Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 430
Capítulo 430
Cidade de Giabella (5)
Essa decisão realmente era típica tanto de Hamel quanto de Eugene.
Pelo menos, era isso que Anise pensava. De fato, se ela tentasse imaginar como ele lidaria com um problema assim, essa seria a resposta que ele daria. No entanto… ele realmente, verdadeiramente, não era afetado por essas emoções que ele afirmava não serem dele?
Enquanto pensava sobre essa questão, ela não pôde deixar de se sentir inquieta.
Seria melhor se nunca tivessem aprendido esse fato.
Se esse fosse o caso, não haveria problemas agora. Anise e Kristina não puderam deixar de sentir simpatia por Eugene por ter que se lembrar desse vínculo. Ela achava extremamente cruel forçar Eugene a tomar uma decisão dessas apesar de conhecer essa conexão.
Anise hesitou por alguns momentos antes de falar
— Além disso, não há realmente nenhuma outra maneira?
— Por que procurar um método diferente? — Eugene perguntou.
— Porque você pode se arrepender depois se não o fizer. — Anise tentou persuadi-lo.
Eugene apenas deu uma resposta mal-humorada.
— Não consigo ver isso acontecendo.
Anise suspirou e colocou uma mão no joelho de Eugene. Então, seus olhos azuis calmos encararam diretamente os olhos dourados de Eugene.
Eugene desviou o olhar.
— Mesmo que se torne um arrependimento, serei eu quem o carregará.
— Eu realmente não quero te ver sofrer assim. — Disse Anise com simpatia.
Eugene suspirou.
— Tudo bem, então vamos pensar assim. Se eu aceitar as memórias e emoções de Agaroth como um todo e decidir que não posso matar Noir, você realmente concordaria com essa decisão?
Anise considerou sua resposta.
— Se isso é realmente o que você decide fazer, então eu… eu faria o meu melhor para tentar convencê-lo do contrário. Sienna também faria o mesmo.
— Não, isso não está certo. — Eugene balançou a cabeça.
Eugene também moveu a mão e a colocou sobre a mão de Anise, que ainda estava repousando em seu joelho. Então ele se inclinou um pouco mais perto e olhou diretamente nos olhos de Anise.
— Anise, Kristina. — Eugene as abordou firmemente. — As duas são minhas companheiras. Vocês se dedicaram a me ajudar e estão viajando comigo para matar os Reis Demônios, certo?
— Isso mesmo. — Anise concordou hesitante.
— Nesse caso, quando eu acabar sendo influenciado por memórias e emoções que nem são minhas e quase acabar tomando uma decisão tão tola, a única coisa que vocês duas devem fazer é balançar aquela maldita corrente de ferro que vocês empunham na parte de trás da minha cabeça. — Eugene afirmou firmemente.
Anise ficou em silêncio.
— E daí se Noir Giabella for a reencarnação da Bruxa do Crepúsculo? — Eugene zombou. — Noir não tem nenhuma memória disso. Mesmo que tivesse, não importaria. Do meu ponto de vista, a Bruxa do Crepúsculo era uma vadia, e a mesma coisa se aplica a Noir Giabella também. Então, como as coisas parecem do seu ponto de vista?
— Palavras tão duras. — Anise sorriu ironicamente.
— O que, você também gosta de xingar, não gosta? — Eugene sorriu de volta, travesso.
Presenciar tal sorriso aparecer bem diante de seus olhos estava fazendo o coração de Anise bater por nenhuma razão aparente. Ela soltou um resmungo e empurrou o rosto de Eugene para trás.
— Você realmente acha que minha própria opinião seria tão diferente da sua perspectiva sobre ela? Especialmente porque eu já vivi aquela terrível era com você, Hamel. Naturalmente, aos meus olhos também, Noir é uma vadia que merece ser morta. — Disse Anise com firmeza.
— Isso mesmo. Sendo assim… não me pergunte coisas como se há ou não outra solução. — Disse Eugene virando a cabeça para longe de Anise. — Além disso, aquela vadia, Noir Giabella, também não aceitará nenhuma outra solução.
— O que você quer dizer com isso? — Anise perguntou.
— Aquela louca quer ou morrer em minhas mãos ou então me fazer morrer nas dela. — disse Eugene, franzindo o cenho. — Seu orgulho é extremamente alto, e seu narcisismo é terrível.
— Isso é óbvio. — Murmurou Anise enquanto olhava pela janela.
