Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 177
Capítulo 177: Ariartelle (2)
Era como se o tempo tivesse parado. Ariartelle congelou com a boca aberta. Então, depois de fechá-la tardiamente, começou a considerar silenciosamente as palavras de Eugene.
Hamel… embora fosse inesperado que esse nome tivesse surgido, Ariartelle foi imediatamente capaz de lembrar de quem era o nome.
— Hamel, o Tolo? — Ariartelle disse hesitante.
Eugene suspirou.
— Por que não deixar de fora a parte de ‘Tolo’?
— Eugene Lionheart, você, um descendente de Vermouth Lionheart, está afirmando que é Hamel, o Tolo?
— Eu disse para deixar de fora a parte de ‘Tolo’.
— Humano, você está seriamente tentando tirar sarro de mim? — Ariartelle exigiu enquanto olhava para Eugene com os olhos ligeiramente franzidos.
Embora ela não liberasse nada daquele implacável Pavor do Dragão, mesmo sem isso, Eugene poderia dizer claramente que Ariartelle estava altamente descontente.
Depois de se perguntar o que ele poderia fazer para fazê-la acreditar nele, Eugene pensou em um método simples. Ele imediatamente enfiou a mão dentro do manto. Ariartelle ficou um pouco assustada com esse movimento repentino, mas logo voltou a observar Eugene com um olhar calmo.
Eugene não conseguiu tirar a mão de dentro do manto imediatamente. Isso porque Mer agarrou sua mão. Ela estava enrolada em uma bola e tremendo lá dentro. Eugene franziu a testa ao sentir o tremor de Mer transmitido pelo aperto em sua mão. Mas, em vez de franzir a testa por causa da resistência de Mer, Eugene olhou para Ariartelle, que foi responsável por atacá-los com seu Pavor do Dragão em primeiro lugar.
— Ei, ela está apavorada por sua causa. — Reclamou Eugene.
— O quê? — Ariartelle perguntou em tom perplexo, mas em vez de responder, Eugene apenas acariciou a cabeça de Mer com a mão que estava dentro do manto.
No entanto, seu tremor se recusou a diminuir. O Pavor do Dragão foi espalhado pela dispersão de mana. Assim, como uma familiar, Mer era mais sensível ao Pavor do Dragão do que um ser humano, especialmente porque ela tinha um senso de autoconsciência que lhe permitia ter medo de ser destruída.
Eventualmente, Eugene conseguiu tirar Mer lá de dentro.
— Estou perfeitamente bem. — Mer insistiu com a voz trêmula, embora seu corpo continuasse a tremer.
— Tudo bem, tudo bem. — Eugene murmurou confortavelmente enquanto abraçava Mer com um braço. Ela fungou enquanto enterrava o rosto no peito de Eugene e entregava Winith, que ela havia tirado do manto com ela.
— Não estou aqui, porque estou com medo. — Afirmou Mer. — Já que está procurando por Winith, decidi trazê-la eu mesmo, Sir Eugene.
— Tudo bem, tudo bem. — Eugene continuou a murmurar em conforto.
— Como ficaria entediada em ficar sozinha lá dentro, decidi ficar com você, Sir Eugene, por enquanto.
— Tudo bem, tudo bem.
O que diabos eles estavam fazendo? Ariartelle estreitou os olhos enquanto examinava Mer. Embora ela não parecesse diferente de um ser humano, era definitivamente uma familiar que havia sido criada por meio de magia altamente avançada. Mesmo para Ariartelle, seria impossível criar uma familiar com um nível de realismo tão alto.
“Para ele segurar aquela familiar em seus braços como se fosse uma criança…” Ariartelle pensou curiosamente.
— Você tem dificuldade em manter os olhos bem abertos? — Eugene perguntou de repente.
— Está falando comigo? — Ariartelle exigiu enquanto suas bochechas se contorciam de irritação.
Em vez de responder, Eugene sacou Winith.
