Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 338
Capítulo 338
Shimuin (1)
Shimuin, localizada nos Mares do Sul, era uma nação insular composta por milhares de ilhas grandes e pequenas. Mais da metade de sua população e infraestrutura estavam concentradas nas ilhas centrais de Shedor e Larupa, então, naturalmente, a capital real também estava localizada na ilha central de Shedor.
O mesmo acontecia com os portais de teletransporte de Shimuin. Exceto por Shedor e Larupa, nenhuma outra ilha tinha portais de teletransporte construídos nelas.
Por mais conveniente que fosse o serviço de teletransporte, sua instalação era tão cara quanto, e mesmo após a instalação, eles exigiam uma taxa de manutenção constante para operar. Como tal, os portais de teletransporte não eram instalados nas outras ilhas que tinham populações muito menores do que as ilhas principais de Shimuin.
Sob tais circunstâncias, o povo de Shimuin ainda dependia muito do comércio marítimo. Navios a vela eram comumente usados para negociar com as ilhas que não tinham portais de teletransporte, mas além dessas ilhas, os navios também eram usados para negociar com os pequenos países vizinhos a Shimuin e as tribos selvagens de Samar.
Embora fosse melhor instalar alguns portais de teletransporte em vez de passar por tanta dificuldade, havia uma razão inevitável pela qual mais não haviam sido instalados até agora.
Essa antiga nação insular havia sido fundada no comércio marítimo muito antes dos portais de teletransporte se tornarem comuns, e inúmeros cidadãos dependiam dessa indústria.
Desde as guildas das pequenas empresas de construção naval que faziam embarcações de pesca menores até as guildas das maiores empresas de construção naval que faziam navios de guerra e navios de passageiros, além das guildas comerciais, todas dependiam do mar.
Como inúmeras pessoas perderiam seus empregos apenas com a instalação de alguns portais de teletransporte, quem diabos assumiria a responsabilidade pela perda de seus meios de subsistência e pressionaria para a instalação de mais portais de teletransporte?
— Embora talvez tenham um conjunto secreto de portais de teletransporte para uso pessoal, como em Yuras. — Eugene murmurou enquanto folheava um guia.
O Império Sagrado de Yuras podia ser reconhecido pelo público como um dos países mais avançados do continente, mas com exceção da capital, mal havia portais de teletransporte instalados em toda a nação. No entanto, isso era verdade apenas na superfície. No porão da Catedral de Tressia, havia um portal de teletransporte escondido que era mantido em segredo do povo comum e usado apenas por membros do clero de alta patente.
— A situação em Yuras é diferente de Shimuin. Embora seja verdade que Shimuin é uma nação composta por milhares de ilhas diferentes, estritamente falando, o único território real que podem reivindicar controlar são as ilhas centrais de Shedor e Larupa. — Kristina informou enquanto se apoiava um pouco instavelmente na grade do navio. — Yuras tem uma vasta extensão de terra, com seus cidadãos espalhados por todos os lugares… Ahem. Mesmo que rejeitem o uso de portais de teletransporte na superfície, eles não têm escolha senão usá-los secretamente para manter a disseminação de sua fé.
Eugene ergueu uma sobrancelha.
— Parece que você ainda gosta muito de Yuras?
— Não, eu não tenho nenhum apego àquele lugar. Eu apenas sinto que você não deveria ser cego para o óbvio. Eu nunca senti afeto por esse país. — Kristina insistiu, sem expressão. — De qualquer forma, o que eu queria dizer é que as circunstâncias de Shimuin e Yuras são muito diferentes. As classes altas deste país, como os magnatas, os nobres, a realeza ou os funcionários públicos, não têm motivo para sair de Shedor ou Larupa—
— Kyaaah! — Ramira, que estava ao lado de Kristina, soltou subitamente um grito estranho.
Atualmente, Ramira não parecia ter seus habituais chifres. Tendo prometido não fazer nada estranho, Ramira foi libertada do manto de Eugene e agora olhava para o mar com a maior parte do corpo para fora da grade.
— Olhe, olhe, olhe ali. Tem um peixe muito, muito grande. — Ramira disse animadamente.
— Estúpida. Isso não é um peixe; é um golfinho. — Mer, que havia tingido o cabelo de preto, corrigiu Ramira com desdém enquanto balançava feliz o braço entrelaçado com Ramira.
Era como Mer tinha acabado de dizer. No mar abaixo da grade, um grupo de golfinhos podia ser visto nadando abaixo da superfície da água.
