Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 212
Capítulo 212: A Sala Escura (5)
Gion e Gilead também deram respostas semelhantes. Nenhum deles jamais havia visto algo semelhante a uma vida passada na Sala Escura. Claro, era impossível saber se o mesmo era verdade para todos aqueles que já haviam falecido, mas Eugene teve certeza de que ver a vida passada de alguém na Sala Escura não era uma ocorrência comum. Era algo fora do comum.
— Talvez você estivesse tão imerso na ilusão que a confundiu com uma lembrança. Pode ser, certo? Claro, não sei exatamente o que viu em sua visão, mas pela minha experiência… Bem… O fantasma é um pouco diferente do seu eu atual, certo?
Não, não era nada disso. O que Eugene viu depois de rastrear a vida que levou como Hamel, até o começo, foi um homem diferente de Hamel. Mas Eugene não sabia por que a Sala Escura havia projetado o homem desconhecido.
“Não tenho nenhuma memória assim.”
Ele pensou muito, mas sempre chegou à mesma conclusão. Nem Eugene, nem Hamel possuíam tal memória. Ele já andou por um campo de batalha cheio de cadáveres ou matou pessoas suficientes para fazer uma montanha de seus corpos? Bem… Talvez, mas ele nunca havia vagado pelo campo de batalha com os ombros caídos cheios de desespero.
Hamel tinha sido um homem venenoso durante seus dias de mercenário e também nunca havia sentido desespero durante seu tempo com Vermouth. Ele também nunca se sentou sozinho em uma montanha de corpos empilhados. Ele sabia que alguns dos mercenários que conhecia tinham hobbies desagradáveis semelhantes a ele, mas Hamel preferia simplesmente massacrar seus inimigos antes de seguir em frente, em vez de se preocupar em fazer uma montanha de seus cadáveres. Em particular, e se ele tivesse feito isso enquanto viajava com Vermouth? Teria definitivamente justificado uma enxurrada de palavras duras de Sienna, seguidas por um tapa de Anise e talvez até uma bronca de Moron…
“Uma vida… Antes da minha vida anterior?”
Eugene riu com o pensamento. Era ridículo. Bem, como ele havia levado uma vida anterior como Hamel, não estava fora de questão que ele tivesse vivido uma vida antes disso. No entanto… Por que a Sala Escura também mostrou a ele essa vida?
Depois de voltar para seu quarto, Eugene chamou Kristina.
— Kristina, eu gostaria de falar um pouco com a Anise.
— Sim, entendido. — Respondeu Kristina antes de ceder seu corpo sem qualquer hesitação ou relutância. Pelo contrário, Anise parecia mais desconfortável com seu pedido. Assim que assumiu o controle do corpo de Kristina, ela se aproximou de Eugene antes de dar um tapa em seu braço.
— Por que você está incomodando alguém que está em um merecido descanso? — Anise repreendeu em desaprovação.
— Por um bom motivo, obviamente. Você acha que eu teria te chamado por estar entediado?
Thwack!
A resposta brilhante de Eugene foi recebida com outro tapa no braço.
— É exatamente por isso que merece outro tapa. Se vai me chamar assim, por que não me chama uma ou duas vezes só para conversar? Por que só me chama quando tem um motivo? Que desumano. — Reclamou Anise.
— Não, bem… Achei que você não gostaria se eu te chamasse sem motivo…? — Murmurou Eugene.
— Isso mesmo. Eu não… Eu não quero tomar o lugar de Kristina. — Cutucou Anise antes de cair na cama de Eugene. Imediatamente depois, uma expressão de realização surgiu no rosto de Anise. Seus olhos brilharam e ela deu um sorriso travesso enquanto olhava lentamente ao redor do quarto limpo de Eugene. — Tentar uma mulher madura em seu quarto. Sua fé nas virtudes de Kristina não é cega demais? Você não sabe que um lobo em pele de cordeiro vive dentro dela?
— Você está falando de você?
— Bem, que tal isso? Hamel, o que acha? Você acha que eu sou um lobo? — Anise perguntou com um sorriso sedutor enquanto cruzava as pernas.
Eugene assumiu uma expressão triste e deu um longo suspiro antes de acenar com as mãos.