O vento envolveu imediatamente a lâmina azul-prateada. Logo o Rei Espírito do Vento, Tempest, chegou em resposta à invocação de Eugene. Parecia que ele já entendia a situação, pois Tempest apareceu na frente de Eugene na forma de um pequeno redemoinho, em vez de sua habitual tempestade em grande escala.
— O Rei Espírito do Vento… — Ariartelle reconheceu Tempest. Depois de olhar para frente e para trás entre Tempest e Eugene, ela inclinou a cabeça para o lado e perguntou. — Você certamente não invocou o Rei Espírito com a intenção de lutar comigo, não é?
— Tempest, conte a ela sobre o fato de eu ser Hamel. — Ordenou Eugene.
Eugene não tinha intenção de fazer algo como lutar contra Ariartelle, um dragão, de frente. Ele apenas invocou Tempest, porque precisava de uma testemunha.
[Jovem dragão. Ele realmente é Hamel Dynas, aquele que fez seu nome trezentos anos atrás. E na era atual, ele é conhecido como Hamel, o Tolo.]
Ariartelle ouviu em silêncio.
[Eu entendo sua descrença, mas eu, Tempest, garanto que Eugene Lionheart é a reencarnação de Hamel. Como você deve saber, um Rei Espírito como eu não mentiria para você assim.]
— Você acabou de dizer reencarnação? — Ariartelle murmurou com uma expressão vazia.
Mesmo tendo sido pessoalmente garantido por um Rei Espírito, ela olhou fixamente para o rosto de Eugene, incapaz de acreditar.
Um herói de trezentos anos atrás reencarnou na era atual. E como descendente de outro herói?
A reencarnação da alma não era nada de especial. Todos os seres morreram um dia e reencarnaram em outros seres.
No entanto, reencarnar com as memórias de sua vida passada intactas era, na opinião de Ariartelle, algo impossível de ser coincidência. Se fosse esse o caso, então alguém planejou sua reencarnação? Isso era algo possível de se fazer com magia?
— Vou acreditar em você por enquanto. — Ariartelle concedeu, balançando a cabeça lentamente.
Ela tinha sérias suspeitas sobre a reencarnação de Eugene, mas, ao mesmo tempo, ficou curiosa sobre o porquê de Eugene ter ido procurá-la ali.
— Se você realmente é Hamel, então, é claro, você deve estar ciente de que o fundador da família Dragonic não era um meio-dragão. Já que vivia na mesma época que ele. — Ariartelle concluiu.
— Então, por que um dragão está cuidando da família Dragonic? — Eugene perguntou enquanto virava a cabeça para olhar para trás.
Ele podia não saber exatamente onde era esse lugar, mas estava claro que Ariartelle estava cuidando da família Dragonic há algum tempo.
— Você pode considerar isso uma forma de entretenimento. — Ariartelle respondeu com um aceno de mão.
Com esse gesto, todas as telas que enchiam a parede foram desligadas simultaneamente.
Ariartelle continuou.
— Pallasquez, o dragão que o fundador da família, Orix Dragonic, reivindicou como seu próprio ‘pai’, era na verdade meu pai. Orix absorveu o Coração do Dragão de meu pai e então mentiu para o mundo, alegando que Pallasquez era seu pai e que ele era meio-dragão.
— Se você considera isso um insulto ao seu pai, já pensou em tentar apagar a Família Dragonic? — Eugene trouxe com cuidado.
— Não, realmente não considero isso um insulto. — Negou Ariartelle. — Meu pai morreu quando eu ainda era apenas um ovo, e dragões não sentem muito afeto por seus pais em primeiro lugar.
Tempest se referiu a Ariartelle como ‘um jovem dragão’. Eugene não sabia quanto tempo durava a vida de um dragão nem quantos anos eles precisavam ter para ainda serem chamados de ‘jovens’.
— Quantos anos você tem? — Eugene decidiu perguntar abertamente.
Após consideração, Ariartelle finalmente decidiu responder a ele. — Tenho mais de duzentos anos—
— Então você é mais jovem do que eu. — Eugene a interrompeu triunfante.
— Hum?
