Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 141
Capítulo 141: A Caçada (4)
Algo havia mudado. A dissonância que afetava os sentidos de Eugene estava lentamente se tornando mais prevalente conforme ele avançava.
No entanto, ele não sabia dizer claramente de onde vinha essa dissonância. Ele havia verificado repetidamente com Akasha, mas não parecia ser um feitiço. Isso era um efeito colateral do poder demoníaco? Mas se fosse algo assim, não havia como Eugene não ser capaz de reconhecê-lo.
— Sir Eugene. — Mer de repente falou. Ela estava olhando para a frente com uma expressão que parecia ter comido um bocado de areia. — Isso realmente não é um feitiço, certo?
— Sim. — Respondeu Eugene, olhando para Akasha, que segurava na mão. O poder de Akasha permitia que ele entendesse os feitiços, permitindo que ele visse os segredos da magia por trás deles. Esta floresta não estava sob o efeito de nenhum feitiço.
— No entanto, algo está estranho. — Mer continuou, enquanto olhava seus arredores com os olhos estreitados. — Parece que estamos sendo conduzidos para algum lugar?
— Estamos? — Eugene perguntou surpreso.
— Não é só você, Sir Eugene. Seja mana ou poder demoníaco… Todo o ‘poder’ nesta floresta está sendo reunido em um único local. — Mer deduziu.
Eugene olhou para a bússola que ainda segurava na outra mão. Esta era a bússola que apontava para a concentração mais densa de poder demoníaco, mas o local para o qual apontava não era o centro da floresta. Se alguém confiasse apenas nessa bússola, chegaria a um local completamente diferente do esperado.
E se alguém não tivesse essa bússola? Eles seriam capazes de encontrar seu caminho através da floresta com um método diferente, mas aqueles que haviam treinado nas artes marciais muitas vezes ficavam excessivamente dependentes de seus corpos e sentidos treinados. Confiar em tal método para progredir geralmente acabaria sendo um erro para iniciantes. Somente depois de alguns desses fracassos seus sentidos agora aguçados os ajudariam a encontrar o caminho certo, mesmo em uma floresta densamente arborizada.
No entanto, quando em uma floresta artificialmente ‘emaranhada’ como esta, era até possível que os sentidos de alguém fossem influenciados. Era tão sutil que Eugene quase não percebeu, mas para alguém como ele, que era rápido em entender qualquer situação, toda essa situação parecia uma armadilha flagrante.
“O problema é que eu posso não ser o único pego nisso”, Eugene pensou com pesar.
Feitiço ou não, esse ‘truque’ foi lançado em uma ampla área.
“Para atrair todas as energias nesta floresta… Isso é para neutralizar os Cavaleiros Leão Negro estacionados ao redor do centro da floresta? E os capitães que deveriam estar nos supervisionando? Sem energia para recorrer, eles serão capazes de lutar?”
O mistério de tudo isso fez com que a imaginação de Eugene corresse solta. Seus pensamentos se voltaram para os culpados em potencial. Depois de cruzar as montanhas Uklas, a fronteira de Kiehl ficava bem à frente e, além disso, espalhava-se a floresta Samar. Sempre que os bandidos de Samar precisavam contrabandear algo para Kiehl, a rota mais usada era cruzar as montanhas Uklas.
Uma das principais tarefas dos Cavaleiros Leão Negro era capturar esses contrabandistas que procuravam trazer itens de contrabando para o país.
“Não… Não importa o quão gananciosos eles sejam… Não há como esses tipos escolherem uma briga contra os Cavaleiros Leão Negro assim. Então a única possibilidade que resta é…” Eugene supôs.
Tinha que ser os elfos negros.
“Os elfos negros de Iris estavam em Samar da última vez que verifiquei”, lembrou Eugene.
A princesa Rakshasa queria converter todos os elfos que estavam na propriedade principal.
“Ela não poderia realmente estar pensando em nos fazer reféns e trocar nossas vidas pelos elfos, poderia? Embora aquela garota, Iris, sempre tenha sido uma cadela louca, ela ficou ainda pior depois de trezentos anos?” Eugene pensou incrédulo.
