Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 398
Capítulo 398
Um Sonho (4)
Eugene inspirou profundamente.
Uma cadeira envolta em correntes. No momento em que viu isso, o primeiro pensamento que veio à mente de Eugene foi o Rei Demônio do Encarceramento.
Sempre que aquele Rei Demônio aparecia, ele sempre vinha acompanhado do som de correntes, e ele também tinha inúmeras correntes seguindo-o como um manto. Além disso, o Rei Demônio do Encarceramento também tinha uma relação inseparável com o Rei Demônio da Destruição.
Isso porque — embora não tivessem certeza qual era verdade — na opinião de Eugene e de alguns outros, o Rei Demônio do Encarceramento parecia ser o único que podia controlar o Rei Demônio da Destruição.
Pelo menos, nas poucas vezes no passado em que Eugene conseguiu se aproximar do Rei Demônio da Destruição, suas tentativas de descobrir mais sempre foram interferidas pelo Rei Demônio do Encarceramento.
Essa era Ravesta, o território da Destruição. E este templo encontrado nas profundezas de Ravesta poderia ser o palácio do Rei Demônio da Destruição. Poderia ser que o Rei Demônio do Encarceramento tivesse aparecido ali para afastar qualquer intruso que se aproximasse sem permissão…
Não, não era ele.
A cena borrada do outro lado da barreira gradualmente se tornou mais clara. Ao ver o que havia além, Eugene inconscientemente tentou avançar.
No entanto, ele não foi capaz de fazer o que queria. Isso porque Noir, que havia estado assistindo à memória se desenrolar ao lado dele, agarrou o braço de Eugene.
— Você não pode se aproximar mais. — Sussurrou Noir. — Embora isso seja um sonho, ainda é baseado no que eu experimentei pessoalmente. E eu não consegui ver nada além deste ponto. Então, mesmo que você se aproxime, Hamel, não será capaz de ver ou sentir mais do que isso.
Como se para provar essas palavras, o ‘sonho’ sacudiu. A agitação ocorreu porque a consciência de Noir havia sido danificada pelo que ela acabara de testemunhar no sonho.
A Noir no sonho, que estava lá parada em estado de choque, foi repentinamente jogada para trás, sangue escorrendo dos olhos, nariz e boca.
— V-Vermouth? — Noir arfou com uma expressão confusa enquanto continuava tossindo sangue.
A figura sentada na cadeira, envolta em correntes, era Vermouth Lionheart. Eugene cerrou os dentes ao ver isso.
Vermouth parecia incomparavelmente mais exausto e acabado do que quando Eugene o havia visto na visão da Sala Escura.
Seus longos cabelos grisalhos, que antes se assemelhavam à juba de um leão, agora pareciam não ter sido penteados por muito tempo e haviam se transformado em um ninho de pássaros emaranhado. Sua cabeça estava tão baixa que era difícil ver seu rosto, mas pela maneira como seus ombros estavam caídos, seus braços pendurados frouxamente sobre os braços da cadeira e suas pernas esticadas fracamente à sua frente, era possível confirmar em que péssimo estado Vermouth se encontrava.
Não havia nem mesmo sinais de respiração. Vermouth apenas estava lá, completamente imóvel, como se tivesse sido empalhado.
O corpo de Eugene tremia de agitação enquanto ele tentava se aproximar de Vermouth mais uma vez. No entanto, Noir fortaleceu seu aperto em Eugene e se recusou a deixá-lo ir.
Noir o lembrou:
— Eu já te disse, é inútil.
— Solte. — Grunhiu Eugene.
— De verdade, mesmo que eu esteja dizendo isso para o seu bem… — Noir soltou um suspiro enquanto soltava o braço de Eugene.
Somente então Eugene conseguiu cambalear em direção a Vermouth. No entanto, a distância entre ele e Vermouth não diminuiu, não importava o quanto ele desejasse. Os passos de Eugene alcançaram uma linha invisível, com seu ponto mais distante definido onde a Noir do sonho estava atualmente em pé, e eles se recusavam a ir mais longe.
— Eu te disse. — Resmungou Noir. — Como eu disse, é até onde cheguei ao tentar ver o que havia do outro lado da barreira. Algo bloqueou minha sonda mental quando me concentrei em tentar cruzar essa linha.
