Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 276
Capítulo 276
Ivatar Jahav (2)
— Onde você estev—
Gerhard, que havia saído correndo para encontrar seu filho que voltava, engoliu inconscientemente o resto das palavras que estava prestes a dizer.
Ele lembrou-se tardiamente de que a família havia conversado e decidiu que simplesmente aceitariam a desculpa de Eugene para ir embora, sem perguntar quaisquer detalhes, quando Eugene voltasse.
Eventualmente, Gerhard apenas disse:
— Essa é uma boa expressão para você.
— Hã? — Eugene levantou uma sobrancelha.
— Eugene. — Gerhard disse sério. — Como seu pai, sou mais fraco que você e sou um homem de pouca importância. A única coisa especial que fiz na minha vida foi ter você como meu filho.
Eugene perguntou confuso:
— O que você está tentando dizer?
— Quando soube que você havia fugido… Fiquei extremamente preocupado, mas como seu pai, confio em você, meu filho. E pensar que você estava indo para encontrar sua essência… Haha. Você pode já ter realizado sua Cerimônia de Maioridade, mas parece que finalmente se tornou um verdadeiro adulto. — Disse Gerhard com orgulho.
Embora ele não tivesse planejado dizer essas palavras, quando finalmente terminou de falar, o coração de Gerhard parecia estar doendo de orgulho. Lágrimas brotaram de seus olhos quando ele olhou para o rosto do filho, que agora era um homem adulto.
Glomp!
Eugene tinha uma expressão envergonhada, mas não tentou evitar o abraço repentino do pai.
Clap, clap, clap.
Laman e Nina, que estavam atrás de Gerhard, começaram a bater palmas enquanto eram levados pela atmosfera.
Durante esse breve retorno à mansão, Eugene estava mais preocupado em encontrar Carmen Lionheart, mas, felizmente, parecia que Carmen estava ausente.
Embora ninguém soubesse ao certo se ela havia sido estimulada pela carta que Eugene deixou para trás, Carmen havia deixado a mansão com sua aprendiz, Ciel e sua escudeira, Dezra, para acompanhar seus cavaleiros em uma viagem.
“Que sorte”, pensou Eugene com algum alívio.
Ele poderia ter deixado a carta para trás, confiando que Carmen acreditaria em sua desculpa, mas Eugene não desejava ter uma longa conversa com ela sobre sua jornada e o novo eu que ele supostamente havia encontrado…
— Na minha opinião, Sir Eugene, você é extremamente parecido com Sir Carmen. Você reluta em se associar com ela, porque sente um forte sentimento de parentesco com ela. No entanto, você resiste fortemente a admitir esse fato e, em vez disso, demonstra um caso clássico de ódio por si mesmo. — Mer contribuiu com sua análise totalmente desnecessária.
— Você está maluca? — Eugene xingou.
— Dizem que dois negativos formam um positivo. — Mer respondeu sabiamente. — O fato de você estar realmente me xingando e ficando com raiva significa apenas que minhas palavras atingiram o ponto, Sir Eugene.
Eugene rosnou:
— E o que você sabe?
— Sir Eugene, eu sei que você realmente se esforça muito para tentar pensar em nomes legais para suas técnicas. Também sei que sempre que você cria uma nova técnica, tem que pensar muito se deve ou não nomeá-la. Embora realmente goste dos nomes das técnicas nas quais pensou muito, sei que você não se atreve a dizê-los em voz alta, porque tem medo de ser ridicularizado por todos os outros.
Enquanto Mer continuava a falar, as sobrancelhas de Eugene começaram a tremer de raiva.
— Porém, às vezes, você inconscientemente diz os nomes das suas técnicas em voz alta, Sir Eugene. Sempre que isso acontece, você fica surpreso, mas ainda assim dedica um tempo para examinar as reações ao nome ao seu redor. Você pode não gostar de Sir Carmen, porque acha que ela não age de acordo com sua idade, mas ainda assim se sente bem sempre que ouve Sir Carmen elogiar suas técnicas por serem legais.
Eugene gaguejou fracamente:
— C-Cale a boca.
— Entendo muito bem você, Sir Eugene. Isso significa que só eu entendo os dilemas pelos quais você está passando. — Mer disse com um encolher de ombros e um sorriso triunfante.
Embora essa visão tenha feito os punhos de Eugene tremerem de raiva, ele ainda se conteve para não bater na cabeça de Mer.
— Seus punhos estão tremendo, Sir Eugene. Já que você não pode refutar adequadamente minhas palavras, está pensando em me suprimir com um ato de violência irracional? — Mer acusou com um beicinho.
