Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 185
Capítulo 185: A Catedral (1)
Eugene inclinou a cabeça e olhou de soslaio para Hemoria. Ela não tinha intenção de evitar seu olhar. Em vez disso, mostrou que havia notado.
Boom!
As botas de salto grosso que ela usava fizeram um barulho alto quando ela parou.
Depois disso, houve silêncio total. Mesmo o Cavaleiro da Cruz de Sangue, que acompanhou Hemoria a bordo, não disse uma palavra. A julgar pela maneira como ele ficou atrás dela, parecia que Hemoria era de posição mais alta que o cavaleiro.
“Embora possam ser de ramos diferentes, talvez trabalhem tão intimamente que suas duas organizações são praticamente uma só”, suspeitava Eugene.
Hemoria ainda estava no meio de seu voto de silêncio? Enquanto Eugene estava pensando nisso, Kristina se levantou.
— Inquisidora Hemoria, não sabia que você viria nos receber. — Disse Kristina, desconfiada.
Foi só então que a inquisidora reagiu. Em vez de expressar qualquer coisa, suas mãos se moveram para formar a linguagem de sinais.
Eugene ainda não sabia ler essa linguagem. Também não tinha intenção de aprender. Poderia ser uma história diferente se outra pessoa a usasse, mas mesmo que Eugene aprendesse a linguagem de sinais agora, a única pessoa com quem ele seria capaz de usá-la era a Hemoria do infinito ranger de dentes. Ele não se encontrava com ela com frequência, nem tinham um relacionamento tão profundo, então qual era o sentido dele gastar seu precioso tempo aprendendo a linguagem de sinais?
— Você sabe ler a língua de sinais? — Eugene perguntou à Kristina.
— Sim. — Admitiu Kristina lentamente.
— Então o que ela está dizendo?
— Ela diz que está aqui por ordem do Cardeal Rogeris. Este assunto só foi decidido hoje, por isso não pôde nos informar com antecedência e pede a nossa compreensão.
— Hmmm.
Kristina ainda era considerada a Candidata a Santa. Embora não fosse incomum que os Cavaleiros Sagrados saíssem e escoltassem Kristina, que seria oficialmente confirmada como a Santa em poucos dias, era suspeito até mesmo para um Inquisidor ter se envolvido nessa recepção.
— Tudo bem, então. — Eugene concordou enquanto descruzava as pernas e se levantava. — Eu realmente não gosto do som de seus dentes rangendo, e da última vez foi você quem começou a brigar primeiro e fez um monte de merda irritante, mas bem… Eu também não te dei um soco no estômago algumas vezes, fechei os olhos e chutei seu traseiro? Então, vamos deixar de lado todo o nosso ressentimento pela merda que fizemos um ao outro e nos dar bem.
O que foi tudo isso agora? Kristina se virou para olhar para Eugene com uma expressão de surpresa. Ela tinha ouvido falar que Eugene havia se encontrado com os Inquisidores, Hemoria e Atarax, no Castelo dos Leões Negros, mas esta foi a primeira vez que Kristina ouviu que eles realmente lutaram.
As palavras de Eugene também não foram agradáveis de ouvir para Hemoria. Na opinião dela, não estava brigando com Eugene naquela época. Ela estava apenas fazendo o que um Inquisidor deveria fazer.
O Maleficarum era um servo fiel da Luz e um Martelo de Deus que estava encarregado de julgar todos os hereges e seres das trevas. O julgamento do Maleficarum se aplicava igualmente a todos. E, em primeiro lugar, o que os Inquisidores da era atual caçavam principalmente não eram os Magos Negros, mas sim hereges.
Mesmo o Herói não podia evitar ser levado a julgamento pelo Maleficarum. Em vez disso, era porque ele era o Herói que deveria ser mantido em padrões mais rígidos do que qualquer outra pessoa. Eugene Lionheart, ele estava realmente qualificado para se tornar o mestre da Espada Sagrada? Não era apenas por causa do sangue especial que herdou do fundador de seu clã que ele podia segurar a Espada Sagrada e invocar sua luz?
Hemoria havia testado Eugene por causa dessas dúvidas. Era natural para ela fazer isso. Mas, no final, teve que reconhecê-lo. Eugene Lionheart era um monstro e merecia ser chamado de Herói.
