Capítulo 20 - Estratégias em Movimento
Capítulo 20 – Estratégias em Movimento
A madrugada veio e o treinamento dos três continuou. Remu mostrava a sua mestria como um exímio lutador, ao combater ambos, Holly e Axel, durante parte da madrugada, com ajuda de Holly seguindo o próximo passo do treinamento. Ela usava a sua técnica de Mimetismo das Sombras, permitindo que ela e Axel espelhassem os exatos movimentos de Remu, criando para eles a memória muscular de técnicas um tanto mais sofisticadas.
Como uma poderosa ventania, os movimentos que Remu passava eram firmes, mas não duros, fluidos como uma folha balançando ao vento, e firmes como as rochas contra qual o vento se chocava. Eram técnicas focadas para um uso em velocidade e rápido pensamento.
Da madrugada até o amanhecer, Remu os instruía com conhecimentos básicos e suas formas de sofisticação, posições dos pés, quadril, tempo de passos e combinações de técnicas.
— Não importa o quão afiada é a sua espada, se o cabo não for igualmente forte, ela irá se quebrar. — Disse Remu, enquanto simulava algumas posições de luta de forma precisa.
— Essa espada aqui quer descansar, estou cansada. — Holly respondeu, repetindo os mesmos movimentos de Remu.
— Encontre mais energia, se as suas pernas doem, use mais a força dos pés, se as suas costas doerem, use a força dos quadris. Lutar e dançar, são artes em que você sempre deve achar novas maneiras de fazer os mesmos movimentos.
— Mesmo sem ter o controle total, ainda assim é divertido. — Axel se intrometeu, tendo ainda tanta energia quanto Remu e Holly.
Cansada, Holly desativa sua magia para se apoiar em suas próprias pernas, buscando recuperar algum fôlego em seus músculos doloridos. Sob a luz da lua, ela observava como Axel já havia decorado as sequências de movimento, acompanhando não só o jeito de se movimentar como também a velocidade e precisão de Remu.
Seus olhos brilhavam de nostalgia, pois o que via em sua frente não eram só Axel e Remu, mas sim Isabel e Hita, quando ele as fazia treinar feito loucas.
”Remu e Hita… Nunca percebi o quanto vocês dois eram tão diferentes, e tão parecidos ao mesmo tempo.” — Holly pensou, rindo um pouco consigo mesma.
— Eu não sou muito bom em orientar, porém, é fácil de notar que, se vocês dois fossem meus aprendizes, eu estaria orgulhoso de vocês. — Remu comentou enquanto continuava a treinar com Axel.
Ouvindo tais palavras, com um singelo sorriso e encontrando um pouco mais de forças em si mesma, Holly tenta retornar ao ritmo de treino, esperando que Remu não tivesse percebido a sua pequena pausa anterior.
— Sei que as coisas não estão como vocês dois gostariam, mas amanhã ficará melhor, e quando suas flores desabrocharem, o mundo ficará um pouco mais bonito. — Remu disse tentando confortá-los com a sua voz profunda e calma.
— Você acabou de me chamar de florzinha? — Axel perguntou, perdendo um pouco do ritmo com sua risada.
— Você que foi burrinho e não entendeu. — Holly disse, também perdendo o ritmo por rir de Axel.
— Como é que é?
Acompanhados por Remu, que também se deixou contagiar com a risada dos dois, ele cruza seus braços de forma desleixada, encarando os dois brincando de brigar, com Holly usando um golpe de mata leão envolvendo seus braços em escuridão, disputando uma força equivalente com Axel, sorrindo de forma agressiva, porém alegre, para o outro.
”Mesmo nestas circunstâncias, no fundo os dois são só crianças ainda” — Remu refletiu, com um sorriso preocupado nos lábios.
— Quando isso tudo acabar, se vocês convencerem a Isabel, eu ainda vou ter muito a ensinar para vocês três. — Ele disse, suavizando um pouco a sua expressão.
Surpresa, Holly o encarou, vendo o quão acolhedor ele estava sendo, e ficando sem graça pensando que, se talvez não fosse tão orgulhosa, aquela sensação calma de acolhimento que Remu transmitia poderia sempre ter estado ali, ao invés do velho chato e regrado que ela sempre viu.
Ela sussurrou um “Obrigada.”, sendo retribuída com um sinal de cabeça de Remu.