Embora Eugene continuasse tentando avançar, ele apenas continuava tropeçando repetidamente no mesmo lugar. Eugene resmungou de raiva e cerrou os punhos.
— Você é Vermouth… Vermouth Lionheart, certo? O que você está fazendo aí dentro? — Perguntou a Noir do sonho em voz urgente.
Sangue escuro continuou a jorrar de seus olhos, nariz e boca. O sinistro poder negro dentro da barreira até havia conseguido sobrecarregar as defesas de um demônio do nível de Noir e havia causado danos a ela. Embora ela tenha conseguido suportar o ataque do poder negro sem permitir que ele a contaminasse, ela nem conseguia imaginar tentar resistir ou lutar contra ele.
Este era o Grande Vermouth.
O Vermouth do Desespero.
Nos últimos trezentos anos, Noir havia abrigado um medo deste homem belo, mas arrepiante.
Durante a era da guerra, Noir havia mergulhado nos sonhos de todos os companheiros deste homem, incluindo seu querido Hamel. Ela havia invadido os sonhos de Hamel, Moron, Sienna e Anise.
Ela também tinha tentado invadir os sonhos de Vermouth. No entanto, não encontrou sonhos esperando por ela no fundo do coração de Vermouth.
Não, para o homem conhecido como Vermouth, coisas como sonhos simplesmente não pareciam existir.
Todos os seus companheiros tinham algum tipo de sonho em seus corações, e ela sempre podia encontrar neles emoções persistentes relacionadas aos seus sonhos ou ao que estava acontecendo na realidade — mas estranhamente, tais coisas pareciam não existir no homem conhecido como Vermouth.
Mas talvez… poderia ser porque Vermouth havia conseguido aprender algum feitiço exótico de proteção. Assim como pessoas com uma força mental particularmente forte eram capazes de proteger suas mentes através da força de vontade, Vermouth pode ter usado algum tipo de feitiço para proteger sua mente de invasões.
De fato, Noir só havia conseguido invadir os sonhos de Hamel e dos outros membros do grupo nas primeiras vezes que tentou, pois, de algum ponto em diante, Noir não foi mais capaz de romper as barreiras de Sienna e Anise. Como Vermouth era um caso especial mesmo entre eles, era possível que ele tenha sido capaz de proteger perfeitamente sua mente desde o início.
Mas será que isso era realmente verdade? Mesmo agora, após trezentos anos terem se passado, Noir não tinha confiança em fazer suposições sobre Vermouth, mesmo quando ele era assim naquela época.
Ela realmente havia falhado em espionar seus sonhos? Ou talvez… ela realmente havia visto o que estava no coração de Vermouth. Então, se o que ela viu era real, isso significava…
Noir tentou chamar o nome de Vermouth mais uma vez.
— Vermouth Lionhe—
Mas, naquele exato momento, Vermouth, que parecia ter sido congelado na posição, de repente se moveu. Foi apenas um movimento pequeno, mas o som que causou foi muito maior do que poderia ser esperado à primeira vista.
Tchichichichink!
As correntes conectadas à cadeira levantaram todas simultaneamente suas extremidades. Elas então se moveram para envolver tanto a cadeira quanto Vermouth, prendendo-o da cabeça aos pés; então, como se isso não fosse suficiente, elas se torceram pelo ar algumas vezes a mais, criando um nó apertado.
Noir ficou surpresa com essa súbita comoção e deu um passo para trás.
Creak, creeeak.
A massa emaranhada de correntes fez um ruído coletivo enquanto Vermouth levantava a cabeça de dentro de seus apertos fortes. Sob os cabelos bagunçados e desalinhados, seus olhos se abriram lentamente.
Neste momento, Eugene se lembrou de sua batalha contra o Rei Demônio da Fúria. Especificamente, quando a Espada do Luar saiu do controle e Eugene foi arrastado para um vazio desconhecido. Naquele momento, Eugene viu Vermouth no meio daquele vazio.
Embora… fosse verdade que Eugene o tinha visto lá, ele não tinha conseguido ver o rosto de Vermouth diretamente. No entanto, Eugene tinha certeza de que a figura vacilante que ele tinha visto lá era Vermouth, e, na verdade, tinha sido definitivamente Vermouth.