Ela estava olhando para os três Rostos Giabellas flutuando no céu, bem como para a imponente estátua em escala de Noir Giabella que se erguia sobre o centro da cidade. A estátua da Sortuda Giabella segurava um buquê de flores em sua mão direita e uma bolsa em sua mão esquerda. A estátua era uma representação do Sonho Giabella, a tênue esperança de um dia ganhar a sorte grande em um dos cassinos da cidade e voltar para casa.
— Não há ninguém tão narcisista quanto ela. — disse Anise com confiança.
Mesmo Sienna não havia colocado seu próprio nome em suas várias criações como a Fórmula de Magia dos Círculos, Bruxaria e o Eternal Hole, mas no caso de Giabella… havia a Cidade de Giabella, o Parque Giabella, o Rosto Giabella, o Castelo Giabella, etc. Noir havia colocado seu nome em quase tudo relacionado a ela.
— Isso mesmo. — concordou Eugene. — Se eu fosse até Noir e dissesse a ela que não posso matá-la porque na verdade a conheci em nossas vidas passadas compartilhadas e que deveríamos nos dar bem pacificamente, o que você acha que ela responderia? —
— Não acho que ela receberia isso bem. — disse Anise cautelosamente.
— Ela provavelmente mataria todos ao meu redor. — Eugene afirmou gravemente.
Ele nem conseguia suportar pensar nisso.
A expressão de Eugene se contorceu em um franzir de sobrancelhas enquanto falava.
— Sendo a Noir, então ela definitivamente faria algo assim.
Isso mostrava uma confiança distorcida. Mesmo que a odiasse tanto, Eugene entendia um pouco Noir.
Assim como Eugene estava rejeitando as memórias e sentimentos de Agaroth, Noir também rejeitaria o fato de ser a reencarnação da Bruxa do Crepúsculo. Porque para ela, a única coisa que importava era sua auto-identidade como ‘Noir Giabella’.
— Está bem, eu entendi. — finalmente Anise cedeu, soltando um suspiro enquanto balançava a cabeça.
Noir Giabella e a Bruxa do Crepúsculo, Anise havia aceitado que não era uma questão que pudesse ser resolvida discutindo com Eugene.
Anise mudou de assunto.
— O que mais fazemos enquanto estamos nesta cidade?
— Turismo. — respondeu Eugene.
— Mesmo? — Anise perguntou com dúvida.
— Eu realmente não tenho vontade de ir a um cassino, então podemos passear por esta área enquanto fazemos turismo… depois à noite, posso investigar esta cidade sozinho. — Eugene revelou seus planos.
Quanto mais colorida a cidade, mais nítido era o contraste entre a noite e o dia. Eugene queria dar uma olhada na escuridão da Cidade de Giabella. Quanto mais negra e podre fosse essa escuridão, mais sua hesitação sobre Noir desapareceria.
A conversa entre os dois ficou sem graça. Nem Anise nem Kristina estavam com pressa de dizer qualquer coisa a Eugene e estavam satisfeitas apenas observando-o.
— Por que você continua me encarando? — Eugene eventualmente perguntou.
— Então você prefere que eu pare de olhar para você? — Anise respondeu com uma expressão amuada.
Eugene não podia ter certeza se era Anise ou Kristina quem havia respondido agora. A resposta provavelmente era ambas.
Com um sorriso irônico, Eugene chamou a atenção dela para a garrafa vazia em cima da mesa com um olhar.
— Parece que terei que pedir desculpas. Esvaziei uma garrafa inteira da sua bebida favorita. — Eugene confessou.
— Se pedirmos álcool, eles trarão tanto quanto quisermos, então por que você deveria se desculpar? Além disso, não estou com vontade de beber agora, então você não precisa se preocupar com isso. — Anise o tranquilizou.
— Então até você tem momentos assim? — Eugene perguntou surpreso.
— Sim, até eu me surpreendo às vezes. Mesmo gostando tanto de álcool, ainda há momentos em que não sinto vontade de beber. Obrigada, Hamel, por me ensinar algo que eu não sabia sobre mim mesma. — disse Anise sarcasticamente, franzindo os lábios.
Depois de passar alguns momentos pensando em como lidar com Anise quando ela estava nesse estado, Eugene estendeu a mão. Quando sua mão finalmente repousou em seu ombro, Anise olhou para Eugene surpresa.
— O-O que é isso? — Anise gaguejou.