Ele havia feito muitas suposições, mas ainda não havia como dizer a verdade.
Eugene concentrou sua mente e gritou:
— Tempest.
Sua forte convocação alcançou o mundo espiritual. O cabelo de Eugene chicoteou quando o vento ao seu redor começou a tremer.
[Qual é o problema?] Tempest perguntou ao chegar.
— Preciso que você explore a área para mim. — Explicou Eugene. — E procure por Genos Lionheart. Você sabe como ele é, certo?
[Convocar o Rei Espírito do Vento para uma tarefa tão trivial. Hamel, você realmente é o único que…] A voz de Tempest cortou de repente.
— Kyaaah. — Mer então soltou um grito de alarme quando o resto de seu corpo que ainda estava dentro do manto começou a se contorcer.
Depois de alguns momentos torcendo o corpo para frente e para trás, o rosto contorcido em uma careta, ela conseguiu alcançar as profundezas da capa e recuperou Winith.
Winith, agora segurada firmemente nas mãos de Mer, tremia enquanto zumbia.
Recebendo Winith de Mer, Eugene inclinou a cabeça para o lado e perguntou:
— O que há com você? Há algo estranho?
[Hmmm…!] Assim como o corpo de Winith tremia, a voz de Tempest também tremia.
Embora tenha passado um bom tempo desde que Eugene pôs as mãos em Winith, ele raramente tinha visto Tempest mostrar tal agitação.
Fwooosh!
O vento se reuniu em um local. Manifestando seu corpo, Tempest estendeu a mão aqui e ali enquanto se virava e olhava ao redor. A cada gesto de suas mãos, uma rajada de vento soprava, fazendo os galhos das árvores balançarem violentamente.
Embora Eugene não fosse capaz de entender o que Tempest estava fazendo, o que ele sabia era que não poderia ser uma reação a nada de bom. Então não disse mais nada e apenas esperou que Tempest falasse.
[Isso é inacreditável…] Tempest finalmente murmurou.
— O que foi? — Eugene perguntou.
[Os espíritos do vento e os espíritos da terra… Não, todos os espíritos desta floresta estão dormindo.]
— Por quê?
[É as trevas.] Tempest declarou, sua voz ainda trêmula. [A maioria dos seres escolhe dormir quando está nas trevas sem qualquer luz, pois temem imaginar que coisas invisíveis podem estar à espreita na escuridão à sua frente. Hamel, as trevas há muito carregam consigo um ar de mal-estar, pois é uma época em que certos seres sinistros estão livres para vagar.]
— Então o que está acontecendo? — Eugene perguntou.
[Espíritos ainda podem ser encontrados mesmo em tal trevas. Eles são, claro, os espíritos das trevas, mas são mais difíceis de fazer contratos do que qualquer outro espírito. Os espíritos das trevas são indiferentes aos humanos e, além disso, os espíritos das trevas podem até enlouquecer os humanos…] Tempest parou.
Eugene silenciosamente absorveu as implicações.
[As trevas que cobrem esta floresta são as trevas de um espírito. Ele conseguiu engolir uma área deste tamanho e forçou tudo ao seu alcance, incluindo os outros espíritos, a adormecerem. Os espíritos das trevas são geralmente tão fortes quanto sinistros, mas para alguém ter uma influência tão poderosa é…]
— Poderia ser um Rei Espírito?
[Não, não é assim. Não existe nenhum Rei Espírito das Trevas. Portanto, provavelmente ainda é apenas um espírito das trevas de alto escalão que conseguiu engolir este lugar. Hamel, eu sei o quão habilidoso você é, mas este não é um oponente que você possa superar facilmente.] Tempest murmurou enquanto seu corpo se espalhava de volta ao vento. [Genos Lionheart provavelmente está vagando em algum lugar no escuro. É difícil colocar um guerreiro tão habilidoso para dormir, mas torcer seu caminho em círculos é tão fácil quanto uma brincadeira de criança para um espírito das trevas.]
— Então eu preciso encontrar o invocador de espíritos. — Eugene cuspiu enquanto dobrava os joelhos.
