Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 211
Capítulo 211: A Sala Escura (4)
— Não importa o quão grande ele seja, não poderia voltar vitorioso do primeiro encontro. — Murmurou Carmen enquanto repetidamente abria e fechava a tampa de seu isqueiro. Gilead e Gion ficaram tontos de ouvir o irritante ping, ping, repetidamente, mas não disseram nada. Embora Carmen parecesse a mais jovem das três, ela ainda era tia de Gilead e Gion.
— Ninguém jamais superou a Sala Escura em sua primeira tentativa na história dos Lionheart, certo?
— Em primeiro lugar, aqueles que alcançaram a Sexta Estrela da Fórmula da Chama Branca não são comuns. — Respondeu Carmen com um encolher de ombros. — E é ainda mais raro alguém chegar a sete Estrelas. Nesse sentido, nossa geração tem sido muito abençoada. Não seria exagero dizer que o Grande Fundador está cuidando de nós pessoalmente.
— Eu também acho. — Gilead assentiu com um leve sorriso.
De fato, esta era verdadeiramente uma geração abençoada. O ancião anterior, que havia alcançado as sete Estrelas da Fórmula da Chama Branca, estava morto, mas Carmen ainda estava viva e bem. Além disso, Gilead e Gion ainda estavam ativos e no auge, então era perfeitamente possível que um dia passassem para o próximo nível. Mas mais do que qualquer outra coisa, aquilo era um verdadeiro milagre para a família Lionheart. Além disso, Cyan e Ciel haviam alcançado a Quarta Estrela da Fórmula da Chama Branca, então a geração atual dos Lionhearts era forte o suficiente para ser contada em toda a história da família.
— Hum. — Carmen foi a primeira a sentir a mudança. Ela parou de abrir a tampa do isqueiro e se levantou. Gion e Gilead imediatamente sentiram isso também e se levantaram de seus assentos com expressões rígidas.
A porta da Sala Escura estava bem fechada, mas os três podiam sentir uma presença se aproximando da porta do outro lado.
Gion sussurrou com um suspiro profundo.
— Foi a decisão certa deixar minha espada para trás…?
Gilead deu um sorriso amargo em resposta. Carmen não usava uma espada, mas Gilead e Gion usavam. Era verdade que eles eram indivíduos poderosos que se sairiam bem mesmo na ausência de suas armas, mas considerando a situação e seu oponente, não ter suas armas era decepcionante.
— Não queremos cortar acidentalmente um membro ou matá-lo imediatamente.
Era mais difícil subjugar do que matar um inimigo. Em particular, eles pretendiam suprimir e conter Eugene, evitando ao máximo infligir ferimentos. Era por isso que os três — Carmen, Gilead e Gion — estavam ali juntos.
— Seria melhor se preocupar conosco do que com ele. — Disse Carmen cuspindo o charuto. Ela sabia exatamente o quão bem Eugene lutava, e embora os três tivessem que lutar para que Eugene não se machucasse, seu oponente iria se enfurecer sem qualquer consideração.
— Será melhor aguentar meio dia ou tentar dominá-lo o mais rápido possível.
— Seja qual for o caso, não descobriremos até tentarmos.
Carmen puxou as luvas para trás, Gilead prendeu o cabelo comprido para trás e Gion desabotoou as mangas.
A porta da Sala Escura se abriu. Eugene saiu, mas na verdade não era Eugene. Seus olhos escuros não mostravam sinais de inteligência. No momento em que Eugene morreu e perdeu a consciência, o fantasma tomou seu lugar e, embora o fantasma existisse para testar aqueles que entrassem na Sala Escura, uma vez que possuísse o sujeito, ele obedeceria a seus instintos destrutivos e correria solto fazendo qualquer coisa.
— Como esperado. — Disse Carmen quando Eugene saiu da Sala Escura. Uma enorme chama irrompeu dos pés dele e envolveu seu corpo. O olhar e a expressão de Carmen endureceram quando viu o tamanho e a intensidade de suas chamas. Então, estalando a língua, tirou o casaco dos ombros. — Vai ser difícil subjugá-lo rapidamente.
* * *
Há quanto tempo ele estava dormindo?