Por que ele estava tentando se conter? Eugene rapidamente mudou de ideia e bateu na cabeça de Mer.
— Ai, ai! Viu o que quero dizer?! Esta violência é apenas uma prova de que minhas palavras são precisas! — Mer gritou.
Sem dizer mais nada, Eugene começou a se afastar.
Ivatar, que havia sido informado do retorno de Eugene, já estava esperando por ele na sala, mas Eugene não foi imediatamente para lá.
Como havia retornado um mês após um desaparecimento abrupto, Eugene sentiu que era certo cumprimentar primeiro o Patriarca Gilead.
— Essa é uma boa expressão para você. — Eles poderiam ter combinado de dizer a mesma coisa com antecedência? Gilead disse exatamente a mesma coisa que Gerhard e deu um tapinha no ombro de Eugene: — Você voltou sozinho?
— Sim. — Respondeu Eugene.
— E a Bispa Kristina?
— Ela tinha algo para fazer, então nos separamos por um breve período.
Ancilla olhou para Eugene com uma expressão meio desconfiada e meio cautelosa. Como Eugene trazia alguém para casa com ele toda vez que saía da propriedade e voltava, parecia que Ancilla achava estranho que tivesse voltado sozinho dessa vez.
— Você já ouviu o motivo pelo qual Ivatar Jahav veio me procurar? — Eugene perguntou.
— Perguntamos, mas ele não nos deu a resposta. — Respondeu Gilead. — Ele disse que é algo que precisa discutir com você, não com o clã Lionheart.
A expressão de Gilead era suspeita, mas Eugene não ficou surpreso com as palavras de Ivatar. Em primeiro lugar, quando estava deixando a Floresta Samar, Ivatar demonstrou um grande interesse pessoal em Eugene, não no clã Lionheart.
“Não tem como ele ter vindo tão longe só para conversar… Será que ele precisa me pedir um favor pessoalmente?” Eugene pensou consigo mesmo.
Ele recebeu ajuda de Ivatar quando deixou Samar.
Poderia ter sido uma história diferente se fossem apenas Eugene e Kristina sozinhos. Mas quando estavam tentando escapar com segurança das profundezas da floresta com mais de cem elfos a reboque, se Ivatar e a tribo Zoran não tivessem se oferecido para servir como suas escoltas, teria sido um pé no saco de muitas maneiras
Eugene chegou à sala da casa principal.
Quando Eugene abriu a porta e entrou, Ivatar Jahav, herdeiro da tribo Zoran, levantou-se para cumprimentá-lo.
— Eugene Lionheart.
Enquanto Ivatar se levantava, a cabeça e o olhar de Eugene continuavam subindo para segui-lo.
— Hmm…? — Eugene suspirou surpreso.
Eugene também não era um homem baixo, mas o físico de Ivatar estava além de todos os padrões normais. Ele era ainda mais alto que o corpulento Rei das Bestas, Aman Ruhr.
“Ele parece semelhante a Moron…. Como é um rei, aquele maldito do Moron também deve ter tido várias concubinas. — Concluiu Eugene cruelmente.
A linhagem de Moron pode ter se espalhado de alguma forma para Samar e servido como raiz da tribo Zoran. Eugene considerou seriamente a possibilidade disso acontecer enquanto olhava para o gigante Ivatar.
Mesmo assim, havia uma diferença crucial entre Ivatar e Moron.
Parecia que Ivatar ainda se importava com coisas como bom senso e boas maneiras. Ele estava vestido com as roupas formais usadas pelos nobres das cidades, não com as roupas de sua tribo, mas seu corpo era tão musculoso que Eugene sentiu uma forte sensação de incongruência ao vê-lo com essas roupas formais.
— Já se passaram dois anos. Ouvi notícias sobre você até na Floresta Samar. — Ivatar começou educadamente.
— Os rumores realmente se espalharam tão longe assim? — Eugene perguntou.
— Os Zoran não são uma tribo fechada. — Explicou Ivatar. — Em vez disso, aceitamos ativamente e trocamos contatos com o mundo exterior.
O rosto de Ivatar tinha a cor de cobre queimado, mas dentes brancos brilhavam entre seus lábios curvados enquanto ele sorria.
— Mandei uma carta com antecedência, mas apesar de ter esperado um pouco, não veio resposta. Sei que isso não é muito educado, mas tenho minhas próprias circunstâncias, então não posso esperar mais por uma resposta. Minhas desculpas. — O herdeiro de uma grande tribo baixou facilmente a cabeça e pediu desculpas.