Graças às chamas relâmpago dissolvidas em sua mana, ele podia sentir os espíritos da Árvore do Mundo, mas ainda era impossível sentir a presença de outros tipos de espíritos.
Então ele teve que deixar que Tempest encontrasse o espírito das trevas.
Reconhecendo a gravidade da situação, Mer parou de choramingar e segurou com força a ponta do manto. Depois de sentir onde a concentração de poder demoníaco era mais profunda, Eugene chutou o chão e saltou para frente.
* * *
— Jovem mestre? — Quebrando o silêncio de todo esse tempo, Dezra de repente falou enquanto olhava ao redor. — Estamos no caminho certo?
Em algum momento, seus arredores pararam de parecer uma floresta. O sol definitivamente deveria ter nascido agora, mas mesmo se olhassem para o céu, não poderiam ver a luz do sol.
Foi porque estavam muito fundo na floresta? A folhagem era muito densa? Mas não importava o quão densa fosse, poderia realmente ficar tão escuro?
— As bestas demoníacas ficaram mais fortes. — Cyan observou enquanto esfregava um pouco do sangue que havia entrado em sua armadura. — Não importa o quão idiota você seja, pelo menos deveria ser capaz de dizer isso, certo? No entanto, você fez papel de boba agora. Quando aquela manada de chifres pontiagudos nos emboscou, você recuou em vez de esfaqueá-los como deveria!
Dezra corou de vergonha enquanto gaguejava:
— I-Isso…
Cyan gritou para ela:
— O que diabos você estava pensando?! Por que decidiu participar desta caçada quando só tem esse nível de habilidade para mostrar? Mesmo que seja fraca, deve pelo menos assumir a responsabilidade por sua fraqueza e se esforçar mais. Em vez disso, você não passa de um fardo. — Cyan se conteve.
Algo estava estranho.
O erro dela não era algo com o qual ele normalmente ficaria bravo, mas as emoções de Cyan pareciam estranhamente intensificadas. E mesmo tendo percebido essa estranheza, ele ainda não conseguia conter sua irritação. Mas havia alguma necessidade dele se conter em primeiro lugar? Era natural para ele não gostar do que não gostava, então por que deveria tentar suprimir isso? Ele não era o próximo Patriarca da linhagem direta do clã Lionheart?
Por que ele deveria carregar um fardo inútil como ela em um lugar como este? Por que ele, o futuro Patriarca, deveria ficar na vanguarda do grupo, brandindo uma espada para abrir um caminho? Por que ele tinha que acomodar o erro daquela idiota fraca?
“É porque sou o futuro Patriarca”, Cyan lutou para se lembrar.
Um lampejo de determinação interrompeu essa espiral descendente de pensamentos. Cyan respirou fundo e balançou a cabeça. Essa floresta escura parecia estar fazendo com que eles sentissem coisas estranhas. Provavelmente porque haviam ido fundo demais. A concentração de poder demoníaco estava tendo algum tipo de efeito sobre eles…
— Eu… Eu não sou fraca. Para você me chamar de apenas um fardo é–! Eu também estou trabalhando duro. Sempre que o jovem mestre não consegue prestar atenção em sua retaguarda, sou eu quem a está protegendo. E agora, fui eu quem matou o oponente anterior do jovem mestre com minha lança! — Dezra gritou enquanto segurava as lágrimas.
Cyan não era o único a sentir a agitação emocional.
— Além disso, é realmente estranho. É muito, muito estranho! Se você não pode dizer que algo está errado, isso significa que você é o idiota, jovem mestre. Olhe ao nosso redor. Não podemos — não podemos ver nada. Mesmo estando em uma floresta, não vemos nenhuma árvore, quase não se ouve barulho, e até o chão que pisamos é estranho! — Dezra gritou enquanto tirava os sapatos; então, com um baque, ela pisou no chão com os pés descalços. — Uma floresta deve ter terra! Mas mesmo que seja sujeira, nada disso chega aos meus pés! E-E não há pedras também. E não parece que estamos indo para baixo? Que diabos está acontecendo aqui?