— Quer que eu olhe para você como um lobo? — Ele perguntou.
— Está dizendo que quer ser devorado por mim como um lobo? Que descarado e insidioso. Acho que é sua especialidade seduzir mulheres agindo como um idiota inocente e sem noção, como agora. — Anise respondeu com um clique de sua língua.
— Seduzir? O que diabos…?
— Seja honesto, Hamel. Quantas mulheres você trouxe para este quarto até agora?
— Pare de dizer essas coisas estranhas. Que mulheres? As únicas que já entraram no meu quarto foram Ciel e Nina.
Ciel e Nina… Os dois nomes ficaram claramente gravados na memória de Anise. Nina era a empregada encarregada de cuidar do chão. Normalmente, empregadas mais velhas, mais maduras e experientes assumiriam tais cargos, mas a idade de Nina era a mesma de Kristina, vinte e três. No entanto, ela recebeu um papel tão importante, apesar de sua pouca idade, porque serviu a Eugene como sua assistente pessoal desde o início. Como tal, Anise estava à procura constante de Nina de dentro de Kristina.
— Hmm… Não deve haver problemas com aquela garota. — Disse Anise.
— Afinal, o que isso quer dizer? — Perguntou Eugene.
— Ela é perfeitamente capaz de distinguir entre assuntos públicos e privados. Hamel, a única coisa que ela sente por você pessoalmente é algo parecido com um afeto de irmã, muito diferente de Ciel, aquela senhorita atrevida. — Respondeu Anise.
Kristina concordou discretamente com Anise. A visão de Ciel agindo de forma fofa com Gerhard enquanto saía da sala mais cedo naquele dia ainda estava fresca em sua mente. A maneira como ela disse ‘papai’ não era algo que Kristina jamais poderia se imaginar fazendo.
“Eu posso fazer isso em seu lugar.” Anise se ofereceu maliciosamente, ouvindo os pensamentos de Kristina.
[Irmã… Por favor…!]
Anise deu um sorriso travesso enquanto apreciava o grito horrorizado de Kristina.
— Hamel, tenho certeza de que há um bom motivo para você ter me chamado, em vez de Kristina, no seu quarto, certo? Estou ansiosa por isso. — Disse Anise em tom de provocação.
— O que você pensa sobre vidas passadas? — Eugene perguntou sem rodeios.
Anise ficou em silêncio por um momento enquanto olhava para Eugene. Embora ela dissesse que estava ansiosa por isso, para dizer a verdade, não tinha expectativas para Eugene. Ela se lembrava muito bem de Hamel. Ele tinha uma boca suja e agia de acordo, mas, ao mesmo tempo, era um completo idiota e um cabeça-dura que nunca cruzava o limite.
— Eu poderia entender se fosse qualquer outra pessoa… Mas não é engraçado que você, de todas as pessoas, esteja me perguntando sobre vidas passadas? Você já não reencarnou? — Anise finalmente respondeu.
— É um caso especial para mim. Estou perguntando sobre os outros. — Continuou Eugene com seriedade.
— Bem, eu também sou um caso especial porque… Sou um ser criado. Mas tenho certeza de que sua pergunta não é sobre mim, então vou lhe dar uma perspectiva da população em geral. — Respondeu Anise. Sua expressão mudou e ela continuou com uma voz calma enquanto acariciava lentamente o rosário em volta do pescoço. — Segundo a Doutrina da Luz, os mortos são enviados para o céu ou para o inferno de acordo com a vida que levaram. E somente aqueles que pagaram o preço de seus pecados no inferno são reencarnados e renascidos neste mundo. Em outras palavras, na Doutrina da Luz, o Ciclo da Luz é uma jornada para alcançar um céu sem dor. Portanto, vidas passadas, vidas presentes, vidas futuras, todas elas são apenas lutas para aqueles que não podem entrar no céu.
— Você não está me dizendo para aceitar isso palavra por palavra, certo? — Perguntou Eugene.
— Como eu poderia? Estou apenas explicando a Doutrina da Luz. Pelo que experimentei, o céu existe, mas você não precisa ir para lá incondicionalmente. Assim como eu permaneci neste mundo. — Respondeu Anise.
— Então e o inferno?
