Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 421
Capítulo 421
Aquilo (6)
— …
Após ouvir o conto, Eugene não conseguiu controlar sua expressão, uma tarefa da qual ele pensava ser imune até agora, especialmente quando se tratava de Melkith. Ele balançou a cabeça com um suspiro pesado. Kristina levantou a cabeça e observou o rosto de Eugene enquanto alinhava cuidadosamente seus membros retorcidos.
— Oh, está tudo bem, não estou com dor. — Ele assegurou. No entanto, sua aparência sugeriu o contrário.
Ambos os seus braços estavam quebrados, e seu tornozelo direito e joelho esquerdo estavam torcidos em direções não naturais. A simples visão era suficiente para fazer a espinha de qualquer um gelar. Na verdade, Ramira já havia criado alguma distância de Eugene enquanto esfregava os próprios membros. Ela claramente estava afetada pela cena.
Eugene compôs suas feições e emoções. Com um estalo e um estalido, Kristina corrigiu o alinhamento de sua perna. Com uma torção, a articulação foi recolocada no lugar com um ruído horrível.
— Ughh… — Ramira soltou um gemido doloroso enquanto segurava os joelhos. Mer observava a situação com os olhos meio cerrados. De repente, ela sentiu um surto de travessura e começou a sacudir o joelho de Ramira.
— Crack! Crack–crack!
— Aaah! Aaahh!
Mer imitou o som de ossos quebrando enquanto Ramira gritava de terror. No meio do caos, Kristina continuou seu meticuloso trabalho nos ossos de Eugene.
Kristina não estava apenas confiando em seus milagres para curar Eugene. Em vez disso, ela prestava atenção em cada fragmento de osso quebrado e fibra muscular rasgada de Eugene. Ela sabia que esse ajuste delicado ajudaria a melhorar suas habilidades.
[Você está ouvindo? Hein? Esse maldito… qual é o nome dele… certo, Harpeuron! No rank cinquenta e sete! Esse idiota disse que vai vir me matar! Uma voz foi ouvida na cabeça de Eugene.]
— …… — Eugene não tinha capacidade para responder neste momento.
[Não é o suficiente já? Hein? Um demônio. Está vindo. Para me matar pessoalmente!] A voz enunciou cada palavra cuidadosamente para enfatizar o ponto. [Eu estava pensando sobre isso também, e não acho que ele vai vir sozinho. Pense em todos os magos negros que eu matei até agora! Parece meio estranho dizer em voz alta, mas tenho certeza de que todos eles adorariam me ver morta. Você não acha que eles virão juntos?]
— Senhorita Melkith. — Disse Eugene. Ele mexeu os dedos dos pés, testando a sensação em sua perna agora devidamente alinhada. — Você é… impressionante. — Isso foi tudo que ele conseguiu dizer.
O assunto de masmorras desabando ou enterrando magos negros vivos não era uma preocupação para ele. Ele não estava preocupado com Melkith em relação a tais assuntos. Além de ser meio louca, a destreza de Melkith era inquestionável. Honestamente, se Melkith invocasse todos os três Reis Espíritos para a batalha, Eugene sentia que talvez precisasse sacar a Espada do Luar.
Como tal, ele não achava que Melkith enfrentaria qualquer perigo no deserto, especialmente na ausência de Amelia Merwin.
O fato de Melkith ter confrontado e derrotado um mago negro contratado com um demônio do quinquagésimo sétimo rank não era surpreendente, considerando suas habilidades.
“Na verdade, é natural,” Eugene pensou.
Ele não pôde deixar de admirar a audácia de Melkith. Ela provocou a forma espiritual do demônio convocado chamando-o de… pedaço de merda fraco e um leitão. Não foi nada menos que notável. Nesta era, apenas Melkith poderia se atrever a usar provocações tão ousadas e vulgares.
[Certo? Eu sou impressionante, não sou?] Disse Melkith.
— Sim. Até Tempest está impressionado. — Respondeu Eugene.
[É claro! Então, Eugene, posso voltar para Aroth agora, hein?] Perguntou Melkith.
— Não, você não pode. — Foi a resposta.
[Por quêêêê?!] O grito de Melkith deixava evidente a injustiça que ela estava sofrendo.
— Se Harpeuron disse que está indo te matar, o que faremos se você estiver em Aroth? — Perguntou Eugene.
[Qual é o problema com isso?!] Questionou Melkith.
— A Senhorita Sienna está atualmente em Aroth. Não importa o quão furioso Harpeuron fique, ele não atacará Aroth. — Afirmou Eugene.
Eugene lembrou-se do nome de Harpeuron de memórias há muito passadas. Mesmo naquela época, o demônio era bem conhecido, e foi uma surpresa que ele tenha sobrevivido até esta idade.