Vendo esta demonstração de bom senso e boas maneiras, Eugene foi forçado a reconsiderar suas conclusões anteriores sobre a linhagem de Ivatar.
“Parece que ele realmente não é da linhagem de Moron.”
Eugene balançou a cabeça lentamente enquanto se sentava no sofá.
— Como eu estava longe da mansão, não havia como evitar. Não precisa se desculpar.
— Obrigado por dizer isso. — Ivatar disse com outro amplo sorriso enquanto se sentava em frente a Eugene.
Eugene foi direto ao ponto:
— Então, por que diabos você está me procurando? Bem… Eu disse que o receberia como convidado se algum dia viesse me visitar. Mas deveria haver outro motivo para você vir me procurar depois de dois anos inteiros, certo? Não há como você vir aqui só porque queria ser tratado como convidado.
— Se fosse possível, eu realmente gostaria que essa fosse a razão pela qual eu vim aqui. Da minha parte, queria construir lentamente uma amizade entre nós para que pudéssemos desenvolver um relacionamento amigável de longo prazo. — Ivatar enxugou o sorriso e olhou sério para Eugene enquanto continuava: — Permita-me dizer isso com antecedência. A rigor, o que vou contar a partir de agora não tem nada a ver com o meu pedido.
Eugene assentiu:
— Como pensei, você realmente veio me procurar por ter tem um pedido a me fazer.
— É verdade, mas não tenho intenção de fazer você aceitar meu pedido à força. — Ivatar assegurou-lhe. — Não há problema se você rejeitar meu pedido depois de terminar de ouvir a história toda. Há dois anos, eu lhe dei uma pequena ajuda, mas o peso desse incidente e o que tenho para falar com você agora são muito diferentes.
Vendo como Ivatar estava indo tão longe a ponto de dizer tudo isso, não parecia que seria um assunto trivial.
Sem dizer nada, Eugene apenas levantou casualmente uma mão e gesticulou para Ivatar continuar sua história.
Ivatar concordou com o pedido:
— Entre as muitas tribos da Floresta Samar, há uma tribo conhecida por ter o maior número e ser a mais feroz de todas as tribos. Essa é a tribo Kochilla.
Eugene também estava familiarizado com esse nome. Assim como Ivatar havia dito, os Kochillas eram a maior tribo de toda a Floresta. Ao mesmo tempo, a tribo deles era uma tribo que recebia diversas formas de apoio de Helmuth.
Os Kochillas foram estabelecidos nas profundezas da floresta e detinham domínio completo sobre as tribos vizinhas. Eles também eram uma tribo extremamente insular. Não interagiram com nenhuma tribo além daquelas que controlavam.
— Recentemente, os movimentos da tribo Kochilla têm sido estranhos. Eles invadiram e conquistaram outras cinco tribos em apenas alguns meses. Os Kochillas já conquistaram outras tribos várias vezes, mas desta vez estão estranhamente determinados. Mas isso não é tudo. — A voz de Ivatar baixou enquanto continuava: — As almas dos guerreiros mortos estão sendo roubadas. Nenhuma de suas almas retornou à terra.
Eugene deu um grito de espanto:
— O quê?
— Meu pai, o chefe da Tribo Zoran, decidiu que não poderia ficar parado enquanto a Tribo Kochilla se comportava de forma tão estranha. E a Tribo Zoran não foi a única tribo a pensar assim. Várias tribos se uniram ao lado da Tribo Zoran e já enfrentamos as forças da Tribo Kochilla. — Relatou Ivatar.
Samar e seu povo tinham cultura e crenças próprias. Começando no passado distante, sua religião foi influenciada pelos elfos e pela Árvore do Mundo. Os tribais acreditavam que os espíritos ou almas habitavam tudo e que quando uma pessoa morria, seu espírito retornava à terra e passava por um ciclo de reencarnação.
Originário de tal cultura e fé veio o estilo único de magia de Samar — o xamanismo.
Eugene também teve a oportunidade de dar uma olhada nisso há dois anos. Os guerreiros de Samar puderam receber a ajuda dos espíritos mesmo não sendo invocadores de espíritos, e alguns podiam até usar as almas de monstros ou guerreiros falecidos para se fortalecerem.
Ivatar continuou sua história:
— Em nosso primeiro confronto com os Kochillas, não vencemos nem perdemos. Ninguém foi capaz de avançar, então ficamos num impasse.
