Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 413
Capítulo 413
O Campo de Batalha (7)
O grupo deixou o outro lado de Lehainjar completamente apagado. Durante a luta, Eugene estava preocupado que toda a dimensão pudesse entrar em colapso… mas, felizmente, isso não aconteceu.
O outro lado de Lehainjar só havia sido usado como uma lata de lixo para os cadáveres dos Nur nos últimos trezentos anos, pois esse era o propósito para o qual Vermouth o criara. Não havia como aquele maldito minucioso ter feito um trabalho tão ruim que a dimensão entrasse em colapso por causa de uma luta.
Embora agora tivessem voltado do outro lado, Moron ainda não havia largado seu amado machado. Segurando o machado com as duas mãos, Moron olhava fixamente para a extremidade da lâmina do machado, que havia sido cortada limpinha.
Ao ver Moron ali, perdido em pensamentos, Eugene sentiu-se culpado por algum motivo e disse:
— Isso… eu deveria pelo menos tê-lo deixado parcialmente preso? Talvez assim, você pudesse tê-lo recolocado de alguma forma.
Moron havia dito que aquele machado não era diferente dele mesmo. Agora que a ponta do machado fora cortada, Eugene sentiu que Moron poderia estar em choque. Além disso, no momento em que a parte cortada foi separada da lâmina, ela foi levada pela força da Espada Vazia e destruída completamente, sem deixar para trás nem mesmo um grão de poeira.
— Não… está tudo bem. — Respondeu Moron lentamente. — Mesmo se você tivesse deixado a peça presa, acho que eu não a teria recolocado. — Mesmo com seus olhos parecendo perdidos em pensamento, Moron conseguia responder com calma.
E ele não estava se forçando a dizer isso. Embora fosse verdade que este era o machado que ele havia estimado como uma segunda natureza nos últimos trezentos anos, o fato de que ele foi quebrado em batalha, e em uma batalha contra Hamel, não deu a Moron motivo para sentir tristeza.
Assim como o sonho de um guerreiro era morrer no campo de batalha sem arrependimentos, o mesmo valia para suas armas. Além disso, não era como se tivesse sido completamente destruído. Apenas a ponta fora cortada, não é? Com a lâmina do machado sendo tão imensamente grande, perder apenas essa parte não era absolutamente nenhum problema.
— Mesmo? Você tem certeza? Então, o que é essa sua expressão? — Eugene perguntou, encarando Moron suspeitosamente com os olhos estreitos antes de se aproximar e cutucar Moron nas costelas. — Ei, seu maldito. Em primeiro lugar, só para ficar claro, eu nunca pedi para você fazer aquela aposta, certo? Além disso, eu não fui quem estabeleceu aquelas condições. Você foi quem inventou essas coisas. Além disso, eu nunca pedi para você gritar que perdeu para mim, e eu nunca tinha sequer pensado em fazê-lo!
Moron realmente poderia estar guardando rancor pelo fato de ter que gritar cinco vezes seguidas que havia perdido para Eugene? No momento em que esse pensamento surgiu na cabeça de Eugene, ele decidiu imediatamente esclarecer as coisas com Moron.
Pap pap pap pap.
À medida que as cutucadas de Eugene gradualmente se transformavam em palmadas em seu antebraço quando Moron permanecia inerte, Moron de repente virou a cabeça para encarar Eugene e disse:
— Hamel.
Alarmado pelo rosto feroz de Moron virando-se para ele sem aviso prévio, Eugene não conseguiu lidar com a pressão súbita e deu um pulo para trás.
Inconsciente da surpresa de Eugene, Moron continuou falando:
— Aquilo que você fez no final.
— Ah… — Eugene pausou para recuperar a compostura. — Ahem, o que tem?
— Eu não pude ver o golpe final da sua espada. — Moron admitiu. — Antes disso, sua espada já era bastante rápida e afiada, mas não a ponto de eu não poder vê-la. No entanto, no final, o golpe de espada que você usou para cortar meu quinto golpe de machado definitivamente ultrapassou os limites dos meus olhos.