No momento em que saíram para a passagem, as palavras que Eugene havia dito agora flutuaram na cabeça de Hemoria.
Não era como se ela não estivesse fazendo barulhos, porque estava com medo de ser atingida. Medo? Ela já havia superado algo assim durante o aprendizado que passou antes de se tornar uma Inquisidora. Hemoria experimentou uma dor terrível incomparável com a surra que recebeu de Eugene e viu muitas coisas horríveis.
Ela não tinha ido ali com nenhuma intenção de brigar com ele. Era por isso que Hemoria estava segurando a vontade de ranger os dentes. Em vez disso, apenas fez alguns gestos de linguagem de sinais na direção de Eugene.
— Não precisa traduzir. — Instruiu Eugene.
Kristina, ao lado de Eugene, estava prestes a abrir a boca, mas Eugene estava um passo à frente dela ao pedir que ela ficasse em silêncio. Então, Eugene olhou calmamente para a intrincada linguagem de sinais que Hemoria acaba de usar.
— Tudo bem então. — Eugene lentamente acenou com a cabeça. — Embora eu não conheça muito bem a linguagem de sinais, posso pelo menos dar uma resposta.
Como mencionado antes, Eugene não conhecia nenhuma linguagem de sinais. No entanto, havia um pedaço de linguagem de sinais com o qual Eugene se familiarizou muito em sua vida anterior e fez bom uso.
— …
— …
Os olhos de Hemoria estremeceram enquanto ela silenciosamente se perguntava como reagir aos dois dedos do meio levantados sendo mostrados a ela.
Em circunstâncias normais, ela teria cerrado os dentes ao expressar abertamente como se sentia desconfortável, mas…
— Isso deve ser uma resposta suficiente, certo? — Eugene disse com um sorriso e um sentimento de satisfação.
Esse pedaço de linguagem de sinais era um gesto altamente versátil que poderia ser usado em qualquer situação e durante qualquer conversa. Como poderia ser feito apenas levantando um dedo, era muito simples e transmitia muito significado.
No final, Hemoria não continuou usando nenhuma linguagem de sinais e apenas olhou para Kristina. O olhar por si só foi suficiente para transmitir seu significado. Os Cavaleiros da Cruz de Sangue e os Inquisidores do Maleficarum ainda estavam reunidos do lado de fora do trem. Kristina soltou um suspiro curto e acenou com a cabeça.
— Entendido. — Kristina reconheceu nitidamente.
Depois de ouvir essa resposta, Hemoria e o Paladino se viraram.
— Sir Eugene. — Continuou Kristina. — Parece que vou precisar partir primeiro para a Fonte de Luz.
— Você não disse que partiria amanhã? — Eugene perguntou.
— Com o ritual desta vez sendo o que é, parece que será necessário um pouco mais de preparação. — Disse Kristina como desculpa. — Não seria melhor fazer os preparativos e terminar cedo do que demorar e se atrasar?
— Kristina. — Eugene chamou o nome dela. — Se não quiser ir, não precisa. Você sabe disso, certo?
— O que você está tentando dizer? — Kristina perguntou com um leve sorriso. — Eu, que só era Candidata a Santa, estou finalmente me tornando a Santa oficial. Assim que eu receber a prova disso, será anunciado ao mundo, e poderei ganhar o reconhecimento de todos como a Santa. A única coisa que devo sentir neste momento é uma leve pressão. Nunca pensei que não queria fazer isso.
Ao dizer isso, Kristina deu o primeiro passo e contornou Eugene. Eugene olhou para as costas dela enquanto a garota caminhava à frente dele. Se seus ombros estavam tremendo ou seus punhos estavam cerrados… Ele não podia ver nenhum sinal disso. A coluna de Kristina parecia firme.
Ou pelo menos era assim que parecia.
— Você deve estar cansado depois de viajar tanto. — Uma voz soou assim que eles desceram do trem.
Era uma voz que Eugene lembrava. Um dos Inquisidores do Maleficarum, o professor de Hemoria, Atarax, tirou sua barretina e se aproximou de Eugene e Kristina.
Atarax continuou:
— Não tenho certeza se minha discípula poderia transmitir a história completa com clareza.
