Histórias de um Maluco com a Mente Perturbada - Capítulo 3 O Diário
1915, Trincheiras da Frente Ocidental
Eu estou aqui, em meio ao barro e ao sangue, cercado pela morte e pela destruição. A guerra é um monstro que nos consome, deixando apenas cinzas e lembranças.
Meus pensamentos são uma mistura de tristeza e solidão. Eu sinto que estou completamente sozinho, mesmo entre meus companheiros de armas. Ninguém entende o que eu sinto, o que eu vejo. A guerra é um véu que nos separa da humanidade.
Eu me lembro da minha vida antes da guerra. Eu tinha uma família, amigos, sonhos. Agora, tudo isso parece um sonho distante. Eu me pergunto se algum dia voltarei a sentir o calor do sol no rosto, a ouvir o som da risada de uma criança.
Arrependimentos me atormentam. Eu me arrependo de ter me alistado, de ter deixado minha família, de ter matado. O peso da culpa é esmagador. Eu me pergunto se Deus ainda me ouve, se Ele ainda me ama.
Saudade é uma palavra que não faz justiça ao que eu sinto. Eu sinto uma falta profunda de tudo o que era bom na vida. Eu sinto falta do cheiro da terra fresca, do som do rio que corria perto da minha casa.
Eu escrevo cartas para minha família, mas não sei se elas chegam. Eu escrevo sobre coisas banais, sobre o tempo, sobre a comida. Eu não posso escrever sobre a verdade. A verdade é que eu estou morrendo por dentro.
Hoje, eu recebi uma carta de minha irmã. Ela escreveu sobre como está difícil para eles, sobre como eles sentem minha falta. Eu chorei. Eu não chorei desde que cheguei aqui.
Eu estou cansado. Eu estou cansado da guerra, cansado da morte, cansado da solidão. Eu quero ir para casa.
Mas eu sei que não posso. Eu sei que estou preso aqui, até o fim.
E então, ontem, eu vi algo que me fez questionar tudo. Eu vi um soldado inimigo, um jovem, não mais de 20 anos. Ele estava ferido, gritando por ajuda. Eu poderia tê-lo matado, mas não o fiz. Eu o ajudei.
Ele me olhou nos olhos e disse: “Danke”. Eu não entendi. Ele disse novamente: “Danke für die Hilfe” (Obrigado pela ajuda).
Nesse momento, eu entendi. Eu entendi que não somos inimigos, somos irmãos. Somos todos vítimas da mesma guerra.
A guerra é um lugar onde jovens, que não se conhecem e não se odeiam, se matam, por decisões de velhos que se conhecem e se odeiam mas não se matam.
Mas é tarde demais. Eu sinto que estou sendo chamado. Eu sinto que meu tempo está acabando.
Eu escrevi essa carta para vocês, minha família, para que saibam que eu os amo. Eu os amo mais do que tudo.
Eu estou fechando os olhos agora. Eu sinto a paz.
[O diário é interrompido aqui. O soldado morreu momentos depois, com um sorriso no rosto.]
Epitáfio
“Aqui jaz um soldado desconhecido, que morreu por sua pátria, mas encontrou a paz em meio à guerra.”
Nota
O diário foi encontrado por um soldado aliado e devolvido à família do soldado. A carta nunca foi enviada, mas foi lida pelo irmão do soldado, que a guardou como um tesouro. O soldado inimigo que o protagonista ajudou sobreviveu e se tornou um ativista pela paz após a guerra. Ele nunca esqueceu o soldado que o ajudou e se tornou um símbolo de esperança em meio à destruição.
FIM.