Capítulo 4 - Demônio Superior
Capítulo 4 – Demônio Superior
Shina já foi um dos mais prósperos reinos de todo mundo. Agora, este reino, junto com os outros 12 reinos caídos, havia se tornado terras que pertenciam à destruição, à morte, e a todos aqueles que fugiam das leis. Eram terras que rejeitavam os que se destacavam demais, especialmente aqueles com poderes, vistos como presas caras.
Axel e Isabel já tinham atravessado grande parte do caminho, cercados de morros de destroços, como um gigantesco lixão, assim era o exterior de Shina. Poços de líquidos desconhecidos e árvores cobertas de um limo alaranjado, ela era uma terra odiada por Deus que se recusava a morrer, abraçando a nocividade da terra morta e se tornando uma com ela e com os céus sujos por nuvens de poeira.
Sendo um lugar que o sol mal tocava, vento fortes e frios eram frequentes, mas nada frescos, trazendo um cheiro nauseante para aqueles que não estavam acostumados. Ao longe, em um quartel, dois guardas passavam o tempo vigiando os arredores, até avistarem nos ventos de poeira, duas figuras vestindo capas que tapavam seus rostos, se aproximando.
— Senhor, tem dois idiotas se aproximando da base. O chefe está esperando algum mensageiro de Servil? — Perguntou um dos guardas, usando um binóculo levemente embaçado pela fumaça de seu cigarro.
— Não mesmo. Mais caçadores de recompensas buscando trabalho? Já não temos caçadores suficientes? — O outro guarda disse, enquanto comia algumas frutas podres, que era o alto padrão local.
— Vamos matar eles. Sempre sobra para nós fazermos a emboscada quando esses idiotas voltam. Se o chefe reclamar é só dizer que eles atacaram primeiro. — O que estava com o binóculo sugeriu, pegando o seu arco encantado enquanto o seu companheiro o observava, esperando que os dois viajantes chegassem mais perto.
— Então, senta a flecha no peito dos dois, não me perturba não. — Ele diz, se apoiando na parede enquanto comia com gosto a sua preciosa fruta. — Humm, gostinho de infância.
— Ia falar que a sua infância foi uma porcaria, mas eu só descobri que frutas existiam no ano passado. — Ele ri, antes de se concentrar nos viajantes.
Enquanto ele se preparava para o eventual disparo, Isabel e Axel caminhavam lado a lado, segurando as capas que envolviam os seus corpos, os protegendo contra aquele vento nojento que era mais forte em volta daquela base improvisada no exterior de Shina, sendo a de Isabel a sua típica capa roxa, enquanto Axel usava uma de cor preta, que foi um pequeno presente de Isabel para o garoto. Todo o era local cercado de montanhas de destroços e lixo, aonde quem andava acabava se questionava se realmente existia alguma terra por de baixo.
— Você sempre deve estar atento quando estiver em um dos reinos caídos, é impossível recuperá-los, e se você parecer fraco, alguém vai tentar te matar. — Isabel falou, a passos calmos e perfeitamente sincronizados um com o outro, independente do vento forte.
— Mas até agora não vimos ninguém. — Tentando se proteger do vento, ele serra um pouco os seus olhos, por causa da poeira, e vê um rato correndo perto de seus pés, com uma cobra na boca.
— Eles nos viram, e sabem que vão morrer se levantarem um dedo contra mim. — Isabel não se preocupava com os inimigos, afinal já havia estado no exterior de Shina muitas vezes, aquela era só mais uma visita desagradável.
— Então, você é famosa por aqui?
— Não é que eu goste disso, mas é normal os Santos Cavaleiros terem alguma fama, mesmo ruim. — Ela estava com um singelo sorriso, ao ver que Axel estava mais falante.
— As histórias dizem que os Santos nem vem a esses lugares, aonde um rato minúsculo estraçalha uma cobra, sem falar nesse cheiro de ferrugem que está mais forte.
Axel usa o pano para tentar não se incomodar com o cheiro que emanava dos morros de metal velho e lixo pelo qual passavam, enojado pela vista que via.
— As histórias não estão totalmente erradas, nos manter bem com os reinos maiores acabou se tornando mais importante, mas, alguns de nós ainda tentam ajudar os mais necessitados. — O tom de voz dela carregava uma certa melancolia, como se tentasse pedir desculpas a ele.