— O inferno… Não tenho certeza. Eu senti o céu, mas nunca senti o inferno. Hamel, não vou dizer que a Doutrina da Luz está completamente correta, mas os ensinamentos da velha Bíblia não são todos obras de ficção. — Anise continuou com sua explicação.
Se fossem as palavras de qualquer outra pessoa, Eugene as teria ignorado com um bufo. No entanto, Anise nasceu na Igreja da Luz, então experimentou muitas coisas antes de se tornar um anjo após sua morte.
— Não sei se o inferno existe, mas o céu existe. As almas que não merecem entrar no céu ou optam por não entrar, ficam para trás e reencarnam neste mundo. — Anise fez uma pausa, depois continuou com um sorriso torto e um tom mais profundo: — Então, Hamel, o inferno pode não ser um mundo separado. Este mundo em si pode ser um inferno. Seria o castigo do inferno morrer e renascer neste mundo sem obter a paz, certo?
Suas palavras não soaram como uma piada. Eugene ficou em silêncio enquanto digeria lentamente suas palavras. Suas vidas eram uma luta para entrar no céu. O caso de Eugene foi especial, mas outros não se lembravam de suas vidas anteriores. Claro, eles teriam vidas passadas, mas no processo de morrer e renascer, suas memórias eram apagadas.
— Então isso significa que Vermouth me arrastou de volta para o inferno. — Disse Eugene com um sorriso amargo enquanto se sentava.
Originalmente, a alma de Hamel teria sido apagada pela maldição do lich. No entanto, a alma dele foi devolvida quando Vermouth fez um juramento com o Rei Demônio do Encarceramento. Como resultado, sua alma não deixou este mundo, mas foi colocada em um colar, uma relíquia, pela magia de Sienna.
— Todos nós juntos arrastamos você de volta para o inferno. — Murmurou Anise.
Sienna não havia tomado a decisão de imbuir sua alma no colar sozinha. Todos concordaram. Anise duvidava da existência do céu na época, mas ela desejava entrar no céu com todos os seus colegas depois de matar todos os reis demônios restantes.
— E o próprio Sir Vermouth escolheu o inferno.
Eugene não sabia o que dizer neste momento.
— O mesmo vale para Sienna e para mim. Não sei sobre Moron, mas todos nós estávamos qualificados para entrar no céu. Mas, mesmo assim, optamos por permanecer neste mundo infernal.
— Pelo mundo? — Eugene finalmente perguntou.
— Por você. — Anise riu. — E por nós, embora isso acabasse sendo pelo bem do mundo. Queríamos matar todos os reis demônios. Não sei por que… Sir Vermouth negou o céu e disfarçou sua morte.
— Você viu o corpo de Vermouth, certo? — Perguntou Eugene.
— Sim.
Duzentos anos atrás, o Grande Vermouth, fundador do clã Lionheart e o Herói, morreu. O Império Kiehl realizou um grande funeral para ele, e procissões para homenagear sua vida seguiram por todo o continente. Vermouth cortou todas as comunicações com seus camaradas depois de voltar de Helmuth. Anise, Sienna e Moron compareceram ao funeral. Na época, Sienna havia limpado o céu da chuva torrencial para negar o luto por sua morte, e Moron, o Rei Fundador de Ruhr, tirou sua coroa e moveu pessoalmente o caixão de Vermouth. Anise, a Santa do Império Sagrado, recitou uma homenagem.
— Sim, eu vi. — Disse Anise mais uma vez.
Eugene também tinha ouvido a história. Havia um corpo dentro do caixão de Vermouth na época. Se fosse falso, Anise e Sienna teriam notado, mesmo que enganasse Moron.
— Naquela época, Sir Vermouth definitivamente era um cadáver morto, e sua alma já havia partido. Naturalmente, presumi que ele havia subido ao céu. — Disse Anise.
No entanto, esse não foi o caso. Assim, Anise permaneceu até esta época e deu uma revelação a Kristina para verificar o caixão de Vermouth no Castelo dos Leões Negros.
— Pode ser que… A alma de Vermouth esteja nas mãos do rei demônio do encarceramento. — Especulou Eugene.
— Se o Rei Demônio do Encarceramento prometeu paz em troca da alma de Sir Vermouth… — Sussurrou Anise.