Embora ainda tivesse dificuldades em relação à bebida, ela começou a beber uma vez ou outra, em dosagens controladas, e estando acompanhada por Remu, que ajudava ela a se soltar um pouco sem exagero, se tornando um momento feliz e em um ambiente controlado, os três estavam formando entre si laços de confiança.
***
Finalmente, os dois dias previstos haviam se passado. Ao longe, no horizonte, Yabu, que liderava o grupo de frente, via o marchar de Demônios avançando, liderados por Azara, que montava um cão demônio de duas cabeças.
Usando o seu novo bracelete, encantado para ajudar na comunicação, Yabu avisa do perigo que se aproximava.
— Comandante Andréas, contato confirmado. Soem o alarme, a hora chegou. — Yabu colocou o seu capacete, guardando o seu óculos habitual.
— Entendido, Comandante Yabu, vamos começar a evacuação para o subsolo. — Andréas confirmou, através de seu próprio bracelete.
Dentro da Castelo Real, Andréas dá o sinal para que soem o alarme. O céu limpo fazia o sol bater quente no chão, e as águas fluíam tão calmas quanto o momento, que foi rompido pelo barulho ecoando por todo lugar. Todos no reino sabiam o que aquilo significava.
A guerra havia chegado ao reino de Alamásia.
Os cidadãos, apreensivos, pegavam seus mantimentos com urgência, pois já estavam preparados para aquela situação. Aqueles que podiam, se escondiam em seus próprios abrigos ou nos de amigos, e aqueles que não podiam, fugiam para os túneis no subsolo do reino, que foram criados em caso de uma guerra iminente. Dentro de um dos abrigos, uma família assustada se abraçava torcendo por sua sobrevivência.
— Mamãe, o papai vai ficar bem, não vai? — A menina perguntou, abraçada a sua mãe.
— Ele vai sim, minha filha… Papai é um grande soldado, um herói. — Ela respondeu, com receio em seu coração, segurando um retrato de seu marido junto a elas e seus dois filhos.
No alto da Muralha, Yabu e outro soldado conversavam enquanto viam pelo reino algumas pessoas sendo direcionadas para os abrigos, e soldados se aprontando para a batalha. Yabu, então, dá um longo trago em seu cigarro, antes de começar a falar.
— Diga-me Lúcios, Capitão da Guarda Real. Já enfrentou algum demônio Superior alguma vez? — Ele perguntou ao homem ruivo, que tinha cabelos até os ombros.
— Não senhor, mas quando se é um soldado, não ter medo é essencial. — Ele, prontamente, respondeu.
— Quando a luta é na nossa casa, e pela nossa família, é normal ter medo. Se não puder lutar, não seja arrogante, recue e salve quantos puder. — Yabu o instruiu, enquanto continuava a fumar, assistindo a marcha dos exércitos em ambos lados da muralha.
— Então devemos agir rápido, quem vencer o primeiro movimento terá vantagem na batalha.
— Vou liderar o primeiro assalto, as linhas de frente fazem mais o meu feitio.
— Estarei ao seu lado para o que der e vier, senhor! — Disse o jovem Capitão, em posição de sentido.
— Dispensar. Arqueiros! Preparem o ataque, assim que entrarem ao alcance, mire em suas bordas, façam com que se agrupem!
Preparados e em posição, os soldados temiam o avançar dos demônios que marchavam. O vento, outrora abundante em todo reino, agora havia estagnado, e o som do companheiro próximo respirando era audível em nervosismo.
”A estagnação do ar é um presságio comum de que algo terrível está prestes a acontecer…” — Yabu pensou, enquanto dava a sua última tragada em seu cigarro, olhando com pesar para a sua cartela. — “Apenas mais três…”
Quando o ataque começa, com os arqueiros liderados por Yabu, flechas são atiradas de volta contra eles, e a guerra, finalmente, se inicia com um som estrondoso vindo do outro lado do reino, uma explosão enorme vinda de uma única vez. Os olhos de Yabu mostravam uma visível surpresa, mas não algo fora dos cálculos.
***
13:21h da tarde – 16 de Junho.
O conflito em Alamásia começou. Armano Yabu liderava as forças de defesa no Portão Norte. Andreas liderava as forças de defesa no Portão Sul, com apoio de Kheolan. No centro do reino para distribuição de forças e cuidados com o Castelo Real, estava Remu Zarfhan.
No hospital, Axel olhava, com um sorriso melancólico, para a sua mestra, fazendo uma pequena carícia em seu rosto, e lhe dando um abraço de despedida, antes de ir assumir o seu posto.