Mas a figura que atualmente se refletia nos olhos de Eugene não parecia Vermouth de forma alguma. Dadas as circunstâncias atuais, não poderia ter havido um intervalo significativo de tempo entre o Vermouth com quem ele tinha falado durante o surto da Espada do Luar e o Vermouth que estava atualmente sendo amarrado naquela cadeira com aquelas correntes. No entanto, o Vermouth que Eugene estava vendo diretamente atualmente parecia mais um estranho do que quando Vermouth só era visível como uma figura fraca dentro do vazio.
Vermouth levantou a cabeça e abriu os olhos, mas não disse nada. No entanto, Eugene conseguiu sentir várias coisas daquele silêncio.
Como Vermouth estava desgastado e como seus olhos pareciam turvos.
Naquele momento, Vermouth parecia mais fraco do que em qualquer ponto das memórias de Eugene. Ele parecia encolhido e desgastado. Se o Vermouth que Eugene tinha conhecido na Sala Escura parecia cansado e abatido, o Vermouth atual parecia deprimido e quebrado.
“Ele poderia pelo menos tentar dizer alguma coisa”, Eugene pensou enquanto olhava fixamente para Vermouth.
As emoções que brotavam dentro de Eugene tornavam-se cada vez mais intensas, mas, apesar disso, Eugene não tentou dizer nada a Vermouth. No final, tudo isso era apenas o sonho de Noir, então não importava o que Eugene dissesse ou fizesse, Vermouth não seria capaz de mostrar qualquer tipo de reação. Afinal, tudo isso já havia acontecido no passado.
Em meio às suas emoções tumultuadas, Eugene não pôde deixar de se irritar com esse fato.
Eugene rangeu os dentes enquanto a Noir do sonho apenas encarava Vermouth sem dizer uma palavra para ele. Da mesma forma, Vermouth também não disse nada para Noir.
Depois de hesitar em silêncio por mais alguns segundos, Noir deu um passo à frente.
Fwooooosh!
Mas no momento em que Noir deu um passo à frente, tudo recuou repentinamente para longe. Tanto a porta que se abriu como uma fenda no espaço quanto Vermouth, que estava sentado envolto em correntes além da porta, então o templo, a mansão de Amelia Merwin, e até mesmo a cidade subterrânea de Ravesta.
— Esse é o máximo que podemos chegar. — Noir informou alegremente.
O sonho se desfez em pedaços. Eugene ficou em silêncio por alguns momentos antes de se virar para olhar Noir em busca de uma explicação.
Afinal, o sonho que Noir pretendia mostrar a ele pode ter terminado, mas não era como se o mundo tivesse acabado junto com o fim do sonho.
Noir deu a Eugene um sorriso radiante antes de continuar a falar:
— Eu não acho que haja necessidade de te mostrar o que aconteceu depois disso. Depois disso, fui expulsa de Ravesta, jogada no mar e tive que me esforçar para não me afogar… Hm, ou será que você quer ver como eu fico quando estou molhada?
Antes que os vestígios persistentes do que Eugene acabara de ver pudessem desaparecer, Noir já tinha começado a falar bobagem.
Normalmente, ele teria simplesmente ignorado as besteiras de Noir, ou talvez tentasse chutá-la, mas… o Eugene atual não era capaz de fazer isso. Ele ficou lá, congelado no mesmo lugar, enquanto tentava entender o que acabara de ver.
— Porra. — Eugene eventualmente xingou.
Não havia como isso ser uma boa notícia. Mas mesmo assim, suas dúvidas não eram tão fortes quanto da última vez que recebeu uma revelação tão perturbadora. Isso porque Eugene sentiu que havia conseguido confirmar a maioria de suas suspeitas mais profundas, então não havia necessidade de duvidar.
Então, Vermouth Lionheart estava atualmente em Ravesta. Amarrado nas correntes do Encarceramento, preso em uma cadeira, sentado dentro de um templo dedicado ao Rei Demônio da Destruição. Dadas as circunstâncias, parecia que o Rei Demônio da Destruição poderia estar à espreita atrás de Vermouth, mas o que tudo isso significava…?
“O Rei Demônio da Destruição tem estado em silêncio nos últimos trezentos anos. Isso significa… que Vermouth está atualmente selando o Rei Demônio da Destruição?” Eugene se perguntou.
Eugene já havia considerado essa possibilidade no passado. Isso porque, entre a Espada do Luar e o sangue do clã Lionheart, Vermouth parecia ter conexões demais com o Rei Demônio da Destruição.