Eugene abriu os olhos e olhou para o teto sem se levantar. Ele notou que seu braço esquerdo estava de volta onde deveria estar e não estava mais cortado. No entanto, não era como se ele se sentisse bem. Eugene sentiu cada uma de suas juntas e músculos latejar e doer. Tentou mexer os dedos.
“Não é o resultado da Ignição”, Eugene percebeu em um instante.
Também não foi Anise quem restaurou seu braço esquerdo. Os lábios de Eugene se curvaram em um sorriso torcido. Era exatamente como ele esperava. O fantasma da Sala Escura era um poderoso tipo de magia que afetava a mente. No momento em que Eugene entrou no círculo mágico na Sala Escura, um feitiço oculto tomou conta de sua mente sem que ele percebesse.
“No final, tudo estava acontecendo dentro da minha mente”, concluiu Eugene.
A sala não desabou, embora a batalha tenha resultado em muitos confrontos explosivos que a teriam destruído. Além disso, o fantasma havia utilizado inconfundivelmente a força física, da qual Eugene suspeitava um pouco. Como se viu, Eugene estava certo em sua suposição.
No entanto, ter suas suspeitas confirmadas não significava que ele não estava surpreso. Em vez disso, ficou chocado por ter sido magia mental. Ele se lembrava claramente de como sofreu com o Olho Demoníaco da Fantasia de Giabella em sua vida anterior. Mas, como resultado, Eugene ganhou imunidade à maioria das magias que afetam a mente. No entanto, ele não percebeu a ativação da magia da Sala Escura.
“Não foi como se eu tivesse baixado minha guarda também.”
Eugene virou a cabeça de um lado para o outro, sentindo como seu pescoço estava rígido. A sensação de ter a cabeça cortada ainda estava viva em sua mente. Na verdade, era uma memória ainda mais clara do que sua morte como Hamel, então a morte que ele experimentou do fantasma parecia mais realista para ele.
— Vocês não estão bravos, estão? — Perguntou Eugene, limpando a garganta e olhando de soslaio. Algumas pessoas estavam sentadas ao lado de sua cama. Mer estava balançando as pernas em uma cadeira com um beicinho, e ao lado dela estava Kristina olhando para Eugene com os olhos semicerrados. Ciel sentou-se com a cabeça inclinada para o lado e os braços cruzados. Cyan e Gerhard estavam… Imprensados entre as garotas com ombros caídos. Felizmente, mas infelizmente, os dois foram os únicos que expressaram pura preocupação por Eugene sem nenhuma raiva.
— Por que eu ficaria com raiva? — Cuspiu Mer.
Os lábios de Kristina se contraíram e ela disse:
— A garota tem razão. Por que diabos estaríamos com raiva? Não é grande coisa que você decidiu fazer algo sem nos dizer nada, o que resultou em sua perda de consciência, Sir Eugene.
Ciel também não poderia perder. Ela assentiu vigorosamente enquanto entrava na conversa.
— Certo. Por que ficaríamos com raiva?
No entanto, Cyan não suportava apenas ouvir as palavras de sua irmã. Ele tossiu antes de bater nos ombros dela.
— Não, mas… Devíamos estar zangados. Os adultos se machucaram porque se envolveram na bagunça de Eugene.
— Então o papai e o tio se machucaram, porque foram pegos. E daí? — Respondeu Ciel.
— Bem, você deveria estar com raiva… — Murmurou Cyan.
— Não. Não vou ficar com raiva. Não tenho motivos para ficar com raiva, e nem nosso pai, nem o tio gostariam que eu ficasse com raiva por causa disso. Sem falar na Senhorita Carmen. E fale por você. Você também não está ficando com raiva. — Disse Ciel.
— Bom… É verdade, mas…
— Seus ferimentos não eram leves e eles estavam exaustos, mas todos permaneceram conscientes. A Bispa Auxiliar Kristina tratou de suas feridas, certo? Mas e o Eugene? Ele ficou inconsciente a noite toda. — Disse Ciel.
— Uh… Bem… — Cyan gaguejou.
— E não estamos aqui agora. Por quê? É porque estamos preocupados com Eugene. Você entende o que estou dizendo? Não estou brava; apenas preocupada com ele. Só estou com raiva porque estou preocupada com Eugene. — Explicou Ciel.
