Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 361
Capítulo 361
O Domínio Demoníaco (2)
O confuso tenente elfo negro ainda não tinha respondido, mas Iris estava confiante sobre o que estava vendo. Pálpebras trêmulas sugeriam sua angústia enquanto ela descia trêmula da cama. Correndo até ela, o tenente elfo negro cobriu a princesa, que estava encharcada de suor frio, com um casaco.
— Você viu isso em um sonho? — Perguntou o tenente elfo negro cautelosamente.
— Eu vejo mesmo agora. — Iris ofegou enquanto respirava profundamente. O espetáculo, que parecia impossível, permanecia vívido diante de seus olhos fechados: a escuridão impenetrável do mar profundo e, em algum lugar dentro, uma porta massiva — ou talvez ela devesse chamar de um portal?
Iris estremeceu enquanto falava:
— Me diga, Sephia. Achamos, não achamos? Não há como não termos! Se nada mudou desde ontem, por que meu sonho mudaria? — Ela perguntou desesperadamente.
Sephia vacilou diante do repentino desabafo, mas rapidamente se recompôs para apoiar a aflita Iris.
— Por favor, minha princesa, acalme-se. Seus olh—
— Não, eu não vou abri-los. — Interrompeu Iris, mantendo seus olhos firmemente fechados. — Eu não quero… abri-los.
Ela temia que, ao abrir os olhos, a visão desaparecesse. Era um medo que Sephia lutava para compreender. Ou melhor, era o medo dentro de Iris que ela não conseguia entender.
— Quanto à sua pergunta…. — Sephia começou cautelosamente, sua voz tremendo ligeiramente. Ela envolveu suas mãos nos ombros trêmulos de sua lorde enquanto continuava. — Eu não posso afirmar com certeza. O sexagésimo terceiro setor. Eu não sei se há algo lá, mas os mergulhadores que exploraram não voltaram.
Esta não era a primeira vez.
Depois de forçar os anões aflitos a produzirem em massa os trajes de mergulho, os piratas sob o comando de Iris foram enviados para vasculhar as profundezas do Mar de Solgalta. No entanto, muitos piratas pereceram durante a exploração. Apesar desses trajes serem feitos de materiais especiais e imbuídos com o Poder Negro de Iris e dos Elfos Negros, não havia como evitar a fragilidade dos corpos humanos. Embora muitos dos piratas tivessem grande resistência e alguns até fossem capazes de manipular mana, o abismo profundo e insondável era impiedoso e rapidamente quebrava os corpos humanos.
Sempre havia aqueles que não retornavam de seus mergulhos. Alguns até cortavam seus próprios tubos de oxigênio, talvez enlouquecidos pelo medo da escuridão impenetrável do abismo. Alguns até falavam de ver fantasmas nas águas turvas.
— Desta vez é diferente. Nenhum dos cinco mergulhadores que entraram no sexagésimo terceiro setor voltou. O estranho é… que seus tubos de oxigênio permanecem conectados. No entanto, não importa o quanto puxemos, eles não se movem. — Explicou Sephia.
— Achamos. Com certeza devemos ter achado. — Iris tremia de empolgação. Ela começou a andar às cegas, mantendo seus olhos fechados.
— Minha princesa, para onde está indo? — Sephia perguntou alarmada, correndo para o lado dela.
Com um repentino lampejo de determinação, Iris afastou a mão de apoio de Sephia.
— Onde você acha? Não está óbvio para onde devo ir?
— Por favor, minha princesa, acalme-se. Como você pretende usar o Olho Demoníaco sem abrir os olhos? — Sephia implorou.
O sexagésimo terceiro setor estava muito longe. Levaria bem mais de dois dias, mesmo de navio.
Seria preciso apenas um único passo se Iris usasse seu Olho Demoníaco das Trevas, mas depois de servir Iris por muito tempo, Sephia conhecia muito bem as condições para ativar o Olho Demoníaco das Trevas. O poder que concedia tais saltos exigia que o usuário mantivesse os olhos abertos o tempo todo.
— Está tudo bem. — Iris sussurrou, embora seus olhos permanecessem fechados. — Não há… nenhum problema.
Ela mesma não conseguia apontar a razão por trás de sua segurança. No entanto, algo dizia a ela que tudo ficaria bem, e ela nunca contemplou os riscos de entrar no desconhecido.
Embora os olhos de Iris permanecessem fechados, o Olho Demoníaco estava direcionado para o destino dela.
Clack!
O próprio espaço se rasgou diante de Iris. A escuridão jorrou da fenda em expansão.
Sephia ficou surpresa com a visão. Nas centenas de anos em que serviu Iris, nunca tinha visto tal evento durante a ativação do Olho Demoníaco das Trevas.
— Princesa! — Sephia gritou alarmada, estendendo a mão para detê-la.
Iris afastou a mão de Sephia. Ela cambaleou em direção à escuridão que se aproximava. Enquanto Sephia corria atrás dela horrorizada, um espesso muro de sombra se ergueu para bloquear seu caminho.