— Eu só quero ser forte, e cuidar de mim mesmo, talvez consiga ajudar outras pessoas sem precisar ser um Santo. — Ao contrário da voz dela, a de Axel era mais calma e suave, com um toque de esperança, apesar da tristeza também ser notável nela.
Isabel ri da resposta do garoto, achando um tanto ingênua, mas ainda assim, vendo graça em suas palavras.
— Para de rir de mim, cacete!
— Ser forte é diferente de ter poder. Você está me pedindo poder, não força. — Quando termina de falar, Isabel percebe que eles entraram em um território visivelmente hostil.
— É a mesma coisa! — O grito que Axel deu em resposta acaba chamando a atenção daqueles que estavam os observando.
— Não é só a sua altura que é pequena, mas, pelo visto, a inteligência também. — Com um tom de deboche na voz, ela envolve a sua mão em raios, lentamente a levantando na altura de seu rosto, e segura uma flecha que foi disparada contra eles. Em seguida, ela olha diretamente para o alto dos muros da base a qual eles iam visitar, fitando o engraçadinho que a atacou.
— De onde veio isso?! — Axel, espantado e inseguro, puxa a sua adaga, e começa a buscar, em meio aquele lixão ambulante, quem foi que os atacou, até notar que o olhar de Isabel já estava direcionado diretamente para eles.
— Se eles acreditam em um Deus, é bom rezarem agora. — Ela diz, quebrando a flecha.
— Vai mesmo matar eles?! — Axel se esconde atrás de um pedaço de parede todo destruído, dando um peteleco em uma barata que estava no seu ombro.
— Fique perto, use a sua adaga nova para desviar as flechas que conseguir, é treino. — Isabel puxa a sua própria adaga e corre em alta velocidade, com raios saindo de seus pés e a impulsionando ainda mais, deixando marcas de queimadura no chão, enquanto ela corria.
— Que droga de treinamento é esse, sua miserável! — Axel escala um pouco dos destroços, tendo dificuldade para correr por aquele amontoado de lixo sem escorregar ou pisar em falso. — Primeiro me pede para ficar perto e em seguida sai correndo.
Os estouros de raios criados pela Santa Cavaleira eram justamente o sinal que os fantasmas precisavam para iniciar o seu ataque. Os morros eram locais fáceis de se camuflar já que não possuíam uma forma uniforme, era um gigantesco amontoado de destroços, tanto o caminho quanto a base eram locais planificados artificialmente por aqueles que ali viviam, porém, de forma imperfeita, por falta de mão de obra e ferramentas adequadas.
Os Fantasmas atacavam com precisão e silêncio, quase como se não estivessem ali, o único som que os guardas ouviam, era o último som que os fantasmas produziam antes de os matar, ou o som de uma flecha mágica rasgando a sua pele. Ao contrário de Isabel, que era barulhenta e chamativa, eles já haviam se posicionado de forma que a Cavaleira era quem atraia toda atenção, lhes fornecendo tempo e oportunidade para penetrar a base, sem problemas.
— A segurança exterior é exatamente como ele descreveu, ridícula. Mas existe uma boa quantidade de metal refinado neste lugar, e esse cheiro podre que exala do metal, com certeza foi refinado a partir desse lixo todo com alguma magia alquímica. — Isabel fala, sabendo que o Líder Fantasma 3 não só a observava, como também estava perto o suficiente para ouvi-la. — Já encontrou a entrada para o interior dessa base?
— Sim senhora. Mas não devemos esperar o Santo Aprendiz Axel? — Perguntou ele, revelando a sua posição nas sombras, inspecionando a qualidade daquele metal.
— Como se essa desgraçada ligasse para isso. — Axel resmungou, um pouco ofegante, ao surgir com outro soldado fantasma que havia o ajudado no caminho.
— Ei, eu ligo sim baixinho, você que tem que saber melhor onde pisa, eu deixei uma trilha para você. — Ela repara em seu olhar irritado, em como ele era fofo quando ficava assim, e no fato de que ele havia surgido na direção do vento, ao invés de contra ele, como quando estavam juntos.
— Perdi a parte em que eu me tornei um adivinho? — Axel se aproximou dela, e acabou deixando a irritação de lado, ao ver os corpos mortos naquele local.