— Obrigado por se importar comigo. — Eugene disse em voz baixa, com uma expressão séria.
Ao sentir os dedos dele envolverem seu ombro, o peito de Anise começou a bater mais rápido, e de dentro de sua cabeça, Kristina soltou um grito, [Irmã!]
De jeito nenhum. Ela não iria trocar de lugar agora. Ela se recusava a ceder nesse ponto. Era ela, Anise Slywood, quem teria o prazer de sentir o olhar amoroso de Hamel direcionado a ela desta vez.
[Irmã!] Kristina gritou mais uma vez com urgência.
Enquanto tentava ignorar os gritos da verdadeira dona deste corpo, Anise pensou, “Kristina, por favor, me permita pelo menos aproveitar isso. Se Hamel mostrar mais coragem e decidir avançar, então eu definitivamente cederei nesse momento e permitirei que você assuma meu lugar.”
Enquanto pensava nisso, Anise projetou seus lábios franzidos um pouco mais para frente. Embora isso a fizesse parecer um pato, a Anise atual não tinha a concentração para prestar atenção em coisas assim.
Neste momento, Anise, que havia se recusado a ceder por ganância, e Kristina, que estava gritando histérica ao tentar afirmar seus direitos, estavam ambas pensando na mesma coisa.
— Não são apenas palavras, certo? — Anise exigiu, com um semblante amuado.
— Hm? — Eugene fez um ruído confuso.
— Você disse que ia me agradecer por se importar com você. Você realmente vai usar apenas palavras para mostrar sua gratidão? — Anise perguntou, seus lábios ainda franzidos como um pato.
Por seus lábios estarem tão estendidos, a pronúncia de suas palavras estava um pouco estranha, mas tanto Anise quanto Kristina não se importavam com isso.
Eugene não foi capaz de entender imediatamente o que ela estava falando. No entanto, à medida que Anise continuava a franzir os lábios e a lançar-lhe um olhar claro, até mesmo Eugene eventualmente não pôde deixar de entender o que ela estava tentando dizer.
Eugene hesitou.
— Ah… hm…
— Hamel. Kristina e eu sempre estivemos aqui por você. Não sei o que Kristina pode pensar, mas quanto a mim, se fosse por você, eu até aceitaria a morte. — prometeu Anise sinceramente.
— Irmã, por que você teve que dizer assim? Eu também estaria disposta a morrer por você, Sir Eugene. — Kristina rapidamente avançou e acrescentou seu próprio endosso às palavras de Anise.
Como Anise, que já estava morta há tanto tempo, poderia morrer por ele neste momento? Eugene estava extremamente curioso sobre essa questão, mas sentia que levaria alguns tapas de Anise se dissesse algo em voz alta, então manteve a boca fechada.
— Então, para nós, dizer algo como “obrigado por se importar comigo” realmente não transmite nenhum sentimento sincero de gratidão. — Anise insistiu.
Eugene ficou surpreso.
— Ah… mesmo assim… já que estou agradecido, pelo menos devo dizer obrigado—
— Não foi por isso que eu já disse? Você realmente pretende deixar seus agradecimentos apenas como palavras? Haaah, sério, agora que penso nisso, você sempre foi assim. — Anise interveio com um suspiro, seus lábios que estavam esticados como um pato agora recuaram mais uma vez.
Ao olhar nos olhos vacilantes de Eugene, que mostravam que ele não sabia o que fazer, Anise soltou outro suspiro profundo.
Por que esse idiota não começaria a comer quando a mesa já estava posta na frente dele?
— Hamel, apenas pense no que aconteceu nos últimos seis meses. Kristina e eu seguimos sua vontade e passamos todo esse tempo em uma montanha nevada onde nevava pesado todos os dias. — Anise reclamou.
— Ah… sim. — Eugene olhou culpado para o lado.
— Bem, a banheira quente que Moron arrastou para fora foi bem satisfatória, mas além disso, não havia nada que eu pudesse descrever como sendo bom ou até mesmo adequado sobre nossas acomodações. — Anise resmungou. — Além disso, não era como se eu estivesse apenas descansando confortavelmente todos os dias, não é? Hamel, tudo foi graças a você e Moron voltando todos os dias com membros quebrados e cobertos de sangue.
— Uh… — Eugene não conseguia encontrar nada para dizer.
O olhar de Anise se aprofundou.
— Além disso, nem era só uma vez por dia, não é mesmo? Vocês dois tinham que ser tratados por Kristina e por mim duas ou três vezes por dia!
