Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 349
Capítulo 349
O Mar (2)
Nos vastos Mares do Sul, existia uma região que poderia ser considerada o próprio limite do mar. Misteriosas e ameaçadoras, essas águas eram diferentes de outras partes do Mar do Sul — não eram quentes, mas, ao contrário, pareciam um inverno perpétuo. Nenhuma neve caía em sua superfície, e mal algum vento sussurrava seus segredos. O próprio sopro congelaria ao ser exalado, e a água se solidificaria ao entrar em contato com o ar frio. E ainda assim, apesar do frio, blocos de gelo e icebergs eram raros.
Este lugar tinha muitos nomes, como o Mar da Morte ou o Oceano Inatingível. Mas para Iris, não era desconhecido.
Mares como o Mar da Morte ou o Oceano Inatingível não eram raros trezentos anos atrás. Todo o oceano e terra do Reino de Helmuth estavam cheios de morte e inacessibilidade, uma época em que fenômenos inexplicados e incongruentes eram a norma. A Helmuth moderna não era mais assim, mas essa foi a era de trezentos anos atrás.
Ainda assim, este… sentimento era diferente de mera familiaridade.
Era a primeira vez de Iris visitando este oceano. No entanto, trouxe consigo um conforto e saudade reminiscentes de casa, um calor semelhante a um berço. Mesmo em meio ao ar cortante, Iris sentia um calor peculiar.
Mas por quê?
Iris era uma Elfa Negra. Antes de sua queda, ela tinha sido uma Elfa Patrulheira, vinda de uma floresta densa e verdejante. Embora tivesse visto o mar várias vezes, esta era a primeira vez que vivia sobre suas ondas.
Ainda assim, ela ansiava pelo mar… Envolta em um casaco pesado, Iris saiu de seu quarto. Devido à falta de vento, o som das ondas mal era audível. Mas os sentidos aguçados de Iris captaram o cheiro de sal no ar gélido — um aroma que ela não encontraria em uma floresta. Um cheiro que ela não inalava há mais de um ano, mas que parecia antigo e familiar, uma fragrância nostálgica que ressoava profundamente dentro dela.
Respirando fundo, ela colocou um grande chapéu em sua cabeça.
Ela tinha várias razões para se aventurar na região do Mar de Solgalta. Em primeiro lugar, serviria como uma base para se defender contra ataques inimigos. No passado, Iris e sua tripulação pirata usavam ilhas desabitadas ou simplesmente navegavam pelo mar. No entanto, à medida que sua influência crescia, eles precisavam de uma base sólida.
Outra razão era o rumor sobre ‘algo’ estar submerso nas profundezas do Mar de Solgalta. Havia muitos contos sobre o que poderia estar nas profundezas do Mar de Solgalta, sendo o mais popular o covil de um dragão.
Durante séculos, essas histórias empolgaram muitos exploradores, especialmente piratas. Inúmeros caçadores de tesouros e piratas se aventuraram nessas águas na esperança de extrair o tesouro do dragão. Claro, a maioria deles não apenas falhava em recuperar o tesouro, mas se via afundando, juntando-se às profundezas do Mar de Solgalta. Ninguém realmente sabia se as profundezas escondiam o covil e os tesouros de um dragão, mas até agora, dezenas de navios encontraram seus túmulos aquáticos lá.
Tesouro? Claro que ela o queria. Especialmente se fosse o tesouro de um dragão, que valeria uma fortuna. Encontrá-lo garantiria uma vida livre de preocupações financeiras.
No entanto, a verdadeira razão pela qual Iris havia ido para essas águas diferia de razões tão claras. Talvez, a princípio, tais motivos a tivessem atraído. Ou será que foi isso mesmo? A própria Iris não podia ter certeza.
Evidências claras a escapavam. Ela não tinha certeza nem mesmo de como explicar o que sentia. No entanto, bem no fundo de seu coração, um pensamento persistia. Mesmo que esse mar não fosse único, desprovido de importância estratégica ou tesouros enterrados, ela sentia que teria ido para lá.