— Se você realmente queria esclarecer toda a história, não deveria ter enviado alguém que não fala e só pode se comunicar em linguagem de sinais. — Reclamou Eugene.
— Ah… Bem, é verdade. Me desculpe. Eu apenas considerei o fato de que a Candidata a Santa Kristina é conhecida por ser habilidosa em linguagem de sinais. — Atarax admitiu com um aceno de cabeça. — Então permita-me informá-lo sobre a situação mais uma vez. Candidata a Santa Kristina, você será escoltada pelos Cavaleiros da Cruz de Sangue e o Maleficarum até a Fonte de Luz. Quanto a você, Sir Eugene Lionheart, você acompanhará Hemoria e eu à Catedral de Tressia.
— Há algum motivo para eu não ir à Fonte de Luz? — Exigiu Eugene.
Atarax hesitou.
— Formalidade e tradição… São os principais motivos. Sir Eugene, já que você é um membro dos Lionhearts, deveria ser capaz de aceitar isso.
— Mas, infelizmente, não estou com vontade de aceitar isso. — Eugene balançou a cabeça. — Desde jovem, sempre achei que as tradições do clã Lionheart são um monte de lixo.
— Haha. — Atarax riu e colocou a barretina de volta no topo de sua cabeça. Não havia sentido em dizer mais nada. Enquanto um limite foi traçado com base na formalidade e na tradição, não havia espaço para Eugene, um estranho, interferir. A outra parte era o Império Sagrado, que manteve tal status por muito, muito tempo.
— Permita-nos acompanhá-lo. — Solicitou Atarax.
Os Cavaleiros da Cruz de Sangue abordaram Kristina. Ela imediatamente partiu com os Cavaleiros da Cruz de Sangue sem se virar para olhar para Eugene.
Eugene não conseguia desviar o olhar da visão de suas costas recuando.
Todos os cavaleiros se moviam como um só. Mesmo que houvesse vinte deles ali, o som de seus passos não era disperso. Os Cavaleiros da Cruz de Sangue de Yuras eram uma ordem de cavaleiros que sempre era levantada quando se tratava de discutir quem eram os melhores cavaleiros deste continente. Embora nenhum dos Cruzados, os Comandantes dessa ordem de cavalaria, não tivesse aparecido, os movimentos rápidos dos Cavaleiros da Cruz de Sangue revelaram um tipo diferente de nobreza e firmeza do que a mostrada pelos Cavaleiros Dragão Branco de Kiehl.
Os Inquisidores do Maleficarum se misturaram ao grupo formando um círculo que a envolvia. A comitiva formada a partir disso escondia completamente a aparência de Kristina.
— Vamos indo também? — Atarax perguntou com um sorriso.
Uma carruagem esperava por Eugene fora da estação e, além da carruagem, ele podia ver uma cidade tão iluminada que era difícil acreditar que já era noite. Como se quisessem provar que era realmente uma paróquia governada por um cardeal, as estátuas religiosas estavam dentro da estação, na praça em frente à estação e em todo o resto da cidade.
Mesmo à distância, era possível ver a imponência e a beleza da Catedral de Tressia. Eugene olhou para a alta cruz no telhado da catedral e as torres que a cercavam. Parecia mais um castelo do que uma catedral.
— Vamos direto para a catedral? — Eugene perguntou.
— Tem algum lugar que você gostaria de passar primeiro? — Atarax, que estava sentado à sua frente, perguntou em resposta.
Eugene, Mer e Atarax eram os únicos dentro da carruagem. Hemoria estava sentada do lado de fora.
— Bem, é minha primeira vez em Yuras. Você poderia recomendar algumas das atrações turísticas desta cidade? — Eugene pediu.
— Receio não saber quais lugares devo recomendar a você, Sir Eugene, já que você não é um seguidor da Luz. — Admitiu Atarax, envergonhado. — Isso mesmo. Por que você não aproveita essa chance para se converter à Igreja da Luz?
— Receio ter que recusar.
— Não é estranho que o Herói não tenha nenhuma crença religiosa…?