— Acalme-se e esvazie a cabeça. Não é incomum ficar confuso devido à influência do poder demoníaco…! — Cyan tentou acalmá-la, apenas para começar a perder a paciência. — Você, você! Você realmente veio aqui sabendo que iria entrar nessa floresta sem ao menos aprender o básico…?!
— Só estou dizendo que foi o jovem mestre que nos conduziu por este estranho caminho! — Dezra devolveu sua acusação.
Cyan tentou conter seu aborrecimento. Ele realmente tentou suprimir isso. Mas quando ouviu Dezra gritar essas palavras, não conseguiu impedir que a raiva dentro dele fervesse. Além disso, ele já deu permissão para ela falar com ele de forma tão rude? Cyan era dois anos mais velho que Dezra.
Cyan cerrou os dentes.
— Essa maldita–!
— Chega. — Gargith, que estava ouvindo em silêncio enquanto eles discutiam, falou de repente.
Seus tons graves pesados cortaram impiedosamente as palavras ásperas que Cyan estava prestes a proferir.
— Assim como o jovem mestre disse, todos nós parecemos estar presos em algum tipo de interferência mental causada pelo poder demoníaco. Estamos brigando, porque nossas mentes foram enfraquecidas. — Gargith disse enquanto se aproximava e pegava Dezra com apenas um braço.
Surpresa por sua repentina falta de peso, Dezra soltou um grito e chutou os calcanhares.
— M-Me solta! — Dezra exigiu.
— Calce os sapatos. — Gargith instruiu calmamente.
As mãos agitadas de Dezra rasparam nas bochechas de Gargith, mas ele apenas manteve a cabeça no lugar sem fazer o menor movimento para evitá-las. Gargith então carregou Dezra para ficar na frente dos sapatos que ela havia acabado de tirar.
— Você… Como você está bem? — Cyan perguntou com uma expressão azeda.
Ao contrário de Cyan e Dezra, cujas emoções correram soltas devido à interferência mental, a expressão de Gargith era tão séria quanto costumava ser.
— É porque uma mente sã habita um corpo são. — Gargith respondeu enquanto flexionava o bíceps em uma demonstração. — Se você construir um corpo tão saudável quanto o meu, jovem mestre, obterá uma compostura que o impedirá de sentir ansiedade em qualquer circunstância.
— Uhhh… — Cyan apenas engoliu em seco em descrença e acenou com a cabeça.
Graças a Gargith ficando entre eles, Cyan e Dezra pararam de brigar. No entanto, a situação deles ainda não era tão boa e, se continuassem avançando, não havia como saber o que poderiam encontrar.
— Tudo bem se forem apenas bestas demoníacas; podemos lidar com elas. — Declarou Cyan depois de balançar a cabeça vigorosamente. — Visto que a interferência cresceu tanto, o centro da floresta não deve estar longe. Já que os Cavaleiros Leão Negro têm direcionado seus esforços de caça nessa direção a partir de ontem… Pode não haver tantas bestas demoníacas quanto tememos que existam.
Este não foi apenas um palpite aleatório. De fato, à medida que a escuridão de seus arredores se aprofundava, a frequência com que eles encontravam bestas demoníacas também diminuía.
— Se algo perigoso acontecer, em vez das bestas demoníacas, provavelmente será por causa dessa coisa afetando nossas cabeças. — Cyan advertiu severamente. — Por exemplo… Dezra, você pode tentar me apunhalar pelas costas com sua lança como fez durante a Cerimônia de Continuação da Linhagem Sanguínea.
— Você está falando sério agora? — Dezra perguntou em descrença.
— Só estou dizendo que é uma possibilidade. — Cyan insistiu enquanto respirava fundo. — Claro, eu acredito em vocês dois. Afinal, aconteça o que acontecer, chegamos até aqui juntos. Não se preocupe com as bestas demoníacas se tornando muito perigosas para lidarmos. Eu sou mais forte que vocês, então posso protegê-los. Tudo o que precisam fazer é dar o seu melhor.
— Quer dizer, sou eu quem tem que tentar o meu melhor. — Dezra murmurou com um olhar abaixado.
Depois de olhar para sua aparência abatida, Gargith deu um tapa nas costas dela.