— Mestra Isabel, o Ancião Remu disse que você ia ficar bem, mas ainda estou com medo, sabe? Imaginar que você estaria do meu lado me encorajando, me faz querer estar lá também. Tenho tanta coisa para te contar quando acordar… — Ele disse, sorrindo ainda abatido. — Sorrir em meio a dor não é?… Acho que é o que você teria feito.
Ele se despede dela, vestindo por debaixo do casaco dado por Holly, a camisa de compressão rasgada de Isabel, carregando um pedaço dela consigo para a batalha como um símbolo de coragem. Em sua cintura, ele levava agora a bainha e espada mágica dada por Yabu, para que fosse sua arma de combate.
No Portão Sul, o primeiro estouro havia destruído toda a área do portão e parte do muro, deixando vários soldados feridos. Um exército de demônios distorcidos seguiam Azara, o qual eram vistos, tanto por Yabu quanto Andreas.
— Comandante Yabu, Ancião Remu. O Muro do Sul caiu, Azara está liderando este ataque! — Andreas os alertou pela runa em seu bracelete.
— Se esse é o caso, então tenho a péssima notícia em dizer que tem um Azara liderando os demônios por aqui também. — Yabu os respondeu.
— Se um deles é um impostor, devemos tomar cuidado. Não sabemos quem está se passando por Azara ou o por quê. — Remu os respondeu, analisando o seu pequeno tabuleiro de xadrez, os movimentando de acordo com as informações que obtinha.
— Parem de besteiras! — Kheolan gritou, estourando a cabeça de um dos demônios, e vendo que aquilo era o suficiente para abater os demônios retaliados.
— Mirem seus golpes e flechas na cabeça deles! — Ordenou Andreas, ao notar que aquilo era a única coisa que de fato os estava derrubando.
O Exército do Sul tentava uma invasão em massa, como se os corpos demoníacos não parassem por nada, e esta era a natureza do feitiço celestial jogado naqueles corpos por Sussurro. Ao serem revividos de uma forma impura, seus corpos apresentavam a capacidade que poderiam sustentar, até que fossem, de fato, destruídos, ou que o feitiço fosse desfeito. Era o exército perfeito de mortos vivos.
Andréas lutava lado a lado com seus homens, empunhando a sua glaive com três lâminas, enquanto os muros sofriam com os estouros jogados por Azara, que os liderava com um sorriso assustador, e doentio, estampado no rosto.
Distraídos por outra explosão, desta vez ocorrendo dentro do Reino, o que implicava que, de alguma forma desconhecida, os Demônios haviam conseguido ultrapassar a muralha, e mesmo ali dentro não era mais seguro, ou seja, a batalha dentro do reino de Alamásia também começava.
Holly liderava as defesas de dentro do reino, tensa com a situação, e assustada por não conseguir lidar com a demanda de todos os lados. Ela pensava em como distribuir as forças, ao criar portais de sombras espalhados por seu alcance, de cima do telhado de uma das casas.
— Ei, Axel?
— Tudo bem, não tão nenhuma flecha rápida o bastante por aqui. — Ele a respondeu, usando a espada que deixava rastros de sombra ao cortar as flechas que poderiam acertar Holly.
— Obrigado por escolher vir comigo, deve ser difícil estar sempre com alguém problemática em volta. — Ela disse, enquanto criava mais portais, e alguns escudos de sombra, quando necessário.
— N-não me incomoda, mas por que esse assunto agora, hein?! — Axel perguntou, confuso.
O fluxo da batalha, ao menos naquele momento para eles, era calmo, permitindo que pudessem conversar livremente, enquanto os demônios não apareciam de fato para atacá-los.
— Eu sei que o momento é horrível, mas não acho que vai ter algum momento bom agora. Então, se o Sussurro aparecer, eu quero que você fuja, entendeu? — Ela perguntou a ele, ainda um pouco preocupada.
— Entendi, mas nem ferrando.
Acalmando de vez, como se a guerra por um instante parasse, Axel e Holly se mantiveram lado a lado, com um pouco de suor vindo de seus nervosismos, ao mesmo tempo que sorriam um para o outro, como se ambos quisessem passar a segurança ao outro de que estava tudo bem.
”Eu vou te proteger, até o final!” — Foi o pensamento dos dois.
***
Leona, a aprendiz de Sussurro, corria para cima de soldados de dentro do reino, demonstrando os seus reflexos extraordinários. Os seus olhos eram como de um pequeno inseto, enxergando os movimentos dos soldados, que eram tão lentos quanto os de uma mão tentando bater em uma mosca.
