Capítulo 10 – Unidos na Adversidade
Capítulo 10 – Unidos na Adversidade
Depois da falha que os Aprendizes Irregulares tiveram em seu teste, os cinco entraram em discussão sobre o culpado e o porquê de eles terem fracassado. Porém agora, com a chegada de Vanhad e da sua aprendiz, todos eles tinham alguém em quem se espelhar para que pudessem dar um passo a mais, fosse na aprendiz ou no próprio mestre dela.
Michael e Axel haviam, por motivos diferentes, ido juntos até a Anciã Holly, que estava descansando na beirada de uma colina, enquanto aproveitava o sol da tarde e a bela vista do horizonte à sua frente. Vendo que ao lado dela tinham alguns frascos quase vazios de remédio, juntos de uma garrafa de whisky, com pouco menos que a metade cheia, eles presenciaram quando ela levantou cambaleante, por ver os dois juntos ali, e deu um sorriso frouxo enquanto abraçava a sua garrafa.
— Que fofo, meus pirralhos não estão se agredindo, mesmo com as carinhas irritadas. O que querem? — Ela pergunta, enquanto fracassava em usar as sombras para esconder os remédios no chão e se livrar da bebida que estava em sua mão.
— Eu quero fazer o teste sozinho. — Disse Michael, irritado com a má atitude da Anciã.
”Que mulher irresponsável.” Eram os pensamentos dele, a julgando.
— E eu queria esse idiota fora equipe! — Completou Axel, com uma voz receosa ao observar o estado da Anciã, e o sorriso falso dela, disfarçando o olhar cansado.
— Se é assim que vocês pensam, então já falharam no teste. Se não trabalharem em equipe, vocês perdem de novo, e vocês não querem isso, não é? Envergonhar aos seus mestres, a vocês mesmos e a euzinha aqui. — Holly falava pondo os seus indicadores nas próprias bochechas, cambaleando um pouco, por estar tonta.
— Mas a aprendiz do Cavaleiro Vanhad fez o teste sozinha, então eu posso fazer também. — Michael estava com a voz cheia de indignação.
— Ela já lidera quando o Vanhad não pode, e vocês não sabem nem se organizarem sozinhos. Tenho certeza de que aprenderam algo, os dois conseguiram ter as piores características dos seus mestres. Axel é tão teimoso quanto a Isabel e você Michael, é tão individualista quanto o seu mestre Caleb. A diferença é que eles sabem trabalhar em equipe, quando precisam. — Holly soluçava enquanto falava, tendo um sorriso debochado no rosto, tentando irritar os dois.
— Esse babaca quer fazer tudo sozinho, é impossível trabalhar com ele! — Reclamou Axel, enquanto o olhava de canto de olho.
— Só ouço desculpas e desculpas. Se vocês não se acertarem, quando for tarde demais não tem volta, pirralhos. E se a vida de um depender do outro, vão precisar estar prontos. — Holly ainda ria para ambos, mas agora de uma forma melancólica, indo para a beirada daquela pequena colina com suas pernas bambas, tentando se equilibrar.
— Anciã, cuidado. — Axel, cuidadosamente, tenta se aproximar dela com os braços prontos para agarrá-la.
— Ele está certo, você gosta de fazer piada mas acabou a graça. — Completou Michael se afastando de Axel, usando um pouco da sua magia para que a beirada se tornasse um pouco mais longa.
— Enquanto eu estiver rindo, tem graça sim, porque agora vocês vão aprender de uma maneira bem peculiar. — Diz ela, perdendo um pouco do equilíbrio e ficando numa perna só, tentando beber mais um pouco de sua garrafa de vinho, que havia surgido das sombras.
Axel, que estava pela direita, e Michael que estava pela esquerda, trocam olhares confusos sobre o que ela estava fazendo, até que a perna de Holly acerta o estômago de Michael com força, que, pela surpresa, é acertado em cheio, deixando Axel boquiaberto.