Tempest virou a cabeça para olhar para Eugene com uma expressão confusa, e até mesmo Mer, cujo rosto ainda estava enterrado no peito de Eugene, levantou a cabeça para olhar para ele.
Ariartelle parecia igualmente confusa. Seus olhos se arregalaram em círculos quando olhou para Eugene, e ela inclinou a cabeça para o lado em questão.
Eugene mudou de assunto.
— Embora eu não tenha certeza sobre a primeira vez que você usou seu Pavor do Dragão em mim, pouco antes, você o usou em mim porque pensou que eu estava prestes a matar Leo, certo? Para mim, não parece que você está simplesmente assistindo para seu próprio entretenimento.
— Não seria estranho eu simplesmente deixá-lo morrer enquanto estou assistindo? — Ariartelle disse defensivamente.
Eugene soltou um bufo com essa resposta desequilibrada enquanto continuava a esfregar as costas de Mer.
— A verdade é que não estou realmente interessado em suas razões para fazer isso. — Admitiu Eugene. — Não me importa se eu sei ou não.
Embora Eugene nem fosse capaz de adivinhar como seria a versão do afeto familiar de um dragão, vendo como ela os olhava assim, ficou claro que Ariartelle tinha algum tipo de apego à Família Dragonic.
No entanto, isso não era da conta de Eugene. Embora ele possa ter desenvolvido alguns sentimentos de respeito por Alchester depois de aprender a Espada Vazia, o vínculo entre Ariartelle e a Família Dragonic parecia várias vezes mais profundo e pessoal do que o vínculo entre Eugene e Alchester.
Então, ao invés de um mistério como esse, Eugene estava mais preocupado com algo que Ariartelle havia dito antes.
— Você disse que é o único dragão cujos olhos ainda estão abertos na era atual? — Eugene perguntou em confirmação.
Trezentos anos atrás, os dragões travaram uma batalha com o Rei Demônio do Encarceramento e o Rei Demônio da Destruição. O Rei Demônio do Encarceramento retirou-se da linha de frente depois de matar cinco ou seis dragões, enquanto o Rei Demônio da Destruição matou metade dos dragões.
Durante essa batalha, Raizakia traiu seus companheiros dragões. Ele matou o Lorde de Todos os Dragões, que os liderava pela frente com um ataque surpresa por trás, pegou o Coração do Dragão dele e depois fugiu da linha de frente.
—Hamel, o Tolo, você também deveria saber que tipo de batalha os dragões travaram trezentos anos atrás. Naquela batalha contra o Rei Demônio da Destruição, apenas metade dos dragões conseguiu sobreviver, mas os que conseguiram não saíram ilesos. — Ariartelle disse em tom grave.
Em Helmuth, eles encontraram um dragão que estava à beira da morte.
— Os dragões cujas mortes são iminentes criarão métodos para fazer valer a pena sua vida útil restante. — Ariartelle continuou.
— …
Eugene ouviu em silêncio.
Ariartelle explicou:
— Um dragão falecido não deixará vestígios de sua presença neste mundo. Seus ossos, escamas, sangue e coração, tudo retornará à mana. Alguns dos dragões moribundos decidiram que queriam deixar seus corações para trás, e meu pai, Pallasquez, era um deles.
Pallasquez criou uma masmorra como um teste de habilidade e selou seu próprio Coração de Dragão no final. Ele esperava que um excelente aventureiro que conseguisse romper sua masmorra absorvesse seu Coração de Dragão e continuasse a desempenhar um papel ativo na salvação deste mundo terrível.
Embora ele não fosse tão notável, Orix Dragonic conseguiu romper a masmorra como Pallasquez esperava e colocou as mãos no Coração de Dragão.
Em sua vida anterior, Hamel e seus companheiros conseguiram colocar as mãos em um Coração de Dragão por meios semelhantes.
— Os dragões cujas mortes eram inevitáveis desapareceram do mundo assim, enquanto os dragões que estavam em estados um pouco melhores se dedicaram a cuidar de suas próprias feridas. No entanto, a guerra terminou antes que os dragões pudessem se recuperar e retornar ao campo de batalha. — Revelou Ariartelle.
