Reencarnação Maldita - (Novel) - Capítulo 114
Capítulo 114: Floresta (1)
— Bom.
Pat! O homem deu um tapinha nas costas de Eugene com sua mão grande. À sua maneira, ele estava demonstrando afeto, mas sua mão era tão barbaramente grande que seu leve tapinha foi suficiente para sacudir todo o corpo de Eugene.
— Até logo, amigo. — Disse o homem.
— Quem disse que sou seu amigo?
Depois de equilibrar seu corpo, Eugene olhou fixamente para ele.
Seus olhos eram um tanto afiados, mas não parecia tão ameaçador. Devido ao brilho desde bebê, apenas seus olhos pareciam ameaçadores, e ele era objetivamente bonito, muito bonito. Um garoto bonito e carrancudo não era suficiente para intimidar o homem.
Isso era compreensível, o próprio homem parecia muito intimidador. Tatuagens pretas cobriam seu corpo marrom. Havia também várias cicatrizes em seu rosto. Portanto, não importava o quanto Eugene franzisse a testa, não era nada comparado ao rosto sorridente do homem.
Não era apenas este homem. Dezenas de nativos atrás do homem tinham aparências e tamanhos ameaçadores.
Tribo Zoran, eles eram uma das maiores tribos de Samar. O homem ao lado de Eugene era um jovem herdeiro da tribo Zoran. A julgar por sua aparência, era difícil acreditar que ele era jovem; no entanto, o homem tinha surpreendentemente dezenove anos, a mesma idade de Eugene.
— Somos amigos, porque dividimos a bebida.
— Eu só bebi, porque você estava determinado a me fazer beber.
Resmungando, Eugene virou a cabeça.
Ele conheceu a Tribo Zoran um mês atrás, não muito depois de deixar o santuário élfico.
Quando Eugene terminou de disparar raios usando o arco, Raio Pernoa, ele e os elfos partiram imediatamente. Esses nativos não tão inteligentes ficaram surpresos, porque o trovão atingiu o solo como chuva. Ainda assim, correram para a grande migração dos elfos, babando.
Eugene matou muitos nativos, muitos mesmo. No começo, não planejava matá-los, mas descobriu que não poderia pegar leve com eles. Se não os fizesse temê-lo, o número de atacantes só aumentaria e eles continuariam vindo até ele.
Aquela ia ser uma jornada infernal.
No primeiro dia de viagem, ele matou quase cem nativos. O momento da partida deles acabou sendo terrível. Havia um mercado de escravos próximo e muitos guerreiros tribais participavam dele. Para eles, perseguir e caçar cem elfos era apenas uma festa divertida.
Eugene esperava que a emboscada continuasse a noite toda. Para se preparar, discutiu com Kristina sobre o uso da muda da Árvore do Mundo para colocar uma barreira e ficar de olho nas coisas, e talvez pedir reforços.
Evatar, o herdeiro de Zoran, veio visitá-lo. Eugene percebeu que outras tribos estavam descaradamente na ponta dos pés em torno de Evatar, então, em vez de atacar cegamente, Eugene deu as boas-vindas a ele naquele momento.
—Você. Você é forte.
Após apresentar a si mesmo e sua tribo, Evatar sorriu e ofereceu sua mão.
—Eu sei que chama você está vestindo.
—E daí? Você vai se aproveitar disso ou algo assim?
—Se eu fizer isso, perderei muitos guerreiros Zoran.
Evatar não parecia hostil.
—Esses elfos, são seus escravos?
—Não, não são.
—Então o que você está fazendo?
—Vou tirá-los dessa maldita floresta.
—Para onde os está levando?
—Para o território Lionheart.
—Então, se eu te ajudar, ajudo os Lionheart.
Evatar nem pediu permissão a Eugene. Quando Evatar sinalizou para seus guerreiros, eles plantaram bandeiras de Zoran ao redor do acampamento.
Era isso. Os nativos de Samar tinham mais medo de Zoran do que de um forasteiro que lançava relâmpagos, provocava uma tempestade e atirava Deus sabe o quê.
Evatar e os guerreiros Zoran se tornaram seus guardas voluntários por um mês, durante toda a jornada pela floresta Samar. Apenas viajar com eles era o suficiente para fazer com que outras tribos não atacassem mais.
— Vou visitar os Lionheart algum dia.