— O que você está fazendo?? — Michael grita, confuso, antes de se jogar para o lado, desviando de outro chute da Anciã.
Os chutes de Holly para Michael pareciam atrapalhados, mas para Axel, que já tinha visto aqueles movimentos dezenas de vezes, entendeu que os seus golpes eram uma dança, exatamente como a de Isabel.
— Para com isso, sua maluca! O que deu em você? — Axel gritou, se jogando na frente de Michael e defendendo o golpe dela, antes que acertasse mais uma vez em Michael.
— Não me chame de maluca, seu pentelho! — Ela dá um tapa forte no topo da cabeça de Axel, logo em seguida.
Os dois, ainda tomados pela confusão, tentavam entender o porquê de ela começar a atacá-los assim, mas aquele macabro sorriso distorcido não parecia um sinal de quem iria parar. Mesmo parecendo tonta, ela conseguiu golpeá-los sem problemas, como se o seu corpo não tivesse restrição alguma, ainda que a sua mente não estivesse acompanhando totalmente suas próprias ações.
— Aí, fracote, vai pedir ajuda, eu cuido dela. — Michael dava um passo para trás a cada passo cambaleante que Holly dava para frente.
Porém, pela falta de resposta, ele repara que o rosto de Axel havia perdido a sua expressão, como se estivesse paralisado de medo. No entanto, nesse momento, Axel já tinha parado de ouvir Michael, movimentando o corpo por impulso, não para atacar Holly, mas para conseguir bloquear os seus golpes com uma velocidade não padronizada. Em alguns momentos, ele movia os seus braços em uma velocidade normal, e em outros tão rápido quanto Holly.
Na mente de Michael aquilo não passava de uma piada de mal gosto, o fato de que Axel conseguia bloquear os ataques de Holly. Então, decidindo aproveitar a brecha que Axel estava dando, ele fez dois braços de terra saírem do chão para segurar as pernas Holly.
— Para de atacar a gente, bêbada desgraçada! — Michael esbraveja, segurando ambos os braços da Anciã com o seu corpo, e as pernas com a sua magia, enquanto Axel, sem ataques para se defender, tremia sozinho. — Se mexe imbecil!
”Ele está com medo?” Esse era o pensamento de Holly, enquanto encarava o corpo trêmulo de Axel, até ver que os seus punhos fechados era a parte dele que mais estava tremendo.
”Hahah… isso tem a ver com a magia dele?”
De repente, com um olhar mais gentil, ela começa a rir de uma forma doce, deixando ambos confusos, se teleportando para trás de Axel e o abraçando, enquanto deixava a cabeça do pequeno repousar em seus seios, sentindo ele parar de tremer e se encolher de vergonha.
— Desculpe a provocação, mas achei que só assim iam entender. — Holly, com um sorriso orgulhoso no rosto, se diverte com a confusão dos dois, expressada pelo rosto de Michael e pelo corpo de Axel. — Vocês não precisam se gostar, só ter o mesmo objetivo, e o resto vocês se viram.
De repente, aquela simples afirmação serviu como a dissipação de um véu para aqueles dois, mesmo que estivessem xingando um ao outro por dentro, reconheciam que lado a lado eles podiam trabalhar juntos, ou pelo menos usar um as brechas que o outro criava. Logo em seguida, ambos foram teleportados pela sombra de Holly para um outro local, enquanto ela continuava a rir sozinha.
— Eu esqueci como usar a Bradeli bêbada, não foi uma boa ideia. — Ela afirmou para si mesma, depois de desativar a técnica e ficando extremamente tonta, antes de começar a por tudo o que ela ingeriu para fora.
Próximo à área de teste, Philip, Asa e Hugo estavam à espera dos outros dois, discutindo qual seria o plano desta vez, usando de base o teste anterior feito pela Luna.
— Não importa o plano, Hugo. Nós 3 concordamos, então o Philip vai atrás do Michael, o Axel age sozinho, e sobra pra nós dois tentar arrumar a bagunça. — Asa balbuciava, deitada no chão, enquanto comia uma barra de doce.
