Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 143
Capítulo 143: A Caçada (6)
Hector assistiu àquela cena à distância.
Centenas, não, milhares de pontas dispararam do terreno anteriormente vazio. As pontas eram todas pretas, mas não eram sombras. Elas estavam todas se contorcendo como se estivessem vivas, e cada ponta parecia estar coberta de queratina negra.
[Não chegue muito perto] a voz dentro de sua cabeça parecia cheia de emoção quando avisou Hector. [Mesmo sendo você, se chegasse perto disso, seu corpo apodreceria e morreria.]
— Você confirmou algum sinal de vida? — Hector finalmente perguntou.
[Não há nada para ver, mas se você quiser conferir, vá dar uma olhada. No entanto, Hector, apesar de suas habilidades, se você chegar perto de qualquer um deles com seu corpo nu, definitivamente apodrecerá e morrerá], a voz repetiu com ênfase.
O rosto de Hector se contorceu em uma carranca com aquelas palavras. Não era como se ele suspeitasse que essas palavras fossem infundadas, já que o orador não tinha nenhum motivo para mentir para ele, mas ainda sentia a necessidade de verificar. Hector pegou algumas pedras perto dele e as jogou para frente.
Psssssh!
No momento em que as pedras tocaram os espinhos negros, as pedras ficaram pretas e se desintegraram em cinzas. Ao ver isso acontecer na frente dele, todos os pensamentos de se aproximar desapareceram. Balançando a cabeça, Hector deu um passo para trás.
— Ele deve estar morto. — Hector concordou com certo pesar.
[Temos sacrifícios suficientes apesar de tudo. Não foi apenas o egoísmo de Eward que o deixou obcecado em ter aquele cara como sacrifício?]
— Bem… Com a relação entre eles, ele tem um motivo para sua obsessão. Ou talvez seja por causa do valor de Eugene como sacrifício? — Hector especulou.
[Hm. Eu ouvi que parentes de sangue como irmãos ou pais são de maior valor como sacrifícios, mas… Estritamente falando, Eugene Lionheart não é parente de sangue de Eward, certo?]
Hector apenas deu de ombros em resposta à voz e se virou. Que tipo de reação Eward mostraria ao fato de não ter conseguido capturar Eugene e trazê-lo de volta? Ele ficaria com raiva? Ou talvez desapontado?
Hector lembrou-se do olhar habitual no rosto de Eward. Parecia que algo havia sido esvaziado dele… Não, ele parecia ter sido esvaziado e aquele vazio preenchido por outra coisa. Embora Hector estivesse interessado na natureza da existência de Eward, ele não tinha intenção de tentar entendê-lo ou se familiarizar com ele.
* * *
Mesmo depois que Hector saiu daquele local, os espinhos não desapareceram.
[Sir Eugene…?] Mer chamou Eugene com uma voz cheia de ansiedade e preocupação.
No entanto, não houve resposta às suas palavras. O corpo de Mer começou a tremer de medo com esse silêncio.
[Você… Você está bem, certo?] Mer implorou mais uma vez, mas como antes, nenhuma resposta veio.
Embora ela quisesse colocar a cabeça para fora do manto, Mer não conseguiu. Mesmo sem contato direto, enquanto ela estivesse ao alcance desses espinhos, sua própria existência seria corroída.
No entanto, Eugene estava perfeitamente bem, sem uma única lesão.
Foi tudo graças à Espada do Luar.
Mesmo essa intensa maldição corrosiva não poderia deixar nenhum tipo de marca na Espada do Luar. Eugene olhou para a Espada que estava segurando perto de seu corpo e o suave luar que emanava dela.
O bracelete em seu pulso esquerdo agora estava quebrado. No momento em que os espinhos começaram a brotar do chão, Eugene imediatamente quebrou o bracelete sem qualquer hesitação antes de sacar a Espada do Luar.
A única razão pela qual Eugene foi capaz de reagir tão rapidamente foi sua familiaridade com esse tipo de ataque. Este ataque tinha um alcance muito longo. Contanto que alguém pudesse confirmar a localização e as coordenadas, eles poderiam levantar esses espinhos abaixo de seu alvo, mesmo estando a dezenas de quilômetros de distância.