— Pule!
— Dê um salto!
As duas crianças estavam gritando ruidosamente, mas isso não causou muito alvoroço, já que dezenas de outros turistas que estavam atualmente a bordo deste navio também apontavam para os golfinhos e soltavam aplausos.
— Mesmo assim, você não acha que o mundo melhorou muito em comparação com os velhos tempos? — Sienna perguntou do outro lado de Eugene.
Ela tinha pensado muito se deveria prender o cabelo, mas no final, Sienna decidiu deixá-lo solto.
Pressionando a mão sobre o cabelo, que tremulava na brisa do mar, Sienna virou-se para olhar para Eugene e continuou a falar:
— Nesta era, até mesmo os navios ficaram muito mais rápidos. Quando pegamos o navio para viajar para Helmuth naquela época, levamos meio ano apenas para chegar lá, não foi?
— Foi por volta desse tempo. — Eugene concordou enquanto também se apoiava na grade.
Eles estavam atualmente a bordo de um navio de cruzeiro impulsionado por um motor alimentado por mana. Embora não tenha passado muito tempo desde que embarcaram, a Ilha de Shedor já podia ser vista ao longe antes que percebessem.
— Embora se tivéssemos usado um portal de teletransporte, já teríamos chegado. — Eugene resmungou.
Sienna o repreendeu.
— Já que estamos aqui, você deveria apenas aproveitar o passeio de barco. Assim como Mer está fazendo, e a Rami também diz que é a primeira vez que vê o mar.
Eugene murmurou:
— O que é isso de chamá-la de Rami? É o ‘Rami’ em ‘Rami-tardada’?
— Heh! — Sienna soltou uma risadinha com o trocadilho de Eugene.
Kristina, surpreendida pelo breve e inegavelmente tosco som de diversão de Sienna, olhava para lá e para cá entre Sienna e Eugene.
Era para rir agora? Ela deveria tentar rir, mesmo que fosse só para agradar Eugene…?
A ideia passou por sua mente, mas Kristina simplesmente não conseguia se obrigar a rir.
[Você não precisa rir. Esses dois só têm um parafuso solto,] Anise comentou com um estalido de língua exasperado, incapaz de se relacionar com o senso de humor deles também.
— Ramira leva muito tempo para chamar em um momento de pressa, mas se a chamarmos de Mira, isso pode ser confundido com Mer — Sienna explicou.
— Esta senhorita realmente gosta do apelido Rami. — Ramira, que estava perseguindo os golfinhos com os olhos, também se manifestou com uma risadinha.
Como tinham decidido disfarçar totalmente suas identidades, era necessário lidar com a questão de seus nomes.
Eugene sentiu a necessidade de dizer algo:
— A propósito, Sierra.
— Sim, Yuri? — Sienna respondeu.
— Embora possa ser tarde para dizer isso, os nomes que escolhemos não são muito óbvios? Mudamos apenas uma sílaba… — Eugene apontou hesitante.
— Mas os novos nomes são bem comuns, não são? — Sienna argumentou.
— Isso é verdade. — Eugene concordou antes de se virar para Kristina. — Especialmente o seu, Kris.
Tudo o que eles tinham feito foi remover as duas últimas sílabas de seu nome real. Com uma expressão hesitante no rosto, Kristina concordou com isso.
Yuri, Sierra e Kris. Esses nomes realmente pareciam comuns.
Enquanto trocavam essas conversas triviais, o navio chegou ao seu destino.
Eles estavam desembarcando na segunda maior ilha de Shimuin, a ilha de Larupa. Como um destino turístico popular, a terra sagrada dos lutadores de prêmios, Larupa tinha a maior população flutuante de toda Shimuin.
A razão pela qual eles foram ali era simples.
O objetivo de Eugene era entrar secretamente em Shimuin, descobrir os movimentos de Iris e encontrar uma chance de matá-la. Em relação a isso, o Grão-Duque de Shimuin, Ortus, havia prometido seu apoio — mas não havia como eles se encontrarem facilmente com um nobre de alto escalão como o Grão-Duque apenas dizendo que queriam se encontrar com ele.
“Embora pudesse ter funcionado se tivéssemos enviado palavra com antecedência”, Eugene pensou.
Mas eles não fizeram isso porque estavam cautelosos de que Iris pudesse se esconder antes mesmo de terem a chance de se encontrar com Ortus. Felizmente, como Ciel havia se destacado em Shimuin começando há um ano, fazendo contato com Ciel primeiro, eles poderiam pedir sua ajuda para entrar em contato com Ortus enquanto também investigavam o paradeiro de Iris.