— Mas a mestra Isabel disse que somos especiais, por isso estamos juntos. — Respondeu Hugo de forma tímida, segurando uma flor branca que Isabel havia lhe dado mais cedo.
— Cada tentativa é uma experiência nova, Asa. Não é por que falhamos todas as vezes até agora que vai acontecer de novo, vai dar tudo certo, dessa vez. — Philip diz, com o seu bom humor de sempre.
— A verdade é que o problema principal do grupo são aqueles dois teimosos, nenhum de nós tem força ou habilidade para avançarmos sozinhos. O único de nós que sabe controlar a magia direito é o individualista do Michael, e sem a defesa do Axel nós quatro viramos alvos fáceis. — Asa se levanta para pegar a sua alabarda, dando alguns toques com o pé no chão, conferindo se seu tornozelo ainda doía um pouco.
— Se é assim por que não seguimos o Michael, ele é o melhor de nós em termos de ataque. — Philip tentava defender seu melhor amigo, convencendo a Asa.
— Por que o seu amigo deixa todo mundo pra trás na primeira chance, e o objetivo do teste é passarmos juntos, não fazer o estrelinha passar sozinho. — Ela respondeu tocando algumas vezes na testa de Philip, antes da conversa ser interrompida.
Axel e Michael haviam chegado juntos, com uma pequena mudança em seus equipamentos. Axel portava, além de sua adaga, o escudo que antes estava com Michael. Michael caminha em direção a Philip lhe entregando uma pequena espada de dois gumes, com 3 cristais azuis posicionados nas pontas do cabo e no meio, com um sorriso confiante.
— Axel e Michael sem birra, que milagre. — Asa caçoou da situação ao vê-los juntos.
— Eu e o fracassado chegamos a um meio termo. — Michael diz, devolvendo com arrogância o olhar de nojo de Axel.
”Eu vou te mostrar o fracassado”
— Fracote. — Resmungou Axel.
— O que é isso? — Perguntou Philip, enquanto tentava entender como ia usar aquilo.
— Meu presente para você, Lipe. Os cristais da ponta vão te ajudar a mirar melhor, e o do meio a estabilizar seu poder, fiquei o mês todo trabalhando nisso. — Michael abraça Lipe pelo ombro, ao ver como ele havia ficado feliz com isso.
— Aí, babaca. — Axel fala, parando na frente de Michael, e abrindo um leve sorriso convencido.
— O que foi, idiota?
— Vê se não fica no meu caminho. — Axel, dá um soquinho no punho dele, indo na frente para o campo de treino. — Vamos, temos um teste pra vencer.
— Não sou o senhor do tempo, mas depois dessa aí, vai chover. — Hugo brinca, tão impressionado quanto Asa, vendo a atitude dos dois e, de repente, ficando mais otimista.
— Pena que esqueci o meu guarda chuva, mas acho que desta vez as coisas vão ser diferentes. — Asa com sua voz doce, pega a flor que Hugo, de repente, estendeu para ela, e com um sorriso bobo, a colocou junto de suas coisas.
Philip observava a situação, mas, ao contrário dos outros, ele se sente um pouco inseguro ao ver como Michael e Axel de repente pareciam unidos, se perguntando se ele ia perder o seu amigo ou ser trocado, o que acaba o deixando com pouca firmeza nas mãos, ansioso, quase deixando que a sua pequena espada caísse. Ele é o último a sair da sala em que estavam, por causa disso, mas logo foi atrás dos outros.
Ao contrário do ar da briga anterior, os quatro entraram no campo de treino com um olhar confiante, sendo o único deles a ter alguma incerteza, o Philip.
— Como vai a patinha, Asa? — Michael perguntou com um sorriso debochado.
— Ainda não muito boa, mas posso dar conta. — Asa decidiu segurar a língua e não estragar o sentimento de equipe que se formou naquele momento.