“Embora pareça que eles não são tão habilidosos em usá-lo”, observou Eugene.
Seu corpo não foi ferido, mas a voz de Mer continuou soando dentro de sua cabeça. Embora ela devesse saber que ele não havia sofrido nenhum ferimento, mesmo assim, continuou perguntando se ele estava bem.
Eugene sabia o motivo disso. O que preocupava Mer não era seu corpo, mas sua mente. Eugene finalmente sorriu levemente e balançou a cabeça.
— Estou bem. — Ele a tranquilizou.
O interior do peito de Eugene parecia estar fervendo. Por outro lado, sua cabeça estava fria como gelo. Olhando para sua mão esquerda latejante, ele viu que as unhas em seus dedos fortemente retorcidos cavaram na pele de suas palmas e tiraram sangue.
— Acabei de me lembrar do passado. — Eugene murmurou em voz baixa enquanto limpava o sangue da palma da mão.
“Não consegui dividi-los totalmente em dois”, Eugene pensou com pesar.
Ele originalmente pretendia usar a Espada do Luar para cortar todos os espinhos que brotaram.
Mas seus esforços falharam. Talvez se estivesse com a Espada do Luar em seu poder total, ele teria sido capaz de fazê-lo, mas o que Eugene possui atualmente era apenas o cabo da Espada do Luar, com apenas o poder de um fragmento restaurado a ela.
“Bem, não é a única coisa que não tem força,” Eugene meditou.
Ele ainda conseguiu cortar o suficiente dos espinhos para que seu corpo não fosse ferido. Também não houve ondas subsequentes de ataques. Agora que deu uma olhada lenta ao redor, podia ver que a forma e a densidade dos espinhos eram fracas em comparação com todo o seu potencial.
“Como esperado”, Eugene pensou enquanto levantava a Espada do Luar. “Para um ser humano que não é o Rei Demônio ou mesmo um povo demônio, este é provavelmente o limite.”
Sempre que o Rei Demônio da Crueldade golpeava com sua Lança Demoníaca Luentos, para frente, todo o Castelo do Rei Demônio se tornava um campo de espinhos. Aquele ataque imprevisível quase matou Hamel várias vezes.
Depois que o Rei Demônio da Crueldade foi morto, e com o Vermouth desaparecido, o novo dono da Lança Demoníaca Luentos era agora o Chefe do Conselho. Doynes Lionheart.
Eugene cerrou os dentes enquanto brandia a Espada do Luar.
Baaang!
A luz que brotava da Espada do Luar apagou incontáveis espinhos. Depois de brandi-la mais algumas vezes, Eugene deixou o local para trás.
“Agora que o bracelete foi quebrado, ele não poderá mais brotar aqueles espinhos na minha localização exata”, Eugene pensou com algum alívio.
Com o poder de seus olhos demoníacos, o Rei Demônio da Crueldade poderia convocar seus espinhos sem precisar de suas coordenadas específicas, mas Doynes não seria capaz de fazer isso.
“Valor como sacrifício,” Eugene repetiu para si mesmo.
Essas foram as palavras que Hector havia murmurado.
“Embora eu não saiba o que eles estão fazendo, parece que isso requer um sacrifício… Por enquanto, significa que o propósito deles não é matar todos incondicionalmente”, Eugene percebeu com alívio.
Para ser honesto, ele não pensou que Doynes seria capaz de usar o poder da Lança Demoníaca.
Eugene relembrou: “Em primeiro lugar, o único que poderia usar livremente as armas dos Reis Demônios era Vermouth…”
Em sua vida anterior, Eugene também pegou as armas dos Reis Demônios algumas vezes.
No momento em que as pegou, seu sangue começou a ficar preto e ele sentiu como se estivesse enlouquecendo.
“Esse não é um poder que pode ser usado continuamente”, Eugene adivinhou.