Eugene também lembrou daquele momento peculiar. Se, naquele momento, Eugene realmente quisesse, sentia que poderia ter cortado a cabeça de Moron.
— Como diabos você fez isso? — Moron perguntou, confuso.
Casos em que as pessoas encontravam subitamente a iluminação durante uma batalha eram raros, mas existiam. As pessoas podiam se transformar repentinamente por causa de uma inspiração trazida pela luta subsequente, e seu nível de artes marciais subiria abruptamente.
Eugene também havia experimentado algo assim várias vezes em sua vida anterior. Durante batalhas que ameaçavam a vida, enquanto estava na fronteira entre a vida e a morte, ele de repente obteria algum tipo de inspiração.
No entanto, desta vez… embora fosse um pouco semelhante a esse tipo de realização, também era completamente diferente.
Naquele momento, Eugene havia enxergado completamente o ataque de Moron, mas não importava onde ou como ele tentasse atacar, sabia que seria bloqueado. Em todas as suas batalhas até agora, Eugene estava acostumado a fazer esses cálculos e previsões, mas o pensamento que entrou em sua mente durante o último golpe de sua espada não era um cálculo nem uma previsão; ele sabia o que aconteceria com absoluta certeza.
Eugene olhou para baixo para sua mão direita. Suas pontas dos dedos, ainda cobertas de sangue, estavam tremendo. Já se passaram alguns minutos desde então, mas só de pensar nisso, sua mão queria alcançar uma certa espada.
— Eu não sei. — Eugene respondeu, enquanto desviava o olhar.
A intuição que surgiu naquele momento foi acompanhada por uma onda de divindade dentro de sua cabeça e a sensação de que seus olhos estavam cheios de energia divina. Suas memórias daquele momento eram tão claras quanto poderiam ser, mas Eugene não acreditava que seria capaz de recriar o que aconteceu naquele último momento.
— Você não sabe? — Moron repetiu, confuso.
— Isso mesmo. Foi tudo uma coincidência… ou um sentimento… algo assim. — Respondeu Eugene vagamente, enquanto cerrava e abria os dedos trêmulos.
Chamar sua vitória de resultado de uma coincidência ou de um sentimento e descrever o que aconteceu em termos tão incertos poderia, de alguma forma, ter parecido um insulto. No entanto, Moron não o interpretou assim. Em vez disso, ao ouvir Eugene dizer isso, ele imediatamente adotou uma expressão séria e pôs a mão no ombro de Eugene.
— Nesse caso, você precisa se familiarizar completamente com esse sentimento. — Moron disse encorajadoramente.
Para aqueles no nível de Eugene, receber qualquer nova iluminação era extremamente raro.
Quer fosse apenas uma coincidência ou um sentimento, mesmo que Eugene só pudesse começar por aí, contanto que ele aprofundasse e obtivesse controle total sobre o fenômeno, ele seria capaz de alcançar um nível ainda mais alto. Como companheiro guerreiro, Moron estava certo de que a coincidência ou o sentimento que Eugene havia sentido era algo como um golpe de sorte para ele.
Uma voz os interrompeu.
— Antes de fazer qualquer outra coisa, vocês dois precisam ser tratados.
Bam!
Anise, que se aproximara deles em algum momento durante a conversa, deu tapas simultaneamente nas costas de Eugene e Moron. Com um brilho ameaçador nos olhos, Anise examinou as feridas de Eugene e Moron.
A única ferida de Moron era um pequeno corte, e uma ferida desse tamanho verdadeiramente não era algo que precisasse ser tratado com magia divina.
Por outro lado, as feridas de Eugene precisavam de tratamento. O sangue pingando de suas mãos poderia estar diminuindo, mas porque ele havia suportado os ataques bárbaros de Moron repetidamente, seus ossos, músculos e órgãos haviam sido todos danificados.
Anise clicou a língua.
— É apenas sorte que você não tenha usado Ignição.
— Eu disse que não usaria. — Eugene resmungou.
Anise resmungou.
— Hunf… Se você tivesse, Hamel, eu teria te espancado pior do que Moron já fez.
Bam!