O Líder Fantasma 3 entendeu que o seu soldado havia demorado mais porque havia guiado o garoto por um caminho sem vítimas, evitando que ele tivesse contato com o combate, até mesmo Isabel havia percebido, com um ar de compreensão.
— Vem, o fantasma 3 vai nos guiar até a entrada. — Isabel toca o ombro de Axel de forma suave, o guiando enquanto seguiam os soldados.
— Isso foi mesmo feito por esses caras? — Axel se impressionou ao ver os detalhes da estrutura anterior, feitas para serem elegantes.
Cada detalhe daquele lugar, embora estivesse todo sujo e mal cuidado, deixava claro que um dia foi um lugar bonito, as paredes eram detalhadas como se fossem esculpidas a mão, até o desgaste da pintura era suave, dada a qualidade em que o local havia sido pintado. Isabel caminhava como se tentasse reconstruísse o lugar em sua mente, através do que via.
— Não mesmo, sei a capacidade que eles têm de fazer algo grande, mas refinado assim? Roubaram de alguém ou tomaram o lugar já abandonado.
Isabel usa a sua mão para criar uma esfera elétrica, que dava a eles iluminação necessária para prosseguir pelo caminho.
— Se me permite a observação, a quantidade de pessoas no lado de fora não condiz com a inexistente quantidade aqui dentro, algo estava fora das estatísticas. — Observou o Líder Fantasma.
— Retornem a entrada, aqui tem tão poucas pessoas que, claramente, é uma armadilha, é melhor que não sejamos cercados em um local desconhecido. Já que fizeram a análise exterior, sei que pensará em algo até que eu e Axel voltemos.
— Sim senhora. Homens, recuem agora e montem a linha de defesa, formação trovão interno. — No instante seguinte, o Líder fantasma desaparece, se camuflando nas sombras.
No alto dos destroços, em uma grande pilha de sucata mais ao longe, um homem envolto de raios vermelhos, que usava uma armadura preta, coberta de sangue seco, e uma máscara que escondia parte de seu rosto, olhava fixamente para a base, com o seu único olho funcional. Ele se contorcia com a enorme vontade de se mover, enquanto se mantinha ali de pé, com a respiração lenta e profunda.
— Vanhad não veio, mas outro membro da Salvadora está aqui. — O homem com a voz apática diz, enquanto a voz doce de uma mulher respondia em sua mente.
— Sim, posso ver através de seu olho. Mate a Isabel da Salvadora, depois de eliminar os soldados de Vanhad, quero o que sobrar do corpo dela, especialmente, a sua cabeça.
Axel e Isabel ainda caminhavam pelo interior daquela base, passando cautelosamente pela porta de cada um dos quartos sem sequer abrir alguma delas, sendo impossível não notar a atmosfera daquele lugar frio e fétido. Os corredores eram grandes, porém, apertados com os destroços. O aspecto de morte transformava aquele lugar quase que em um cemitério ambulante. Ao contrário de Axel, que apenas sentia a atmosfera transmitida pelo local, Isabel sutilmente eletrizou o ar, como se formasse uma barreira de radar, sentindo a quantidade de pessoas mortas e o que cada quarto abrigava.
— Esse carregamento fede assim mesmo? Não abrimos nenhuma porta e esse cheiro de merda só piora. — Axel tapa o próprio nariz, que arde com tamanho fedor, se perguntando como Isabel não era nem um pouco afetada por aquilo.
— As primeiras portas são as mais inúteis, sempre armas ou dormitórios. Bom, inúteis, no caso, se você quiser esconder algo. Em lugares podres como esse, você tem que ir bem no fundo para achar o que mais é podre e o que mais tem valor. — Com uma voz suave, Isabel mostrava o quanto aquele ambiente não a afetava, dando leves sorrisos a Axel, mesmo que ele não a encarasse de volta, fato este que a deixava um pouco sentida.
— Como é que você consegue aguentar esse cheiro horrível?
— Você é quem tem o narizinho fraco, baixinho. — Caçoou Isabel, dando um leve peteleco no nariz de Axel, e desviando em seguida do tapa irritado do garoto, enquanto eles corriam até o final do corredor.
— Acabou o lugar para onde correr, é? — Axel tenta fazer uma piada, mas acaba sentindo o seu coração bater fora de ritmo, como se algo naquela sala estivesse totalmente errado.
— Seja o que for, encontramos.