Cyan realmente tinha dificuldades em entender as palavras de sua irmã. Parecia que sua cabeça estava girando por causa da rapidez com que ela estava vomitando suas palavras. Por que ela estava se contradizendo assim? Por que estava ficando com raiva logo depois de dizer que não estava com raiva? Havia realmente uma diferença entre ficar com raiva por causa da preocupação e simplesmente ficar com raiva?
— Você está se sentindo bem? — Perguntou Ciel com uma expressão preocupada enquanto pegava uma toalha molhada e enxugava a bochecha de Eugene, como se nunca tivesse franzido a testa em primeiro lugar. — Você sabe como eu estava preocupada com você? Ficou tão parado a noite toda, que parecia estar morto.
— Embora eu fosse a responsável por tratá-lo. — Disse Kristina, dirigindo seu olhar para Ciel.
Ciel bufou em resposta ao olhar severo e deu um tapinha na bochecha de Eugene com a toalha molhada.
— Obrigado, irmã. Conheço Eugene há quase dez anos, enquanto morávamos na mesma casa. Então, toda vez que ele se machuca, sinto como se eu estivesse ferida em vez dele.
Não era completamente verdade, estritamente falando. Eles não se viram todos os dias por dez anos, desde que Eugene entrou na casa principal aos treze anos e antes de partir para Aroth aos dezessete. Ciel também partiu para o Castelo dos Leões Negros na mesma época, então os dois só estiveram juntos por quatro anos, no máximo.
No entanto, esses pequenos detalhes não eram importantes para Ciel.
— A relação que compartilho com Eugene é especial. Apesar de não compartilharmos uma gota de sangue, nossa relação é profunda, como a de irmãos. Não, deixa eu corrigir. Nosso relacionamento é ainda mais profundo. Não seria exagero dizer que ele é minha outra metade. — Continuou Ciel.
Ela sempre se destacou em tudo o que fazia desde criança. Nesse sentido, ser parente de Eugene sem compartilhar uma gota de sangue era um fato mais do que suficiente para ela usar como arma.
[Garotinha patética…] murmurou Anise, ouvindo o orgulhoso monólogo de Ciel. Ela acreditava que apenas dez anos era um relacionamento profundo? E embora Kristina não tenha expressado isso, tinha pensamentos semelhantes aos de Anise. Os laços formados entre pessoas que passaram por situações de vida ou morte não eram mais densos e verdadeiros do que um vínculo compartilhado entre familiares que não compartilhavam uma gota de sangue?
— Eh… — Gerhard finalmente pigarreou enquanto ouvia a longa conversa. Ele não conseguia entender por que estava atualmente ali. Era porque estava preocupado com seu único filho? Isso era certo, mas a atmosfera afiada e a luta oculta entre as garotas eram demais para ele suportar.
— Filho! — Gritou ele.
— Sim, pai. — Respondeu Eugene.
— Não vou repreendê-lo por sua imprudência ou pela preocupação que isso me causou. Eu sei que você não gostaria de ouvir isso de qualquer maneira… — Gerhard disse suavemente.
— Eu não me machuquei porque queria me machucar… — Resmungou Eugene.
Gerhard continuou:
— Mas estou muito orgulhoso de quem você é agora. Eu tinha medo de imaginar como você iria amadurecer quando era criança…
— O que havia para ter medo?
— Tente entender os sentimentos de um pai que teve um filho que espancou todas as crianças da vizinhança…
Gerhard era uma pessoa tranquila, e os filhos de Gidol não se importavam com a autoridade que acompanhava o nome dos Lionheart. Portanto, Eugene assumiu a responsabilidade de ensinar aos garotos atrevidos da vizinhança que a autoridade vem do punho, não do nome da família.
— Mas você cresceu muito bem. Não consigo acreditar que tantas pessoas além de mim se preocupem com você… — Gerhard continuou enquanto olhava para seu filho.
— Como imaginava seu filho, pai? — Perguntou Eugene com genuína curiosidade.
— Alguém como um valentão. Bem, principalmente de quando você era jovem. — Disse Gerhard antes de se levantar. — Já que tem tanta gente se preocupando com você, vou indo. Tenho certeza de que o chefe da família pode querer um companheiro para conversar enquanto está acamado.