— É apenas um palpite, mas se isso fosse verdade, então não tenho escolha a não ser admitir que este mundo em si é um inferno, assim como você disse. — Cuspiu Eugene em um tom cheio de ressentimento.
Vermouth havia salvado o mundo, embora não da maneira que Eugene gostava. Ele merecia o céu mais do que qualquer outra pessoa no mundo, mas ainda não havia conseguido ascender. Mesmo quando Eugene tentou rastreá-lo usando o feitiço Dracônico contido em Akasha, olhos vermelhos e o som de correntes se arrastando obscureceram seu caminho.
Povos Demônios e Reis Demônios recebiam almas em troca de seus serviços e promessas. Helmuth exortou os humanos a fazerem contratos com a alma, e inúmeras pessoas foram algemadas aos demônios e aos Reis Demônios de Helmuth. Tais humanos não poderiam ascender ao céu, nem poderiam reencarnar. Eles só podiam viver suas vidas infrutíferas de acordo com o conteúdo de seus contratos, trabalhando como escravos para os demônios e os Reis Demônios.
Um império de sombras que roubava sua chance de reencarnar — essa era Helmuth. Se este mundo realmente fosse um inferno de repetidas reencarnações para as almas que não conseguiram chegar ao céu, Helmuth seria o maior inferno.
— Hamel. Não sei como foi projetado a você uma vida passada que não reconheceu na Sala Escura. As pessoas comuns nem se lembram de sua vida anterior, mas você se lembra de sua vida como Hamel. — Disse Anise. — Talvez por ser especial, tenha afetado a Sala Escura?
Eugene aumentou seu aperto no colar.
— Eu não vi tudo…
A Sala Escura projetou a vida de Eugene até o momento atual, desde quando era criança até quem ele era atualmente como Eugene Lionheart. A projeção da vida de Hamel começou a partir do momento em que morreu no Castelo do Rei Demônio do Encarceramento, depois colocada ao contrário. A vida do homem desconhecido foi exibida depois, mas Eugene não tinha visto como o homem encontrou seu fim. Ele morreu de exaustão enquanto vagava em desespero no campo de batalha dos cadáveres? Ele era o mesmo homem que estava sentado na montanha de corpos? Eugene não tinha certeza de nada. Afinal, a vida do homem havia sido projetada por apenas um breve momento.
— Hamel. Uma vida passada desconhecida para você não é tão importante, é? — Perguntou Anise com uma expressão preocupada. Ela estendeu a mão e acariciou o punho cerrado antes de continuar. — Não conheço o método para recordar a vida passada, e também não quero saber. Porque não é importante. Você é Hamel e Eugene, mas também não vou diferenciar.
— Porque eu sou apenas eu. — Disse Eugene com firmeza.
— Sim. Eu também sou a mesma coisa. Assim como Kristina é Kristina, eu sou apenas Anise… Isso não é o suficiente? — Perguntou Anise.
— Só me incomoda um pouco, só isso. — Resmungou Eugene, balançando a cabeça. — Vermouth foi quem fez a Sala Escura. Não sei quando ele começou a planejar minha reencarnação, mas aquele filho da puta foi muito meticuloso em garantir que eu nascesse como descendente dele. Ele plantou o colar antecipando que eu entraria naturalmente no cofre do tesouro depois de chegar à casa principal.
— Então, isso não era muito difícil de prever, era? Hamel, conhecendo sua personalidade, você definitivamente teria tentado arrombar para esvaziar a sala do tesouro. — Afirmou Anise naturalmente.
— Não sei, mas provavelmente teria feito isso uma vez que tivesse idade e força suficientes. — Eugene não pôde deixar de concordar. — Mas não sei se a Fórmula da Chama Branca foi feita para mim também….
— Mas você teria dominado ela independentemente. Você sentiu um grande sentimento de inferioridade e aspiração por Sir Vermouth durante sua vida passada, não é? — Perguntou Anise.
— Inferioridade? Aspiração? — Eugene parecia chocado.
— Não finja que não. Mesmo se você negar, todo mundo sabe que você era assim. Felizmente, o atual chefe do clã Lionheart te aceitou de bom grado na casa principal, já que ele é um homem generoso, mas e se esse não fosse o caso? Acha que poderia ter desistido da Fórmula da Chama Branca? — Perguntou Anise.