Sussurro parecia perdido em seus próprios pensamentos, com os braços cruzados, quebrando o joelho de um dos soldados com um chute, e usando da mesma perna para acertar uma joelhada no queixo do homem, que tem seu maxilar quebrado, seguido de um chute giratório que, envolto em raios, quebra o pescoço do pobre soldado.
— É uma pena Bário ter morrido… Leona, ache e afaste o garoto dos olhos vermelhos do reino, não me importa os meios. — Ordenou Sussurro, com uma voz calma e sem pressa.
— Como você ordenar, mestre. — Afirmou Leona, se curvando a ele.
— Senhor Sussurro, o portal de escuridão está estabilizado e mais soldados continuam passando, qual deve ser nosso próximo passo? — Bot perguntou, ainda usando a magia copiada de Holly para trazer mais soldados ao interior do reino.
— A farsa entre Nana e Azara já cumpriu seu propósito, entregue o recado. Azara deve avançar pelo portão Sul. Nana deve me esperar na montanha da represa a oeste, vamos afogar esse povo medíocre. — Sussurro respondeu.
— Sim senhor, após isso continuarei trazendo mais soldados para dentro do Reino. — Bot, prontamente o respondeu, antes de desaparecer na escuridão.
A criança que acompanhava Sussurro, usando de sua magia, levanta voo assim que Bot desaparece de cena, mesmo que, de certa forma às cegas, ela voava em busca do garoto de olhos vermelhos.
Os olhos de Sussurros, concentrados, quase ignoravam o seu arredor, embora nenhum soldado conseguisse o pegar de surpresa, como se sua mente estivesse dividida entre a luta e seus pensamentos.
Entregue os recados por Bot, Azara avança como um monstro invencível na direção de Andreas. Os soldados lutavam arma a arma, punho a punho, com brutalidade, pressionando as forças de Andreas a recuar, como demônios não sentiam dor alguma, enquanto o verdadeiro Azara, com sua força monstruosa, derrubava humano atrás de humano, os fazendo voar como folhas mortas de uma árvore.
— Acabem como o demônio Superior Azara, vamos! — Gritou um dos soldados, avançando com seus três companheiros.
— Recuem, ele é perigo-
Antes que Andreas pudesse sequer os alertar, aqueles homens já estavam mortos, e Kheolan havia assumido a posição, circulando, a passos lentos, junto com o Azara, trocando olhares desafiantes e animados. Os soldados em combate ignoravam os dois, na tentativa de sobreviver aos demônios mortos vivos, enquanto ambos se encaravam.
”Por mais que me doa dizer, aquele pirralho é o único que pode lidar com Azara agora…” — Pensou Andreas, usando sua glaive para impedir que algum morto vivo atacasse Kheolan de surpresa.
— E aí, cadelinha, veio provar mais um pouco do chocolatão aqui? — Kheolan perguntou, segurando sua clava por cima de seus ombros e sua regata vermelha. — Me deve uma jaqueta nova, aliás.
— Vai ser um prazer te destruir! — Azara respondeu, dando um soco contra o punho de Kheolan.
Batendo punho contra punho, Kheolan, propositalmente, cede a força de Azara, para que, em um giro, o acertasse com sua clava, quando ela simplesmente estoura em suas mãos através do poder de Azara, dando um chute circular, acertando um golpe atrás do outro no demônio.
— Não esqueça que eu evoluí! — Proclamou o belo demônio, triunfante, ao segurar um dos socos de Kheolan, revidando com uma cotovelada em seu rosto.
Carregado com o poder evoluído de Azara, o golpe é recebido com um pequeno estouro, como se uma bolha de óleo quente o tivesse acertado, uma ferida estourada, fazendo o sangue escorrer pelo lado direito do rosto de Kheolan.
Ao esticar de sua mão, Andréas joga a sua glaive para o jovem que, levando a luta mais a sério, a gira nas mãos com agilidade, já que era acostumado a lutar com diferentes tipos de armas. No entanto, os golpes dele eram desviados de forma quase cômica por Azara, cujo os pequenos estouros não afetavam a glaive como havia estourado sua clava, anteriormente.
— Contra ataca, seu merda! — Gritou Kheolan, furioso.