Claro, eles não podiam depender apenas de Ciel. Antes de irem para Shimuin, Eugene também mobilizou as várias conexões do clã Lionheart para descobrir qualquer informação sobre os Piratas da Fúria que Iris liderava.
Em apenas alguns anos, esses elfos negros haviam conseguido unir centenas de bandos de piratas que navegavam pelos Mares do Sul, pequenos e grandes, e dizia-se que transformaram o Mar de Solgalta, o mais turbulento de todos os mares, em sua base de operações.
O Mar de Solgalta também era chamado de Mar do Diabo em Shimuin por causa das correntes oceânicas selvagens que giravam lá. Mesmo marinheiros excepcionalmente experientes e habilidosos que viveram décadas inteiras no mar tinham medo de se aproximar do Mar de Solgalta.
Mas se suas habilidades de navegação não fossem suficientes, eles ainda não poderiam confiar em magia para complementar seus esforços? Embora qualquer um pudesse ter uma ideia tão simples, até agora, o Mar de Solgalta ainda não havia sido totalmente conquistado.
A outra razão pela qual era chamado de Mar do Diabo era que a magia não funcionava adequadamente lá. A razão para isso ainda não havia sido investigada em detalhes, mas havia especulações de que poderia ser devido a certos recursos naturais enterrados profundamente abaixo do mar.
— Embora isso pareça bobagem para mim. — Sienna resmungou enquanto olhava para a janela da carruagem.
Assim que chegaram a Larupa, pegaram esta carruagem e agora estavam indo em direção ao maior coliseu desta ilha.
— Aqueles tolos dizem que uma grande quantidade de pedras de mana deve estar enterrada no leito do mar e que a mana emitida por essas pedras é o que está interferindo em qualquer uso de magia… Mas eles realmente acreditam que essa ideia faz algum sentido? Bem, além disso, eles têm várias outras hipóteses semelhantes. Uma vez que materiais naturais que interferem na magia, embora raros, existem, pode ser por isso que eles conseguem inventar tanta bobagem. — Sienna disse com um resmungo desdenhoso e uma sacudida de cabeça.
— Entretanto, quando se trata de materiais como esses, a faixa em que eles conseguem limitar o uso da magia é mínima, certo? — Eugene apontou. — Vamos ver agora… Adreata é o mais eficaz de todos esses materiais, mas para criar um campo de força de supressão mágica que possa cobrir uma área tão vasta como um mar inteiro, você precisaria substituir toda a água do mar por adreata.
Sienna lembrou-se de algo.
— Dizem que o mar tem muitos recifes.
— É verdade. — Eugene concordou. — Outra razão pela qual aquele mar inteiro é tão problemático é que há muitas ilhas pequenas dentro de suas fronteiras.
As ilhas grandes e pequenas que pontilhavam o Mar de Solgalta eram usadas como fortalezas pelos piratas.
— Para descobrir por que a magia não funciona bem lá, teremos que ir pessoalmente para saber com certeza, mas… — Sienna hesitou. — Bem, entre todas as hipóteses flutuando por aí, há uma que sinto que pode ser a mais plausível: que o Mar de Solgalta foi, em um tempo, a toca de um dragão.
A hipótese afirmava que um dragão pode ter assumido o Mar de Solgalta como seu território, estabelecendo sua toca em algum lugar profundo abaixo do mar ou em uma caverna submarina conectada a uma ilha. Ele então embaralhou as correntes marítimas e criou um campo de força que inibia toda magia para evitar acesso não autorizado.
— Embora Ariartel tenha dito que todos os dragões, exceto ele mesmo, entraram em hibernação, não seria estranho que a magia que um dragão lançou antes de entrar em sono permanecesse ativa até agora. Se realmente houve um dragão, deve haver uma quantidade surpreendente de tesouro acumulado em sua toca, então o dragão naturalmente teria querido que seu tesouro permanecesse onde estava enquanto estava em hibernação. — Sienna conjecturou.
— A magia pode não funcionar adequadamente naquele mar, mas parece que os Olhos Demoníacos ainda são utilizáveis? — Comentou Kristina, que estava ouvindo em silêncio enquanto inclinava a cabeça curiosamente.