Em vez de responder, Eugene assumiu uma expressão estúpida. Se nunca tivesse sido levado e nunca tivesse a oportunidade de aprender a Fórmula da Chama Branca… Então ele teria treinado na Fórmula da Chama Vermelha ou no método de treinamento de mana de sua vida anterior.
Mas teria ficado satisfeito? Uma vez que ficasse forte o suficiente, não teria atacado a casa principal sob o pretexto de curiosidade? Então teria roubado a Fórmula da Chama Branca… Não, mesmo para ele, isso era muito estúpido.
“Eu poderia tê-los convencido de que era amigo de seu fundador para que eles entregassem a fórmula.”
Anise agarrou Eugene pelo pulso com uma risada.
— Consigo ver exatamente o que você está pensando. A Sala Escura foi criada por Sir Vermouth. Você acha que ele pode ter deixado uma mensagem para você ou algo parecido?
— Só porque vi algo estranho… — Respondeu Eugene.
— Você acha que a vida passada que você viu ali é uma mensagem de Sir Vermouth? — Perguntou Anise.
— Não sei, mas sei que a Sala Escura é um presente para mim. — Disse Eugene levantando-se da cadeira. O fantasma da Sala Escura não era tão forte quanto no auge, mas estava perto. Além disso, o fantasma lutou bem, de acordo com como Eugene se imaginava lutando.
Ele se lembrou de Gion explicando como a Fórmula da Chama Branca mudava quando alguém superava o fantasma da Sala Escura. Eugene não tinha certeza de como a Fórmula mudaria para ele, mas por enquanto, estava se concentrando na batalha com o próprio fantasma, em vez de qualquer mudança na Fórmula da Chama Branca. O fantasma da Sala Escura era um pouco mais forte e rápido que Eugene, então a estratégia padrão para superar a Sala Escura era criar algo novo que o fantasma não pudesse duplicar. Contanto que se fixasse nisso, Eugene tinha certeza de que poderia superar a Sala Escura dentro de três ou quatro dias, no máximo.
Mas isso não era suficiente.
— Se eu quiser derrotar Raizakia, devo pelo menos me tornar tão forte quanto era na minha vida anterior.
Raizakia estava vagando em algum lugar entre as dimensões, e Eugene não podia contar com a ajuda de Anise para matar o dragão. Embora ela residisse dentro de Kristina, a garota ainda não podia criar milagres no mesmo nível que a Anise de trezentos anos atrás. Além disso, se entrasse na brecha entre as dimensões, na pior das hipóteses, a alma de Anise poderia muito bem ser expelida do corpo de Kristina. Então Eugene não tinha intenção de levar Anise junto para caçar Raizakia. O mesmo era verdade para Kristina. Ele sabia que as garotas não estavam convencidas de sua decisão, mas não tinha intenção de mudar de ideia.
“Tornar-se tão forte quanto Hamel não é suficiente.”
Hamel de trezentos anos atrás era forte. Mas ele tinha sido forte o suficiente para matar os Reis Demônios sozinho? Claramente não. Mesmo o Rei Demônio da Carnificina, o mais fraco dos Reis Demônios, exigiu que todos os cinco membros do grupo do Herói lutassem por vários dias antes dele finalmente morrer. Na verdade, não havia necessidade de discutir os Reis Demônios. Kamash, o chefe dos gigantes, um dos quatro reis celestiais da Fúria, apresentou um desafio para Vermouth e Hamel trabalhando juntos. A Lâmina do encarceramento, Gavid Lindman, foi forçado apenas a recuar, embora Hamel e Sienna tivessem colocado suas vidas em risco.
Mesmo que Hamel fosse incrivelmente forte, ele não era forte o suficiente para caçar demônios de alto escalão e os Reis Demônios sozinho. Se tivesse que dar um julgamento puramente objetivo sobre o poder de Hamel de trezentos anos atrás, ele poderia matar Iris sozinho, mas se sairia mal contra demônios mais fortes do que ela.