”Ele já perdeu a calma… O golpe no seu rosto afetou tanto assim o seu orgulho, jovem?” — Pensou Andreas, antes de pegar duas espadas de seus companheiros caídos e indo para a luta junto a ele.
— Esfrie a cabeça e não lute até se recompor! — Ordenou, usando suas espadas para acertar a dobra do joelho direito de Azara, e o fazendo perder o equilíbrio. — Maldito resistente!
— Você tem um bigode tão fofo. — Azara respondeu, irônico, quebrando com as suas mão a ponta da espada de Andreas.
Os golpes de Azara ficavam cada vez mais rápidos ao criar pequenos estouros em partes específicas, próximas ao seu corpo, dando a ele a capacidade de mover e se apoiar nos músculos cortados sem problema algum, fazendo Andréas se aproveitar da linearidade dos golpes que isso criava.
Em meio a toda aquela multidão, o comandante, ainda mais fraco, era quem detinha o controle da luta, tentando tomar um pouco de distância do demônio que, por questão de fôlego, continuava o incessante ataque. Ele teve a sua segunda espada quebrada, ao acertar o pescoço do demônio, que perdeu quase todo o seu longo cabelo vermelho, mostrando ainda mais seu sorriso irritado.
Isso o deu uma brecha tão grande, que o punho de Azara encaixou com perfeição no crânio de Andreas, deixando nele um rosto tão destruído quanto o de Kheolan.
— Levanta a guarda, velho idiota! — Gritou Kheolan ao agarrar a perna fraca de Azara.
Sem forças para se manter, Azara é puxado como um grande saco de esterco, tendo o seu corpo, repetidamente, batido no chão, e a musculatura de seu joelho, outrora se mantendo firme, gradualmente destruída.
Agora, com o seu corpo em cima de Azara, ambos lutavam pela posição superior. Uma luta de chão, onde a proximidade impedia Azara de usar suas explosões, mas podia aumentar a sua força, disputando com confiança contra o Redari que já não tinha mais o sorriso arrogante no rosto.
”O que está fazendo? Se não vencer dele agora, ninguém mais vai!” — Kheolan pensava, enquanto socava sem parar a defesa de Azara.
Um golpe, inesperadamente forte, fez Kheolan sentir a própria costela se quebrar, e o estouro lhe retirou de cima de Azara, tanto a mão do demônio quanto o abdômen de Kheolan apresentavam uma espécie de queimadura vinda do local.
A mente de Kheolan ainda tentava formar um padrão para entender a distância ou a força que aquilo podia funcionar, mas ele acaba tendo o seu pensamento interrompido pela surpresa que sentiu ao ver Andreas interromper a luta, dando um soco no queixo de Azara.
Deixando de defender os golpes do demônio, o experiente soldado se colocava em risco para atacar as aberturas criadas no momento em que era golpeado, mirando nas partes mais difíceis de se defender do corpo, que eram as articulações, músculos menores, e, inclusive, as partes baixas do corpo.
”Numa batalha contra um demônio não se é preciso ter honra, cada um deles merecem nada mais que o extermínio!” — Pensou Andreas, usando um golpe com os dedos, mirando exatamente no olho do demônio.
”O velho é duro na queda, mas os golpes que ele está levando, doem como o inferno e ele ainda está aguentando?!” — Kheolan se perguntou, cuspindo um pouco de seu próprio sangue.
”Vai me morder, demônio maldito?!”.
O golpe para perfurar os olhos havia falhado, seu dedo indicador e médio estavam dentro da boca de Azara e, sabendo que iria perder seus dedos, Andreas manteve o fulgor de seu espírito, usando a força que lhe restava naqueles dedos para segurar a mandíbula de Azara, acertando o seu pescoço e forçando o demônio a tentar recuar.
As pernas de Azara bambearam e, mesmo que o golpe no pescoço o fizesse abrir a mandíbula, o homem cujo os dedos esguichavam sangue se recusava a soltá-lo, não importando o quanto revidasse, o fazendo ser subjugado por um humano.
Por qual razão o homem continuava a lutar? Mesmo que seus ossos estivessem quebrados e ambas as mãos criassem fissuras, ao golpear com toda a força o corpo de Azara. Era alguma magia desconhecida? Seu indomável espírito ardente, a adrenalina correndo em suas veias? Essas eram as perguntas que Azara se fazia enquanto, mais uma vez, causava um estouro no rosto do homem com um poderoso soco que, mesmo tendo os olhos derramando sangue, os manteve vidrados no Demônio, que se encontrava amedrontado.