Anise deu um tapa nas costas de Eugene mais uma vez.
Extremamente ofendido por suas palavras, Eugene protestou.
— Pior do que Moron? O que diabos isso significa? Eu nunca fui espancado por Moron uma única vez.
— Você não foi espancado da última vez? — Anise lembrou.
— O passado é passado, e hoje é hoje. — Eugene disse evasivamente. — E hoje, bom, eu não derrotei Moron? Posso não tê-lo espancado fisicamente, mas quase o cortei ao meio…
Sienna, que estava assistindo de cima com Anise, balançou a cabeça e disse:
— Isso… certamente parecia um pouco assustador. Sabe, eu estava preocupada que você realmente pudesse cortar Moron ao meio.
Quantas vezes as duas pensaram em intervir na luta porque estava ficando muito perigosa?
— Parece que não é apenas a mana da sua Fórmula da Chama Branca que aumentou, mas suas habilidades de luta como um todo? Como você conseguiu isso? Você tem treinado sem a gente saber? — Sienna perguntou suspeitosamente.
Eugene zombou.
— Desde que subjugamos Iris, você fez questão de ficar perto de mim todos os dias, então como eu poderia treinar em segredo?
Embora ele estivesse apenas dizendo a verdade… Sienna não pôde deixar de corar por algum motivo quando o ouviu dizer que ela estava grudada ao seu lado todos os dias.
Ela queria negar isso por vergonha, mas o fato de ser verdade também a deixou de bom humor… isso dito, apenas admitir a verdade sob todos esses olhares também era constrangedor…
A coisa boa era que todos ao seu redor naquele momento eram seus queridos camaradas que compartilhavam uma história com ela.
“Moron sabe sobre nós…?” Sienna pensou subitamente, surpresa ao encarar Moron.
Mas ela não achava que um tolo insensível como Moron pudesse ter percebido algo assim. Anise e Vermouth haviam claramente sido capazes de adivinhar os verdadeiros sentimentos de Sienna, mas Sienna nunca suspeitou que isso poderia ser por sua própria falta de jeito em escondê-los. Ela apenas achava que era porque os dois tinham percepções excelentes. Por outro lado, como Moron era um tolo, não havia como ele saber que Sienna tinha secretamente nutrido sentimentos por Hamel…
Moron virou-se para ela e perguntou:
— Vocês vão realizar a cerimônia quando tudo acabar?
Coff, coff. Sienna engasgou diante da pergunta repentina de Moron.
— C-Cerimônia? Que cerimônia?
— Estou falando do casamento de vocês. — Moron esclareceu. — Se quiser, ficarei feliz em emprestar o Palácio Real de Ruhr a vocês.
— Vocês também podem realizar no Vaticano em Yuras. — Anise acrescentou.
Enquanto ouvia Moron e Anise falando de ambos os lados dela, os olhos de Sienna vacilaram de choque. Sienna virou a cabeça, irritada pelo fato de Eugene ainda não ter mostrado nenhuma reação, mas o homem em questão insistiu em manter os lábios firmemente fechados e permanecer tão imóvel quanto uma estátua.
Sienna gaguejou.
— A-A-Anise, do que você está falando?
— Por que ficar tão constrangida neste momento… — Anise suspirou. — Oh, Sienna, estou apenas te dizendo isso antecipadamente, mas você não precisa se preocupar com meus sentimentos. Embora você tenha que ter uma conversa separada com a Kristina.
Nesse momento, Kristina falou com Anise, [Eu também estou bem com o que acontecer, Irmã. Se o Sir Eugene e a Senhorita Sienna realmente desejarem oficializar seu relacionamento, ficarei feliz em participar do evento e até posso fazer um discurso no casamento.]
Para que houvesse um segundo, tinha que haver um primeiro para começar. Se Sienna acabasse jogando um buquê, Kristina estava preparada para pegá-lo, não importava o que acontecesse.
Sabendo que só acabaria sendo humilhado se esse tópico continuasse mais longe, Eugene se pronunciou, tentando desesperadamente mudar de assunto.
— Ahem… a propósito, consegui lembrar com sucesso dos últimos momentos de Agaroth.