— Infelizmente, o Império Kiehl onde moro garantiu nosso direito à liberdade de religião. Se nosso grande ancestral tivesse fundado seu clã em Yuras, eu também poderia ter adorado o Deus da Luz, mas… — Desviando os olhos da janela, Eugene continuou: — Ah, por favor, não me entenda mal. Mesmo que seja esse o caso, isso não significa que eu sinta qualquer desrespeito pelo Deus da Luz.
Com essas palavras, Mer, sentado ao lado dele, alternou entre olhar para Eugene e Atarax. Ela estava preocupada que um incidente violento pudesse acontecer.
Atarax finalmente se recuperou.
— A fé nem sempre precisa ser expressa externamente. Contanto que você leia as escrituras, ore e adore a Deus, tudo o mais além disso é apenas uma extensão da fé. Sir Eugene, se você reconhece a existência de Deus dentro do seu coração e é capaz de confiar nele sem nenhuma dúvida, isso por si só já seria uma pequena demonstração de fé.
— Eu não vim aqui para ouvir essas coisas. — Disse Eugene claramente, sem nenhuma intenção de manter uma atitude ambígua.
Ser forçado a ouvir sermões sobre fé e coisas assim seria cansativo e irritante. Os seguidores da Luz sempre foram particularmente tenazes e persistentes, mesmo trezentos anos atrás, e eram teimosos em seus raciocínios.
— Se os únicos destinos turísticos que você pode me recomendar estão relacionados à sua religião, então vamos continuar. Honestamente falando, prefiro ficar em uma pousada em uma dessas ruas do que ficar naquela bela catedral. — Confessou Eugene.
Com isso, a conversa foi interrompida. Atarax não desejava forçar Eugene a compartilhar sua fé. As ordens dadas a Atarax e Hemoria eram apenas para levar Eugene ao encontro do Cardeal Rogeris na Catedral de Tressia. Depois, os dois iriam imediatamente para a Fonte de Luz e se juntariam às forças estacionadas lá.
Pensamentos desconfortáveis passavam pela mente de Eugene. Ele odiava situações como essas. Não era apenas a situação também. O Império Sagrado já havia sido um lugar bastante autoritário e suspeito, mesmo trezentos anos atrás. Em sua vida passada, Hamel nunca esteve diretamente envolvido com eles, mas sua situação nesta vida era diferente.
Era tudo por causa dessa maldita Espada Sagrada e do título de Herói. A expressão de Eugene se transformou em uma carranca enquanto pensava na Espada Sagrada ainda dentro de seu manto.
“Não. Talvez seja útil.”
A Fonte de Luz era mantida em segredo do público. No entanto, Eugene agora sabia que ela estava em algum lugar dentro da paróquia de Tressia, e ele também sabia que Anise tinha que ser batizada periodicamente na Fonte de Luz trezentos anos atrás.
A Catedral de Tressia era um edifício antigo que já existia ali há trezentos anos. Podia haver alguns itens relacionados à Anise sendo mantidos lá.
Se ele conseguisse encontrar alguns, poderia descobrir algo usando o Feitiço Dracônico de Akasha.
* * *
Eugene havia testado o feitiço Dracônico na Espada Sagrada.
Mas realmente não funcionou. Enquanto a Espada do Luar projetou uma escuridão que envolveu e abalou sua consciência, a Espada Sagrada apenas emitiu uma luz deslumbrante. Ele não sentiu nenhuma angústia como se sua mente estivesse entrando em colapso como quando testou o feitiço na Espada do Luar, nem alguém como o Rei Demônio do Encarceramento interferiu em sua percepção.
O único resultado foi que seus olhos ficaram cegos. Mesmo depois que Eugene manteve o feitiço por algum tempo, os sentimentos que ele teve não mudaram. Eugene esperava que pudesse ver o paraíso sobre o qual Anise sempre falava… Ou o Deus da Luz, ou talvez até Vermouth. Se não aqueles, então ele pensou que poderia mostrar uma projeção do cofre do tesouro do clã Lionheart, onde foi armazenada por centenas de anos, ou as partes internas do Vaticano, onde disseram ter sido armazenada antes disso.
Mas tudo o que a Espada Sagrada mostrou a Eugene foi uma luz brilhante. Para ser honesto, Eugene ficou desapontado, mas pensou que não tinha jeito mesmo. A luz que ele tinha visto naquele momento era tão brilhante que nem mesmo uma única partícula de escuridão poderia existir nos arredores, e mesmo Eugene, que não tinha a menor fé, podia sentir que havia algo sagrado nisso.