Os piratas haviam conseguido fazer daquele mar infernal sua base por causa do Olho Demoníaco da Escuridão de Iris e seu poder de criar uma passagem de uma mancha de escuridão para outra, permitindo que ela saltasse sobre toda a confusão de correntes marítimas furiosas.
— Os Olhos Demoníacos são diferentes da magia; eles nem usam mana… E mesmo entre os demônios, é um poder muito raro. — Eugene murmurou com a testa franzida.
Mesmo durante a guerra há trezentos anos, havia apenas uma dúzia ou mais de demônios equipados com um Olho Demoníaco.
Eugene observou ainda mais:
— E mesmo entre os Olhos Demoníacos, o Olho Demoníaco da Escuridão de Iris e o Olho Demoníaco da Glória Divina de Gavid são extremamente únicos. Porque seus poderes foram concedidos a eles pessoalmente por um Rei Demônio.
Avaliando-os simplesmente por categoria, esses dois Olhos Demoníacos eram realmente de uma classificação superior ao Olho Demoníaco da Fantasia. O Olho Demoníaco da Fantasia, como o nome sugere, só podia mostrar uma ilusão. Não podia fazer nada para afetar a realidade.
No entanto… Esse Olho Demoníaco combinava perfeitamente com sua usuária, a Rainha dos Demônios da Noite, Noir Giabella. Além disso, Noir usou todos os tipos de métodos para aumentar seu nível de poder e treinou seu Olho Demoníaco da Fantasia ao máximo.
Sim, é isso!
O som dos aplausos ecoou pela janela da carruagem de algum lugar próximo.
— O que foi?
Surpreso pelos aplausos, Eugene colocou a cabeça para fora da janela para dar uma olhada. Ele viu pessoas acenando animadamente com os braços de dentro de suas carruagens e à beira da estrada.
Eles estavam olhando para uma torre ao longe e uma imagem projetada magicamente de seu pináculo. Poderia ser uma imitação das telas mágicas que eram uma visão comum em Helmuth? No entanto, a tela projetada do pináculo da torre era de qualidade muito inferior às vistas em Helmuth e, em termos de quantidade, era a única visível.
— Vocês também estão indo assistir aos jogos, queridos convidados? — O cocheiro segurando as rédeas do cavalo perguntou com uma risada calorosa. — Esse som significa que a partida de abertura acabou de começar. Mas bem… Essa partida não vale muito a pena assistir, então por favor, não fiquem muito impacientes. O Coliseu Mador nunca ajusta os horários das partidas agendadas, então vocês terão bastante tempo para chegar lá.
— Se o confronto não vale a pena assistir, por que eles estão fazendo tanto barulho? — Eugene perguntou.
— Ah, isso… Como vocês estavam viajando na carruagem, queridos convidados, não devem ter visto. Agora mesmo, a heroína principal de hoje apareceu na tela. — Explicou o cocheiro com um sorriso animado, virando-se para olhar Eugene, cuja cabeça ainda estava para fora da janela. — Era a Rosa Branca, Ciel Lionheart.
Os olhos de Eugene piscaram de surpresa diante do sorriso animado do cocheiro. Então, o que o cocheiro estava dizendo era… Que as inúmeras pessoas que acabara de ver enlouquecendo nas ruas estavam todas assim porque o rosto de Ciel apareceu na tela?
— Parece que ela é excepcionalmente popular? — Eugene comentou.
— Hahaha! Por que você está perguntando algo tão óbvio? Afinal, vocês também estão a caminho de seus assentos reservados na segunda classe, queridos convidados? Realmente, ingressos como esses não são apenas caros, são muito difíceis de encontrar… — O cocheiro terminou com inveja.
— Uh… Tivemos sorte. — Eugene disse como desculpa.
Naturalmente, não foi sorte. Eles compraram os ingressos com uma grande quantia em dinheiro.
Na verdade, poderiam ter tentado comprar ingressos ainda melhores com mais dinheiro, mas os melhores ingressos que turistas comuns poderiam adquirir nesta cidade estavam limitados a ingressos de segunda classe. Mesmo um ingresso de primeira classe exigia um título de nobreza para ser comprado, e quanto aos ingressos VIP, como o nome sugere, só poderiam ser comprados por VIPs.
— Bem, a verdade é que é natural que ela seja popular, não é? Ela tem apenas a tenra idade de cerca de vinte e um anos, e com um rosto tão bonito… — O cocheiro parou sonhadoramente antes de voltar a si. — Além disso, o confronto de hoje é crucial para a Rosa Branca.