Foi então que notaram a anormalidade. Tradicionalmente, o enterro de um guerreiro seria realizado pelo xamã tribal após uma batalha.
— Mas todos os cadáveres eram iguais. — Disse Ivatar gravemente. — Quer fossem fortes ou fracos, nenhum dos guerreiros tinha suas almas ligadas aos seus cadáveres.
— Eles não poderiam ter acabado de entrar no ciclo de reencarnação? — Eugene propôs cautelosamente depois de um momento.
Ivatar balançou a cabeça: Mesmo depois que o xamã da Tribo Zoran se voltou para a necromancia, ele não foi capaz de convocar de volta nenhuma de suas almas. Em vez disso, a alma do xamã que estava convocando foi quase roubada.
Eugene também era um mago. No início, não estava ouvindo com muita atenção, mas à medida que Ivatar continuava sua história, a expressão de Eugene ficou cada vez mais séria.
— Isso nos foi trazido por um espião que conseguiu se infiltrar no território da tribo Kochilla. — Disse Ivatar enquanto tirava um pedaço de papel rasgado do bolso.
Em vez de uma imagem gravada através de um feitiço, alguém desenhou pessoalmente o que viu neste pedaço de papel.
Ao receber o papel, a expressão de Eugene se transformou em uma carranca.
Alguém havia desenhado o que parecia ser uma torre feita de ossos humanos.
Ivatar revelou um fato perturbador:
— Mesmo entre as tribos de Samar, os Kochillas são os únicos canibais. Eles preferem atacar os escravos criados dentro da tribo e também recebem sacrifícios das tribos subordinadas sob seu controle. Então, sempre que realizam um evento tribal, muitas pessoas inocentes são sacrificadas ao deus de sua tribo.
— O deus deles? — Eugene repetiu.
— O Deus da Terra. A maioria das tribos de Samar considera o Deus da Terra como sua divindade padroeira. No entanto, a forma que sua fé assume é muitas vezes diferente. Por exemplo, os Zorans não fazem sacrifícios humanos, enquanto os Kochillas fazem. — Talvez perturbado por alguma coisa, a expressão de Ivatar se distorceu enquanto ele continuava: — No entanto, não posso deixar de pensar que construir uma torre de ossos humanos é ir longe demais. Também no passado, sempre ficamos de olho no território da tribo Kochilla, mas só recentemente eles conseguiram construir uma torre de ossos humanos desse tamanho. E não é a única. O espião disse que novas torres de ossos humanos estão sendo continuamente construídas dentro do domínio da tribo Kochilla, exigindo uma oferta constante de prisioneiros como sacrifícios.
— Hmm. — Eugene assentiu levemente e se levantou da cadeira. Então abriu a janela na parede ao lado deles, gritando: — Senhora Melkith?
No jardim abaixo estava Melkith El-Hayah, que imediatamente protestou:
— Eu não estava espiando. Essa irmã mais velha não é uma pessoa tão rude.
Eugene olhou para Melkith com os olhos semicerrados, apenas para ela levantar os braços bem abertos com uma expressão verdadeiramente magoada.
— Estou falando a verdade, sabe? — Melkith insistiu. — Honestamente, eu estava curiosa, então queria escutar, mas não importa o que acontecesse, fazer isso seria muito rude. Como tal, recusei-me a escutar. Então tudo que fiz foi ficar aqui.
Não foi surpreendente encontrar Melkith, a Mestra da Torre Branca, na Propriedade Lionheart. Através de um fluxo constante de presentes e outras trocas com Ancilla, ela passou do status de convidada a amiga de Ancilla.
Mas isso era realmente tudo o que havia para acontecer? Melkith também se aproveitou do ponto fraco de Ancilla, a pena que Ancilla sentia em seu coração pelos elfos da floresta.
Depois de recomendar que ela ensinasse pessoalmente aos elfos como usar magia espiritual, aumentando assim tanto a capacidade dos elfos de se manter por conta própria quanto a força de combate dos Lionhearts, no final, Melkith conseguiu permissão para usar livremente o portal de teletransporte dentro da floresta.
Dentro do manto de Eugene, Wynnyd vibrou.
[Ela realmente é uma mulher cruel. Para enganar a dona da casa e até mesmo tirar vantagem das circunstâncias dos elfos para suas próprias ambições e ganância,] Tempest levantou a voz por não gostar de Melkith. [Um dia, essa invocadora de espíritos cruel e vergonhosa pagará o preço por seus pecados.]
“Por que você não gosta de Melkith?” Eugene perguntou silenciosamente.