No momento já estavam chegando à Catedral de Tressia. Este lugar também estava cheio de luz, imitando o Deus que eles adoravam.
A nave central era ampla e magnífica. A parede da frente estava lindamente coberta com uma peça requintada de vidro, e a luz branca que brilhava através da parede caía no chão como enormes pilares de luz.
Uma cruz branca estava pendurada no alto da parede de vidro por onde a luz se derramava. O brilho da cruz branca não foi perdido mesmo em meio à luz brilhante.
Não era só a cruz. Um pouco abaixo havia várias formas que não se perdiam na luz ou criavam sombras. Havia anjos abrindo suas asas, cantando e dançando, e logo abaixo deles havia santos abrindo asas e ascendendo como os anjos, enquanto os devotos oravam abaixo.
Eugene olhou para os pilares de luz por alguns momentos. Se ele fosse um crente sincero, poderia ter sentido uma emoção avassaladora ao ver essa luz e a representação de crentes tornando-se santos e de santos sublimando-se em anjos. Eugene não ficou empolgado com essa peça, mas sentiu que seria muito eficaz para seduzir alguém que já era crente.
— Você não tem a aparência de alguém que encontrou sua fé. — Ouviu-se uma voz atrás de Eugene.
Eugene ficou um pouco surpreso com o som dessa voz. Seus sentidos estavam suficientemente aguçados e não havia razão para que estivessem entorpecidos. Esta catedral era grande o suficiente para centenas de pessoas entrarem, mas Eugene acreditava que ele era o único ali no momento.
Ou seja, Eugene acreditou nisso até ouvir aquela voz. Depois de se acalmar de sua surpresa, Eugene se virou.
O homem usava um manto branco sobre suas vestes negras de sacerdote. Um colar com uma cruz branca pendurada no pescoço permanecia firmemente preso ao centro de suas vestes negras, e um brasão simbolizando um Cardeal da Luz estava bordado no pano vermelho que pendia de seu ombro esquerdo e descia pelo peito.
Era Sergio Rogeris. Ele parecia ser um homem de meia-idade com uma expressão benevolente. No entanto, a aura gentil que um sacerdote deveria ter era muito fraca nele. O corpo escondido sob aquelas vestes clericais parecia flexível e forte, e o olhar entre aquelas pálpebras enrugadas em um sorriso era tão claro e penetrante quanto dois raios de luz.
Era natural que Eugene se sentisse assim. Era estereotipado supor que só porque alguém era um sacerdote, eles só poderiam oferecer orações, cânticos ou magia de cura pela retaguarda. Em primeiro lugar, Anise também era habilidosa em empunhar sua maça no campo de batalha e abrir as cabeças de demônios, e Kristina também disse que sabia como manejar habilmente um mangual.
Sacerdotes vinham em todos os tipos de formas diferentes. Embora possa não ter sido um paladino ordenado, Sergio Rogeris, em particular, já foi um inquisidor de alto escalão pertencente ao ramo do Maleficarum da Inquisição antes de se tornar cardeal. Se ele não tivesse ascendido ao posto de cardeal, atualmente estaria sentado à frente do Maleficarum.
— Obrigado por me encontrar assim. — Disse Sergio parado em uma das extremidades da nave.
No entanto, Eugene podia ouvir sua voz tão claramente como se Sergio estivesse falando ao lado dele. Como Cardeal de Yuras, ele tinha que possuir um dos casos mais fortes de poder divino entre todos os incontáveis sacerdotes do Império. Além disso, se foi dito que poderia ter sido o próximo chefe da Inquisição, isso significava que ele também deveria estar familiarizado com o combate.
“E ele também deve estar familiarizado com todos os tipos de negócios sujos”, Eugene lembrou a si mesmo.
O rosto de Sergio estava coberto por um sorriso benevolente, mas deixando isso de lado, o passado de Sergio deixou Eugene com uma impressão não particularmente boa. Para este último ritual, não apenas os Paladinos, mas também os Inquisidores foram mobilizados… Era porque este ritual era especial? Ou foi porque Sergio os convocou pessoalmente?
— Pelo que você é grato? — Eugene perguntou.