O Grande Vermouth conseguiu fazer um Juramento com o Rei Demônio do Encarceramento.
— Não sei qual era o conteúdo daquele juramento. — Confessou Ariartelle. — No entanto, depois que o juramento foi feito, todos os dragões decidiram entrar em hibernação ao mesmo tempo. Eu, que era apenas um filhote recém-nascido naquela época, fui encarregada de administrar o ‘berço’ e permaneci sozinha neste mundo.
À menção do Juramento, Eugene lançou um olhar a Tempest. No entanto, Tempest não mostrou nenhum tipo de reação a isso. Ele provavelmente sabia que os dragões haviam entrado em hibernação, mas parecia que não estava em posição de revelar isso sem permissão.
— Não lhes seria possível curar as feridas sem dormir? — Eugene perguntou em incerteza.
— Também não sei o porquê todos os outros dragões entraram em hibernação simultaneamente. Essa deve ser uma explicação satisfatória para sua pergunta. Então, Hamel, o Tolo, que negócio o trouxe aqui em busca de um dragão? — Ariartelle perguntou enquanto ao mesmo tempo exibia todo o seu poder.
Embora fosse certamente interessante que aquele na frente dela fosse a reencarnação de um herói de trezentos anos atrás, não havia nenhuma razão para Ariartelle abaixar a cabeça na frente dele.
— Quero sua força emprestada. — Revelou Eugene sem hesitar.
Com essas palavras, Ariartelle soltou um bufo como se esperasse que ele dissesse algo assim e balançou a cabeça. — Que pena, Hamel, você parece querer tomar emprestado meu poder para acabar com a subjugação aos Reis Demônios que não foi capaz de alcançar trezentos anos atrás, mas infelizmente não estou em uma posição em que possa me tornar muito envolvida nos assuntos do mundo—
— Do que você está falando? — Eugene interveio. — Como você pode esperar que eu una forças com um dragão que tem pouco mais de duzentos anos para derrotar os Reis Demônios?
—Então o que diabos você veio procurar? — Perguntou Ariartelle.
— Preciso da sua magia draconiana. — Revelou Eugene.
A testa de Ariartelle franziu quando ela inclinou a cabeça para o outro lado e perguntou:
— O que exatamente você quer?
— Preciso de um feitiço que procure uma brecha entre as dimensões. — Explicou Eugene enquanto arrastava uma cadeira próxima sem pedir permissão e sentava-se diante de Ariartelle. — Não sei as coordenadas exatas da brecha, e nem sei em que dimensão ela fica. O que sei é que não pode estar em uma dimensão muito distante da nossa. Também sou um mago, então, falando da minha perspectiva, sinto que a brecha provavelmente esteja em algum lugar que atravesse nossa própria dimensão.
— …
Ariartelle ficou sem palavras.
— O feitiço, uma Expulsão Forçada para uma Dimensão Externa, foi conjurado de forma incompleta, então o alvo foi apenas jogado em uma brecha entre as dimensões. — Eugene a informou. — Mesmo assim, sua ligação com este mundo não foi cortada. Parece que seu contrato com seus subordinados ainda está sendo apoiado de forma limitada—
— Espere… Espere um pouco. — Ariartelle levantou as mãos e interrompeu Eugene, incapaz de esconder o quanto estava nervosa. — Uma Expulsão Forçada para uma Dimensão Exterior? Então é um feitiço destinado a banir um alvo para uma dimensão externa por meio de magia?
— Isso aí. — Eugene confirmou.
— Isso é um absurdo. Não há como esse feitiço existir. Banir uma existência à força é impossível, mesmo com um feitiço de encantamento dracônico. Quem no mundo iria—
— Sienna Merdein.
O nome que Eugene cuspiu fez Mer levantar as orelhas. Se ela pudesse, teria dado de ombros com desdém e até estufado um pouco o peito para se exibir, mas ainda estava em estado de medo por causa do Pavor do Dragão que Ariartelle havia emitido.