O tom mais quieto na voz dela deixava claro o seu nervosismo sobre se devia abrir aquela última porta ou não. Então, ela põe a sua mão na superfície dela, tentando sentir se tinham pessoas por trás daquela passagem.
Seus corações pareciam se apertar a cada segundo, e Isabel, lentamente, abre a porta, se escorando nela e pedindo para que Axel fizesse silêncio. Ao abrir por completo, uma fumaça roxa começa a sair pelo chão, não por ser um veneno tóxico, mas sim por causa da podridão naquele local, que já havia se juntado de tal maneira que estava se tornando miasma.
— Para trás. — Isabel fecha a porta outra vez, se afastando com Axel.
— O que era? O que tem lá? — Axel dá um tapa leve, para tirar a mão de Isabel de seu peito, e se afasta por conta própria.
— Fique longe suficiente para ainda poder ver a sala, posso precisar de ajuda.
Isabel estica a sua mão na direção da porta, com uma potente rajada de raios a destruindo, criando uma pequena aura elétrica em volta de si mesma, para combater o miasma, ao adentrar a sala.
Aquela sala possuía um fedor inigualável, sendo a putrefação de todos que estavam mortos ali dentro, de humanos a demônios, ligados por correntes de poder, que iam até o centro da sala, com um enorme cristal de poder rubro, com o tamanho de cerca de 40 centímetros. Ele emanava uma energia maligna, que tornava o ambiente mais pesado. O miasma roxo que percorria a sala, fazia as pernas de Isabel queimarem como se, pouco a pouco, estivessem se corroendo, mesmo as suas botas não conseguiam protegê-la com tanta eficiência, o que limitava o seu tempo ali dentro. Até mesma a proteção de sua aura tinha baixa eficiência, pois consumia bastante de sua magia.
A sala tinha um tom de iluminação esverdeada, pelo musgo que cobria o local nada higiênico, havia diversos documentos espalhados pelo local, onde o miasma não tocava. Quem quer que estivesse ali, deveria ter saído às pressas ou assassinado todos que já estavam ali dentro.
Axel observava a sala como um grande breu, a fumaça roxa saindo por todo o chão velava toda a sua vista, exceto o próprio cristal que mantinha a sua forma original, já que o medo que o consumia naquele momento não afetava o cristal. Enquanto Isabel só sentia raiva de tamanha perversão à vida, torcendo o seu próprio pescoço, e sentindo um arrepio familiar. Lentamente, ela ergue a sua mão na direção do cristal, disparando raios pela sala inteira, com o objetivo de destruir e queimar tudo ali, ação esta que fez os olhos de Axel se fecharem rapidamente, por causa do forte brilho dourado.
— Filhos da puta, quantas pessoas eles mataram para criar um cristal desse tamanho?! — Isabel, estando furiosa, acaba tornando os seus raios, que eram dourados, em roxos, por um momento. Ela não estava conseguindo destruir o cristal, sentindo o seu corpo esquentar aos poucos. Então, ela percebeu que se tentasse destruí-lo, o seu corpo sofreria algum dano no processo.
— Por que não consigo ver o que mais tem aí? — Axel estava atônito ao notar que as únicas coisas que podia ver, eram a imagem nítida do cristal e a própria Isabel, envolta de raios que, por um instante, haviam desaparecido.
— Acredite em mim, se eu pudesse escolher, também não gostaria de saber o que têm aqui. — Ela envolve o cristal, para que pudesse esconder o seu brilho, ignorando o resto da sala, pois queria sair logo dali. — Que na morte as suas almas encontrem a paz que os seus corpos não puderam encontrar em vida.
Ela sussurra, baixinho, quando chega a porta, enquanto queima a sala com os seus raios, e sai dela em seguida.
— Então, é isso o que tinha lá? — Axel associou o seu medo com o fato de ele não poder ver o que tinha lá dentro, mas, ao escutar a breve oração de Isabel, se perguntou o porquê dela lhes desejar paz, afinal, para ele eram apenas corpos de demônios mortos que tinham ali.
— Axel, corre para fora o mais rápido que conseguir, eu vou seguir seu ritmo. — Com um falso sorriso no rosto, ela pôs o cristal embrulhado nas mãos do garoto, enquanto tentava esconder a raiva daquele lugar.