— Nunca imaginei que poderia conhecer o Herói em minha vida. — Sergio confessou. — Sir Eugene Lionheart, antes de você aparecer, o último Herói foi o Grande Vermouth de trezentos anos atrás, e antes disso, não havia nenhum outro Herói.
Muito lentamente, Sergio se aproximou dele. Eugene não conseguia sentir a pressão típica de uma pessoa forte vindo dele. No entanto, Eugene estava bem ciente de que alguém cuja presença silenciosa não revelava muito, ainda poderia ser forte o suficiente para ser um oponente difícil de lidar.
Dando um passo após o outro, era difícil encontrar alguma abertura para se espremer, embora Sergio estivesse apenas caminhando pacificamente.
“Ele é forte. E se você considerar as características especiais de um sacerdote… Ele será chato de lutar. Muito chato.” Avaliou Eugene calmamente.
Embora nunca tivesse lutado contra alguém usando magia divina, Eugene estava muito familiarizado com o quão complicada essa magia poderia ser. Era diferente da mana e dos feitiços usados na magia comum. Os misteriosos poderes da fé e do poder divino eram amplos demais para serem previsíveis.
— Tudo bem se eu fizer um pedido? — Sergio finalmente perguntou depois de parar sem diminuir completamente a distância entre ele e Eugene. Então abaixou a cabeça e continuou falando em tom respeitoso. — Posso confirmar com meus próprios olhos que você realmente é o Herói, Sir Eugene?
Em vez de responder em voz alta, Eugene apenas desenrolou seu manto. Ele agarrou o punho da Espada Sagrada Altair que estava lá dentro e a puxou lentamente. Os olhos de Sergio se encheram de emoção ao ver a Espada Sagrada segura firmemente nas mãos de Eugene. O Cardeal juntou as mãos enquanto olhava para a Espada Sagrada que Eugene segurava no alto.
Eugene de repente sentiu como se algo estivesse sendo sugado por seu aperto na espada. Ele se encolheu e olhou para a lâmina de Altair. Mesmo que não quisesse, a lâmina de Altair estava vibrando levemente. Então lentamente ficou mais e mais brilhante.
— Ooooh…! — Os olhos de Sergio tremeram quando ele caiu de joelhos no local.
Os pilares de luz caindo das paredes e os tetos foram desenhados para Eugene. Eventualmente, a luz emitida por Altair encontrou os pilares de luz que já estavam dentro da Catedral.
Fwooosh!
A luz de Altair aumentou abruptamente. As duas fontes de luz não apenas se encontraram e se conectaram. Altair tornou-se a nova fonte dos pilares de luz. A iluminação que jorrava das paredes e tetos era absorvida e então espalhada em pedaços pela luz de Altair.
Com isso, uma tempestade de luz assolou a catedral. O pano vermelho pendurado no ombro de Sergio tremulava nas ondas de luz. Sem fechar os olhos, ele observou enquanto Eugene estava no centro da luz furiosa, a Espada Sagrada na mão.
Eugene não conseguia olhar para Sergio.
A luz que o cercava e se espalhava era tão brilhante e intensa que ele não conseguia ver nem o próprio corpo, muito menos a figura de Sergio.
No meio dessa luz, Eugene detectou o cheiro inexplicável de sangue.
Ele viu as costas de uma jovem ainda imatura.
“Anise…?”
Quando esse nome surgiu na cabeça de Eugene, ele deu um passo à frente. Naquele momento, a luz se apagou.
O cheiro de sangue, assim como o da garota, também sumiu.
Eugene ficou lá inexpressivamente por um momento antes de abaixar a Espada Sagrada.
— Ó Senhor, obrigado por este milagre. — Sergio elevou uma oração a seu Deus, ainda de joelhos.
Incapaz de dizer qualquer coisa, Eugene apenas olhou para a lâmina da Espada Sagrada. As vibrações da lâmina pararam. Também não estava emitindo mais luz. Mesmo os pilares de luz que foram atraídos para Eugene agora retornaram aos seus lugares originais.
“Um milagre…?”
O cheiro de sangue.
Aquela cicatriz nas costas.
“Algo assim?”
Eugene definitivamente não conseguia aceitar que o que acabou de ver fosse um milagre.