— Aargh! — Dezra gritou de dor.
— Endireite as costas e estique o peito. — Aconselhou Gargith. — Uma postura tão instável e desleixada só cansa a mente.
— Ugh… — Dezra gemeu, incapaz de discutir com ele.
— Além disso, você tem que acreditar em si mesma. É aí que reside a verdadeira confiança. — Gargith disse enquanto começava a avançar com passos firmes.
Vendo Gargith abrir o caminho à frente deles, Cyan também o seguiu sem dizer outra palavra a Dezra.
— Já que você é mais fraca que eu, não fique na minha frente. — Reclamou Cyan.
— Sim, jovem mestre. — Foi a educada resposta de Gargith.
Eles andaram assim por um bom tempo. Estava tão escuro que era impossível acreditar que pudesse escurecer ainda mais, e tornou-se impossível dizer se a superfície que pisavam era terra ou cascalho. Assim como Dezra havia dito enquanto gritava, por algum motivo, parecia que eles estavam caindo dentro do solo.
Mas era apenas um sentimento. Ainda havia algumas árvores ao redor deles. Sempre que tentavam tocar em algo que parecia brilhar à sua frente, era uma árvore.
No entanto, em vez de tranquilizá-los, isso apenas deixava o grupo de Cyan ainda mais nervoso. Aquilo ainda era a floresta, mas não parecia uma floresta. Se não pudessem tocar a árvore bem na frente deles, eles definitivamente não seriam capazes de dizer o que era.
— Devemos descansar um pouco? — Cyan expirou, sentindo-se ligeiramente tonto.
Gargith também acenou com a cabeça em concordância com essas palavras.
Embora também estivesse morrendo de vontade de descansar, Dezra não se sentia à vontade para expressar sua opinião. Então deliberadamente manteve a boca fechada e olhou para os arredores como se examinasse o local.
— Ah… — Os lábios de Dezra se separaram ligeiramente enquanto gaguejava. — A-Agora… A-Aquilo, eu não sou a única que pode ver aquilo, certo?
— Você está tentando mexer comigo agora? — Cyan exigiu com raiva.
— D-De jeito nenhum. S-Só o-olhe para lá. — Dezra continuou a gaguejar, seu rosto empalidecendo enquanto ela apontava o dedo.
Quando Cyan sentiu a irritação crescer dentro dele, cerrou os punhos. Aparentemente, essa garota tola estava alimentando o equívoco de que o próximo patriarca da família principal ainda tinha medo de fantasmas.
“Tentando algo em um momento como este…” Cyan pensou com um suspiro enquanto se virava para olhar na direção que ela havia apontado.
A expressão de Cyan endureceu abruptamente. Gargith, que também se virou para olhar, arregalou os olhos em choque. Gargith imediatamente tentou agarrar Cyan, mas ele se antecipou a Gargith correndo para frente.
— Jovem mestre! — Gargith gritou atrás dele.
Mas seu grito não conseguiu alcançar os ouvidos de Cyan. Em vez disso, a única coisa audível para Cyan era o som de seu coração batendo tão rápido que estava quase prestes a explodir. Chamas brancas explodiram em vida ao redor do corpo de Cyan e voaram para fora dele como uma juba.
Os pensamentos de Cyan estavam apenas em sua única irmã mais nova, ‘Ciel’.
Os olhos dourados de Cyan ficaram vermelhos. Aquela preciosa irmã dele agora estava pendurada no alto no meio dessa escuridão total. Seu corpo não podia ser visto, com apenas sua cabeça destacada naquela escuridão; seus olhos se fecharam em seu rosto pálido e sem sangue.
Essa cena fez com que Cyan imaginasse um cenário terrível. Bestas demoníacas que comiam humanos não eram raras. Não, de fato, todas as bestas demoníacas podiam e comiam humanos. No entanto, entre elas, havia alguns especialmente terríveis que marcavam seus territórios pendurando o que restava dos cadáveres dos humanos que haviam comido.
Poderia Ciel realmente ter sido comida, deixando apenas a cabeça para trás?