— A Sábia Sienna… — Ariartelle murmurou em compreensão.
— Se tal feitiço realmente existe ou não, não é da minha conta. Sienna o conjurou, e o que eu disse aconteceu. — Afirmou Eugene com confiança.
— O que diabos… Seria capaz de sobreviver passando por uma fenda dimensional? — Ariartelle perguntou em estado de choque.
— O Dragão Negro, Raizakia. — Eugene finalmente revelou.
No momento em que esse nome passou por seus lábios, Ariartelle disparou para fora de seu assento. Seu cabelo ruivo tremia como uma onda de chamas e seus olhos estavam cheios de uma forte intenção assassina. Ela até começou a emitir impiedosamente seu Pavor do Dragão.
Enquanto abraçava a trêmula Mer com um aperto ainda mais forte, Eugene olhou para Ariartelle. Ele xingou:
— Porra, eu disse para você não fazer isso!
Ariartelle rugiu.
— Raizakia…! O Dragão Negro! Você está falando sobre Raizakia do Castelo do Dragão Demônio?! Hamel, seu tolo! Você está realmente tentando salvar Raizakia de uma brecha entre as dimensões?!
Ela tinha que continuar usando aquele nome tolo e chamá-lo de Hamel tolo? Não havia como ela pensar que chamá-lo por aquele título era mostrar sua dignidade dracônica, não é?
Eugene bufou.
— Por que eu iria querer salvá-lo? Quero encontrá-lo para acabar com ele, mas seria um pouco difícil encontrá-lo apenas com minhas habilidades. É por isso que preciso da sua ajuda—
— Quer matar o Raizakia com as próprias mãos?! Hamel, o Tolo, sei que você foi um herói no passado, mas não pode matar Raizakia com sua força atual! — Ariartelle repreendeu.
— Vou cuidar disso sozinho, então… Por enquanto, acalme-se, retire seu Pavor do Dragão e sente-se. — Instruiu Eugene calmamente. — E pare de me chamar de Tolo.
— Eu… Vou te ajudar. Raizakia é um traidor de todos os dragões. Seus crimes devem terminar nas mãos de nós, dragões… Espere, não… — Ariartelle parou, seus olhos se arregalando enormemente. Ela cobriu a cabeça com as duas mãos, gemeu e se sentou com um suspiro. — Será mesmo… Não, não tem jeito. Já tenho uma missão diferente…
— Não pare. Eu nunca pedi para você lutar ao meu lado, então por que está fazendo tanto barulho aí sozinha? Eu só preciso que você me diga o método para encontrar a brecha entre as dimensões onde Raizakia está preso. — Eugene a lembrou.
— Tal feitiço não existe. — Disse Ariartelle, pensativa, enquanto batia na têmpora. — Uma brecha dimensional… Se o contrato entre o mestre e seus subordinados ainda está intacto… Isso significa que sua conexão com o mundo não foi totalmente cortada. No entanto, se tal contrato estiver sob o controle total do mestre e os contratantes não puderem contrariá-lo ou mesmo interferir nele… Então…
Ariartelle murmurou para si mesma por um bom tempo. Eugene deixou Ariartelle sozinha enquanto estava ocupada com isso e se virou para olhar ao redor da sala.
Eugene ainda não sabia exatamente onde era esse lugar. Ele primeiro decidiu se aproximar de uma janela e olhar para fora, apenas para ver a paisagem de uma aldeia rural isolada.
“Este lugar parece estar em Kiehl… Mas onde exatamente?” Eugene pensou curiosamente.
Por enquanto, tudo o que sabia era que esta casa não era uma mansão para nobres ou comerciantes ricos. Era apenas uma casa pequena e comum que você poderia encontrar em qualquer aldeia. E, além de Ariartelle, não parecia que mais ninguém morasse ali.
