assistia o nascer do sol com ele ou tornar suas memórias triviais visitando-o com muita frequência. Ela não queria que novas emoções encobrissem o que ela sentiu naquela época.
Sua mansão aérea, Giabella, já estava a caminho do parque aquático. Noir sorriu para seu reflexo no espelho. Sua tarefa até a chegada era escolher um traje de banho. Era realmente um dilema delicioso.
***
Fwoosh.
Fwoooosh.
A piscina de ondas era apropriadamente nomeada por suas ondas parecidas com as do oceano. Embora a piscina fosse ampla como o oceano, com ondas parecidas com as do oceano, isso não significava que era realmente o oceano.
Aos olhos de Eugene, a piscina de ondas era uma atração diabólica e divertida que combinava os melhores aspectos do mar, deixando de fora os negativos.
As ondas incessantes, subindo e descendo, eram simples, mas não meramente ‘simples’. Elas eram emocionantes, especialmente quando combinadas com boias e jangadas. Era uma atração que realmente deixava as crianças loucas de emoção.
Kyaaaahhh!
Hyaaaah!
— Olhe para isso — Eugene pensou enquanto observava Raimira e Mer em uma jangada. As duas estavam gritando de emoção. Kristina estava tentando ao máximo não gritar. Essa era a primeira vez que ela experimentava tal entretenimento, e estava claramente se divertindo bastante presa entre as duas meninas. Sua expressão refletia claramente seus sentimentos.
— Poderia muito bem ser Anise — Eugene musitou.
Ela havia estado brincando com as crianças por um tempo sob o pretexto de cuidar delas. Estava claro que Anise também estava aproveitando a piscina.
— Por que ela está se restringindo? — ele ponderou enquanto abria uma garrafa de álcool na mesa ao lado da espreguiçadeira. Eles estavam em uma área de piscina privada, que Mer e Raimira haviam reservado por conta própria. Apenas o grupo de Eugene estava presente na área próxima.
— Então, você decidiu deixar Balzac em paz por enquanto? — Eugene perguntou.
— [Sim] — respondeu Sienna.
O vento estava carregando a voz de Sienna para lá e para cá. Inicialmente, eles haviam conversado através de Mer, mas depois que Melkith voltou para Aroth, eles não precisavam sempre conversar através de Mer. O espírito do vento que Melkith convocou estava perto de Sienna e agia como um transponder. Assim, eles podiam manter uma conversa mesmo quando Mer estava ocupada.
— [Além de ser um mago negro, eu gosto bastante dele] — continuou Sienna.
— Mas tudo o que ele faz é suspeito — retrucou Eugene.
— [Os magos devem ser um tanto suspeitos. É isso que os torna misteriosos e fascinantes] — explicou Sienna.
— Ah, claro. Mas você não tem nada disso, tem? — Eugene apontou.
— [Tenho certeza de que sou muito suspeita e misteriosa aos olhos dos outros] — disse Sienna.
Eugene não
pensava assim, mas se absteve de expressar as dúvidas que circulavam em sua mente.
Ele não ficou surpreso com a afeição de Sienna por Balzac. Ele havia adivinhado isso, conhecendo a aspiração de Balzac.
De fato, Eugene não era muito diferente de Sienna. Eugene, também, havia suavizado sua postura em relação a Balzac depois de aprender sobre seu ‘desejo’ de se tornar uma lenda — um grande mago, enquanto permanecia humano sem se transformar em um demônio ou algo assim. Esse desejo havia tocado Eugene.
A única razão pela qual Eugene ainda mantinha distância de Balzac e o achava suspeito era o fato de que Balzac era, em última análise, um mago negro. Além disso, ele era um mago negro contratado com o Rei Demônio do Encarceramento, uma entidade que absolutamente se tornaria inimiga de Eugene um dia.
— [O Rei Demônio do Encarceramento não começará uma luta antes de você ascender a Babel. E não acho que ele usaria um mago negro contratado por ele para planejar qualquer esquema] — declarou Sienna.
— Ele não precisaria — Eugene concordou.
O Rei Demônio do Encarceramento não precisava de tais táticas.
— O Rei Demônio do Encarceramento pode não precisar, mas Balzac pode ter outras ideias — Eugene comentou.
— [Hmm, você está preocupado comigo, não está, Eugene? Isso é porque você não me viu recentemente. Estou lhe dizendo que sou algo totalmente diferente hoje em dia.]
Eugene sabia sobre a recente preocupação de Sienna em desenvolver uma nova Assinatura. Ele não estava a par dos detalhes, mas seu tom sugeria um progresso significativo.
— Eh, eu entendi. Você é capaz. Mas ainda assim, seja cuidadosa, você nunca sabe — Eugene alertou Sienna.
— [É por causa da Assinatura de Balzac?] — questionou Sienna.