[Hamel, por que você está fazendo uma pergunta tão óbvia? Mesmo que aquela mulher já tenha feito contrato com um Rei Espírito, ela ainda insiste em acreditar em superstições infundadas. É bastante irônico. Pensar que uma crente em tais contos populares é a melhor invocadora de espíritos desta época… No momento, sua vergonha pode não ser amplamente conhecida pelo mundo, mas algum dia, todos neste mundo poderão descobrir sobre o lado feio de Melkith El-Hayah], disse Tempest, estalando a língua.
Seu lado feio… Eugene examinou o traje de Melkith com os olhos semicerrados.
Melkith usava botas de couro que iam até os joelhos e uma jaqueta vermelha brilhante. No entanto, por algum motivo, talvez porque tivesse acabado de voltar de ver Noir Giabella, Eugene ainda sentia que uma forte excentricidade como a de Melkith ainda estava dentro da faixa aceitável.
— Então por que você estava parada aí? — Eugene finalmente perguntou.
— O que quer dizer com isso? — Melkith zombou. — Eu só queria ouvir a história sobre você partir para encontrar sua essência, e também estava curioso sobre a história por trás desse homem da tribo que veio da distante Samar para conhecê-lo… Hee hee, isso não te dá apenas a sensação de que algo emocionante vai acontecer? Só para avisar, essa irmã mais velha tem estado muito livre ultimamente, então tenho sentido vontade de sair da rotina diária—
Eugene suspirou e interrompeu:
— O que você está tentando dizer…?
— De qualquer forma, é por isso que estou aqui. Eu definitivamente não iria escutar, mas ficando aqui, você não viria falar comigo de qualquer maneira? — Melkith riu enquanto piscava de maneira exagerada. — Então funcionou exatamente como eu imaginava!
— Já chega. Só sobe aqui logo. — Eugene cedeu com relutância.
— Você precisa da ajuda da sua irmã mais velha? — Melkith disse provocativamente. — Ei, ei… Você não pode ter esquecido, não é? Esta irmã mais velha é a Mestra da Torre Branca de Aroth. Você geralmente não consegue nem comprar uma única palavra minha, não importa quanto dinheiro esteja disposto a pagar.
— Então fique aí. — Eugene bufou.
Melkith recuou instantaneamente:
— No entanto, Eugene, você e eu não temos apenas um relacionamento comum, temos? Se precisar da minha ajuda, posso ir a qualquer lugar que você precisar. Então, é claro, posso subir alguns andares.
Num único salto, Melkith pulou o parapeito da janela. Estalando a língua exasperado, Eugene fechou a janela.
— Nossa… Eu dei uma olhada nele ontem, mas ele é realmente enorme. Eu acreditaria se você dissesse que ele é um cruzamento entre humano e ogro. — Comentou Melkith.
Eugene reclamou:
— Você está sendo muito rude.
— É só porque você tem uma formação cultural diferente. Em Aroth, esse tipo de coisa é dito de forma muito casual… Tal piada pode ser dita até entre pessoas que não são tão próximas umas das outras. Será que você realmente nunca ouviu piadas como essa em Kiehl ou Samar? — Melkith perguntou enquanto se sentava em frente a Ivatar com um sorriso malicioso.
Longe de ficar com raiva, Ivatar riu e se apresentou:
— Da tribo Zoran, meu nome é Ivatar Jahav.
Será que ele não aprendeu a usar títulos honoríficos ao aprender a língua comum? Ou talvez estivesse tentando atrair a simpatia de Melkith, parecendo pouco refinado…?
Sentando-se um pouco mais longe de Melkith, Eugene explicou a conversa que vinha tendo com Ivatar até agora.
— Assim como esperado. — Melkith assentiu com um sorriso brilhante após ouvir toda a história. — Você sabe? Para os Invocadores de Espíritos, a Floresta Samar é tratada como um local sagrado. Como você já deve saber, a terra lá está cheia de espíritos. Você sabe qual é um dos assuntos mais discutidos nas escolas de magia de Aroth? Qual é a origem da magia? Embora seja aceito que a magia antiga usada na era mítica, quando os deuses ainda existiam, foi modernizada para se tornar a magia de hoje, entre todos esses vários tipos diferentes de magia antiga, diz-se que as origens da invocação de espíritos estão enraizadas no animismo praticado pelas religiões primitivas de Samar—
Eugene a interrompeu:
— Você não pode simplesmente ir direto ao ponto?