Sem motivo aparente, ela acreditava firmemente que teria eventualmente chegado e permanecido sobre essas águas. Desde o momento em que ouviu seu nome pela primeira vez até sua jornada até ali, as paisagens que testemunhou, tudo afirmava uma convicção inexplicável para Iris.
— Princesa. — Uma Elfa Negra, que servia Iris há centenas de anos, se aproximou enquanto produzia um cachimbo de suas posses e ofereceu-o a Iris. Notando as lágrimas remanescentes nas bochechas de Iris, a Elfa Negra perguntou: — A senhorita sonhou novamente?
Sentindo o olhar da Elfa Negra, Iris limpou o rosto mais uma vez antes de responder:
— Sim.
— Os sonhos estão ocorrendo com mais frequência agora. A Senhorita não sonhou ontem também? — Perguntou a Elfa Negra.
— Eu vejo como um sinal de que estou no caminho certo. — Respondeu Iris.
Tirando um cachimbo do bolso do casaco, ela o colocou entre os lábios. A Elfa Negra instintivamente trouxe um isqueiro e o acendeu para ela.
Mordendo o cachimbo, Iris disse:
— Sempre o mesmo sonho… de meu pai e irmãos. Talvez os resquícios do Poder Sombrio de meu pai estejam me guiando.
O significado do sonho permanecia elusivo.
Iris deu uma longa tragada no cachimbo e depois perguntou:
— Como está a Sábia Sienna?
— Ela ainda não se afastou dos Lionheart de Kiehl. — Respondeu a Elfa Negra.
— Hmph… Você realmente acha? Essa terrível maga não pereceu mesmo depois de trezentos anos. Parece que a idade não a amaciou. — Comentou Iris com desprezo. Rumores sobre o retorno de Sienna haviam chegado aos seus ouvidos. Não se dizia que ela tentou submergir todo o Palácio Real de Aroth? Iris recordou a imagem de Sienna de muito tempo atrás, seu rosto contorcendo-se em desdém. — Ainda assim, ela permaneceu quieta até ir para o isolamento. — Disse Iris.
— Bem, os tempos mudaram de várias maneiras desde então. — Disse a Elfa Negra de maneira equânime.
— De fato, mudaram significativamente. — Concordou Iris.
O Herói Vermouth havia feito um juramento com o Rei Demônio do Encarceramento trezentos anos atrás. Mas o presente Herói, Eugene Lionheart, não parecia interessado em manter ou continuar a tradição de sua linhagem. Mesmo que quisesse, não podia. O Rei Demônio do Encarceramento já havia anunciado o fim de seu acordo.
Três séculos se passaram, e um novo Herói havia surgido. Ainda assim, dois heróis da era da guerra permaneciam vivos, e entre eles, a Sábia Sienna — especialmente para Iris — era alguém para se precaver.
— Essa mulher nem é uma elfa, mas se ilude acreditando que é uma. Ainda posso lembrar claramente aqueles olhos penetrantes e as lágrimas sangrentas. Isso ainda me assombra. — O tom de Iris transmitia a gravidade do assunto. Ela continuou: — Não foi apenas a Sienna do Desastre. Todo monstro daquela era me enlouquecia e aterrorizava.
Eles eram monstros liderados por Vermouth do Desespero, incluindo Hamel do Extermínio, Sienna do Desastre, Moron do Terror e Anise do Inferno.
A Elfa Negra, que havia sobrevivido àquela era ao lado de Iris, estremeceu ao lembrar dos encontros com aqueles cinco seres monstruosos. Não importava como se olhasse para isso, a sobrevivência da Elfa Negra e de Iris parecia puramente por sorte.
A Elfa Negra hesitou, depois sugeriu suavemente:
— Princesa. Talvez seja melhor se esconder? O mar é vasto. Embora a Sienna do Desastre tenha retornado, ela não viria aqui imediatamente. Então, por que não nos escondemos por enquanto e avaliamos a situação?
— Abandonar tudo o que alcançamos? — Iris perguntou como se estivesse pensando.