Eugene tentou argumentar fracamente.
— E-Eu disse que estava muito grato pelo seu tratamento cada vez que recebia—
— Quantas vezes você vai fazer eu perguntar se acha que pode resolver tudo apenas com palavras? — Anise exigiu, estreitando os olhos enquanto lançava um olhar feroz para Eugene.
Então, o que mais ele deveria fazer além de dizer obrigado sempre que se sentisse grato?
De repente, Eugene se lembrou de como Anise havia esticado os lábios anteriormente.
— Hm… Anise, seu corpo, bom, quer dizer, ele pertence a Kristina, não é? — Eugene perguntou hesitante.
Anise revirou os olhos.
— Meu Deus, Hamel! O que você está tentando dizer agora? Kristina é quem está desejando apaixonadamente que você faça mais do que apenas pagar de bonzinho!
[Irmã!] Kristina protestou.
— Na verdade, é bastante afortunado que você não possa ouvir com seus próprios ouvidos o que Kristina está gritando na minha cabeça agora. Como você pode ser tão travessa, vergonhosa e desonesta, Kristina! — Anise disse fingindo estar chocada.
Kristina exigiu, [Irmã! Saia da minha cabeça agora!]
— Ei, você não acha que está sendo muito dura com suas palavras?! — Anise, que nunca esperava que Kristina realmente tentasse lhe emitir um aviso de despejo, soltou um grito. — De qualquer forma, Hamel! Como Kristina também quer tudo isso, não há necessidade para a sua consideração sem sentido. Você sabe do que estou falando, certo?
Eugene tossiu envergonhado
— Ahem…
— Ahem? Parece que você realmente é um maldito ingrato. Quantas vezes eu já te salvei quando você estava prestes a morrer! — Anise levantou a voz em raiva.
Quando ela escolheu um ângulo de ataque assim, não havia nada que Eugene pudesse dizer ou fazer em sua defesa.
Então, sem hesitar mais, Eugene puxou o ombro de Anise, trazendo-a para mais perto.
Anise ficou tão surpresa com o puxão repentino em seu corpo que nem conseguiu fazer um som. Isso porque ela nunca poderia ter imaginado que Hamel, que ia além de ser indeciso e era completamente covarde quando se tratava de assuntos assim, agiria de repente com tanta ousadia.
Anise foi instantaneamente puxada para perto de Eugene, e antes que ela percebesse, sua outra mão tinha alcançado suas costas e estava gentilmente a pressionando ainda mais para perto dele.
Essa aparentemente natural sequência de movimento acabou com seus lábios se tocando.
Embora não tenha havido um som de ‘chu’ — como ela sempre imaginava — Anise sentiu a suavidade de onde seus lábios se tocavam e viu que as pálpebras de Eugene estavam tão fechadas firmemente que quase pareciam estar seladas.
— Hah… — Enquanto seus lábios se separavam com um suspiro, Anise mal conseguia reunir o fôlego para falar. — Hm… apenas mais uma vez.
Ela estava planejando fingir ser Kristina para poder fazer Eugene beijá-la e satisfazer os desejos desta última, mas as coisas não saíram como Anise tinha planejado. Isso porque Kristina deu um grito e conseguiu empurrar a consciência de Anise de volta, retomando o controle de seu corpo.
A experiência foi tão chocante que parecia como se alguém tivesse puxado seu cabelo de repente, então Anise não pôde deixar de gritar de surpresa, [Kristina!]
Ela sabia que o poder divino de Kristina havia se fortalecido muito depois de ter sido marcada com o Estigma, mas e pensar que seu crescimento já tinha atingido esse ponto.
Kristina simplesmente ignorou os gritos em sua cabeça e engoliu em seco enquanto encarava diretamente os olhos de Eugene bem à sua frente.
— P-Por favor. — Kristina gaguejou, suas mãos desajeitadas tateando, sem saber para onde deveriam ir.
Seus desejos internos diziam para ela ou colocar as mãos no peito de Eugene ou abraçá-lo mais de perto, mas Kristina ainda não conseguia reunir coragem suficiente para fazer isso. No final, Kristina engoliu de novo em seco e apenas segurou o terço que estava pendurado em seu pescoço.
Eugene se sentia tão envergonhado e confuso que queria sair correndo deste quarto neste momento, mas se ele realmente tentasse escapar dali assim, tinha a sensação de que nunca mais seria capaz de olhar Kristina nos olhos a partir de agora.