— Já lhe disse várias vezes, mas não pedi para fazer isso. — Respondeu Eugene.
— Isso não muda o fato de Zoran ter ajudado você.
Durante a viagem, Eugene conversou com Evatar sobre muitas coisas.
Os nativos de Samar não gostavam do Império Kiehl. Para eles, o Império Kiehl era apenas um invasor que entrou na floresta tropical sem permissão, arruinou a floresta como bem quis e continuou tentando fazer da floresta parte de suas terras.
A maioria das tribos pensaria assim, mas era diferente com as Grandes Tribos. Não era exagero chamar as Grandes Tribos, localizadas no meio da grande floresta tropical, de pequenos países. Uma tribo daquele tamanho geralmente se envolvia com várias partes, e isso também se aplicava à tribo Zoran.
— Eugene Lionheart. Mesmo que você não se torne o Patriarca, os Lionheart não serão capazes de ignorar sua presença e poder. — Disse Evatar.
Quando Eugene conheceu Evatar pela primeira vez, este último lembrou a Eugene de Moron. Eles não se pareciam em nada, mas eram gigantes musculosos e não falavam muito bem a língua comum.
— Quero me tornar seu amigo por isso. Temos a mesma idade e somos fortes. Não será ruim para você se tornar meu amigo.
Acontece que eles eram diferentes, afinal. Evatar era mais inteligente que Moron.
— Acho que você se beneficiou mesmo, não é? Se eu não protegesse você e os elfos, não teria chegado até aqui hoje.
— Então eu teria morrido no meio do caminho?
— Haha! Você não. Você é forte. Mas. Você, Signard e Kristina não seriam capazes de proteger cem elfos sem uma cicatriz.
Evatar gargalhou e deu um tapa nas costas de Eugene.
— Seria muito difícil. Levaria mais tempo para chegar aqui e você ficaria muito cansado.
Eugene não negou. Era a verdade inegável que os guerreiros de Evatar e Zoran tornavam a jornada realmente confortável. Sem eles, o grupo de Eugene teria que parar e se fechar dentro da barreira. Se eles tentassem pedir reforços, a jornada teria se tornado mais longa, pois seriam forçados a ir e voltar.
— Não vou pedir algo materialista. — Disse Evatar enquanto sorria. — Algum dia, quando eu visitar a mansão dos Lionheart. Só espero que me receba como seu convidado.
— Isso eu posso fazer.
Eugene também acreditava que era bom fazer uma aliança com Evatar. Ele não tinha certeza se iria visitar Samar no futuro, mas não havia mal nenhum em se tornar amigo do herdeiro de uma Grande Tribo.
“Eu também consigo entender a situação deles.”
Helmuth apoiou a liberdade dos nativos de Samar. A razão pela qual o Império Kiehl não podia simplesmente enviar o exército para conquistar Samar era que vários países, incluindo Helmuth, estavam mantendo o Império Kiehl sob controle. Como tal, havia algumas tribos que faziam trocas diretamente com os demônios em Helmuth.
A tribo mais poderosa de todas era a tribo Kochilla. Eles eram a maior tribo da floresta Samar e também governavam várias tribos próximas. Considerando seu tamanho, seria natural que existissem muitos rumores sobre a Tribo Kochilla, mas não havia nenhum. Em parte, devido ao fato de suas terras serem no sertão do sertão, e em parte, devido ao fato da tribo ser excessivamente isolada. Eles nunca participavam do mercado de escravos como a maioria das tribos e, além das tribos que governavam, nunca fizeram trocas com ninguém.
Eugene não achava que Kochilla ou uma tribo afiliada a Helmuth estava por trás de Barang, mas ele tinha que ficar em guarda, já que Helmuth estava envolvido.
Ele não disse isso em voz alta na frente de Evatar. Não era uma coisa ruim fazer uma aliança com a Tribo Zoran, mas Eugene ainda não confiava no brutamontes. Ele se beneficiou de Evatar e da Tribo Zoran durante sua jornada, mas era muito cedo para confiar neles.
— Não me importo com visitas, mas não tente entrar escondido. Se você for vir, passe pelos canais apropriados e me envie uma carta antes de fazer isso.
— Eu tenho bom senso. — Evatar gargalhou.
* * *
Ancilla Caines, a segunda esposa do Patriarca Lionheart, começou seu dia bem cedo.