— São apenas piratas. Com Vossa Alteza liderando os Rebeldes da Fúria, possuímos o poder de reconstruir a qualquer momento. — Explicou a Elfa Negra.
— Talvez você esteja certa. — Iris não negou a verdade disso. Mesmo com uma frota de centenas de navios piratas, eles eram apenas isso — piratas. Numericamente grandes, mas não uma força formidável. A verdadeira força deste lugar estava com Iris, que possuía o Olho Demoníaco das Trevas, os elfos negros que haviam crescido em número ao longo dos séculos a servindo, e os mercenários povo-besta que se juntaram após a morte de Jagon.
Suas vidas eram incomparavelmente mais longas do que as dos humanos.
— Eu não sei quando o fim prometido pelo Rei Demônio do Encarceramento será… mas com tal aviso prévio, uma nova era de guerra está no horizonte. Quando esse momento chegar, a Sienna do Desastre inevitavelmente será atraída para Helmuth. — Disse Iris, entendendo o que a Elfa Negra queria dizer ao sugerir se esconder. Se Iris permanecesse escondida, Sienna não se aventuraria nessas águas. E assim, por décadas mesmo, ela poderia esper—
— Não importa quão poderosa seja Sienna do Desastre, ela não superará o Rei Demônio do Encarceramento. — Afirmou Iris com confiança.
Mesmo com a presença de Vermouth do Desespero, o continente falhou em derrotar o Rei Demônio do Encarceramento. Agora, tinham um novo campeão em Eugene Lionheart, mas ele realmente poderia se comparar a Vermouth?
“Não há chance”, pensou Iris enquanto soltava uma baforada de fumaça de seu charuto. Ela havia enfrentado Eugene em batalha. Embora não tivesse usado toda a sua força, ela tinha avaliado seu nível. Ele não era páreo para Vermouth.
E não era apenas Eugene. Até mesmo Carmen Lionheart, reputada como a mais forte do clã Lionheart, deixara uma impressão em Iris. Ela poderia ter se destacado mesmo trezentos anos atrás com ela. Mas era só isso — apenas isso. Os cinco humanos monstruosos, também, não haviam superado o Rei Demônio do Encarceramento. Um herói inferior a Vermouth, mesmo empunhando a Espada Sagrada, realmente chegaria aos portões de Babel?
“Há rumores de que ele melhorou consideravelmente… mas ainda falta algo.” Com esses pensamentos, Iris tomou consciência de sua própria posição. Ela podia estar de olho no trono de Rei Demônio, mas ainda não estava lá. O que significava ser o Rei Demônio, afinal? Acumular poder suficiente, controlar vastos territórios e ter inúmeros subordinados?
Antes que pudesse pensar mais, uma dor aguda repentinamente percorreu seus olhos. Inconscientemente, Iris segurou suas pálpebras, cambaleando com o desconforto.
— Vossa Alteza? — A Elfa Negra chamou com preocupação.
— Não é nada. — Disse Iris dispensando.
Não era a primeira vez. Recentemente, seus olhos estavam latejando ocasionalmente. E não era apenas a dor. Toda vez que essa dor repentina a atingia, o Olho Demoníaco de Iris via um lugar completamente diferente de onde ela estava atualmente.
Não foi diferente desta vez também. Em um momento fugaz de dor, Iris vislumbrou as profundezas do mar dentro de seus olhos. Havia uma escuridão tão profunda quanto a noite, borbulhante e fervendo no abismo do oceano profundo.
— Onde estão os anões? — Perguntou Iris. Envolvendo seu casaco ao redor dela, Iris começou a andar com a Elfa Negra preocupada seguindo atrás dela.
— Eles estão trabalhando. Deveriam aparecer em breve. — Respondeu imediatamente a Elfa Negra.
— Estão sendo observados adequadamente? — Iris inquiriu mais.
— Claro. Sempre que descem, estão sempre acompanhados pelos meus guardas. Mas parece que não houve descobertas significativas.