— É melhor ficar atrás com o Philip, vai conseguir nos dar melhor direção de trás. — Axel aconselha, se intrometendo na conversa mas sem o seu tom rude habitual.
Embora não estivesse satisfeita com a resposta, ela não discute com Axel, pois ele parecia ter um plano dessa vez e, de alguma forma, ele e Michael estavam juntos, da maneira deles, mas juntos. Pensado que, seja lá qual fosse o plano, não poderia ser pior do que as últimas vezes.
— Hugo, preciso que você cuide da Asa e do Philip por trás. — Axel levantou o seu escudo, assumindo uma postura de frente.
— Tudo bem.
— Philip, eu não consigo sem você, então por favor, cuida bem de mim, hein. E fracote, o ataque é comigo. — Brinca Michael, antes de correr para cima dos golens.
— Só vou ajudar desta vez. — Respondeu Axel, antes de correr atrás de Michael, facilmente igualando a velocidade dele.
Suas habilidades de luta eram valorosas em qualquer campo de batalha, nenhum golpe daquele nível era capaz de acertar Axel que, para olhos experientes, só parecia se jogar na frente dos ataques, criando as aberturas necessárias para Michael. Asa, com as suas duas palmas da mão erguidas e braços esticados para frente, utiliza seus dedos para medir, tanto os inimigos quanto as trajetórias de mira, coordenando o ataque dos dois, não se concentrando em mais nada além daquilo, o que aumentava a eficiência do ataque.
Hugo fazia o seu papel como protetor, não deixando que golem algum chegasse perto deles, ou pudesse atrapalhar o trabalho de Asa e de Philip, este que, neste momento, sentia o seu coração apertar, enquanto o som em volta dele parecia diminuir.
Para Philip, aquele instante não parecia mais o momento de sucesso que ele tanto esperava, vendo todos tão à sua frente, como se não pudesse os acompanhar, mesmo que as suas flechas, agora mais certeiras do que nunca graças a Michael, estivessem fazendo a significante diferença para todos ali.
— Vamos guardar posição até eles chegarem! — Axel ordena, com a sua voz altiva, sendo o primeiro dos dois a esconder o corpo atrás de uma rocha meio quebrada, vendo o quão longe os outros três eles já estavam.
— Eu já sei disso, idiota! — Michael resmunga, ao se esconder atrás daquela mesma rocha, usando agora os seus poderes para sentir o solo e criar pequenos buracos que fossem atrapalhar os golens.
Asa, enquanto avança com os outros, analisava em cada lugar onde os golens caiam, só para serem estourados em seguida por uma flecha de Philip, sabendo aonde teriam que tomar cuidado quando fossem passar. Quando, de repente, a sua linha de pensamento é quebrada por Hugo, que usou o corpo de um golem como escudo para o defender de duas flechas que o acertariam no peito.
— Philip, no lado direito! — Ele alerta, antes de jogar um pedregulho na mesma direção, fazendo a sua mão crescer até ficar o dobro do tamanho natural, sem conseguir a trazer de volta.
— Eu não tinha visto. — Philip murmura, antes de atirar algumas flechas de água naquela direção, se sentindo culpado por fazer Hugo ter que crescer a sua mão, sabendo que ela demoraria a voltar ao normal.
Depois de tanto avançarem, finalmente estavam juntos novamente, com Hugo usando a sua força esmagadora da mão esquerda, a que estava o dobro do tamanho normal, para destruir uma rocha no meio, e aumentar a barreira que eles tinham para se proteger, além do próprio Michael com sua magia de terra, a tornar ainda mais forte.
— Você é incrível, graças a você chegamos todos bem. — Michael encorajou o seu amigo com um soquinho no ombro. — Gostou do presente?
— Ele é incrível… — Respondeu Philip, com uma voz mais calma, e um pouco sem jeito com o elogio de Michael.
”Se o Axel e o Michael se dessem tão bem assim.”
Asa refletia em sua mente, soltando uma leve risada ao chegar em outra conclusão.