Era difícil avaliar exatamente o quão forte Raizakia era. Sienna o expulsou para outra dimensão enquanto sofria de ferimentos fatais. Embora ela tenha falhado e apenas conseguido colocá-lo em um lugar entre as dimensões, ficou claro que ela havia realizado uma grande magia à qual o Dragão Negro Raizakia não conseguiu resistir. Mas tal façanha era impossível considerando o quão forte Sienna tinha sido trezentos anos atrás. Isso só foi possível porque ela completou o Eternal Hole? Não, pelo que Anise viu na época, Sienna não foi a única a expulsar Raizakia. Centenas de elfos presentes protegeram Sienna, e as raízes da Árvore do Mundo protegeram Sienna e os elfos, ao mesmo tempo que deram força a ela.
“Mas não posso fazer como Sienna.”
Hamel nunca foi forte o suficiente para matar Raizakia sozinho, então tinha que se tornar mais forte que Hamel em todos os sentidos.
Dois dias depois, Eugene mais uma vez desceu à Sala Escura. Ele estava acompanhado por Gilead, Gion e Carmen.
[Ótimo momento. Os ferimentos dos cavaleiros eram tão leves que não valia a pena tratá-los. Vamos praticar seus milagres em seus corpos.] Anise entrou na conversa.
Kristina também acompanhou as quatro pessoas. Naturalmente, ela não tinha permissão para entrar na Sala Escura, mas podia esperar na entrada. Se Eugene corresse desenfreado como da última vez, Carmen, Gilead e Gion o impediriam, enquanto Kristina os ajudaria e os curaria.
“Irmã… Você está falando sério?”
[Claro, Kristina. Na verdade, o melhor lugar para treinar magia divina é o campo de batalha, mas não há guerra nesta época, certo? Portanto, você não deve perder esta rara oportunidade de praticar.]
“Mas… Não confio em milagres que permitem recolocar e regenerar membros decepados.”
[Não se preocupe. Quem iria culpá-la, mesmo que você não pudesse crescer seus braços e pernas? Eles ficarão ressentidos com Hamel por ter cortado seus braços e pernas.]
Claro, Eugene não tinha intenção de cortar os membros de ninguém.
— Bem, volto em breve. — Disse Eugene alegremente enquanto caminhava para a porta da Sala Escura. Gion olhou para Eugene com admiração. Mesmo que a batalha estivesse ocorrendo apenas dentro da mente de alguém, a batalha contra o fantasma provavelmente resultaria em uma trágica derrota e morte, uma morte que pareceria o mais real possível. Então, como ele poderia rir e ser tão feliz?
— Já que temos a magia divina da Bispa Auxiliar Kristina, não seria ruim lutarmos um a um. — Sugeriu Carmen.
— Então eu vou primeiro. — Gilead foi o primeiro a se apresentar. Embora Carmen e Gilead não parecessem tão entusiasmados quanto Eugene, eles também estavam motivados.
— Não seria melhor eu ir primeiro? Sou o mais novo aqui… — Gion entrou na conversa.
— Você está dizendo que vai ser atencioso, porque eu sou velha? — Perguntou Carmem.
— Tia, eu não quis dizer isso….
— Achei que tinha dito para você não me chamar assim. — Interrompeu Carmen com um olhar furioso.
[Que fofo.]
“Quê?”
[Eles são descendentes do meu companheiro, afinal, certo? Já que é complicado contar as gerações que se passaram, eu apenas penso em todos eles como netos do Sir Vermouth… Eles são muito fofos.] Anise disse com uma risadinha.
Kristina rapidamente levou a mão à boca, com medo de que os pensamentos de Anise escapassem acidentalmente de sua língua.
Eugene atravessou o espaço branco e logo viu o círculo mágico no chão. Ele caminhou até o círculo mágico, esperando ver suas vidas anteriores mais uma vez, mas nada aconteceu. Em vez disso, o fantasma apareceu imediatamente. Não estava diferente de dois dias atrás.
Eugene olhou para o fantasma, as armas que os cercavam e depois para a espada em sua mão.
— Hmm… — Depois de um momento de ponderação, ele riu. Então começou a descartar a espada em sua mão.
Ele cerrou os punhos e os ergueu até o peito.
— Devemos ir com as próprias mãos hoje?