Ela geralmente acordava antes do amanhecer, mas não saía do quarto imediatamente. Embora seu marido, Gilead, e seus adoráveis filhos não estivessem na casa principal no momento, ela queria manter sua dignidade como a segunda esposa da prestigiosa casa Lionheart.
Ela tinha que estar sempre perfeita. Nunca poderia mostrar aos outros seu rosto maltrapilho depois de acordar. Foi por isso que Ancilla começou a se preparar sozinha, sem a ajuda da criada, logo após acordar.
Ela tomou banho, secou e penteou o cabelo, se maquiou e escolheu a roupa para o dia. Embora não tivesse planos de sair e nem receber convidados esperados, isso não a impedia de fazer o possível para parecer decente.
Depois de horas de preparação, o sol finalmente nasceu. Se o Patriarca e seus filhos estivessem na casa, ela tomaria café da manhã com eles. No entanto, havia apenas Ancilla e Gerhard lá agora.
Ela não queria parecer hostil e fazia questão de se dar bem com ele. Ainda assim, comer sozinha com ele… Era bastante estranho. Gerhard também sentia o mesmo, então eles raramente compartilhavam a mesma mesa.
A manhã daquele dia foi como uma manhã normal, Gerhard no anexo e Ancilla na casa principal.
Acompanhada por uma criada, Ancilla sentou-se à mesa e sentiu o cheiro do café em sua xícara. Uma xícara de café sem um grão de açúcar e um prato de salada fresca estavam à sua frente. A ‘dignidade’ que Ancilla buscava incluía a aparência. A dieta limpa e o exercício regular faziam parte de seus esforços para mostrar dignidade como a segunda esposa do Patriarca Lionheart.
Ela não valorizava apenas a aparência, no entanto. Enquanto o Patriarca estava fora, Ancilla cuidava de todos os assuntos da casa principal, principalmente dos eventos sociais.
Houve muitas festas durante o ano novo. Haveria uma festa organizada pelo Marquês Ragos na próxima semana. O convite dizia que a festa era para comemorar o ano novo, mas Ancilla sabia que a festa era na verdade para mostrar o poder de Ragos.
Não era raro nobres fazerem isso. A maioria das festas de nobres de alto escalão eram para mostrar seu poder. Os nobres mantinham uns aos outros sob controle, exibindo-se tanto em termos de festas chiques, quanto na classe de convidados. Eles também revisavam seus relacionamentos verificando quem recusou os convites e quem foi à festa de quem.
— O marquês Ragos e o conde Berid vão dar as festas na mesma data. Eles estão sendo muito óbvios. — Ancilla bufou.
Ela recebeu os convites de ambos. Como a casa de maior prestígio em Kiehl, não, do continente, o clã Lionheart poderia participar de qualquer festa. Os anfitriões eram os que estavam preocupados com a presença dos Lionheart.
“De qual festa devo participar…” Ancilla se perguntou com alegria e entregou o relatório depois de verificar a lista de convidados.
Nesta reportagem, havia muita informação além da festa. Era sobre os vários rumores sobre os descendentes colaterais dos Lionheart, de quem se casou e deu à luz filhos a…
— Puh.
Ancilla cuspiu o café perfumado em sua boca. A serva chocada se aproximou, mas Ancilla não se importou com a serva e sua dignidade como segunda esposa.
— O que há com este relatório?!
Ancilla saltou de seu assento, estremecendo. Ela examinou o relatório manchado de café várias vezes. Sentindo-se tonta, ela caiu de volta na cadeira.
“O que diabos está acontecendo com ele… O que ele fez?”
O relatório também incluía o paradeiro e o status de Eugene. No dia anterior, Eugene havia voltado pelo portão sul do Império Kiehl.
Isso por si só foi o suficiente para surpreender Ancilla. Quando ele deixou Kiehl em primeiro lugar? Ela sabia que Eugene havia deixado o castelo dos Cavaleiros Leão Negro. Ela não sabia seu destino exato, mas presumiu que fosse em algum lugar do Império Kiehl.
No entanto, o relatório disse que Eugene havia chegado ao Império pelo portão sul. Sul. Floresta Samar. Quando? Por que Samar?
Também não era só isso. Até o portão sul, Eugene foi escoltado pela Grande Tribo Zoran, uma das tribos mais poderosas de Samar.
— E elfos?