”Não, se fosse diferente do que é agora, não seria divertido.”
— O Plano é de vocês dois, o que fazemos agora? — Hugo questiona, tentando espiar os golens mais a frente.
No alto da sacada do campo de treino, estavam Vanhad, Isabel, Remu e Holly, observando as ações dos aprendizes. Remu era aquele que se mostrava mais surpreso, com uma pitada de orgulho pelo feito dos garotos.
— Olhei o histórico deles mais cedo, tanto a duração quanto a qualidade de seus testes está muito diferente. O que mudou? — Perguntou Vanhad, intrigado por esta súbita mudança de resultados.
— Com certeza eles foram inspirados pela Luna. — Isabel diz, tentando dar um pouco de crédito a Vanhad, enquanto ajeitava o seu cabelo com um sorriso bobo.
— Sim, claro, eles devem estar tentando impressionar a Luna, até porque quando queremos impressionar alguém a gente muda um pouco. — “Que nem você não é, belzinha.” Disse Holly, sabendo a verdadeira razão para a mudança deles. Observando de dentro de sua sombra, com a aprendiz de Vanhad escondida junto com ela.
Enquanto os três conversavam entre si, Remu permanecia em silêncio, olhando com atenção os garotos, em dúvida se eles iriam mesmo conseguir, já que, ainda que estivessem tão perto, um teste assim, como uma missão, só era terminada depois de concluída.
Desta vez, Hugo corre junto com Axel e Michael, utilizando a alabarda de Asa, sem medo de usar o seu poder de crescimento como antes, pois sabia que poderia crescer ainda mais, chegando a incrível altura de três metros, com a sua mão voltando a ficar proporcional ao seu corpo. Mesmo sendo um pouco mais difícil, Axel se mostra mais do que capaz de avançar para ser o primeiro a bloquear os golpes dos golens e criar abertura para os outros dois, chegando assim ao último muro.
— Eles vão conseguir, isso! — Isabel demonstrava a sua animação ao se apoiar no guarda corpo da sacada.
— Até os mais novos podem ensinar os mais velhos, às vezes, sabe, a trabalhar juntos ignorando as diferenças. — Disse Holly, jogando aquela indireta para Isabel.
Agora no muro, o que faltava era apenas chegar em cima dele e derrotar o golem líder. Axel pega impulso nas mãos de Hugo, que o joga para cima com quase força o suficiente, sendo Michael aquele quem cria uma plataforma de terra, para que ele desse o impulso final, subindo com o seu cabelo bagunçado, ressaltando o sorriso orgulhoso de si mesmo. Axel foi capaz de desviar do golpe final do golem líder de uma forma não natural, como se o seu corpo ignorasse o próprio conceito de gravidade.
Ele enrosca as suas pernas no pescoço do golem, segurando o alto do muro com as mãos, fazendo força para o jogar lá de cima com as suas pernas, onde, sob o comando de Asa, Philip dispara todas as flechas possíveis, destruindo o último golem, finalmente.
Por um momento, os cinco começam a trocar olhares, como se esperassem algo mais acontecer, até a ficha deles cair com o grito de Axel que, embora assuste os outros quatro no início, faz com que Michael se junte a ele, sendo o segundo a gritar de felicidade, dando um soco alegre em Hugo, que não conseguiu sair da sua altura de três metros ainda. Em seguida, ele corre para Philip e o dá um forte abraço, enquanto o gira de felicidade.
No fim, Axel estava sentado em cima do muro, trocando olhares com Michael, um retribuindo o sorriso convencido do outro, enquanto ambos pensavam a mesma coisa.
”Ainda bem que não foi esse idiota que deu o golpe final.”
— Quem diria que, para um bando de desajeitados, eles realmente pudessem fazer um bom trabalho. — Remu fala, ao reconhecer a capacidade dos garotos.