Seus lábios se uniram mais uma vez. Naquele momento, Kristina não conseguia mais resistir aos seus instintos. Seus lábios se separaram um pouco, e sua língua se projetou para se entrelaçar com a de Eugene.
— ?! — Eugene ficou tão surpreso que saltou de pé.
Sua língua ainda pairando no ar como a de uma cobra, Kristina tardiamente voltou à razão e soltou um grito.
— S-S-Senhorita Anise!
Ela até esqueceu de chamar Anise de Irmã. Enquanto gritava o nome de Anise em voz alta, Kristina também se levantou da cadeira.
— V-Você não pode fazer algo assim! — Kristina gritou.
Anise retrucou, [Kristina! Você enlouqueceu completamente?]
— Tal… tal ato vergonhoso…! — Kristina, falando hesitante, colocou toda a culpa em Anise, então abaixou a cabeça em desculpas para Eugene.
Seu rosto estava tão quente que parecia que ia explodir, e seu corpo também parecia ter perdido toda a força. Mantendo a cabeça baixa, Kristina olhou discretamente para cima para verificar a expressão de Eugene.
Naturalmente, o rosto de Eugene não mostrava nenhum sinal de raiva. Apesar de aliviada por esse fato, Kristina ainda se sentia tão envergonhada por suas próprias ações e pela vergonha visível no rosto de Eugene que começou a recuar lentamente, arrastando os pés para trás.
Kristina gaguejou.
— S-Sir Eugene. E-Eu vou voltar para o meu quarto para oferecer uma oração à Luz.
— Ah… sim. — respondeu Eugene, de forma constrangida.
— Espero que você… t-também tenha um bom dia… — Apesar de gaguejar, Kristina de alguma forma conseguiu terminar sua frase, mas suas pernas estavam tremendo tanto que ela estava achando difícil andar.
Eventualmente, Kristina se mostrou incapaz de andar mais do que alguns passos antes de tropeçar e agarrar-se ao sofá.
— V-Você está bem? — Eugene perguntou hesitante.
— Estou bem! Não precisa se preocupar. Obrigada. — Kristina rapidamente respondeu antes de tentar andar mais uma vez.
Talvez fosse graças à ansiedade e desespero em seu coração que, desta vez, suas pernas trêmulas foram capazes de se mover corretamente.
Boom!
A porta pela qual Kristina tinha passado foi fechada com força atrás dela. Tentando ignorar os gemidos e gritos que podia ouvir vindo de dentro do quarto, Eugene traçou os lábios com o dedo.
Pensar que sua língua realmente iria escorregar…! Não é como se ele não tivesse tido experiências desse tipo em sua vida anterior, então por que ele tinha ficado tão surpreso quando aconteceu? Eugene tentou acalmar seu coração batendo rapidamente enquanto se sentava novamente no sofá.
* * *
Depois de algum tempo e o dia ter se transformado em noite, Mer e Ramira voltaram.
As duas tinham colocado ainda mais acessórios do que quando haviam saído do apartamento. No caso de Mer, ela estava usando apenas uma coroa na cabeça, mas Ramira tinha feito grande uso de seus chifres, pendurando várias coroas em cada um de seus chifres como se fossem anéis.
— O que é isso? — Eugene perguntou, olhando para o que Mer estava segurando na mão.
Mer respondeu.
— É o Balão Giabella.
Ela realmente precisava ir tão longe a ponto de fazer os balões em sua imagem também? Eugene pensou enquanto olhava para o balão flutuante retratando o rosto de Noir.
— Tudo bem… vocês se divertiram? — Eugene perguntou, mudando de assunto.
— Sim!
— Nem conseguimos ver um quarto da Praça inteira! Benfeitor, parece que esta cidade está repleta de esperanças e sonhos.
Mer e Ramira correram para sentar-se em cada lado de Eugene e começaram a conversar animadamente.
As duas primeiro falaram sobre quantas coisas havia para ver e comer nesta cidade, e então, depois disso, falaram sobre como sua Moeda Especial Especial tinha deixado tantas pessoas olhando para elas com inveja.
— Parece que vocês comeram muitos lanches enquanto passeavam, então talvez nem precisem jantar. — Provocou Eugene.
— Isso não é verdade. — Negou Mer.
— Já foi tudo digerido. — Acrescentou Ramira.