Mas tudo isso era simplesmente autojustificação. Eugene teve que admitir que tinha sido descuidado. Embora suspeitasse que Doynes era um vilão, ele só pensava no homem como o “Chefe do Conselho”, não como o “Mestre da Lança Demoníaca”. O ataque especial da Lança Demoníaca…
[O que você vai fazer?] Mer perguntou com uma voz cheia de ansiedade. [Daquele invocador do espírito das trevas para o Chefe do Conselho também… Esta floresta é muito perigosa. Eu sei que Sir Eugene é forte, mas lutar contra o inimigo em sua terra natal é–]
— Ele disse que havia sacrifícios. — Eugene silenciou Mer, embora soubesse com o que Mer estava preocupada. — Hector deve ter capturado Cyan.
Mer ficou em silêncio.
— Pode não ser apenas Cyan. Ciel pode ter sido capturada também… Gargith e… Os outros também podem ser incluídos em seus alvos de captura. — Eugene disse, seu rosto se contorcendo em uma carranca.
Contanto que Cyan e Ciel estivessem bem… Eugene tentou se tranquilizar com esse pensamento, mas ele simplesmente não conseguia ficar calmo.
[Sir Eugene pode ter uma boca suja e uma atitude desagradável, mas seu coração está no lugar certo.] Mer o incentivou.
— Fique quieta. — Eugene retrucou.
Em vez de ouvir, Mer continuou: [Na verdade, se você fosse uma pessoa de coração duro, não teria lutado contra os Reis Demônios para salvar o mundo. Mesmo que o mundo estivesse em um estado terrível trezentos anos atrás, com suas habilidades, Sir Eugene, você seria capaz de viver confortavelmente sem correr riscos em tal mundo.]
— Há algo errado com suas palavras. — Eugene negou enquanto estalava a língua e balançava a cabeça. — Eu consegui sobreviver naquele mundo e me tornar mais forte, porque simplesmente não conseguia me sentir confortável em viver em um mundo assim. Não era só eu também. Isso valia para Sienna, Anise, Moron e… Vermouth também. Todos nós compartilhávamos essa mesma característica.
Essas palavras vieram naturalmente para Eugene sem qualquer traço de exagero.
Se Hamel quisesse buscar conforto sozinho, poderia tê-lo feito algumas vezes. Quando toda a sua aldeia foi aniquilada por monstros, deixando-o como o único sobrevivente, ele poderia apenas agradecer por esse milagre e decidir viver tranquilamente.
Mas ele não tinha feito isso. Hamel queria vingança. Foi por isso que se tornou um mercenário.
Quando finalmente conseguiu fazer seu nome como mercenário, ele também teve muitas oportunidades de viver com conforto. Mas justamente quando sua fama estava aumentando, Hamel decidiu ir para Helmuth.
Sienna, Anise, Moron e Vermouth também eram iguais. Se eles realmente quisessem, teriam encontrado uma maneira de viver confortavelmente.
Vermouth certamente era o pilar do grupo, mas nenhum deles jamais disse algo como ‘Quero voltar, não quero lutar, isso deve bastar… Então vamos parar.’
Eles apenas continuaram a esperar e ansiar pelo futuro. Eles até pensaram e discutiram o que poderiam fazer quando conseguissem derrotar todos os Reis Demônios e o mundo se tornasse pacífico. Que tipo de vida viveriam?
[É porque você é um herói.] Mer disse, sem realmente tentar persuadir Eugene.
— Mas eu odeio esse título por causa de quão pesado ele é. — Eugene suspirou.
[Mas Sir Eugene, neste ponto, você ainda vai salvar a todos, não é?] Mer apontou.
— Bem, não é bem verdade que estou indo lá para resgatá-los. — Eugene respondeu enquanto seu rosto se contorcia sem jeito. — Mas eu me sentiria mal se simplesmente os deixasse lá, então não posso evitar. Além disso, estou muito chateado. Afinal, eu não estava apenas fazendo minhas próprias coisas? Mas aquele filho da puta do Doynes, o velho maldito, ele tentou me matar, não foi? Então foi ele quem arranjou briga primeiro. E Hector, o outro maldito, ficou conversando comigo, mas estava apenas tentando me apunhalar pelas costas.