— Há algumas coisas que eu quero te perguntar. — Eugene disse ao se virar para olhar Noir após acalmar suas emoções. — As coisas que você me mostrou agora. Foram—
— Foi tudo real. — Noir confirmou sem esperar que ele terminasse de falar. — Eu posso entender por que você teria essas dúvidas, Hamel. Para alguém como você, que odeia os demônios e quer nos matar a todos, você não deve querer confiar nas palavras de um demônio como eu. No entanto, Hamel, que benefício eu obteria mostrando a você uma ‘mentira’ como esta?
— Você poderia apenas querer me enlouquecer. — Eugene acusou de maneira desconfiada. — Ou talvez queira que eu seja morto sem precisar sujar as mãos.
— Ahahaha! Hamel, você está realmente dizendo isso sério? Você realmente acha que eu consideraria algo assim um benefício? — Noir perguntou com um sorriso perigoso.
Embora ela pudesse ter soltado uma risada animada, Noir não estava realmente expressando diversão. Em vez disso, ela estava encarando Hamel com um olhar de raiva raramente visto em seu rosto.
Depois de ser submetido a esse olhar por alguns momentos, Eugene balançou silenciosamente a cabeça.
— Eu acho que não pareceria um benefício para você, alguém sem nenhum senso comum. — Eugene concedeu.
— Isso mesmo. — Noir concordou felizmente. — Hamel, eu sou a única com o direito de mexer com você e te dar uma dor de cabeça. Mesmo sem pregar uma peça como esta, eu posso mexer com você o quanto eu quiser. Quanto a matar você sem sujar as minhas mãos? Oh meu Deus, Hamel, não há como eu fazer algo assim! Se você algum dia morrer, sou eu quem tem que tirar sua vida, e o mesmo vale ao contrário! E tem que ser pelas minhas próprias mãos que você perde sua vida para que sua morte aconteça dentro do meu abraço.
— Você… se você acabar me dizendo que inventou tudo isso como uma mentira, se estiver me enganando para aceitar sua história como real durante um momento tão crítico, apenas para depois revelar que é na verdade falso, eu realmente ficarei furioso com você. — Eugene a advertiu gravemente.
— Ahahaha! Para você ter essas suspeitas, realmente me conhece bem. No entanto, Hamel, qual seria o motivo para eu chegar a tal ponto? Se é para incutir um desejo assassino em alguém que na verdade não me ressente ou me odeia, talvez eu use esse método. No entanto… você já não me ressente, me odeia e me quer morta? Por que eu teria que atiçar as chamas ainda mais quando você já está tão acalorado? — Noir disse com uma risada enquanto cutucava fofamente as próprias bochechas.
— E eu tenho que dizer, se eu realmente quisesse incutir ainda mais ressentimento, ódio, intenção assassina e raiva em você, não precisaria mostrar um sonho como esse. Falando honestamente, falsificar algo assim seria incômodo, complicado e muito difícil para o que vale a pena. Porque se eu quisesse manipular suas emoções em uma certa direção sem ser detectada, teria que criar um sonho extremamente sutil para fazer isso.
Covinhas apareceram nas bochechas de Noir enquanto ela começava a flutuar no ar com um sorriso maligno.
— Entretanto, o que você faria se eu fosse agora até os Lionheart e assassinasse seus irmãos? Se eu matasse toda a sua família também? Ou talvez, se eu me livrasse de Sienna Merdein e Kristina Rogeris? Se eu quebrasse aquela pequena familiar que você tanto preza em pedaços? Ou se eu matasse a Princesa Dragão Ramira, que você está criando como um animal de estimação?
O mundo ao redor deles parecia estar tremendo. Ambos estavam atualmente dentro do reino da consciência de Eugene. Agora que o sonho que Noir desejava mostrar a ele havia terminado, tudo neste reino poderia ser seriamente influenciado pelas emoções intensificadas de Eugene.
Noir piscou surpresa e olhou para baixo para o próprio corpo antes de explodir em risos.
— Ahahaha!
Em algum momento, antes mesmo que ela percebesse, o corpo de Noir foi despedaçado pelas emoções que percorriam Eugene. Noir riu enquanto reconstruía seu corpo.
— Ahem, eu estava apenas dando um exemplo de até onde eu poderia possivelmente ir. — Noir o tranquilizou. — Pode ter sido um exemplo desagradável de ouvir, mas, de qualquer forma, você deveria ver que não há necessidade de eu passar por todo esse trabalho apenas para te enganar.