Ela não tinha ideia de por que Eugene se envolveu com os bárbaros de Samar em primeiro lugar, mas agora Eugene também trouxe cem elfos e três árvores flutuando acima de suas cabeças?
— E árvoreeees?!
Ancilla beliscou sua coxa, perguntando-se se estava sonhando. Doeu, o que significava que não era um sonho. Este relatório inacreditável era tudo verdade.
Eugene foi escoltado por nativos de Samar, liderando uma centena de elfos, com três árvores flutuando acima de suas cabeças. Na frente do público, ele passou pelo portão, passou a noite na cidade do sul e chegou esta manhã ao portão de dobra na capital Ceres…
O relatório era ridículo demais.
Ancilla voltou a si tardiamente e primeiro limpou o café da boca com o lenço.
— A carruagem… Traga a carruagem…
— Senhora Ancilla.
O mordomo da mansão se aproximou apressadamente de Ancilla.
— Recebemos uma mensagem do portão de dobra.
— Que mensagem…?
— O portão de dobra em Ceres está pedindo para ser conectado…
— Para quem?!
— Mestre Eugene, minha senhora…
Curvando o ombro, o mordomo respondeu. Ancilla gemeu enquanto segurava sua cabeça.
— O que há com essa criança?
— Perdão…?
— Não recebi relatos sobre ele indo para Samar, então por que está vindo de Samar?
— Hum…
— O que há com os elfos? Ele não trouxe apenas um ou dois elfos, mas uma centena deles? De onde diabos trouxe aqueles elfos em primeiro lugar? Claro, Samar! Por que ele trouxe CEM ELFOS DE SAMAR?!
— …
— Por que tinha árvores flutuando acima de sua cabeça! Por que está fazendo essas coisas abertamente! Por que se voluntariaria para ser um palhaço!
— Isso… Não tenho certeza…
— Deixe-o fazer o que quiser!
Depois de gritar, Ancilla caiu em seu assento novamente.
— Prepare a carruagem.
— Você vai encontrá-lo?
— Não devo encontrá-lo? Não devo conectar o portão de dobra e apenas pedir que ele ande?
Arrependido da pergunta, o mordomo baixou a cabeça sem responder.
— Como ele pôde fazer isso? Aquele… Aquele mald- Aquele menino… Menino travesso!
Enquanto recuperava o fôlego, Ancilla cerrou os punhos.
— Oh, meu Deus…
Depois de despejar sua raiva no mordomo, Ancilla sorriu gentilmente para Eugene, que passou pelo portão.
— Nossa… Isso é inesperado. Eles são seus amigos?
Ela estava queimando por dentro. Ainda assim, não podia mostrar a Eugene.
Sete anos se passaram desde que Eugene se tornou um filho adotivo da casa principal, e Ancilla nunca perdeu a compostura na frente dele em todo esse tempo.
— Um, dois… Nossa… Você trouxe tantos… Tantos amigos.
— Você está brava?
Eugene viu os olhos de Ancilla tremerem.
— Ah, não… Brava… Por que eu estaria brava? Não há nada para ficar brava em trazer amigos.
“Acho que está brava…”, pensou Eugene.
Ancilla falou muito gentilmente. Eugene lançou um olhar para os servos e cavaleiros atrás de Ancilla.
Ele encontrou os olhos de Hazard, o capitão da segunda divisão. Hazard curvou ligeiramente o ombro e moveu os lábios.
— Hum… Eles não são amigos. — Disse Eugene, depois de olhar para trás.
Incluindo Signard, cem elfos estavam atrás dele.
— Então… Quem são eles?
— Família.
— Família…? Eugene, não tenho certeza do que você está falando agora.
Ancilla levantou seu leque de penas para esconder o canto de sua boca.
— Hum… Eles são mais vizinhos… Do que família.
— Você me confundiu.
— A floresta da casa principal não é grande? — Eugene perguntou inocentemente.
— A floresta é… Grande. Tem muitas árvores. E quais são as árvores sobre sua cabeça?
— Vou plantá-las na floresta.
— Já não há muitas? Por que essas árvores especificamente? Existe uma razão para você trazer algumas árvores flutuando acima de sua cabeça?
— São árvores caras e raras.
— Isso é bom. Então, o que os elfos têm a ver com a vasta floresta…
— Vou deixá-los viver na floresta. — Disse Eugene enquanto sorria sem jeito.
O leque na mão de Ancilla foi esmagado.