[Bem, pode ser o caso, mas… No final, você ainda vai salvar a Senhorita Ciel e os outros.] Mer insistiu.
— Não, não é isso que importa. O importante é que é natural que eu fique bravo com essa situação, certo? Mer, você já sabe disso, mas eu tenho uma personalidade bastante selvagem e de merda. Já que você não pode ensinar novos truques a um cão velho, minha personalidade é exatamente a mesma de minha vida anterior. O chefe do conselho? A Lança Demoníaca? Foda-se isso. Eu tenho a Espada do Luar e a Espada Sagrada. Você realmente acha que vou perder se usar a Espada da Tempestade, a Lança Dracônica e o Raio juntos e ao mesmo tempo ativar a Ignição? — Enquanto Eugene cuspia esse discurso, ele colocou a Espada do Luar de volta em seu manto.
[Nossa… Sir Eugene, você realmente não consegue ser honesto, não é?] Mer disse com um suspiro.
— O quê? Onde você encontraria alguém tão honesto quanto eu? — Exigiu Eugene. — Alguns filhos da puta estão agindo como filhos da puta, então eu vou acabar com eles. O que há de errado com isso?
[Eu já disse que há algo errado com o que Sir Eugene está planejando?] Mer questionou.
— Então pare de dizer tantas coisas inúteis e apenas sente-se dentro do manto. — Eugene rosnou enquanto olhava para a escuridão.
Depois de ler os pensamentos de Eugene, Mer engoliu em seco e perguntou: [Como esperado… É realmente o Sir Eward?]
Enquanto segurava Akasha, Eugene conseguiu localizar Eward. A seu ver, parecia que ele realmente não havia aprendido nenhuma magia negra, nem estava usando nenhum artefato mágico proibido.
Mas a única coisa que Akasha permitiu que Eugene visse era ‘magia’. Se Eward tivesse feito um contrato com um espírito das trevas, era impossível até mesmo para Akasha detectá-lo.
“Vendo como eles estão preparando oferendas, parece que estão preparando algum tipo de ritual relacionado à magia negra. Se não houver um terceiro desconhecido envolvido… Então Eward deve estar no centro de tudo isso.” Eugene raciocinou.
Este era um crime que não poderia nem começar a ser comparado à quando Eward tentou aprender magia negra por conta própria. Já que Eward envolveu seus próprios irmãos e muitos de seus parentes colaterais, mesmo o Patriarca, Gilead, não seria capaz de defendê-lo das consequências.
“Isso significa que está tudo bem mesmo se eu matar Eward aqui”, Eugene racionalizou.
A imagem do rosto de Eward, enquanto ele sorria, agradecendo a Eugene, passou por sua cabeça.
Eugene não conseguia nem começar a entender o que diabos Eward estava pensando quando disse isso.
* * *
— Você pegou mais um. — Hector murmurou enquanto franzia as sobrancelhas.
Em uma árvore que se erguia na escuridão, as ‘oferendas de sacrifício’ pendiam como frutas de um galho que havia sido esticado em uma forma bizarra.
Havia os gêmeos da linhagem direta, bem como Gargith e Dezra das linhagens colaterais. Quando Hector deixou aquela área, havia apenas quatro sacrifícios no total. Agora, Genia também havia sido incluída, elevando o total para cinco.
Hector olhou para Genia, que havia perdido a consciência e estava pendurada ali, completamente mole.
— Não fui eu que a trouxe aqui. — A voz de Eward emergiu da escuridão. — Ela encontrou este lugar sozinha e veio para cá sozinha.
— Mas foi você que a obrigou a fazer isso. — Acusou Hector.
— Eu sei que você e aquela jovem têm uma relação próxima. No entanto, Hector, foi você quem falhou em trazer de volta a oferenda que lhe foi confiada. Como tal, não é certo que eu adicione outra oferenda por minha própria vontade? — Eward argumentou.
Hector suspirou:
— Quando você coloca assim, não posso responder nada, jovem mestre.
Hector desviou o olhar de Genia.