— Nesse caso, o que exatamente você ganha fazendo isso? — Eugene questionou desconfiado.
— Bem, agora, eu não necessariamente fiz isso porque senti que precisava ganhar algum benefício fazendo isso, mas… se eu fosse forçada a encontrar uma razão, hmmm… — Noir pensou por alguns momentos antes de seus olhos se curvarem em um sorriso. — Hamel, eu apenas senti a vontade de te mostrar.
Eugene ficou em silêncio.
— Eu só queria te mostrar o que vi. — Noir repetiu. — Porque eu achei que era algo que você precisava desesperadamente saber. Ou talvez, parte de mim também poderia ter pensado que se eu te mostrasse isso… a percepção que você tem de mim poderia mudar um pouco.
O que exatamente ela estava tentando dizer? A testa de Eugene se franziu em um olhar severo enquanto ele encarava Noir.
— Não há como você estar tentando dizer algo como… o que aconteceu entre você e eu é apenas um mal-entendido, que a rixa entre nós é algo de trezentos anos atrás, e que você é diferente agora, certo? — Eugene a observou suspeitosamente.
Noir tossiu.
— Ahem.
Eugene continuou a expressar suas especulações.
— Você não quer que eu te odeie, razão pela qual você me ajudou tantas vezes, e agora você quer que eu… te aceite e talvez até una forças para lutar contra o Rei Demônio do Encarceramento juntos—
— Ahaha! — Noir irrompeu em risadas, incapaz de segurar mais. — Oh meu Deus, Hamel, não é nada disso. Deixe-me dizer isso claramente: eu realmente quero que você me odeie tanto que sonhe em me matar. Quanto a um mal-entendido? O que há para entender errado entre nós? A rixa sendo de trezentos anos atrás? Ahahaha, se necessário, estou disposta a acumular ainda mais rixas, sabe? Além disso… ahem, me aceitar? Unir forças? Isso até soa tentador, e acho que podemos até considerar nos aceitar e unir forças na cama.
Enquanto assistia a expressão de Eugene escurecer, Noir continuou a falar.
— Hamel, o que eu quero de você é algo bastante romântico e sentimental. Um dia, quando finalmente tentarmos nos matar, eu… ou quem acabar vencendo, suponho, espero que sinta uma pequena hesitação no momento final.
— Hesitação? — Eugene repetiu incrédulo depois de uma pausa.
— Sim. — Noir assentiu. — Enquanto pensam em todas as memórias que compartilhamos, espero que o vencedor hesite antes de tirar o último fôlego de seu inimigo. E se essa variável acabar mudando o resultado entre vitória e derrota, sinto que isso também seria bastante divertido.
Noir criou uma cadeira confortável do nada, sentou-se, cruzou lentamente as pernas e se acomodou em uma pose sedutora.
— Para resumir, a razão pela qual estou fazendo essas coisas por você é acumular essas ‘memórias’ entre nós. Porque a maioria das memórias que compartilhamos é de trezentos anos atrás. No entanto, muitas coisas já aconteceram entre nós desde então, não é mesmo? — Noir disse com um sorriso.
Por exemplo, nos campos de neve a caminho da Marcha dos Cavaleiros, no hotel enquanto Eugene se preparava para se infiltrar no Castelo do Dragão Demoníaco, e o mais recente sendo no convés de um navio no Mar de Solgalta.
E então, neste exato momento.
— De agora em diante, tentarei me aproximar de você sempre que tiver a chance. Dessa forma, ainda mais memórias serão acumuladas entre nós, e… Hamel, talvez algum apego cresça dentro de você também. No entanto, definitivamente tentaremos nos matar um dia, mas depois de decidirmos quem vive e quem morre… — Noir pausou e colocou a mão no peito enquanto imaginava o futuro que compartilhavam. — Então talvez… eu sinta uma grande sensação de perda. Vou lamentar, vou sofrer, vou chorar… e talvez eu até me odeie por ter feito isso. Hamel, por sua causa, posso acabar sentindo todo tipo de primeiras vezes.
Tais pensamentos definitivamente não podiam ser compreendidos por ninguém com um ponto de vista normal.