— É mesmo? — Eugene incentivou.
— Isso mesmo. — O cocheiro assentiu. — O oponente da Rosa Branca na partida de hoje é um cavaleiro que também conseguiu colocar seu nome nos Doze Melhores, assim como ela. A classificação dele pode estar apenas na décima posição, mais baixa que a da Rosa Branca, mas ele não é um oponente que deva ser subestimado.
O apelido do cavaleiro que atualmente ocupava a décima posição era Cavaleiro da Muralha de Ferro.
O cocheiro elaborou mais:
— Embora seus pontos de combate possam ser menores do que os da Rosa Branca, hoje é a primeira vez que os dois se enfrentarão. Se a Rosa Branca conseguir vencer esta partida, ela ganhará os pontos de combate necessários para desafiar uma das posições mais altas. Além disso, o Cavaleiro da Muralha de Ferro está igualmente determinado a vencer. Se perder esta batalha, seus pontos de combate serão significativamente reduzidos, e ele nem mesmo conseguirá manter sua posição atual.
Enquanto ouvia a explicação do cocheiro, os olhos de Eugene estavam fixos na tela.
Embora o cocheiro tivesse dito que esse confronto talvez não valesse a pena assistir… Esse não era realmente o caso. Pode ser apenas um duelo entre dois lutadores nas classificações dos cem primeiros, mas é surpreendentemente divertido de assistir.
“Eles não podem matar seus oponentes”, Eugene recordou.
Mas o conflito parecia sangrento o suficiente para ser difícil de acreditar que havia tal regra. As partidas nos coliseus de Shimuin eram realizadas principalmente com o propósito de fornecer entretenimento. Se os lutadores não conseguissem animar a multidão, eles não seriam populares, não importando o quão altos fossem seus pontos de combate. Lutadores sem popularidade não conseguiriam atrair patrocinadores, e também não seriam capazes de vender ingressos, então em casos graves, eles nem mesmo conseguiriam ficar dentro de um coliseu.
Como resultado disso, os lutadores tinham que caminhar numa corda bamba à beira da vida e da morte. À medida que a batalha prosseguia, seus ferimentos só aumentariam em número, e o sangue começaria a jorrar.
— Queridos convidados, sabem por que Ciel Lionheart é chamada de Rosa Branca? — Perguntou o cocheiro.
O Coliseu Mador estava começando a ser visível ao longe.
— Eu sei. — Eugene respondeu.
Eugene já havia pesquisado as notícias relacionadas a Ciel. Ela havia participado de dezenas de partidas ao longo do último ano para subir para o sétimo lugar nas classificações. Seu recorde era uma impressionante trinta e quatro vitórias e zero derrotas.
O surpreendente era que Ciel não havia se machucado nem uma vez durante suas muitas partidas.
“Ela cresceu muito”, Eugene pensou.
Em seu caminho para a Marcha dos Cavaleiros, ele foi atacado por Noir Giabella. Ciel e Cyan, que estavam com ele na época, não conseguiram resistir contra Noir e foram nocauteados.
Eugene tinha plena consciência de quanto os dois ressentiam desse fato.
Depois de experimentarem a impotência e a humilhação de não conseguirem fazer nada, os eventos daquele dia trouxeram muitas mudanças para os gêmeos.
Então, essas mudanças deram frutos na Floresta Samar quando Cyan derrotou Hector.
—Não olhe para mim. Não chegue mais perto também.
Será que isso também poderia ter acontecido com Ciel? Eugene recordou como Ciel parecia naquele momento no campo de neve, seu rosto lacrimoso enquanto não conseguia superar a vergonha de sua própria fraqueza e as palavras que ela havia pronunciado com uma voz trêmula.
—Eu nunca mais quero passar por algo assim novamente. Eu também não quero te sobrecarregar.
—Não é como se eu fosse uma idiota. Só estou dizendo isso depois de resolver minha própria situação. Por quê? Você sente pena de mim por estar dizendo algo assim? Eu realmente odiaria se fosse o caso. Não quero receber sua simpatia.
—Eu não quero ficar perto de você por mais tempo, só me faz sentir envergonhada.
—Se você se agarrar a mim e me pedir para não ir, vou te odiar pelo resto da minha vida.
Recordando essas palavras, um sorriso apareceu no rosto de Eugene.
Aaaaaaaaah!