— Você não se preocupou nem mesmo em perguntar adequadamente sobre a Assinatura dele? Isso não é um pouco descuidado? — Eugene desafiou.
— [É sobre respeitá-lo como mago] — retrucou Sienna.
— Respeito? Só de ouvir isso soa suspeito. Que tipo de Assinatura se alimenta de demônios? E se ele se voltar contra você mais tarde? — Eugene perguntou.
— [Como você agiu, Eugene, quando Anise, Kristina e eu nos preocupamos com você assim, com todas essas perguntas hipotéticas ‘só por precaução’?] — Sienna perguntou, soando irritada.
Eugene ficou em silêncio diante da sua réplica. Ele não encontrou resposta, o que levou Sienna a estalar a língua antes de dizer: — [Olhe para esse covarde bastardo, calando-se agora. Quando é sobre ele mesmo, ele fica todo sério e diz que vai lidar com isso bem.]
— Mesmo quando eu mostro preocupação, você enlouquece — Eugene se pegou dizendo a meia frase.
Ele se lembrou de Sienna dizendo algo semelhante. Ele estremeceu, percebendo que estava agindo exatamente como, ou um pouco como Sienna, mesmo que apenas um pouco. A ideia de se assemelhar a essa moça petulante e atrevida era absurda. Ele sentiu arrepios na espinha.
— Ainda assim, levar ele para Nahama parece um pouco demais — Eugene finalizou.
— [Ele diz que não vai interferir e vai lutar por conta própria. Qual é o problema?] — questionou Sienna.
— Desde quando começamos a confiar em cada palavra que um mago negro diz? — perguntou Eugene.
— [Não é sobre confiar em um mago negro, mas confiar em Balzac Ludbeth, o mago. Além disso, estou curiosa. Qual é a conexão entre devorar demônios e realizar seu desejo?] — continuou Sienna.
— Ter um mago negro contratado com o Rei Demônio do Encarceramento, aliado aos humanos, e lutando na guerra contra os demônios seria um grande feito — comentou Eugene.
— [Hmm…? É isso? Esse é o ângulo dele?] — Sienna levou a sério o comentário casual de Eugene, e ele também começou a ver sua plausibilidade. Até onde ele sabia, nenhum mago negro jamais se opôs abertamente aos demônios.
— Talvez o objetivo dele seja matá-la — Eugene sugeriu após uma pausa.
— [Ha, se ele conseguir me matar, ele se tornará uma lenda, de fato. Se ele conseguir, isto é] — Sienna disse. Sua risada traiu seu total desdém por tal possibilidade.
— Sou menos arrogante do que ela — Eugene teve uma realização repentina.
Ele sabia que não era humilde. Isso era uma mentira. Eugene conhecia a extensão de seu próprio orgulho e arrogância. No entanto, ele também percebeu que, se pudesse medir sua arrogância em torno de sessenta, Sienna estaria em cem.
— E os morcegos? — Eugene perguntou, lembrando-se deles de repente.
— [Nenhum contato. Provavelmente não conseguem passar informações como antes] — respondeu Sienna.
A chegada de Amelia Merwin havia mudado a dinâmica. O último relatório dos morcegos havia sido o último. Antes de sua chegada, eles haviam fornecido atualizações detalhadas sobre os movimentos dos demônios e atividades nas profundezas de Nahama. Parecia que eles não podiam mais atuar como espiões após a chegada de Amelia Merwin em Nahama.
— Talvez eles tenham sido capturados e mortos — Eugene sugeriu.
— [Eu duvido. Eles ainda estão me observando] — Sienna contestou.
A identidade dos morcegos ainda era incerta, mas era claro que eles nutriram um forte ressentimento contra Amelia Merwin. O preço por compartilhar informações era uma promessa de que algum dia Sienna mataria ela.
— [Vamos esperar o contato deles. Ou… talvez não seja mais necessário deixá-los em paz. O objetivo de deixá-los em paz era atrair Merwin, certo?] — disse Sienna.
— Isso é verdade, mas vamos deixar assim por enquanto — sugeriu Eugene.
— [Quanto tempo você planeja ficar aí? Com Merwin em Nahama, você não deveria estar se preparando?] — perguntou Sienna.
— Estou me preparando — respondeu Eugene.
Não era como se Eugene estivesse ocioso no Parque Giabella. Ele estava se preparando mesmo antes de chegar ao Parque Giabella.
— Partirei dentro desta semana — suas palavras se arrastaram enquanto ele olhava para cima. Giabella estava descendo do céu. Eugene fez uma careta.
— Aquela moça de novo — ele murmurou.
— [Moça? Quem é essa?] — Sienna gritou.
Antes que ele pudesse responder, a boca de Giabella se abriu.
Vestida com um biquíni, Noir Giabella mergulhou elegantemente na piscina pela entrada.