— Também vou indo. — Disse Ciel, levantando-se rapidamente de seu assento. Ela então agarrou as mãos de Gerhard enquanto olhava de soslaio para Kristina. As sobrancelhas de Kristina se contraíram em aborrecimento com o olhar provocador.
— Pa-pai. — Disse Ciel.
— Eh? O-O quê? — Perguntou o confuso Gerhard.
— Vamos, pa-pai. — Disse Ciel mais uma vez. Gerhard nunca tinha ouvido Ciel chamá-lo de pai. Até agora, ela só se referia a ele como Sir Gerhard.
Cyan olhou para a visão ridícula de sua irmã arrastando Gerhard para longe e disse a Eugene com um suspiro profundo:
— Você está bem, então vou indo também.
— Você tem certeza sobre isso? Não está curioso para saber como acabei assim? — Eugene perguntou com um sorriso malicioso. Cyan sabia muito bem o significado por trás do sorriso de Eugene, então olhou para Eugene com uma carranca.
— Admito que estou curioso, mas não vou perguntar. Eu alcançarei a Sexta Estrela da Fórmula da Chama Branca como você e então verei com meus próprios olhos o que você experimentou. — Respondeu Cyan.
— Atingir seis estrelas aos quarenta parece plausível. — Retorquiu Eugene.
— Maldito, só me aguarda. Quando eu tiver trinta anos… Não! Alcançarei seis estrelas quando… Tiver… Vinte e cinco anos! — Gritou Cyan.
— Boa sorte. — Disse Eugene, levantando o punho, e Cyan respondeu levantando o dedo médio. Assim que Cyan, Ciel e Gerhard saíram do quarto, Mer pulou na cama de Eugene.
— Por que você me deixou para trás? — Ela perguntou.
— Não é um lugar que eu possa levar você. — Eugene respondeu simplesmente.
— Você não está mentindo, está?
— Por que eu mentiria para você?
Depois de ouvir a resposta de Eugene, Mer ocupou seu lugar ao lado dele com um beicinho. Kristina olhou para Mer com um olhar estranho, então pegou a toalha molhada de Ciel antes de jogá-la para trás.
— Pelo que você passou? — Perguntou Kristina curiosamente.
— Estou mais preocupado com o que os outros passaram do que com o que eu passei. Eles estão bem? — Perguntou Eugene.
— Bem, eles não se saíram muito mal. — Respondeu Kristina.
Ontem à noite, Gilead, Gion e Carmen bateram na porta de Kristina enquanto estavam cobertos de sangue. Eles tinham vários ossos quebrados, pele rasgada e órgãos danificados. Nenhum de seus ferimentos era leve o suficiente para ser ignorado.
— Mas, estranhamente, seus ferimentos não eram muito graves quando você chegou nas costas deles, Sir Eugene. — Afirmou Kristina.
— Considerando isso, eu me sinto muito rígido. — Comentou Eugene.
— Já que você ficou irracional, é perfeitamente possível que seus músculos estivessem contundidos, certo? Eu ia tratar vocês quatro ao máximo, mas a Senhorita Anise me convenceu do contrário. — Respondeu Kristina.
— Por quê? — Eugene perguntou, perplexo.
— Segundo ela, se eu começasse a tratar todas as suas pequenas feridas, você ficaria mimado.
Mimado? Que tipo de bobagem ela estava falando? Eugene resmungou enquanto massageava seus ombros rígidos, então começou a explicar os acontecimentos da Sala Escura.
— Então, isso não significa que você falhou no teste no final, Sir Eugene? — Perguntou Kristina.
— Isso mesmo.
— Então não vai acontecer a mesma coisa da próxima vez?
— Se isso realmente acontecer de novo, a Senhora Ancilla definitivamente tentará envenená-lo, Sir Eugene. — Disse Mer, lembrando-se de como Ancilla chorou ao ver Gilead todo enfaixado.
Eugene também se sentiu inquieto e desconfortável. Mesmo que não fosse intencional e inevitável, ele não queria machucar Carmen, Gion e Gilead.