Todos ficaram interessados com aquelas palavras.
— Você viu o Rei Demônio da Destruição? — Sienna perguntou imediatamente.
Quando Sienna disse aquele nome, as expressões de Moron e Anise também se endureceram.
Eugene assentiu e apontou para a caverna de Moron.
— Vamos continuar nossa conversa lá dentro.
Uma vez dentro, Eugene começou a contar a eles sobre as partes das memórias de Agaroth que ele conseguira lembrar.
Ele trouxe à tona a conexão entre os Nur e o Rei Demônio da Destruição. Conforme a história avançava, o rosto de Moron ficava ainda mais rígido e sério.
Até agora, não havia fatos definitivos sobre a identidade dos Nur. Eles pensavam que os monstros tinham algo a ver com o Rei Demônio da Destruição, mas isso era apenas um palpite deles. No entanto, através das memórias de Agaroth, ficou claro que os Nur estavam incluídos entre os súditos governados pelo Rei Demônio da Destruição.
— Então, eles são a vanguarda da Destruição… — Moron disse pensativamente. — Não, seria melhor chamá-los de ponta de lança? Afinal, apenas algumas dezenas dos Nur aparecem nesta montanha em um único dia.
Na memória de Agaroth, inúmeros Nur apareciam diariamente no campo de batalha. Era completamente diferente do que estava acontecendo atualmente nesta montanha.
— Pode ser que os Nur não possam aparecer em grande número porque Vermouth selou o Rei Demônio da Destruição. — Eugene especulou.
Quando o nome de Vermouth foi mencionado, as sobrancelhas e os lábios de Moron caíram, transformando sua expressão séria em uma depressiva.
— Se eu realmente tivesse enlouquecido completamente e falhado na minha missão de matar os Nur… não teria resultado na disseminação de sua destruição de Lehainjar por toda a extensão dos campos de neve… — Moron murmurou em voz baixa enquanto cerrava o punho.
Este campo de neve era a cidade natal de Moron e agora fazia parte da nação que Moron próprio havia fundado. Moron sempre confiou em Vermouth. Ele acreditava que, se fosse Vermouth fazendo o pedido, deveria haver algum propósito por trás de sua missão.
No entanto… sempre que seus pensamentos ficavam nublados, Moron não podia deixar de ser dominado por essa solidão inescapável e infernal que sua vida havia se tornado. O fato de todos os seus camaradas terem desaparecido, deixando-o sozinho com esse dever interminável de matar esses monstros misteriosos, o deixou deprimido.
No entanto, dali para frente, Moron não perderia mais de vista sua missão. Independentemente do fato de já ter se livrado da loucura, agora que a verdadeira identidade dos Nur foi confirmada, Moron nunca vacilaria em seu dever. Quer fosse pelo Reino Ruhr ou pela confiança de Vermouth nele. Não importa quanto mais tempo ele fique ali sozinho, Moron jurou que não perderia a razão.
Sienna mudou de assunto.
— Então, de qualquer forma, sobre o Rei Demônio da Destruição… ele realmente não parece um Rei Demônio, não é?
Eugene havia visto um buraco cercado por todas as cores. Sienna tentou lembrar o que eles haviam conseguido ver do Rei Demônio da Destruição no passado.
Mesmo naquela época, tudo o que tinham visto do Rei Demônio da Destruição era uma nuvem de cores semelhante, e não haviam conseguido ver sua forma completamente. Porque olhar para ele de uma distância tão longa os fazia sentir que estavam enlouquecendo.
— De acordo com as memórias que Hamel recuperou, o Rei Demônio da Destruição nem parece um ser vivo, quanto mais um Rei Demônio. Você não disse que parecia um buraco perfurado no mundo? — Sienna perguntou.
— Sim. — Eugene confirmou.
Sienna considerou pensativamente.
— Os Nur estão emergindo desse buraco, ou poderia ser que o corpo principal esteja escondido em algum lugar dentro desse buraco…?
Eugene só pôde acrescentar:
— Agaroth morreu depois de entrar nele, mas eu não me lembro completamente de como era dentro daquele buraco.