Enquanto ouvia o relatório, Iris piscou. De repente, uma escuridão absoluta apareceu diante dela, criada pelo poder do Olho Demoníaco das Trevas. Ela entrou nela, seguida pela Elfa Negra. A escuridão criada pelo Olho Demoníaco era interconectada, formando passagens. Ao entrarem, a paisagem mudou instantaneamente. Um navio pirata flutuava no vasto Mar de Solgalta. Os piratas descansando imediatamente ficaram em posição de sentido com a aparição de Iris.
— A Senhorita chegou. — Os elfos negros perto dos piratas se aproximaram de Iris. Ela deu um leve aceno em reconhecimento e então virou-se para procurar os anões. — Eles parecem estar se saindo bem. — Iris sorriu ao ver os anões sentados em um canto do convés. Os anões estavam ofegantes.
Os artesãos tinham sido sequestrados da Ilha do Martelo durante o último ataque a Shimuin. Entre eles estavam os anões mais jovens e fortes. Os anões tremiam, suas barbas tremendo enquanto olhavam para Iris. Então, algumas vozes puderam ser ouvidas entre eles.
— Não nos provoque… Mal subimos nem por dez minutos.
— Até anões resilientes como nós têm limites. Dessa forma, nossos corpos não vão aguentar por muito tempo.
Ouvindo as reclamações, Iris provocou:
— E daí? Devo substituí-los por outros? Devo chamar seus mestres?
— Isso… Por favor, não. Deixe-nos descansar um pouco… e mergulharemos novamente. — Os jovens anões imploraram com lágrimas nos olhos.
Iris os observou silenciosamente por um momento, depois riu:
— Não se preocupem. Não tenho intenção de usar os anões mais velhos, mesmo que vocês pereçam.
Os anões não tinham nada a dizer sobre isso.
— Então, algum progresso? — Perguntou Iris, indo direto ao ponto.
Os anões hesitaram em responder, um silêncio que Iris achou desagradável. Seus olhos estreitaram, e a escuridão ao redor dos anões começou a recuar lentamente.
— O que vocês estão fazendo?! — Os anões gritaram em pânico. A sombra recuante estava conectada às profundezas do mar onde seus camaradas estavam trabalhando em trajes de mergulho pesados e incômodos, mal conseguindo se mover.
— Parece que vocês não têm senso de urgência por causa da minha indulgência. — Sussurrou Iris, seus olhos se estreitando ainda mais. Para os anões, era enlouquecedor e inacreditável.
Sua indulgência? O que diabos ela estava falando? Em primeiro lugar, ela os tinha sequestrado e estava os mandando fazer uma tarefa tão impossível. Finalmente, um anão gritou, lágrimas escorrendo por sua barba:
— O que… o que você quer de nós?!
Eles tinham fabricado o traje de mergulho conforme instruído. Foi projetado para resistir às profundidades esmagadoras, mas era, na verdade, uma criação indigna do orgulho da arte dos anões. Em qualquer outra circunstância, nenhum montante de ouro poderia convencê-los a proclamar tal criação como ‘terminada’.
No entanto, neste momento desesperador, não havia tempo para o orgulho da arte. A única vantagem do traje improvisado era o seu peso reduzido, mas mesmo assim, apenas a raça robusta dos anões poderia manuseá-lo. Um humano ficaria imobilizado nele.
Um anão não aguentava mais e gritou em desespero:
— Encontramos o navio afundado conforme ordenado, até o preparamos para recuperação. Mas por que vocês nos lançam nesta escuridão profunda? O que mais você quer?
— Você realmente acredita, mesmo por um momento, que um tesouro de dragão está escondido sob essas ondas? — Outro anão perguntou, tentando parecer racional.
— Essas histórias são tentadoras. — Iris zombou, seu olhar perdido na escuridão iminente enquanto as sombras se expandiam ao redor dos anões, afrouxando sua ameaçadora aderência aos tubos que levavam o oxigênio aos anões que trabalhavam. — Para dizer a verdade, acho difícil acreditar nessa história de tesouro de dragão. Um tesouro de dragão? Quais são as chances?