— Você sabe onde estão todos? — Eugene perguntou.
— Sir Gilead e Sir Gion estão descansando em seus quartos. A Senhorita Carmem está….
— Ela está passeando no jardim.
— Passeando? — Perguntou Eugene em confusão.
Por que ela estaria passeando do nada? Pelo menos foi o que ele pensou a princípio, mas chegou a um entendimento depois de vê-la pessoalmente. Carmen tinha os braços envoltos em uma bandagem com uma alça sobre o ombro e segurava uma muleta com a outra mão. Ela ainda tinha uma grande bandagem colada em sua bochecha.
Era difícil descrever exatamente como ela estava, mas… Era muito próximo da realização ostensiva do desejo secreto de uma adolescente de quinze anos. Na verdade, Carmen não havia sofrido uma lesão na perna que justificasse uma muleta, nem um ferimento que exigisse que seu braço fosse enrolado e fixado por uma alça. Além disso, ela não estava ferida o suficiente para ter uma grande bandagem na bochecha. Em vez disso, sua perna tinha um hematoma, seu pulso estava torcido e sua bochecha levemente arranhada. Mas Carmen insistiu em seu olhar enquanto caminhava pelo jardim dos Lionheart com uma expressão rebelde que gritava: ‘Tenho uma história para contar!’
— Você está acordado. — Disse Carmen, olhando para Eugene. Ela se apoiou em sua muleta, e Eugene a encarou perplexo por um momento antes de abaixar a cabeça. Ele não conseguia pensar em nenhuma palavra para dizer.
— Uh… Bem… Sinto muito. — Eugene finalmente disse depois de um tempo.
— O que há para se desculpar? — Perguntou Carmem. Ela estava completamente séria. — Você resistiu um pouco mais do que o esperado, mas foi uma experiência agradável. Uma batalha dura e acirrada que me permitiu experimentar o que significa viver e respirar como um guerreiro.
— Sim…
— E nem Gilead, nem Gion tiveram qualquer combate ativo nos últimos anos, então isso deve ter sido uma boa experiência para eles. Garoto, não me diga que você se sente culpado por nos machucar, não é?
— Um pouco. — Respondeu Eugene.
— Um pensamento inútil. Ficamos feridos, porque éramos inadequados. Para dizer a verdade, se eu tivesse decidido matá-lo em vez de dominá-lo, não teria me machucado. — Carmen disse presunçosamente. Ela era uma guerreira orgulhosa.
Ela olhou para cima e para baixo em Eugene com um sorriso relaxado.
— Então, garoto. Como você se sente depois de experimentar a Sala Escura? — ela perguntou.
— Era um lugar interessante. — Respondeu Eugene honestamente.
— Acho que você não se desesperou com a derrota. — Comentou Carmen.
— Quero aproveitar ao máximo. Mas não sei se você ou qualquer um dos outros vai gostar tanto quanto eu… — Murmurou Eugene.
— Do que você está falando? — Perguntou Carmen com os olhos semicerrados.
A Sala Escura era especial e Eugene não conseguia pensar em uma solução imediata para derrotar o fantasma. Portanto, queria aproveitar isso como uma oportunidade para treinar e se aprimorar enquanto desafiava o fantasma mais algumas vezes. No entanto, nesse caso, Eugene precisaria de alguém para contê-lo toda vez que o fantasma o possuísse e, naturalmente, Carmen, Gilead e Gion precisariam assumir a tarefa.
— Se alguém estiver relutante, porque seria difícil, então não desafiarei novamente a Sala Escura até que esteja totalmente confiante. — Disse Eugene, misturando intencionalmente alguma provocação.
— Não subestime o Leão de Prata dos Lionheart. Felizmente, Carmen imediatamente caiu na provocação. Não… Ao invés de cair nela, seu orgulho como guerreira foi inflamado. — Se você desafiar a Sala Escura repetidamente, será uma boa e rara oportunidade de treinar para Gilead, Gion e para mim. Embora nós três tenhamos trabalhado juntos para dominar você, éramos imaturos devido à nossa inexperiência em lutar juntos. No entanto, será menos difícil da próxima vez, pois estaremos acostumados a trabalhar juntos. Assim que me acostumar, só eu bastarei.