Ele nem queria pensar nessa possibilidade. Cyan soltou um grito enquanto corria em direção a Ciel.
Whoosh!
Mas, felizmente, ele não havia perdido totalmente a sanidade. Em vez disso, naquele exato momento, a cabeça de Cyan estava mais fria do que nunca. Então ainda foi capaz de reagir a um evento inesperado com um salto à frente.
“O que está acontecendo?” Cyan pensou enquanto seu corpo se contorcia no ar e via a espada que o atingira.
Algo como lodo preto estava agarrado à sua lâmina. Mas o ataque não parou por aí. Assim como pensou que a escuridão à sua frente parecia estar se contorcendo, a espada disparou em direção a Cyan mais uma vez.
Ele não podia se permitir ser cortado por ela. Cyan imediatamente chegou a esse julgamento e levantou o braço esquerdo.
Chachunk!
A braçadeira enrolada em seu antebraço esquerdo se separou e formou um escudo.
Este era o Escudo de Gedon, um escudo que podia desviar todos os ataques que recebia para o espaço vazio. A habilidade do escudo era bastante quebrada, mas não era invencível. Era impossível bloquear completamente um ataque que ultrapassasse os limites da mana do usuário.
Woooo!
O espaço ao redor deles tremeu. Embora tenha drenado um pouco da mana de Cyan, ele conseguiu desviar esse ataque de seu agressor desconhecido. Quando Cyan pousou de volta no chão, imediatamente assumiu uma posição de guarda.
“Ela ainda está viva”, Cyan percebeu com um olhar para Ciel.
Embora seu rosto estivesse pálido e sem sangue, ela ainda respirava fracamente. Se sim, então estava tudo bem. Cyan recuperou a compostura e olhou para a frente dele.
— Quem está aí? Você é uma besta demoníaca? Ou talvez… Um humano?
— Sou eu.
O rosto de Cyan se contorceu com a resposta que voltou das trevas.
— Eward?
— Aham.
Embora Cyan pudesse ouvir sua voz, ele não conseguia distinguir a aparência de Eward. Ele ainda não sabia o que diabos estava acontecendo. Por que Ciel foi pendurada assim e por que Eward o atacou?
Mas ele realmente não sabia? Cyan só não queria acreditar. Ele sentiu uma raiva tão grande que mal podia acreditar que tal emoção pudesse pertencer a ele. Como se simpatizasse com sua raiva, as chamas que envolviam Cyan aumentaram de tamanho.
Ele rosnou.
— Você, um filho do clã Lionheart… Realmente enlouqueceu! Sabe o quanto o pai fez para protegê-lo–!
Eward o interrompeu.
— Gêmeos realmente são gêmeos, afinal. Como é que você diz exatamente as mesmas coisas que Ciel?
Eward ainda não mostrava o rosto. Agachado na escuridão, ele riu para si mesmo.
— Eward…! Se você está se sentindo tão satisfeito com seus crimes, então pare de se esconder e mostre-se! Seu maldito filho da puta! — Cyan xingou em voz alta.
— Mas não há necessidade de eu me mostrar. — Eward rejeitou sua exigência.
Squeak… Squeeeeak.
Enquanto Eward desenhava um padrão no chão com sangue vermelho, ele murmurou distraidamente:
— Eu realmente não gosto de lutar.
Cyan xingou mais uma vez.
— Foda-se—
Bang.
O som veio de trás dele. Cyan se encolheu e se virou para olhar para trás.
A primeira coisa que viu foi a visão de Dezra, que havia caído no chão sem ossos.
Ao lado dela, o corpo gigante de Gargith também estava caído.
— Esse arrombado… — Cyan resmungou enquanto segurava o punho de sua espada.
Ele ainda poderia resgatar Ciel e escapar? Se sim, isso não significava que ele teria que abandonar Gargith e Dezra? Não, em primeiro lugar, seria possível salvar mais alguém da situação atual? O mais importante agora não era se importar com outra pessoa, mas cuidar de si mesmo. Então, por enquanto, ele devia fugir por conta própria…
Esta não era uma situação em que ele tinha muito tempo para pensar. Cyan interrompeu com força sua linha de pensamento e saltou para frente. Com Ciel, Gargith e Dezra, não importava o que ele tentasse inventar, seria impossível fugir com os três ao mesmo tempo.