Eugene não estava preocupado. Rank cinquenta e sete? Alto em termos objetivos, mas, como Melkith disse, era algo para se orgulhar quando havia cinquenta e seis outros acima de você?
Eugene também acreditava que a maioria dos demônios de alto nível desta era sobreviveram apenas porque nunca encontraram “Hamel do Extermínio” três séculos atrás.
Às vezes, os inimigos ofereciam avaliações mais precisas e confiáveis do que os aliados. Eugene preferia o apelido arrepiante e frio de “Hamel do Extermínio” a “Hamel, o Tolo”. Era muito mais preciso.
[Você não se importa? Não está preocupado com sua irmã mais velha? Esses demônios monstruosos disseram que estão vindo me matar!] Gritou Melkith indignada.
— Mesmo que venham determinados, seria difícil, provavelmente impossível, te matar, Senhorita Melkith. Afinal, você é a mais extraordinária mestra da magia espiritual, a maior da história. Não há ninguém que possa se comparar a você. — Disse Eugene.
Agora era hora de elogiar Melkith. E não era exatamente uma mentira também.
[Isso é absolutamente, completamente verdade. Mas sabe, Eugene, estou um pouco preocupada,] admitiu Melkith.
— O que está te preocupando? — Perguntou Eugene.
[Você sabe, o Mestre da Torre Negra, aquele cara é tão astuto. Eu disse a ele para sair quando terminasse, e ele simplesmente partiu, suspeitosamente rápido. Ele é tão suspeito,] respondeu Melkith.
— Ele partiu porque você disse para ele, então como isso é suspeito? — Perguntou Eugene.
[Você não deveria pensar que ele simplesmente foi embora! Ele deve estar escondido em algum lugar. Tenho certeza de que está me espionando,] disse Melkith.
— Você está sendo muito dura com o Mestre da Torre Negra… — Disse Eugene.
No entanto, ele concordava que Balzac era suspeito. Claro, mesmo que Eugene pudesse deixar passar, a razão pela qual ele saiu de Aroth… O que ele estava pesquisando no deserto?
“Devo deixá-lo em paz? Ou… devo marcá-lo por enquanto?” Eugene contemplava.
Balzac havia sido útil de muitas maneiras. Apesar de sua natureza suspeita, com base em experiências passadas, Eugene julgava Balzac como uma pessoa decente.
Mas, no final das contas, ele era um mago negro contratado com o Rei Demônio do Encarceramento. Mesmo que Balzac não fosse um mago negro que precisasse ser morto pelos padrões de Eugene, Eugene se opondo ao Rei Demônio do Encarceramento significava que algum dia ele teria que lutar contra Balzac.
Considerando isso, interromper sua pesquisa enraizada agora poderia ajudar a diminuir a força de Balzac no futuro.
— Você não apenas o mandou embora, imagino? — Eugene perguntou com um tom de dúvida.
[Haah. O que você acha que eu sou?] Veio a voz presunçosa de Melkith. [Naturalmente, enviei um espírito para seguir Balzac. Não sou ingênua.]
— Então, mantenha um olho no Mestre da Torre Negra. Mas vá com calma nas invasões de masmorras. — Aconselhou Eugene.
[Ir com calma?] Perguntou Melkith.
— Vamos diminuir um pouco. Talvez uma invasão a cada quinzena? Isso deve ser suficiente. — Sugeriu Eugene.
[E o que eu devo fazer enquanto isso?! Tomar sol e me bronzear no deserto?!] Gritou Melkith em voz estridente.
— Certamente esse país tem mais do que apenas desertos. Eu estive aí algumas vezes no passado. As cidades são bastante movimentadas, se me lembro corretamente. — Respondeu Eugene.
[Ei, me desculpe, Eugene? Você não ouviu nada do que eu disse antes? O Sultão está atrás de mim! Ele já enviou assassinos! Várias vezes!] Gritou Melkith, agora soando irritada.
— Você é uma mestra da magia espiritual, não é? Tem medo de meros assassinos, Senhorita Melkith? Quando eu tinha dezenove anos, cuidei daqueles mesmos assassinos com facilidade. E com sua habilidade mágica, você poderia facilmente alterar sua aparência. — Retrucou Eugene.
Os membros de Eugene foram consertados perfeitamente enquanto a conversa continuava. Eugene continuou a persuadir Melkith enquanto movia cada dedo para testar sua função.
— Por favor, Senhorita Melkith, você é a única a quem posso pedir esse favor. Você não voltaria atrás na sua palavra agora, não é mesmo? — Ele disse.
Ele acrescentou uma sutil pressão ao pedido, e Melkith suspirou profundamente em resposta.
[Devo ter ficado louca. Por que concordei com isso?] Ela ponderou em voz alta.
— Não foi tudo uma perda, foi? — Retrucou Eugene.