— Não siga. — Disse Iris.
— Mas, minha princesa—
O apelo de Sephia foi interrompido.
— Eu devo ir adiante. — Iris afirmou firmemente.
O que ela queria dizer com isso? Sephia olhou para a silhueta de Iris além do véu escuro. No entanto, Iris não olhou para trás. Ela continuou a encarar o invisível com seus olhos ainda fechados.
Passo a passo.
Com cada movimento à frente, a escuridão se espalhava e rasgava ainda mais.
Então, um ‘portal’ apareceu diante de Iris, pedindo-lhe para entrar. Sem hesitar, ela avançou em direção às suas profundezas.
Whoosh!
Embora invisível aos olhos, a escuridão parecia ecoar ao redor de Iris, envolvendo-a como um cobertor reconfortante. Inicialmente, ela sentiu um calor semelhante ao ser embalada. Mas, ao avançar, o calor desapareceu, sendo substituído por uma pressão esmagadora que ameaçava despedaçá-la.
Até respirar tornou-se quase impossível, e a cada respiração que ela tomava, parecia que seus pulmões estavam sendo despedaçados. O gosto do oceano salgado a dominou, e a pressão imensa do mar profundo parecia determinada a quebrar até mesmo sua forma fortificada, que ela havia treinado por centenas de anos. No entanto, Iris envolveu-se com a armadura de Poder Negro, resistindo à pressão imensa.
Tudo diante dela era negro absoluto. Talvez fosse devido aos seus olhos fechados, mas mais ainda porque este lugar era um abismo sem luz.
No entanto, Iris começou a se mover novamente. Apenas porque estava escuro e seus olhos estavam fechados não significava que ela não pudesse perceber nada.
No fundo do oceano…
Havia uma porta colossal. Ou poderia mesmo ser chamada de porta? Pois uma porta implicava em algo que se abre e se fecha. Mas algo pode ser chamado de porta se nunca mais se abrir depois de fechada?
Não, não era uma porta. Era um selo, um mecanismo para trancar algo para sempre. Era algo para nunca ser aberto; um selo eterno no abismo.
“O que… o que é isso?” Os olhos de Iris permaneciam fechados, mas ela olhava intensamente para o selo.
O selo era algo que ela não havia visto em seus sonhos. Somente depois de acordar do sonho é que a imagem dele se impregnou em sua mente. O selo estava ali, na base do mar profundo e ilimitado. Era inconfundivelmente real.
Iris não ousava imaginar o que estava além desse selo. Ela mal podia imaginar a que tipo de abismo inimaginável as profundezas do oceano poderiam levar. Na verdade, ela nem queria imaginar. No momento em que contemplava a razão por trás de seu medo, um calafrio gelado percorreu sua espinha.
Ela já sabia a resposta, mas estava evitando encará-la. Ela não queria confrontá-la por causa do puro terror que instigava.
O cerne do sonho, que parecia tão familiar e caloroso e era sempre consistente, tomou um rumo sombrio nesta noite. No meio da névoa enevoada veio um grito de partir o coração, cheio de angústia e tristeza.
E finalmente, dentro desse choro, ela conseguiu distinguir a única frase: “Me desculpe.”
Aquela voz, ela se lembrava. Era a voz de seu pai, o Rei Demônio da Fúria.
Pelo que ele estaria se desculpando? Essa frase em si instigou Iris a desvendar os mistérios do sonho.
No final do sonho, seu pai se ajoelhava. À medida que Iris e seus irmãos se aproximavam dele, o mundo do sonho era submerso em água. Tudo se afogava e desaparecia. Mas Iris e seus irmãos não conseguiam alcançar o pai deles. Ao longe, seus lamentos ecoavam, consumidos pela tristeza. Ele havia falhado em salvar seus filhos.
Estaria ele se desculpando por não conseguir salvá-los?
Ou talvez, pior ainda, ele poderia ter escolhido não os salvar. Poderia tê-los abandonado com as próprias mãos.
A emoção crua naquele choro agonizante era impossível de ser interpretada de maneira errada. Embora ela estivesse apenas sentindo isso por instinto, se sentia cada vez mais segura de sua descoberta.
Ela tinha sido abandonada.
Agora que sabia a verdade completa, o sonho sempre fora um pesadelo. Como era lamentável sentir calor e saudade em um sonho onde seu pai a havia abandonado.
“Não,” Iris cerrava os punhos.
O calor e a saudade que sentia no sonho não eram uma ilusão miserável. Embora essas visões e sentimentos não estivessem em suas memórias, ela tinha certeza de tudo que via e sentia em seus sonhos.
Se ela estava tão certa, então o medo não tinha lugar em seu coração. O pai de uma era distante poderia ter abandonado seus filhos, mas o Rei Demônio da Fúria de trezentos anos atrás tinha arriscado sua vida por eles. Era quase risível ser impedida pelo medo depois de chegar tão longe.
O impulso avassalador e as emoções que ela sentia não tinham uma origem clara. Mas, desde o início, isso não importava. Havia várias razões para ela vir ao Mar de Solgalta, mas mesmo sem essas razões, Iris ainda teria sido atraída para cá.