Eugene recebeu a resposta que estava esperando.
Ele pensou em sair para comer, mas no final, acabou pedindo serviço de quarto porque estava sendo atencioso com Kristina e Anise, que ainda não tinham saído do quarto.
Eugene chamou-as,
— Vocês querem jantar?
— Estamos bem… — Foi a única resposta que ele recebeu.
Dito isso, não seria muito triste deixar aquelas duas sozinhas em seu quarto enquanto todos os outros saíam para comer? O tempo passou rapidamente enquanto Eugene se sentava no sofá, ouvindo Mer e Ramira tagarelarem, e a comida que tinham pedido logo chegou.
— O que é esse bolo? — Eugene perguntou ao garçom.
A mesa de jantar na sala de estar logo foi preenchida com uma gama luxuosa de comida, mas o prato que se destacava mais, mesmo entre toda aquela extravagância, era um bolo de casamento alto, de vários andares.
Os olhos de Mer e Ramira tremiam de desejo ao verem o bolo. Ele estava coberto não apenas de chocolate, mas também de vários tipos de cremes e frutas.
— Este é o bolo que nossa Rainha encomendou para o senhor. — Respondeu o garçom.
Eugene franzia a testa.
— Leve-o embora imediatamen—
No momento em que estava prestes a ordenar que o bolo fosse retirado da mesa, viu o desespero surgindo nos olhos de Mer e Ramira.
Eugene rapidamente cedeu.
— Apenas deixe aqui e desapareça.
— Por favor, aproveitem sua refeição. — Os demônios da noite que tinham trazido a comida se curvaram e saíram da sala.
— Comam o bolo depois de terminarem o jantar. — Eugene instruiu.
As duas crianças, que na verdade não eram crianças, soltaram gritos de alegria.
Pensar que poderia haver alguns outros pratos que Noir tinha encomendado, além do bolo, fez Eugene perder o apetite por algum motivo, mas que crime a comida poderia ter cometido? Na verdade, a comida estava deliciosa.
Enquanto comia, Eugene pegou o controle remoto. Quando ligou a TV, cujo uso tinha se acostumado enquanto estava hospedado em um hotel da última vez que esteve em Helmuth, a primeira coisa que apareceu na tela foi o canal de notícias local da Cidade de Giabella.
— … — Toda a mesa ficou em silêncio.
A imagem de Eugene entrando no Rosto Giabella com Noir estava sendo mostrada na tela. Ao ver isso, Ramira começou a se engasgar quando a comida que estava engolindo ficou presa na garganta, e horrorizada, Mer espiou a expressão de Eugene.
No entanto, Eugene simplesmente mudou de canal sem mostrar nenhuma reação em particular. O canal em que ele parou desta vez era um canal de notícias que era transmitido por toda Helmuth.
[O Herói, Eugene Lionheart, foi visto visitando a Cidade de Giabella, que é governada pela Duquesa Giabella. Acompanhado pela Santa, Kristina Rogeris, e segurando as mãos de duas crianças, ele parecia mais um jovem pai do que um Herói.]
[Para que propósito ele, o Herói, veio à Cidade de Giabella? Será que ele veio apenas para se divertir no Parque Giabella, que a Duquesa Giabella trabalhou tanto para concluir? Ou talvez, ele estivesse lá para encontrar a Duquesa Giabella?]
[Olhando para a maneira como ele parece ter entrado no Rosto Giabella, acreditamos que é mais provável que seja o último, mas, bem, nem mesmo um ano se passou desde que o Herói derrotou a recém-criada Rainha Demônio…]
[Ele esteve escondido desde então, então por que se mostrar na Cidade de Giabella agora?]
[Este pode ser um tópico sensível, mas a Duquesa Giabella sempre mostrou grande afeto por Eugene Lionheart? Mesmo quando o Duque Gavid chegou a Shimuin para transmitir a vontade do Rei Demônio do Encarceramento, a Duquesa Giabella não o seguiu?]
[Sim, dizem que o Herói e a Duquesa Giabella deixaram todos para trás no banquete para ter uma conversa particular sozinhos…]
Enquanto os painelistas continuavam a trocar conversas, os ombros de Mer e Ramira não puderam deixar de começar a tremer de medo.
No entanto, mais uma vez, Eugene não mostrou muita reação.
Em vez disso, Eugene sorriu e murmurou para si mesmo.
— Mesmo que eu não tenha dito nada, eles já resolveram por conta própria.