[Tudo bem, tudo bem. Eu entendi,] disse Melkith em um tom resignado.
À medida que sua voz desaparecia, Eugene olhou para o vento recuante e perguntou:
— Tempest, você não mentiu porque não queria formar um contrato com a Senhorita Melkith, certo?
[O que você acha que eu sou, Hamel? Embora eu ache Melkith El-Hayah problemática, eu nunca abandonaria a dignidade de um Rei Espírito mentindo.]
Embora a resposta de Tempest fosse firme, internamente, o Rei Espírito abrigava um crescente desconforto. Melkith El-Hayah — por mais que doesse admitir — tinha um talento quase diabólico para a magia espiritual. Em apenas alguns meses, sua capacidade como espiritista havia se expandido notavelmente. O deserto árido, embora severo, desempenhava um papel fundamental em esticar os limites de seu recipiente.
Eugene se levantou, ignorando o humor sombrio de Tempest. Ele testou seu corpo curado com alguns saltos e alongamentos.
— Se movendo bem, vejo. — Ele comentou.
Satisfeito com seu corpo funcionando perfeitamente, ele sorriu largamente para Kristina.
— Acho que você pode estar no mesmo nível que Anise agora. — Ele elogiou de todo coração.
— De jeito nenhum, Sir Eugene. Ainda tenho um longo caminho a percorrer. — Disse Kristina modestamente enquanto acariciava o Estigma em sua palma. Graças aos treinos implacáveis de Eugene e Moron, sua magia de cura deu passos incríveis durante o tempo na caverna.
Estranhamente, quanto mais familiarizados ficavam com os estilos de luta um do outro, mais severos se tornavam seus ferimentos. Seus ataques se tornaram mais afiados e letais a cada passagem, enquanto se abstiveram de segurar.
— Hamel, você está planejando sair novamente? — Perguntou Anise, enquanto franzia os olhos para Eugene.
Eugene instintivamente deu um passo para trás com suas palavras. Naturalmente, ele parou no meio de sua passada natural em direção à saída da caverna.
— Hm… Sinto que estou prestes a ter um avanço… — Disse Eugene.
— Entendo que você está treinando para ficar mais forte e que é necessário. Sei que não devo te impedir. No entanto, não acha que descansar um pouco mais hoje seria prudente, especialmente depois de quase morrer? — Sugeriu Anise.
Ela parecia bastante descontente, mas, como admitiu, não tinha intenção de impedir o progresso de Eugene. Ainda assim, o fato dele ter escapado por pouco da morte a fez desejar que ele optasse por algum descanso.
— Está tudo bem. — Assegurou Eugene com um balanço de cabeça. — Já faz um tempo desde que dancei tão perto da morte. É exatamente por isso que preciso desse sentido aguçado.
De fato, ele havia chegado perto da morte. Moron havia parado de lutar apenas com as mãos há muito tempo. Desde a chegada de Eugene na caverna, Moron havia consistentemente empunhado seu machado em suas batalhas.
Era apenas um combate de palavras. O mero roçar do machado de Moron trazia o sussurro da morte a cada vez. Eugene sabia que um lapso de momento poderia levar a um golpe fatal.
Eugene buscava essa intensidade, e Moron concordava. Apenas tal perigo tinha significado. Se ele não pudesse superar completamente os machados de Moron, qualquer coisa menos seria insuficiente para Eugene alcançar o próximo nível.
Seriam seus futuros inimigos mais fracos do que Moron? Improvável. Eles provavelmente seriam muito mais fortes do que Moron, que, apesar de sua força monstruosa, não podia reivindicar superioridade sobre pessoas como Noir Giabella ou Gavid Lindman.
Se Eugene permanecesse mais fraco que Moron, ele não poderia esperar superar os desafios pela frente.
“Se esse fosse o caso, seria melhor eu ficar escondido nesta montanha e pedir a Moron que lutasse em meu lugar…” Eugene pensou ironicamente.
Eugene podia abrir a fronteira de Lehainjar com sua Espada do Luar. Embora fosse impossível para ele detectar imediatamente o surgimento dos Nur, ele poderia responder de forma um tanto semelhante se espalhasse penas da Proeminência por toda a montanha.
Era um pensamento ocioso e inútil. Embora a força de Moron fosse inegável, seu poder era muito direto. Possuía fraquezas claras.
Mesmo que ele pudesse lidar com Gavid, enfrentar o ataque determinado de Noir de ataques mentais através da liberação do poder do Olho Demoníaco da Fantasia deixaria Moron indefeso. Além disso, a mente de Moron já havia sido levada ao limite da sanidade pelo veneno dos Nur. Ele era particularmente vulnerável a tais ataques mentais.
No final, dependia de Eugene se tornar mais forte. Os vários meses dançando à beira da vida e da morte com o machado de Moron não foram em vão. Eugene sabia disso melhor do que qualquer um.