— Bem… É verdade que éramos bons amigos. Ela também era uma parceira de treino bastante divertida. No entanto, com tudo isso… Acho que não somos próximos o suficiente para eu implorar para que você não a sacrifique… Hm… — Hector ponderou por um momento sobre o que dizer.
Ele não conseguia descobrir quais palavras expressariam melhor seu humor complicado.
— É um sentimento bem delicado… Hum… Então é isso. Embora eu não me importe de matá-la, não quero vê-la morrer assim.
— E daí, você está nos pedindo para não sacrificá-la? — Eward perguntou.
— Não, como eu disse, não me importo. O que importa agora não é o meu humor. É que o jovem mestre consiga completar esse feitiço corretamente. Com mais sacrifícios, o feitiço ficará correspondentemente melhor, certo? — Hector disse, acenando com as mãos com desdém enquanto se aproximava do centro da escuridão.
No entanto, não foi capaz de chegar muito perto. Quanto mais a distância entre ele e aquilo diminuía, mais uma sensação sinistra indescritível mordiscava sua mente.
Esse sentimento não era estranho para Hector. No norte de Ruhr, o país que acabara de abrir seus portões para o povo demônio de Helmuth a partir de cinco anos atrás, houve várias vezes em que Hector encontrou um povo demônio de alto escalão.
“Não é estranho, mas… Ainda me faz sentir sujo toda vez que encontro algo assim”, pensou Hector enquanto estreitava os olhos e escutava a escuridão.
O chão estava coberto por um círculo mágico pintado com sangue vermelho. Não era apenas o chão, também. Mesmo nos espaços vazios no ar, o sangue se espalhava em várias linhas do círculo mágico.
Hector não tinha aprendido nenhuma magia. No entanto, tinha conexão suficiente com a magia que era capaz de carregar um artefato de alto escalão que não podia ser comprado mesmo com milhões de sals. Por causa disso, Hector podia sentir aquilo intuitivamente.
O círculo mágico que Eward estava desenhando no momento não fazia parte de nenhum feitiço comum. Como um mago do Quarto Círculo, Eward era definitivamente incapaz de operar adequadamente tal círculo mágico. Em primeiro lugar, os círculos mágicos não eram algo que pudesse ser usado apenas porque foram desenhados com perfeição. Um círculo mágico de alto escalão, era impossível serem operados a menos que você fosse um mago com habilidade suficiente.
— Que incrível. — Ouviu-se uma voz atrás de Hector.
Hector se virou para olhar para trás surpreso.
— Você veio muito mais rápido do que eu esperava. Consegue realmente se mover tão rápido apenas correndo? — Perguntou Hector.
— É porque todos os caminhos estavam conectados em linha reta — Disse Dominic com um sorriso. — Esse espírito das trevas é mais conveniente do que eu pensava. E pensar que o filho mais velho que foi chamado de desgraça do clã… Seria realmente capaz de fazer um contrato com um espírito das trevas de tão alto escalão.
— Você já não sabia que eu tinha feito tal contrato? — Eward perguntou.
— Claro que eu sabia. — Confirmou Dominic. — Porém, pensei que você teria feito um contrato com um espírito de escalão inferior, não? E pensar que um ex-herdeiro sem nenhum talento para artes marciais ou magia… Acabaria realmente tendo uma afinidade com os espíritos das trevas, quem poderia imaginar? — Dominic disse com espanto.
— É um pouco diferente disso. — Eward respondeu de dentro das trevas. — Na verdade, não tenho nenhuma afinidade com espíritos.
— O que isso significa? — Dominic perguntou incrédulo.
— O espírito me disse isso diretamente. Exceto em circunstâncias especiais… Haha… Sim, circunstâncias especiais, não teria feito contrato com uma pessoa como eu. — Eward revelou amargamente.
— Circunstâncias especiais? — Dominic repetiu.
— Isso mesmo… No meu caso, parece que recebi bastante ajuda do meu nome. Não é engraçado? Minha posição como o filho mais velho do clã ‘Lionheart’, o fardo que eu ansiava por descartar… Se não fosse por isso, não haveria nada de especial sobre mim. — Eward disse enquanto continuava a olhar fixamente à frente.