— Pai. — Nenhum som podia ser ouvido nas profundezas do mar, mas Iris ainda chamava, com os lábios tremendo.
Ela acreditava que todos os sonhos que teve e as visões que agora via lhe foram mostrados por seu pai. Se tudo isso era obra dele, então Iris não queria ter medo.
Naquele momento de resolução, Iris sentiu algo que não deveria ser capaz de sentir neste lugar. Uma pressão que parecia esmagá-la, e dentro da barreira que ela havia erguido, sentiu calor. Era como se alguém estivesse a abraçando por trás.
“Ah,” Iris ficou chocada.
Uma realização enviou arrepios através de Iris. Assim como acontecia com seu Olho Demoníaco, seu Poder Negro também era herdado do Rei Demônio da Fúria. Embora ele tenha perecido trezentos anos atrás, ele sempre esteve com ela.
Devagar, ela abriu os olhos, que brilhavam de um vermelho vívido. Somente ao abrir os olhos, ela viu o selo na profundidade do oceano.
O que estava diante dela era diferente do que ela via com os olhos fechados. Talvez… fosse o resultado de um tempo longo. A desolação era tal que, à primeira vista, a fronteira entre o ambiente e o selo era indistinguível. Parecia como se alguém estivesse empurrando-a para trás. Lentamente, Iris desceu em direção ao selo sem ser impedida.
De repente, uma força invisível e estranha puxou Iris, fazendo-a despencar.
“Entendi.”
Ainda assim, ela permanecia inabalada, observando seus arredores.
Piratas, aparentemente ‘congelados’ perto do selo, chamaram sua atenção. Eram os mesmos que haviam mergulhado na zona sessenta e três sob seu comando, ou seja, neste exato lugar. Apesar das profundidades esmagadoras, eles nem flutuavam nem sucumbiam à pressão da água. O que era ainda mais peculiar era que seus tubos de oxigênio se conectavam a uma escuridão acima.
Essa escuridão em si era uma criação de seu Olho Demoníaco; no entanto, Iris não podia intervir com ela. A escuridão, os piratas conectados, não, o próprio espaço estava sendo mantido por um poder mais onipotente.
“Ainda assim… eu posso me mover,” ela pensou. Ordinariamente, nenhum ser poderia entrar neste domínio. A simples aproximação prenderia e interromperia tudo em seu lugar.
Iris olhava ao redor enquanto estreitava os olhos. Seu Olho Demoníaco doía, e o calor do Poder Negro ao seu redor se imprimia em suas íris.
Houve um solavanco em sua mente. E então, ela começou a vê-las.
Correntes.
Correntes invisíveis e intangíveis preenchiam o espaço. Seus movimentos incontáveis pareciam ondas se fundindo com o mar. O lugar onde Iris estava era repleto dessas correntes.
Engolindo em seco, Iris continuou sua descida, pensando no que via, “Essas correntes…”
Entre os Reis Demônios de Helmuth, apenas um usava correntes como seu poder; o Rei Demônio do Encarceramento, a quem Iris conheceu há eras.
Milhares de correntes seguiam atrás do Rei Demônio do Encarceramento, entrelaçando-se no que parecia um manto. E quando ele estendia essas correntes, elas dominavam o próprio espaço, capturando tudo dentro delas.
Este lugar… não era diferente. Com o selo pesadamente encadeado diante dela, Iris engoliu em seco mais uma vez.
Ela não podia ter certeza do que estava por trás disso. No entanto, sentia que o selo era destinado a prender algo.
Era um selo que nunca, jamais poderia ser quebrado. Mas agora, Iris se sentia notavelmente livre. As correntes não podiam prender sua essência, e o selo impenetrável não rechaçava sua abordagem. Seus olhos haviam ficado completamente negros, e o véu acolhedor de Poder Negro se dispersou ao seu redor, afastando as correntes.
Boom…
Iris alcançou o selo colossal.
Ela não precisava ponderar sobre como abri-lo. Desde tempos antigos, este selo aguardava sua única chave. Ela percebeu isso instintivamente, quase como se fosse um destino.
A escuridão jorrou de seu Olho Demoníaco completamente escurecido enquanto ela estendia ambas as mãos em direção ao selo.
Com um som estrondoso, o selo se abriu, e Iris foi lançada em um abismo negro. No entanto, enquanto ela despencava, a água do mar não caía com ela. Ela olhou para cima, sentindo a estranheza. As correntes estavam densamente agrupadas, impedindo a água do mar de cair.
Ela irrompeu em risos.
— Ah… Ahaha, ahahaha! — Agora ela podia falar, e abriu os braços em êxtase.
Era impossível ver o fundo do abismo interminável. Embora ela não pudesse discernir o que se escondia no abismo abaixo do mar profundo, Iris tinha certeza de uma coisa: no momento em que visse o fundo, seu ser se transformaria.
Ela se tornaria a Fúria dessa Era.