“Eu já dancei tão perto da morte desde o meu renascimento?” Eugene se perguntou de repente.
Não era que ele não tivesse enfrentado inimigos formidáveis antes. Mas os oponentes que Eugene havia encontrado — seja Barang, o demônio que o obrigara a liberar Ignição pela primeira vez, ou Jagon, a Besta de Ravesta — nenhum deles havia sido mais forte que Hamel.
Até mesmo Eward, quando possuído pelo espírito das sombras, e Edmund, que havia sido completamente anulado pela Espada do Luar, não o superaram.
Havia apenas dois seres que podiam ser considerados mais fortes que Hamel, que Eugene.
Um era Raizakia, o Dragão Demoníaco.
O outro era a recém-nascida Rainha Demônio da Fúria, Iris. No entanto, suas batalhas com ambos haviam terminado em um único encontro.
As batalhas com Moron não terminaram com um único encontro. Desde que Eugene ou Moron não morressem, eles poderiam repetir seu confronto uma e outra vez. Mesmo que os levasse à beira da morte, eles sempre poderiam contar com a cura de Kristina e Anise.
“A cada roçar da morte, sinto que estou ficando sensível a novas sensações. Aprendo como mover minha espada melhor para receber seu machado e como balançá-la para penetrar em sua defesa,” observou Eugene.
Ele havia pensado que não havia mais nada a acrescentar aos seus sentidos de combate. Agora, ele sabia que tinha sido arrogância absurda. Embora Hamel tivesse sobrevivido de fato a muitas batalhas no passado, o que Eugene considerava o extremo não era o limite absoluto.
Ele não via isso como gravar uma sensação conhecida, mas como descobrir algo novo. Era uma nova descoberta.
Ele recordava a divindade e intuição de Agaroth e mesclava as experiências tanto de Hamel quanto de Eugene em uma só. Então, fundia Hamel e Eugene nas técnicas de combate de Agaroth. Ele unia tudo em sua mente a uma sublime unidade.
Através desse processo, ao longo de meses, ele agora estava certo.
“Estou ficando mais forte.”
Ele saiu da caverna.
Moron o cumprimentou com um sorriso enquanto se levantava do chão e balançava o braço esquerdo.
— Aquilo foi perto, Hamel. — Disse Moron.
Eugene havia sofrido membros quebrados, mas Moron havia apenas machucado o braço esquerdo.
No entanto, comparativamente, Eugene sentiu que os ferimentos que ele infligira eram muito mais graves. Embora seus membros tivessem sido quebrados, eles ainda estavam intactos. Por outro lado, a espada de Eugene quase havia cortado completamente o braço de Moron.
“Se seus músculos fossem apenas um pouco menos grossos, eu teria cortado completamente,” Eugene pensou enquanto observava o braço esquerdo de Moron.
Isso não significaria que eu ganhei? Eugene chegou a uma conclusão em sua mente e colocou a Espada Sagrada sobre o ombro.
— Como já está quase anoitecendo, vamos manter esta sessão curta. — Disse Eugene.
— Concordo. — Moron riu alto enquanto erguia seu machado.
Kristina, que havia seguido Eugene para fora, mal conseguia entender a emoção que os permitia rir de tal combate brutal depois que terminava.
[Não há necessidade de entender, Kristina. Eu também não consigo compreender a loucura deles, e Sienna também não seria capaz,] disse Anise.
“A Senhorita Sienna… Eu me pergunto como ela está?” Kristina disse.
[Você não precisa se preocupar com essa garota. Muitos magos seguem Sienna, então ela provavelmente está confortavelmente sentada entre seus discípulos em Aroth. O que importa agora somos nós, não Sienna,] disse Anise.
Kristina retrucou, “Mas Irmã, meus milagres e o poder do Estigma estão ficando mais fortes. O braço do Sir Moron quase foi completamente cortado, mas agora, eu—”
Mas Anise a interrompeu com um grito, [Kristina! Isso não é o que estou me referindo. Três meses se passaram desde que Sienna foi para Aroth, e nós não fizemos nada com Hamel!]
“Isso é… inevitável… I-Irmã, nós não precisamos sempre estar fazendo algo, certo? O tempo que estamos passando com Sir Eugene agora tem seu próprio significado belo,” disse Kristina hesitante.
Ela se benzeu para afastar os desejos insidiosos que turvaram sua mente enquanto Anise suspirava frustrada.
* * *
Enquanto isso, em Aroth.
— Eu quero me tornar uma deusa.
A Sábia Sienna, uma figura que poderia ser considerada a mãe de todos os magos desta era, estava sentada sozinha no alto do trono. Seu queixo estava apoiado em sua mão enquanto murmurava para si mesma.