Ele estava olhando diretamente para Deacon Lionheart, cujo peito havia sido aberto. Mesmo olhando para aquele cadáver de uma distância tão próxima, Eward não sentiu nada em particular. Para Eward, esse garoto de dezoito anos nada mais era do que a primeira oferenda, um balde de tinta cheio do ‘sangue’ necessário para desenhar o círculo mágico.
Ao lado do cadáver de Deacon, o Martelo da Aniquilação, Jigollath, estava flutuando no ar. O círculo mágico desenhado no sangue de Deacon estava se espalhando para fora do Martelo da Aniquilação. Ele servia como o recipiente para reunir o poder dos sacrifícios e ampliar a força do espírito das trevas.
— O que você fez com o Chefe do Conselho? — Eward finalmente perguntou.
— Eu o esfaqueei através do peito. — Respondeu Dominic com um sorriso calmo. — Bem nas costas. Não importa quantos anos pudesse ter, eu não tinha confiança em lutar contra ele de frente. Especialmente desde que deixei o Martelo da Aniquilação aqui.
— Você o matou? — Eward perguntou.
— Haha… Mesmo que meu avô seja chamado de Leão Branco Imortal, com um buraco no peito, ele está fadado a estar morto. — Dominic respondeu enquanto levantava a mão direita para olhar mais de perto.
Na verdade, ele estava segurando um braço direito enegrecido e murcho que estava segurando a Lança Demoníaca Luentos. Dominic grunhiu quando começou a puxar a mão murcha ainda agarrada à lança.
— Usei o braço do avô para conjurar a Floresta da Lança, mas parece impossível conjurá-la novamente. Já que não tenho nenhum desejo de aleijar um de meus próprios braços. — Comentou Dominic.
— Você não pode simplesmente cortar os braços de outra pessoa e usar o ataque especial através desse braço como acabou de fazer? — Hector perguntou por pura curiosidade.
Dominic apenas bufou com isso e balançou a cabeça antes de explicar:
— Não diga algo tão absurdo, Hector. A única razão pela qual este braço ainda está intacto é por ser do meu avô, que usa a Lança Demoníaca há cinquenta anos; qualquer outro braço apodreceria apenas tocando-a. Meu pai e o Patriarca anterior morreram devido aos efeitos colaterais de empunhar a Lança Demoníaca e o Martelo da Aniquilação.
— Aha… É mesmo? — Hector assentiu em compreensão. — No entanto, o Chefe do Conselho não foi capaz de manter o controle da Lança Demoníaca por mais de cinquenta anos? O Lorde Dominic também é o mestre do Martelo da Aniquilação.
— É por isso que meu avô e eu somos tão especiais. Embora, agora que meu avô está morto, eu sou o único que é especial. — Declarou Dominic com orgulho enquanto acenava com um sorriso.
Depois de arrancar cada um dos dedos do Chefe do Conselho que ainda estavam agarrados à Lança Demoníaca, ele girou a Lança Demoníaca para dar uma boa olhada nela.
— Então, jovem mestre, quando o feitiço será feito? Você verificou novamente as instruções do espírito? — Dominic lembrou Eward.
— Lorde Dominic, você, de todas as pessoas, suspeita dele? — Eward perguntou.
Dominic hesitou.
— Bem, eu… Afinal, ele nunca falou comigo.
— O círculo mágico está completo. Agora só precisamos começar… — A voz de Eward parou de repente. — Você não disse que o matou?
As trevas tremeram.
— Matou quem? — Dominic perguntou, intrigado.
— Estou falando de Eugene Lionheart.
— Do que diabos você está falando? Será que aquele cara ainda pode estar vivo? — Dominic perguntou enquanto se virava para olhar para Hector em perplexidade.
Hector hesitou.
— Não verifiquei o cadáver dele… Não, não consegui. E você não disse que não havia necessidade disso?
— Claro, não havia necessidade de verificar. Quem diabos seria capaz de sobreviver à Floresta da Lança–
Antes que Dominic pudesse terminar seu grito de protesto, um buraco foi aberto nas camadas das trevas.