A memória restante estava borrada.
Não era como se ele não conseguisse se lembrar, era como se não houvesse nada para lembrar. A única razão pela qual Agaroth havia conseguido sobreviver e continuar lutando dentro daquele lugar por tanto tempo era que as emoções persistentes de raiva, ódio e rancor de Agaroth mantinham seu corpo em movimento, mesmo quando seu ego havia se despedaçado há muito tempo.
— A Era dos Mitos… — Sienna murmurou enquanto cruzava os braços e caía em profundo pensamento.
Ela estava pensando na Bruxa do Crepúsculo e na Sábia, que apareceram na memória que Eugene recuperara.
— Naquela era, você realmente poderia alcançar a divindade através do domínio da magia… Em outras palavras, os humanos podiam se tornar algo mais do que humanos. É isso mesmo? — Sienna verificou com Eugene.
Eugene assentiu.
— Uh–huh.
— No entanto, algo assim é impossível agora. Não importa quão excepcional uma pessoa possa ser, ela ainda é apenas humana. Ah, claro, há exceções como nós. — Sienna disse enquanto inclinava a cabeça e olhava para Moron. — Se você puder entrar no estágio de usar mana, pode viver muito além da vida útil de um humano comum. No entanto, não importa quanto tempo um humano viva, ainda não pode se tornar um deus. E não estou tentando me gabar, mas se os humanos ainda pudessem se tornar deuses apenas por serem venerados, eu provavelmente já seria uma deusa, não é mesmo?
Isso de forma alguma era um exagero. Todos os magos atualmente vivendo neste mundo respeitavam e reverenciavam Sienna, e até mesmo não-magos a elogiavam como a ‘Sábia Sienna’. Então, como Sienna havia dito, se a adoração e a fé ainda pudessem transformar os humanos em deuses, ela já teria se tornado uma deusa há muito tempo.
— Então, o que era possível naquela era é impossível agora… mas o que isso significa exatamente? — Sienna perguntou a si mesma. — Na memória que você viu agora, a Bruxa do Crepúsculo estava quase no limite de se tornar uma Deusa Má. Mas bem, de acordo com essa memória, o método para se tornar uma Deusa Má e o método para se tornar um Rei Demônio parecem ser bastante similares. Embora eu não tenha intenção ou interesse em me tornar tal ser. No entanto, o fato da Sábia ser tanto uma maga quanto uma deusa… isso é bastante intrigante.
Eugene arqueou uma sobrancelha.
— Por que, você também quer se tornar um deus?
— Não é necessário ir tão longe quanto se tornar algo como o Rei Demônio da Destruição, mas se eu quiser ser capaz de enfrentar o Rei Demônio do Encarceramento, não há outra maneira a não ser ir além do nível de um mero humano. — Sienna disse com um resmungo enquanto apoiava o queixo em uma mão. — Claro… como a Sábia Senhorita Sienna, eu já ultrapassei de longe o nível de ser uma humana comum. No entanto, se eu encontrar a chance de ir além disso e me tornar uma deusa em vez de apenas uma humana… então sinto que talvez consiga ter uma imagem mais clara da nossa vitória.
Anise, que estava silenciosamente perdida em pensamentos, abriu os olhos.
Ela se virou para olhar Eugene e disse:
— Hamel, na era de Agaroth, o Deus da Luz realmente existia?
Eugene deu de ombros.
— Provavelmente.
— O que você quer dizer com provavelmente? — Anise perguntou com firmeza.
Eugene explicou:
— Não consegui lembrar todas as memórias de Agaroth. O que vi foi uma memória fragmentada de antes dele morrer, então não consegui acessar todo o conhecimento de Agaroth…
Anise suspirou.
— Está bem, Hamel. Pelo menos você confirmou que, naquela era da mitologia, os deuses das lendas antigas existiam. E você também disse que, assim como Agaroth, havia vários deuses que nasceram devido à discórdia, certo?
— Sim. — Eugene assentiu.
— Então aqui está o que eu acho que pode ter acontecido. — Anise respirou fundo.
Toc, toc.