Axel ainda tremia pela sala escura estar retirando a sua atenção, mas a fala de Isabel o mandando correr, o faz despertar e correr para longe dali, tendo um pequeno alívio nisto.
— O que essa coisa tem de tão importante, afinal?
— Magia profana, criada através da morte. Preciso descobrir se foi Servil quem criou ou se ele estava atrás do cristal, à vida dele vai depender muito dessa resposta. — Isabel mantinha as suas emoções sob controle, porém, permanecia com um olhar sério em direção ao cristal.
Axel se sentia estranho em relação àquele cristal, era como se ele o chamasse de alguma forma, trazendo calma ao seu coração. Com aquele ambiente não mais o afetando tanto quanto antes, ele sentia o seu corpo mais leve, enquanto a sua velocidade de corrida aumentava, naquele corredor fétido.
Enquanto isso, do lado de fora da base, a destruição através de raios vermelhos, misturados com fumaça e poeira, chamava a atenção de desordeiros próximos ao local. O homem de armadura negra enfrentava problemas com o esquadrão de soldados fantasma. Ao mesmo tempo, o esquadrão fantasma também estava com dificuldade de acertá-lo, devido a sua velocidade de defesa e por causa dos seus raios vermelhos, que eram disparados fora de controle, tentando acertar o que o homem não conseguia ver.
“Insetos pequenos, irritantes, baratas numerosas.” Sussurro murmurava para si mesmo, usando a sua armadura como parâmetro para tentar deduzir de onde vinham as flechas, disparando raios naquela mesma direção, dado o seu limitado campo de visão.
— Então, esse é o famoso Sussurro? — A voz do Líder Fantasma 3 saia sem muito volume. Ele disparou uma flecha de luminosidade, a qual explodia com um grande flash se tocasse em algo sólido ou mágico, tornando o campo de visão do guerreiro sombrio ainda mais limitado.
Por questão de circunstância, o esquadrão fantasma havia destruído todas as entradas locais da base, para que na ínfima possibilidade de serem derrotados, o inimigo tivesse mais dificuldades para encontrar a entrada para a área correta, o deixando constantemente cego.
No entanto, a batalha tendia a se tornar maior do que já estava, afinal, todos sabiam o preço que valia a cabeça de algum Demônio superior ou um de Santo. Aquela seria a oportunidade perfeita para que os criminosos e piratas locais pudessem adquirir um alto lucro.
— Se ficarem muito para trás, vamos roubar a recompensa de vocês, idiotas! — Gritou um homem com a aparência de um pirata, brandindo as suas duas espadas, e fazendo um pequeno corte na perna do Demônio superior.
— Kyyyaaargh! — O Demônio superior, com a velocidade de seus braços, o afundou no chão, atravessando o peito do pirata e estourando um raio na direção que ele havia vindo. Ele se guiou pelo som daqueles que gritavam ao serem atingidos por partes daquele corpo, indo atrás de cada voz, matando em meio a própria cegueira cada um daqueles que ele podia ouvir a respiração, estes que expressavam o seu medo por ele enquanto tentavam se salvar.
— Deixem com que ele vá atrás dos piratas, mesmo que tenham reforços, não chegarão a tempo. — Ordenou o Líder Fantasma, antes que o Demônio superior aparecesse em sua frente, com os olhos arregalados, embaixo daquela máscara.
— Então, você é o Líder deles. — Sussurro, com um largo sorriso no rosto que só era possível de saber por causa da expressão em seus olhos, criou uma lâmina de raios em segundos.
A armadura e roupa do Demônio superior cobria quase toda a extensão de seu corpo, da boca até os pés, com pequenos espaços, incluindo o seu pescoço, o qual mostrava a sua pele de coloração humana. Um de seus olhos possuía a coloração totalmente avermelhada, e o outro tinha apenas a íris avermelhada.
Seu olhar era amedrontador, enquanto ele se engasgava com a própria gargalhada. Era um olhar de insanidade, como se ele próprio estivesse prestes a ser empalado quando, no entanto, a realidade era que ele é quem estava pronto para atravessar o peito do Líder fantasma. Isso até ele ouvir o som de uma grande explosão de raios dourados, onde a sua cabeça se manteve parada, mas o seu olho lentamente se direcionou para aquela direção.