Melkith concordou:
— Isso significa que o xamanismo usado por Samar é uma espécie de invocação de espírito primitivo. Embora se as almas humanas podem ou não ser consideradas apenas outro tipo de espírito, não é um debate que eu realmente gostaria de entrar. Considerar os humanos como um tipo de espírito — isso não é apenas um insulto a todos os espíritos? Os espíritos não são imundos como os humanos podem ser.
— Então, o que isso significa? — Eugene pressionou.
— Bem, independentemente da minha opinião sobre esse assunto, o xamanismo de Samar… Particularmente seu lado necromântico, é um tipo de magia com uma forte base de crenças. Ah, ainda acho que o xamanismo é, no final das contas, apenas mais um tipo de magia, não magia negra. Afinal, no final das contas, necromancia é simplesmente amarrar a alma de outra pessoa ao corpo de outra pessoa por algum tempo, certo? Embora a necromancia possa ser uma das artes mais avançadas dentro do conjunto de habilidades do xamanismo, o que eu estava falando agora tem muitas diferenças quando se trata de como a necromancia da magia negra lida com as almas.
Os cantos da boca de Melkith subiram ligeiramente.
— Estou ciente de que existem muitos tipos de feitiços no xamanismo de Samar que fazem uso de almas e espíritos como catalisadores ou sacrifícios. Porém, quando se trata de especialização no controle de almas, o xamanismo não é o melhor tipo de magia para isso. Eugene, você sabe o que isso significa, certo?
— Tenho um bom palpite, mas não posso ter certeza. Afinal, ainda não sei muito sobre xamanismo. — Admitiu Eugene.
Melkith riu:
— Fufu, se for esse o caso, então permita que esta irmã mais velha explique para você. Torres de ossos humanos? Sacrifícios humanos em massa? Embora eu gostaria de descartá-los como sendo apenas parte de sua cultura bárbara, se as almas daqueles que morreram durante a batalha estão sendo roubadas, então que outro tipo de magia poderia ser responsável por isso além da magia negra?
Ivatar não respondeu. Ele cruzou os braços silenciosamente enquanto ouvia Melkith falar, enquanto Eugene também mantinha a boca fechada, mesmo com sua expressão se transformando em uma carranca.
— Embora eu não tenha certeza do que eles estão planejando fazer com tantas almas… Posso ter certeza de uma coisa. — Melkith afirmou com confiança. — Qualquer magia negra que exija tantas almas para ser usada como sacrifício deve ser algum terrível ato de heresia. Este pode não ter sido o caso durante a guerra, há trezentos anos, mas esse tipo de magia negra não é tolerado entre a magia negra de hoje. Em primeiro lugar, após aquela era de guerra, foi estritamente proibido a qualquer praticante humano usar a alma humana ao praticar magia negra.
Eugene franziu a testa:
— Então você está dizendo que Helmuth está por trás de tudo isso?
— Ouvi dizer que o Rei Demônio do Encarceramento veio pessoalmente à Marcha dos Cavaleiros? Eu já ouvi a história, mas você não acha que o que o Rei Demônio do Encarceramento disse… Foi terrivelmente ambíguo? O Rei Demônio do Encarceramento disse especificamente que não seria ele quem acabaria com esta paz primeiro. — Melkith deu uma risadinha e cruzou as pernas. — Não acho que haja motivo para o Rei Demônio aparecer pessoalmente só para mentir. Porque, como alguém como ele, cada palavra que diz é reforçada pelo peso da sua própria existência. Nesse caso, isso não significa que a magia negra que está prestes a ser lançada em Samar não ameaçará a paz da era atual? Afinal, o próprio Rei Demônio não parece estar intervindo nisso….
— Você está tentando dizer que tudo isso é apenas um assunto trivial que só acontecerá dentro dos limites da Floresta Samar? — Eugene disse em dúvida.
— Não tenho certeza do que exatamente vai acontecer, mas, hmm, não deveria ser assim? — Melkith murmurou pensativa. — Da perspectiva dos Reis Demônios de Helmuth, pode ser apenas um pequeno acontecimento acontecendo em alguma floresta no país.
Com essas palavras, os punhos cerrados de Ivatar soltaram um som estridente.
— Bem, acho que não há dúvida de que alguém da tribo Kochilla está se preparando para lançar magia negra em grande escala. — Admitiu Melkith. — Ah, Eugene, você já ouviu falar disso?
— Ouvi falar do quê? — Eugene respondeu.
Melkith virou-se para ele com um sorriso:
— Balzac Ludbeth desapareceu de Aroth.