— Como esperado da Senhorita Carmen. — Disse Eugene, batendo palmas com apreço. Ele lançou um olhar para Kristina. Não entendendo sua intenção, ela imitou Eugene e começou a bater palmas também.
— Por que você está batendo palmas, Bispa Auxiliar Kristina? — Carmen perguntou, confusa.
— Também não tenho certeza. — Respondeu Kristina com sinceridade.
— O quê?
Eugene interveio apressadamente.
— Não, bem… Só pensei que talvez você também pudesse esperar na Sala Escura ao lado da Senhorita Carmen e os outros e ajudar com a magia divina.
— Ah. Oh, ah… Entendo. — Kristina assentiu em compreensão.
— Embora eu não tenha certeza se você seria permitida… — Eugene parou enquanto olhava para Carmen.
Em vez de dar uma resposta de imediato, Carmen mergulhou em pensamentos. A Sala Escura pode ser considerada um segredo secreto dentro da família Lionheart. No entanto, Carmen entendeu que Kristina era especial, então não hesitou em falar sobre a Sala Escura na frente dela.
— A Santa de Yuras mantém um relacionamento próximo com os Lionheart por trezentos anos. Na verdade, não seria exagero dizer que a Santa é um membro da família Lionheart. — Disse Carmen. Embora Eugene pensasse que era um pouco forçado. — Tradicionalmente, forasteiros são proibidos de entrar na Sala Escura, mas o clã Lionheart tem se esforçado para romper com as tradições inúteis e fartas do passado. Então, a Santa, que poderia ser considerada um membro da família Lionheart…
— Ainda sou candidata. — Interveio Kristina.
— Acho que seria bom para a Candidata a Santa entrar na Sala Escura. Não vou precisar de tratamento, mas seria problemático se você acabasse ferido, porque não consegui me segurar adequadamente. Nesse caso, seria para o bem da família que ela estivesse de prontidão para atendê-lo. — Carmen dirigiu-se a Eugene como se não tivesse havido interrupção.
— Como esperado da Senhorita Carmen. — Disse Eugene.
— Deixe que eu convença Gilead e Gion. — Disse Carmen, jogando o cabelo para o lado com a mão enfaixada.
— A propósito, Senhorita Carmen. Tenho uma pergunta sobre a visão que você vê antes que o fantasma apareça. — Eugene perguntou de repente.
— Foi esse o termo que decidiu usar? Não é mais legal chamá-lo de horizonte de eventos? — Ela respondeu.
— Você também veria coisas como sua vida passada lá? Eugene perguntou, tentando ignorar o comentário de Carmen com uma cara séria.
A expressão de Carmen mudou no momento em que ouviu as palavras vida passada.
— Eugene Lionheart. Você acredita em vidas passadas?
— Bom, não acho impossível….
— Você ainda é jovem. Não acredito em coisas como vidas passadas. A única coisa real para mim sou eu, vivendo e respirando aqui e agora. Só minha existência é uma prova para mim. — Disse Carmen. Ouvir Carmen negar sua vida anterior e chamá-lo de jovem parecia um insulto. — Achei que você fosse precoce, mas parece que ainda é um garoto não despertado.
Eugene decidiu ficar quieto diante desses insultos.
— Não sei o que você quer dizer, mas nunca vi nada parecido com uma vida passada na Sala Escura. Não ouvi tal coisa de Gilead, Gion ou mesmo do falecido Sir Doynes.
Carmen se aproximou de Eugene enquanto estalava a língua, depois deu um tapinha em seu ombro.
— Então, Eugene. Não fique desapontado por não ter vislumbrado sua vida passada na Sala Escura. Eu entendo como você deve se sentir desde que sua crença em uma vida passada foi negada, mas é algo que não existe em primeiro lugar.
Eugene mal conseguiu conter sua raiva. Simultaneamente, relembrou a vida anterior que viu na Sala Escura. Algo se seguira às imagens da vida de Hamel.
“O que era mesmo…?” Eugene tentou se lembrar da cena.
Era um campo de batalha obscurecido de sangue.
Havia um homem e uma montanha de cadáveres.
O homem estava sentado na montanha.
Eugene agarrou seu colar.