Os assentos de segunda classe no Coliseu Mador podem não ser os melhores lugares disponíveis, mas ainda eram assentos de classe alta o suficiente, então parecia que não haveria grandes problemas em aproveitar a partida dali. A partida ainda não havia começado, então a única coisa para se olhar agora eram as ondas de rosas brancas enchendo as arquibancadas.
— A Rosa Branca!
— Ciel Lionheart!
Os gritos de seu nome e título podiam ser ouvidos vindo de todas as direções. Os fãs de Ciel estavam todos vestidos com roupas brancas combinando e estavam jogando as pétalas do apelido de Ciel, a Rosa Branca.
A mesma coisa estava acontecendo nos assentos de classe alta, que estavam mais próximos do campo e tinham vistas ainda melhores. Além disso, entre os VIPs, que eram apenas algumas dezenas, alguns podiam ser vistos segurando rosas brancas.
“Ortus não está aqui”, Eugene notou.
Se Ortus tivesse ido para assistir à partida, Eugene planejava tentar fazer contato com ele de alguma forma. Sentindo alguma decepção pela oportunidade perdida, Eugene se apoiou na grade.
— Eu nunca conheci aquela jovem, Ciel, então que tipo de pessoa ela é? — Sienna perguntou enquanto segurava Mer um pouco para que pudesse ter uma visão melhor do campo.
— Você saberá assim que a conhecer — Kristina disse, parecendo recusar-se a perder, também levantou Ramira para uma visão melhor.
Graças a isso, Eugene, que estava no meio delas, não pôde deixar de sentir um leve desconforto.
Duas mulheres adultas com crianças e um homem entre elas… Eugene tinha medo de como devia parecer aos olhos dos outros, especialmente aos olhos de Carmen e Ciel….
— O que diabos está acontecendo? Mer não me diz nada, e você também não está dizendo nada. Kris, o que você não está me contando? — Sienna exigiu.
Kristina parecia estar abusando das informações que possuía.
— Você não viu o Sir Cyan?
— É claro que eu vi. — Sienna confirmou. — Ele é bastante fofo e parece um bebê.
— Como são gêmeos, ela parece com ele. Quanto à personalidade dela… — Kristina pausou antes de limpar a garganta. — Ahem, ela também é adorável.
A razão pela qual Kristina se recusava a dizer qualquer coisa sobre Ciel era que ela realmente não sabia como apresentar Ciel.
Em particular, Kristina estava preocupada com os sentimentos de Ciel por Eugene. Ela não conseguia decidir o quão sinceros eram os sentimentos de Ciel por Eugene, então Kristina achava que seria melhor se ela não comentasse nada a respeito.
— Aí vêm eles. — Eugene anunciou, apontando um dedo para a arena.
As portas fechadas de um lado do campo foram abertas com força.
A primeira pessoa a sair por aquelas portas… Não era Ciel, mas sim Dezra. Marchando para o campo à frente de Ciel, Dezra levantou a mão, e um tapete branco se desenrolou das portas abertas. O caminho puro e branco criado por este tapete levava diretamente ao centro da arena.
Após verificar se o tapete havia se desenrolado uniformemente, sem uma única ruga, Dezra girou graciosamente e se ajoelhou.
Clique, clique, clique.
Passos leves podiam ser ouvidos vindo das portas abertas.
Aaaaaaaah!
A multidão soltou um grito tão alto que machucou seus tímpanos. As rosas brancas que os espectadores estavam acenando foram todas jogadas no campo de uma só vez. Grandes rosas caíram no meio da arena, que já estava coberta com as pétalas da flor, como flocos de neve.
— Eles terão que limpar isso antes da partida, certo? — Sienna murmurou enquanto observava as flores se acumularem no campo, não deixando espaço sequer para dar um passo.
É claro que todas essas pétalas e rosas seriam limpas antes da partida por magos posicionados nos cantos da arena para que não interferissem na própria partida.
Eugene estendeu a mão e pegou uma das rosas que caíam como chuva enquanto observava Ciel entrar pelas portas.
Ciel usava um traje completamente branco, diferente do uniforme de gala que ela usava como membro dos Cavaleiros Leão Negro, mas tinha o mesmo símbolo Lionheart bordado em seu peito esquerdo. Ciel respondeu aos aplausos com um sorriso brilhante e acenou para os espectadores enquanto caminhava pelo tapete.
— Hmm. — Eugene soltou inconscientemente um som satisfeito ao observar sua aparência.
Ele sentiu a vontade de fazer um comentário sobre como Ciel realmente tinha crescido.