Eugene encarou Noir com olhos desprovidos de entendimento, balançou a cabeça antes de dizer:
— Não hesitarei quando chegar a hora de te matar, e depois de te matar, não sentirei nenhuma emoção além de alegria e alívio.
Noir sorriu.
— Hehe, mas isso não importa para mim. Afinal, eu já estaria morta. Além disso, Hamel, na minha opinião… a probabilidade de eu te matar é avassaladoramente maior do que a probabilidade de você me matar.
Eugene também pensou que as palavras de Noir estavam corretas, pelo menos por enquanto. Quando ele pensava dessa maneira, conseguia entender um pouco as palavras e ações de Noir.
No caso de Noir, ela acreditava que definitivamente mataria Eugene um dia. Como tal, ela se sentia à vontade para acumular quantas memórias e sentimentos compartilhados com Eugene quisesse. Tudo para que, um dia, quando finalmente decidisse matar Eugene, ela pudesse sentir todas as emoções que havia acumulado por ele desmoronarem.
— Mas por que você é tão obcecada por mim? — Eugene perguntou confuso.
Isso era o que Eugene não conseguia entender.
— Se eu tivesse que dizer por que, Hamel, é por causa de quanto você quer me matar. — Noir respondeu.
Eugene apontou.
— Deve haver muitas pessoas além de mim que querem te matar. Mesmo deixando de lado todos os humanos, deve haver muitos demônios também.
— Entretanto, ninguém entre eles tem sentimentos tão fortes quanto os seus. Não há ninguém tão especial quanto você, e também não há ninguém tão capaz quanto você. — Elogiou Noir.
Eugene levou alguns momentos para pensar.
— Se você realmente quisesse morrer tanto assim, por que não se revolta contra o Rei Demônio do Encarceramento? Ou se atira contra o Rei Demônio da Destruição?
— Parece que você realmente não entende o que meu coração deseja? Estou dizendo que quero ser morta por alguém com um ódio particular, obsessivo e intenso por mim. Os Reis Demônios… talvez eles possam me matar quando quiserem, mas eu não sou nada especial para eles. E, em troca, não os considero uma existência especial para mim também. — Noir disse com um sorriso enquanto balançava a cabeça. — Hamel, eu te amo mais do que você percebe. Não importa, mesmo se você não gostar de mim e tentar me afastar.
— Apenas mais uma pergunta… — Eugene disse depois de suspirar com uma expressão de desgosto. — Essas… essas noções insanas suas são realmente importantes a ponto de trair o Rei Demônio do Encarceramento? Você não deveria estar do lado do Rei Demônio do Encarceramento?
— Oh meu Deus! — Noir exclamou enquanto olhava para Eugene com uma expressão sinceramente surpresa. — Hamel, o que diabos você quer dizer com isso? Você está me acusando de traição? Mas eu nunca estive do lado do Rei Demônio do Encarceramento desde o início!
Eugene ficou perplexo.
— O quê?
— Claro, o Rei Demônio do Encarceramento é o Imperador de Helmuth, e eu sou uma das Duquesas, mas mesmo assim… isso não significa que jurei obediência ao Rei Demônio do Encarceramento. Então não é traição eu contar a você sobre minha visita a Ravesta ou o que vi lá. — Afirmou Noir.
Eugene franzia a testa.
— Que tipo de besteira é essa—
Noir falou por cima dele.
— Para resumir, eu não sou vassala do Rei Demônio do Encarceramento. Tudo o que tenho foi alcançado apenas através de meus próprios esforços, e sou a única com autoridade sobre mim mesma.
Ao terminar de dizer isso, Noir pulou abruptamente da cadeira, tendo tido um pensamento repentino.
— De jeito nenhum! — Noir exclamou. — Não pode ser, Hamel! Você está realmente mostrando preocupação por mim? Você pensa que, por sua causa, eu traí o Rei Demônio do Encarceramento! Então você estava preocupado que eu pudesse ser severamente punida por isso, não é?!
Eugene fez uma careta.
— Apenas pensei que não seria bom se o Rei Demônio do Encarceramento conseguisse te matar no meu lugar!
— Mentiroso! — Noir acusou. — Você estava preocupado comigo! Isso mesmo, eu traí o Rei Demônio do Encarceramento. Tudo por sua causa, Hamel! Pelo bem do nosso amor!
— Quando exatamente vou acordar desse maldito sonho? — Eugene cuspiu, torcendo o rosto em uma careta de desgosto.
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