Aquela cortina de fumaça que havia se levantado dos destroços, aos poucos se desfazia, revelando a figura imponente de Isabel, que saia sozinha, mantendo a seriedade em seu olhar, e fitando diretamente nos olhos dele, quebrando a sua expressão com uma risada, em tom de superioridade.
— Olha só, o Sussurro ganhou partes novas na armadura, o que houve, quebrei muito a antiga? — Isabel questiona, puxando a luva que cobria o seu braço direito, com a boca, mostrando-o envolvido em raios, que logo passam para a sua adaga, a transformando em uma espada de raios.
O Demônio superior ignora completamente a presença insignificante do Líder Fantasma, indo diretamente para Isabel, com um olhar assassino, fazendo um som de “Shhh”, com o dedo em frente a sua boca, em sinal de silêncio, enquanto caminhavam um em direção ao outro.
— Não precisa se preocupar com a minha armadura antiga, assim como o seu braço esquerdo, ambos agora são inexistentes. — Ele rebateu, enquanto apertava o seu próprio pescoço, diminuindo o tom de sua voz.
— Que fofo, se quiser eu arranco o seu braço também. Líder Fantasma, eu cuido do Sussurro, podem ir embora. — Isabel fala, com sarcasmo escorrendo em seu tom de voz, confirmando que estava tudo bem ficando a poucos metros do Sussurro, o qual cria uma espada em cada um dos seus braços, cortando o chão. — Truque legal, se me ensinar, prometo que o meu pé não vai parar na sua boca.
— O Cristal! — Sussurro grita em direção a ela.
— Não vai me cumprimentar? Que rude.
Ao longe, Axel observava os dois e a tensão que eles emitiam, ambos os raios se chocavam no ar, como se a estática criada entre eles entrasse em colisão. Ele havia usado a cortina de fumaça como distração para sair sem ser visto pelo Sussurro, acompanhado de um dos membros dos Fantasmas, e enquanto observava, não podia deixar de notar a óbvia diferença entre os físicos dos dois.
Isabel era uma mulher com o corpo bem definido, destacado por sua camisa preta e com uma calça em um tom de amarelo escuro, tendo o seu braço esquerdo tapado pela manga amarrada de sua camisa, e o direito inteiro à mostra, exibindo a sua definição. Seus raios, envolviam seus braços, criavam vívidas marcas, percorrendo todo o seu comprimento até o início de seu pescoço, como uma cicatriz. Medindo os seus 1,78m de altura, ela encarava Sussurro, que era quase meio metro mais alto que ela. Para Axel, quanto mais ele olhava, mais a armadura de Sussurro parecia um compilado de outras armaduras, o que o tornava maior do que realmente era, dando a impressão de medir em torno de 2,17 metros.
— Eu consigo ver ele, será que ela vai conseguir? — Axel estava se sentindo temeroso, mas orgulhoso ao mesmo tempo, por conseguir ver um demônio vividamente.
— Não seria a primeira vez que eles não conseguem matar um ao outro, ela vai se sair bem. — O soldado fantasma diz, confortando o garoto.
O flash de ambos os raios parecia teletransportar um para a frente do outro, as espadas de Sussurro descendo para o corpo de Isabel, enquanto a única espada dela colidia contra as dele, fazendo com que todas as estruturas metalizadas do local darem um choque naqueles que assistiam. E, aqueles que tinham ido atrás da cabeça de um ser poderoso, naquele momento entenderam que, se sequer tentassem intervir naquela luta, não seriam mais do que uma morte colateral para aqueles dois.
— Santo Aprendiz, vamos agora. — Disse o Líder Fantasma puxando Axel, não se importando em assistir aquela luta, sabendo o que ela representava.
— Tudo bem. Temos que levar isso para longe daqui. — Axel concorda, indo ao lado do Líder Fantasma, que agia furtivamente, em uma velocidade a qual ele facilmente conseguia acompanhar.
— Quais foram as ordens da Santa Cavaleira? — O Líder questiona, enquanto guiava o garoto.
— Ela… Ela queria que seguíssemos a missão, descobrir se o Servil sabia desse cristal e, se sim, descobrir o porquê, e não o deixar sair de nossa vista.
Axel que, de forma inconsciente, tentava imitar por onde o Líder Fantasma passava, tendo um ritmo maior do que quando estava sozinho, esconde um sorriso confiante no rosto, pois acreditava que já não tinha mais medo dos demônios.