— Então por que, pelo amor de tudo, vocês fizera—
Iris interrompeu antes que o anão pudesse terminar:
— Seja um tesouro de dragão ou não, há algo aqui embaixo. Tenho certeza disso. — Iris inclinou a cabeça ligeiramente. — E o que pode ser? Honestamente, eu não faço ideia. Mas, se vocês não querem morrer, terão que encontrar.
— Isso é… isso é loucura… — Os anões murmuraram horrorizados.
Mas Iris não se abalou.
— Oh, eu sei muito bem como minhas palavras soam cruéis. O oceano é vasto, e vocês são apenas dez. E é por isso que seus mentores estão martelando incansavelmente, certo? — Com uma risada maligna, Iris mergulhou a mão na escuridão recém-descoberta. Um grito ecoou quando ela puxou a cabeça de um anão idoso das sombras antes de continuar em uma voz ameaçadoramente tranquila: — Vocês foram fornecidos com todos os materiais necessários. Isso é tudo o que a raça anã, com nada além de suas habilidades de martelo, pode conseguir?
Ela esperava um traje de mergulho adequado para qualquer pessoa, não apenas para um anão.
— É tão desafiador assim? — Iris continuou, enfurecida. — Eu até ofereci meu próprio Poder Sombrio para ajudar. Basta infundir meu Poder Sombrio no metal e então fazer o traje de mergulho com ele. Simples, não?
— H-Humanos são incrivelmente frágeis. Talvez se fosse para um elfo sombrio… — O anão idoso começou a explicar, mas foi interrompido.
— Você espera que eu jogue meus subordinados nessas profundezas insondáveis? Por que eu deveria embarcar em tal loucura? — Iris perguntou.
— M-Muito bem, eu entendo. O projeto está pronto, e um protótipo está sendo feito… — O anão idoso finalmente cedeu, não dando mais desculpas.
— Vocês têm uma semana. Produzam pelo menos cinquenta trajes nesse tempo. Falhem, e esses jovens terão que assumir o trabalho destinado a cinquenta. — Com essas palavras severas, Iris empurrou a cabeça do anão idoso de volta para a escuridão. Em seguida, virando-se para os anões mais jovens, repreendeu: — O que todos estão olhando? Certamente, descansaram o suficiente. Tenho que chutar vocês de volta para o trabalho?
Os anões se levantaram cambaleando. Enquanto vestiam os trajes de mergulho separados, Iris riu das ações tímidas deles e zombou:
— Não se preocupem. Vou garantir que tenham bastante cerveja, como prometido.
* * 8
Na Ilha Larupa de Shimuin.
Quando Gondor Martelo de Ferro entrou na mansão Lionheart, seus olhos se arregalaram de surpresa. Diante dele havia barris e mais barris, cada um aparentemente cheio até a borda. Ele os encarou por um momento, tentando entender a situação.
— O que diabos é isso? — Gondor perguntou, genuinamente incapaz de compreender a situação diante dele.
Ele realmente tinha entrado na mansão Lionheart conforme desejado. Embora tivesse esperanças de visitar a casa principal do clã Lionheart em Kiehl e talvez até mesmo ver a sala do tesouro, isso poderia esperar para outra ocasião.
Não, mas, em primeiro lugar, se o verdadeiro Eugene Lionheart residisse nesta mansão, não haveria necessidade de viajar para a distante Kiehl. Afinal, quantos artefatos ele possuía?
— É cerveja. — Respondeu Sienna enquanto batia em um dos barris de carvalho com um sorriso. — Um pouco de suborno.
— Suborno… o quê? — Gondor perguntou, certo de que tinha ouvido errado.
— Ouro silenciador. Não é suficiente? Se desejar, posso oferecer mais cerveja. — Sienna explicou mais.
— Não… eu não entendi direito… — Gondor hesitou em responder.
— Não apenas isso, haverá um contrato mágico também. Mas um contrato sozinho parece bastante impessoal, não acha? — Sienna limpou a garganta, impedindo-se de proferir uma declaração potencialmente depreciativa. — Anão. Embora tenhamos trazido você aqui por causa do seu desejo sincero, eu, a Sábia Sienna, não sou tão cruel a ponto de tentar fechar sua boca à força. Portanto, eu preparei isso.