Como o próximo Patriarca, Cyan poderia realmente abandonar sua irmã mais nova e seus vassalos para fugir sozinho? Isso era impossível. Assim, sua investida repentina não era para ser uma tentativa de fuga.
— Hector! — Cyan gritou enquanto balançava sua espada.
Hector Lionheart ergueu as mãos com um sorriso amargo no rosto.
— É muito mais difícil subjugar alguém sem matá-lo. — Murmurou.
O corpo de Hector ficou tenso quando abaixou sua postura. Enquanto Cyan balançava sua espada, Hector se abaixou. A trajetória da espada torceu no meio do golpe. Os olhos de Hector brilharam quando ele afastou a espada que caía com o ombro.
Pang!
A mão de Hector pegou a lâmina.
“Ele pegou mesmo estando coberto pela espada de força?” Cyan pensou enquanto seus olhos se arregalavam em choque.
Com as mãos juntas, Hector segurou a espada com firmeza para que não pudesse se mover. Cyan rapidamente soltou a espada e tentou recuar.
Mas Hector não deixaria Cyan sair tão facilmente. No momento em que Cyan deu dois passos para trás, seu oponente deu quatro passos para frente. Assim, os corpos de Cyan e Hector colidiram.
Tching!
O escudo de aura que protegia o corpo de Cyan foi quebrado.
— Gaagh…! — Cyan engasgou quando seu corpo se inclinou para a frente na cintura.
Bam… Bam, bam, bam!
Os punhos de Hector atravessaram sua armadura e atingiram seu plexo solar.
Baaam!
Seu cotovelo esquerdo então bateu na espinha de Cyan, fazendo com que os olhos dele revirassem em sua cabeça.
— Ufa. — Hector soltou um suspiro que estava segurando.
Suas mãos ardiam quando ele pegou Cyan, que havia caído de cara no chão, e o colocou sobre os ombros. Um olhar para suas mãos revelou que elas estavam cobertas de sangue.
— De fato, como esperado do jovem mestre da família principal. — Hector murmurou em apreciação enquanto abria e fechava as mãos manchadas de sangue.
Era verdade que ele havia recorrido a meios bárbaros para subjugar Cyan rapidamente, mas pensar que suas mãos ficariam tão danificadas… Ele realmente sangrou tanto?
Com esses pensamentos, Hector mergulhou mais fundo na escuridão.
— Vai demorar muito? — Hector perguntou impaciente.
— Não muito, mas ainda precisa de algum tempo. — Respondeu Eward.
— Hm… Acho que não seria razoável esperar que você controlasse isso com seu próprio poder, certo? — Hector disse.
Eward caiu na gargalhada.
— Haha… Se fosse possível eu fazer algo assim… Então nem precisaria da sua ajuda.
— Bem, é verdade. — Concordou Hector. — Você gostaria que eu ajudasse com uma oração sincera? Caso contrário, você também pode me dizer se existe um método mais simples.
— Orações são algo que só se aplica a deuses e Reis Demônios. — Corrigiu Eward.
— Heh… — Hector balançou a cabeça com um bufo enquanto olhava para Cyan. — Se é esse o caso, volto mais tarde.
— Onde você está indo? — Edward perguntou.
— O jovem mestre Eugene está se aproximando. — Revelou Hector.
Squeak… Squeeeeak.
A mão de Eward, que ainda estava no meio do desenho do padrão, parou por alguns momentos.
— Você pode vencê-lo? — Eward confirmou.
— Seria mais fácil matá-lo. — Disse Hector, incerto.
Eward recomendou:
— Tente subjugá-lo, se possível.
— Vou dar o meu melhor. — Prometeu Hector. — Em um lugar como este, ainda posso subjugar o jovem mestre Cyan, mas será difícil subjugar o jovem mestre Eugene. Porque todos os nossos planos serão arruinados se você também for pego na luta.
— E se eu te ajudar? — Eward ofereceu.