— Eu sabia que eles iam conseguir, nunca duvidei. É isso aí Axel, orgulho da mestra, mandou ver! — Isabel grita lá de cima ao ver que, embora ele não tenha virado para trás totalmente, ela podia notar o sorriso bobo que ele escondia, enquanto encolhia o corpo de felicidade.
— Acho que é natural. Nossos aprendizes sempre encontram um jeito novo de nos surpreender. Não concorda comigo, Luna? — Indagou Vanhad, revelando que já tinha ciência da garota estar escondida ali.
— S-sim, mestre. — A voz trêmula dela demonstrava o quanto ela estava envergonhada por ter sido pega.
— Ih, sujou. — Holly fala, antes de cuspir um pouco de seu vinho, fazendo as duas saírem dali pelas sombras.
Remu olha para trás, surpreso com a situação, e põe a palma de sua mão na testa, incrédulo de como uma garota daquelas foi admitida como uma Santa Anciã. Enquanto o olhar de Philip era de um pouco de timidez, ao perceber que estava sendo assistido por Luna lá de cima.
Agora separados, e reencontrando os seus respectivos mestres, Isabel vai ao encontro de Axel, vendo ele tentando prender o sorriso bobo, e dando um forte soco no seu ombro, enquanto não fazia questão nenhuma de esconder o seu orgulho por ele.
— Gostei de ver, você está de parabéns! — Ela diz, se defendendo do soco que ele tentou revidar.
— Pra que me bater, mestra desgraçada?!
— Ficou bravinho, é?
— Cala a boca, irritante.
— Pirracento, quero ver essa atitude quando estivermos em missão. — Isabel continuou caçoando dele, enquanto desviava de seus golpes.
— Espera, então já temos uma?
— Exatamente. — Isabel segura o punho dele, enquanto continua falando. — E aí, que tal ir em casa arrumar as suas coisas? Partimos logo de manhã.
— Ah é, tenho muita coisa para arrumar. — Axel retrucou de forma irônica, escondendo a animação, enquanto começava a caminhar para casa sozinho.
Isabel, ao invés de ir para casa, vai até a casa de Vanhad, tendo um pouco de esperança de encontrá-lo, antes de sua próxima missão. Ela estava chateada por eles não poderem ficar juntos mais do que um dia, e o caminho pelas ruas da Cidadela pareciam eternamente longos em sua mente, embora fossem curtos. Para sua decepção, ao chegar, tudo o que ela vê, é sua amiga, a Anciã Holly, sentada na pequena escada da porta de Vanhad, sem sua garrafa habitual de bebida do lado, enquanto segura uma carta em suas mãos. Ao se aproximar, Holly, com delicadeza, ergue os seus dedos, entregando o papel para a amiga.
— Ele já foi, mas pediu para te entregar isto. — Ela deu um sorriso desapontado em direção a Isabel.
Isabel pega a carta e a guarda consigo, porém, antes que tomasse a decisão de ler, se senta ao lado de Holly, que parecia abatida, não pela primeira vez, e resolve fazer companhia a sua amiga, que deita a cabeça em seus ombros.
— Não vai abrir? — Perguntou Holly enquanto a abraçava.
— Quer mesmo que eu faça isso agora?
— Se fosse algo bom ele teria dito pessoalmente… Então, podemos sofrer juntas. — Holly riu para ela, olhando para a carta.
E Isabel, com um longo suspirar, encara por uns instantes aquela carta, que lhe trazia uma sensação de melancolia, enquanto a sua mente dizia para apenas destruir a carta por raiva do Vanhad. No entanto, ela apenas a guarda dentro de sua blusa, e volta a abraçar Holly, bagunçando mais ainda o seu cabelo preto.
— Desculpa, mas eu tenho alguém mais importante para dar atenção nesse momento, palhaça. — Isabel diz, rindo junto com a sua amiga.
— Obrigada… Bel bobona. — Holly se deitou no colo de Isabel enquanto recebia cafuné.
E, em silêncio, as duas ficaram por um longo tempo ali, vendo o pôr do sol da frente da casa de Vanhad.