O preço pelo seu silêncio era cerveja, cuidadosamente escolhida por Anise, mesmo que relutantemente.
— Certamente, essa quantidade de cerveja vai mantê-lo em silêncio? — Perguntou Sienna.
O anão não sabia como responder.
— Por que está tão quieto? Certamente, isso não é insuficiente para você? Que anão ganancioso! — Sienna cruzou os braços enquanto encarava Gondor, que permanecia em silêncio.
— Senhorita Sienna, parece que ele não gosta de cerveja. — Eugene, que estava parado silenciosamente ao lado deles, expressou sua preocupação, temendo que a ‘Sábia Sienna’ pudesse ser rotulada como uma feroz preconceituosa entre os anões.
— Bobagem! Não há um anão vivo que não goste de cerveja. Mesmo há trezentos anos, eles trabalhariam por uma simples caneca dela em vez de ouro. — Sienna rejeitou a sugestão de Eugene como se fosse a coisa mais óbvia a se fazer. Ela lançou um olhar a Eugene, questionando seu conhecimento. No entanto, na opinião de Eugene, a percepção de Sienna era problemática. Criada entre elfos, ela herdara o preconceito generalizado dos elfos contra os anões. Nos tempos de Helmuth, trezentos anos atrás, o ouro não era tão valorizado como é agora. Naquela época, itens como bebidas alcoólicas, comida e ferramentas eram mais valorizados.
— O que exatamente você pensa dos anões? — Irritado pela observação profundamente enraizada, Gondor questionou Sienna ferozmente.
Em uma era há muito passada, quem proferiria palavras tão antiquadas? Se fosse outro humano, ele poderia ter derrubado o orador imediatamente…
Mas Sienna não conseguia compreender a raiva de Gondor. Desde o início, ela nem estava ciente de que suas palavras carregavam o peso do preconceito racial, então comentou mais:
— Anões serão sempre anões…
Quando era jovem, seu irmão mais velho, Signard, frequentemente a enchia de contos antigos sobre os elfos. Nestas histórias, os anões eram mais frequentemente referidos não pelo nome, mas por termos pejorativos, como fedorentos e pequenos sacos de cocô.
No entanto, Sienna se abstinha de usar tais nomes. Para ela, um anão era apenas um anão. E isso sozinho a fazia acreditar que era bastante progressista em termos de igualdade racial.
— Pensar que tais palavras viriam da Sábia Sienna! Você está me oferecendo toneladas de cerveja para manter um segredo? Está sugerindo que a cerveja escorrendo pela minha boca pesa mais do que um contrato que eu mesmo redigi e carimbei? — Gondor gritou, incapaz de controlar sua raiva.
— Ah, vamos lá, não distorça minhas palavras. Eu confio no contrato, é claro, mas pensei que adicionar a cerveja que você ama seria um toque agradável. — Retrucou Sienna.
— Bem, então… — Gondor começou,
Apenas para ser interrompido quando os olhos de Sienna se estreitaram:
— Você não quer?
Gondor apenas encarou Sienna, tentando controlar sua raiva.
— Você não quer? — Sienna perguntou perigosamente.
Sob o olhar da lendária Arquimaga, Gondor tremeu antes de responder:
— É um presente atencioso.
— Hmm. — Sienna continuou a olhar para Gondor.
Gondor engoliu em seco, então continuou:
— Perfeitamente adequado ao gosto de um anão… eu sou grato. Obrigado.
A tarefa de expressar indignação racial parecia muito perigosa sob a intensidade do olhar de Sienna. Além disso, seu desejo pelos artefatos do clã Lionheart era avassalador demais.
Finalmente, Gondor conseguiu dar um sorriso fraco. Em troca, Sienna exibiu um sorriso triunfante para Eugene.
Foi quando Eugene reconheceu algo dentro de seu coração.
Essa mulher mal-humorada era aclamada como a Sábia Sienna apenas porque ela mesma a descrevera em um conto de fadas.