— Fortalecendo um feitiço de rastreamento… Para ser capaz de encontrar seus alvos além deste espaço e em outra dimensão… Não… Uma vez que você deixa a área espacial e entra na brecha entre as dimensões, coisas como limites e coordenadas são sem sentido… Se quisermos apenas obter um local aproximado… Está certo. — Ariartelle murmurou para si mesma por algum tempo antes de levantar a cabeça. — Vamos cooperar.
— Como você gostaria de fazer isso? — Eugene perguntou.
— Colocarei a magia dracônica necessária para rastrear Raizakia em um artefato. No entanto, é impossível encontrar Raizakia apenas com isso. Precisamos de algo conectado a ele. — Ariartelle o informou.
— Conectado? — Eugene repetiu.
— Algo como um item que Raizakia carrega consigo há muito tempo. Quanto mais tempo um item foi carregado com ele, mais de sua energia espiritual ele deveria ter absorvido, e essa energia espiritual está fadada a ter a disposição de seu dono gravada nela. — explicou Ariartelle.
— Um item, você diz… E o sangue? — Eugene perguntou, seus olhos brilhando.
Sangue? Quando Ariartelle pediu para ele elaborar, Eugene a informou sobre a possibilidade de que Raizakia, que atualmente governava o Castelo do Dragão Demônio, não pudesse ser o próprio Raizakia e pudesse ser apenas seu filhote.
— Ao contrário de um contratante, tais laços de sangue são de igual restrição para ambas as partes. Se realmente for o filhote de Raizakia, então podemos encontrá-lo através dele. — Ariartelle confirmou com otimismo.
Tendo ouvido tudo isso, Eugene tirou Akasha do manto. Os olhos de Ariartelle tremeram quando viu a joia vermelha brilhando na ponta do cajado. Este era um cajado que havia sido criado usando um Coração de Dragão e os galhos da Árvore do Mundo. Ariartelle engoliu em seco, hipnotizada pelo poder do cajado.
— O que você está fazendo? — Ariartelle perguntou uma vez que recuperou a compostura.
— Um feitiço tão draconiano não funcionaria bem quando gravado em Akasha? O efeito também deve ser amplificado. — Supôs Eugene.
— Pode ser o caso, mas não poderei fazer tal feitiço agora. — Ariartelle o informou.
— Então vou deixar com você por enquanto. — Eugene respondeu calmamente e entregou Akasha para Ariartelle. — Posso voltar para buscá-lo daqui a uma semana?
— Tanto tempo… Deve ser suficiente. — Concordou Ariartelle.
A atitude de Eugene a confundiu. Embora fosse um dragão, este humano não estava mostrando a ela o respeito que um dragão merecia. Em vez disso, parecia que ele estava confiando este item a ela como se ela fosse um ferreiro comum ou uma costureira…
— A propósito, você e a Senhora Carmen… Por que fizeram aquele Genocídio Celestial para ela? — Eugene perguntou curiosamente.
— O que é ‘Genocídio Celestial’? — Ariartelle perguntou confusa.
Ela estava apenas fingindo não saber?
Com algum constrangimento, Eugene explicou. — É aquela coisa. A coisa que geralmente parece um relógio de bolso, mas se você gritar ‘mudança de forma’, ele passa por uma estranha transformação…
— Você está falando sobre as Luvas Alquímicas? — Ariartelle murmurou. — Foi tudo por causa de um encontro acidental.
Décadas atrás, Ariartelle fazia o que fazia todos os dias, aproveitando seu tempo de lazer enquanto assistia às cenas da mansão Dragonic se desenrolando em sua parede de visualização. Ela estava interessada na senhora do clã Lionheart que havia chegado à mansão alguns dias atrás. Embora sua personalidade fosse um pouco bizarra, Ariartelle admirava sua boa aparência e habilidades em artes marciais.
Alchester tinha cinco anos na época, mas ao contrário de seu pai, que não tinha nenhum talento, Alchester era extremamente precoce. Se aquela criança se tornasse o próximo Patriarca, a família Dragonic desfrutaria de um poder maior do que nunca. Então, e se eles conseguissem arranjar um noivado com a Senhora do clã Lionheart além disso?