Anise continuou falando com os dedos batendo na mesa.
— Naquela era mítica, a Luz estava presente no mundo que veio antes do nosso mundo atual. Após aquele mundo ser destruído pelo Rei Demônio da Destruição, a era atual começou. Mas, nesse caso… será que a Luz que existe na era atual é a mesma Luz que conseguiu sobreviver desde a Era dos Mitos? Ou poderia ser que uma nova Luz nasceu nesta era?
— … — Os outros ficaram em silêncio.
— Se for o primeiro caso… então não pode ser apenas o Rei Demônio do Encarceramento. Outros Deuses de alto escalão também devem ter conseguido sobreviver à Destruição e chegar à era atual. Se for esse o caso, então podemos considerar as Escrituras da Luz como uma lenda que foi herdada da Era Mítica. No entanto, se for o segundo caso… então, após a destruição, como um deus nasceu neste mundo que foi completamente devastado? — Anise apertou os lábios enquanto dizia isso.
Embora ela fosse a Santa da Luz, bem como um anjo, isso não significava que ela fosse capaz de se comunicar diretamente com seu Deus. Isso não era verdade apenas para Anise, mas também para todos os anjos convocados usando magia divina.
Um sacerdote com uma fé verdadeiramente forte poderia se tornar um anjo após a morte. No entanto, a maioria dos anjos realmente não funcionava como mensageiros da Luz, como o nome sugeria. Na verdade, eles geralmente eram tratados como convocações exclusivas para praticantes de magia sagrada ou chamados apenas para agir como amplificadores para a magia divina.
Como tal, todos esses anjos nunca realmente se encontraram com o deus a quem serviam, e quando não estavam sendo convocados, esses anjos apenas flutuavam ao redor em um mar brilhante de luz sem estar totalmente conscientes do tempo passando.
Mas, apesar de tudo, os anjos ainda eram uma prova de que Deus existia. Ele pode não ser capaz de manter uma conversa, mas a Luz indiscutivelmente ainda estava viva.
Então, havia o caso quase único de Anise, que havia conseguido receber uma revelação divina da Luz. Embora ela nunca tenha recebido outra revelação desde então, Anise não duvidava que seu Deus realmente existia.
No entanto… o vácuo que existia entre a destruição do mundo antigo e o início desta nova era, bem como o nascimento da fé na ‘Luz’ neste novo mundo, era suspeito.
— Bem, não importa tanto assim. — Anise disse com um resmungo e encolhimento de ombros depois de pensar sobre isso por alguns momentos. — Como alguém que se autodenomina o Deus Supremo, a Luz sempre foi suspeita, e esses fanáticos religiosos que adoram a Luz a sério são todos idiotas. Pode até haver algumas coisas mais suspeitas acontecendo, mas por que isso deveria importar? Afinal, a coisa principal é que o poder divino da Luz sempre foi de ajuda em nossa luta contra os Reis Demônios.
Eugene hesitou.
— Ah… bem… eu não consigo me lembrar claramente, mas parece que o Deus da Luz era um bom deus—
— Isso não é importante. — Anise o interrompeu. — Mesmo que ele não fosse um deus tão bom naquela época, ele não está ajudando o mundo na era atual? Nem todos os seus crentes são idiotas; sabemos que a Luz nunca pecou contra este mundo. Embora, se indiferença e negligência fossem contadas como pecados, ele certamente seria culpado.
Será que era realmente tranquilo uma Santa repreender seu próprio deus assim? Bem, deveria estar tudo bem. O Deus da Luz era um deus misericordioso que até concedeu seu poder a Eugene, que não tinha fé nele.
Anise mudou de assunto.
— Nesse caso, vocês já terminaram seus negócios neste país? O que vocês vão fazer agora?
— O que mais. — Eugene disse enquanto se virava para Moron. — Ei, Moron.
— O que foi? — Moron respondeu.
— Está tudo bem se eu morar aqui por um tempo? — Eugene perguntou.
— Claro que está tudo bem! — Moron disse alegremente.
Embora tenha sido um pedido repentino, Moron concordou sem a menor hesitação.