— O dia a dia de um dragão é bem chato. Assim, os dragões acalmam o tédio de suas vidas por meio de várias diversões. É pelas mesmas razões que cuido da família Dragonic. Observar esses humanos viverem suas curtas vidas com tanta paixão e até acompanhar o progresso de uma família é um passatempo bastante envolvente, mesmo para um dragão. Pode-se dizer que é semelhante a como os humanos assistem a apresentações criativas, como óperas e peças de teatro. — Explicou Ariartelle.
Ao contrário do que Ariartelle esperava, Carmen não sentia nenhum afeto por Alchester. Isso era o mesmo para Alchester. Em primeiro lugar, Carmen tinha dezessete anos naquela época, enquanto Alchester tinha apenas cinco.
Embora não houvesse progresso em termos de relacionamento, Ariartelle nunca perdeu o interesse em assistir Carmen Lionheart. Isso porque Carmen era mais bizarra do que qualquer humano que Ariartelle tinha visto até agora.
— Carmen Lionheart era uma humana fascinante. Quando ela estava sozinha em seu quarto, uma vez desenhou um estranho círculo mágico no chão e tentou conjurar um feitiço sozinha. Era apenas um rabisco sem nenhuma influência mágica, e o feitiço que tentou foi… — Ariartelle hesitou.
Eugene gemeu.
— Acho que não quero realmente saber…
— Também não quero dizer. — Concordou Ariartelle.
Ariartelle ficou desleixada. Ela não podia deixar de pensar nisso dessa maneira. Carmen era tão divertida de assistir que acabou cuidando de Carmen de perto demais. Não… Mais do que isso, aconteceu, porque Ariartelle nunca poderia imaginar que Carmen se comportaria assim.
— Um dia, depois que Carmen Lionheart voltou de seu treinamento e terminou de se lavar, ela ficou encantada com seu reflexo no espelho. — Começou Ariartelle.
— O quê? — Eugene latiu em confusão.
— Os humanos às vezes não se comportam assim? — Perguntou Ariartelle. — Com o cabelo ainda encharcado, os olhos lacrimejantes e a respiração ofegante… Carmen Lionheart parecia estar realmente apreciando sua própria aparência, apenas para de repente bater com o punho no espelho.
— Não… Mas que diabos? — Eugene perguntou mais uma vez.
— Carmen acabou passando por aquele espelho e chegando aqui. — A expressão de Ariartelle se contraiu ao recordar aquele momento.
Naquela época, Ariartelle havia levado um soco bem no olho pelo punho de Carmen, mas não desejava permitir que tal incidente escapasse de seus lábios.
Ariartelle continuou.
— As Luvas Alquímicas eram algo do covil de minha mãe, artefatos de batalha que podiam mudar sua aparência em resposta ao sangue de seu dono. Eu dei a ela aquelas Luvas como um lembrete para manter nosso encontro em segredo e como uma homenagem a uma humana com talentos tão notáveis.
No fundo, ela realmente esperava que Carmen desenvolvesse um bom relacionamento com Alchester depois de receber tal presente e saber que um dragão estava por trás da família Dragonic. Carmen fez uma promessa com Ariartelle de não contar a ninguém, mas isso não importava, desde que a própria Carmen soubesse. Para uma família com um dragão observando-os nos bastidores, Ariartelle não achava que seria muito pouco convencional para Carmen considerar se casar com um menino doze anos mais novo que ela.
Ao contrário de seus desejos, no entanto, Carmen não se casou com Alchester no final. O próprio Alchester não tinha nenhum interesse romântico por Carmen. Por fim, tudo o que aconteceu foi que aquelas preciosas Luvas Alquímicas renasceram como Genocídio Celestial nas mãos de Carmen.
— Por que ela bateu no espelho? — Eugene perguntou, ainda confuso.
Muitas pessoas teriam a sensação de que seu reflexo no espelho parecia bastante sexy depois de tomar banho.
Mas por que ela então bateria no espelho?
Mais do que qualquer outra coisa, Eugene simplesmente não conseguia entender esse fato.