Elarion: A Dominação das Bestas (Novel) - Capítulo 34
A alvorada da manhã trouxe uma atmosfera diferente para Kaelion. Ele havia dormido muito bem com Black. Mas, após os intensos treinos do dia anterior, ele despertou com o corpo dolorido; porém, ele não amoleceu em seu treino. Assim como nos dias anteriores, ele se adiantou para ter as aulas extras com Magnus. Para ele, era visível que seu treino de mana estava dando cada vez mais frutos e que ele estava melhorando constantemente.
Poucas horas depois, os alunos começaram a chegar na sala de aula para manter sua rotina de prática de magia. Kaelion notou que alguns dos alunos estavam mais silenciosos, enquanto outros, como Viserys e seu grupo, riam entre si, provavelmente zombando dos que tiveram desempenhos inferiores no último treino. Kaelion ignorou os comentários.
A aula se desenvolveu normalmente. Magnus resolveu que já era momento de ensinar as crianças a utilizarem essa magia que estavam acumulando. “Na aula de hoje faremos diferente, vou ensinar a vocês a utilizarem a magia interna de vocês. Claro, alguns de vocês já tiveram acesso a grimórios de magia, com explicações e demonstrações de magia. Mas será que estão fazendo da forma certa?”
“Sentem-se, vamos treinar a moldar a magia. Claro que grande parte das magias foram catalogadas e colocadas em grimórios, com encantamentos e explicações sobre como conjurar as magias, ou seus efeitos e impactos. Mas isso não passa de uma simples forma de utilizar a energia de vocês.” Magnus havia conseguido chamar a atenção dos alunos. “Já pensaram em imbuir os músculos com magia, mana ou ki, chamem do que quiserem. O que interessa é que vocês podem aplicar sua mana em diversas coisas que não seja no ambiente.”
“O objetivo da aula de hoje é vocês conseguirem imbuir seus punhos com magia ou algum objeto, mas lembrem-se, não falo sobre cobrir, mas sim imbuir. Vocês precisam pensar que estão conjurando uma magia para dentro de um objeto ou para seus músculos, seja colocando fogo, congelando, endurecendo, vocês precisam conseguir manifestar a mana de vocês e moldar com os elementos que vocês sintam uma certa afinidade.” Magnus constantemente ensinava os garotos.
Luna, Viserys e algumas outras crianças rapidamente conseguiram fazer a manifestação sugerida por Magnus; eles já haviam treinado isso anteriormente junto de suas famílias. Kaelion tentou imbuir a lança de treinamento com mana, mas ele não sentia uma completa afinidade com aquela lança, apesar de ela se encaixar bem em sua mão; não era como a sua lança do crepúsculo.
Percebendo isso, Kaelion resolveu correr até o quarto e pegou a lança. Magnus havia achado muito estranho, mas quando ele viu o garoto voltando com a lança na mão, ele se sentiu aliviado. Por um momento, ele havia achado que Kaelion tinha desistido de continuar treinando o seu desenvolvimento e controle com a mana. Porém, Kaelion não iria desistir; apesar de jovem, ele era bem determinado.
Com sua lança do crepúsculo na mão, Kaelion facilmente conseguiu imbuí-la com mana. Além disso, ele sentia uma familiaridade incomum com ela, e ela, misteriosamente, transpassava mana com muita facilidade.
“Consigo encher ela de mana, será que consigo cobrir ela de sombras?”, Kaelion pensava consigo mesmo. Então, quando ele tentou, a ponta da lança do crepúsculo ficou imbuída com uma espécie de sombra que parecia mais uma chama negra, e Kaelion ficou extremamente feliz. Magnus, vendo isso, ficou muito satisfeito.
O treinamento continuou por duas horas. Kaelion se desenvolvia melhor a cada vez, e ele conseguiu manter a lança com mana até o final. Após o treinamento de magia, eles foram até o campo de treinamento.
O campo de treinamento já estava preparado para a sessão daquele dia. Desta vez, os domadores enfrentariam um desafio especial: não seria apenas sobre controlar suas bestas, mas sobre desafiar seus próprios limites e dominar o vínculo de alma que os unia a essas criaturas. Marcus, o instrutor-chefe, estava de pé ao centro, observando com seus olhos atentos enquanto os alunos se reuniam.
“Hoje será diferente”, anunciou Marcus, sua voz ecoando pelo campo. “Vocês demonstraram suas habilidades de combate e controle nos dias anteriores. Agora, vamos explorar um nível mais profundo da dominação de bestas: o vínculo de alma.”
Murmúrios começaram a ecoar entre os alunos. Kaelion, que estava concentrado, já havia lido sobre o vínculo de alma em antigos manuscritos. O vínculo era a essência da conexão entre um domador e sua besta, um elo que poderia ser fortalecido com o tempo, ou quebrado caso o domador perdesse a confiança de sua criatura.
“Cada um de vocês será desafiado hoje. Vocês vão lutar não apenas ao lado de suas bestas, mas dentro de suas mentes e corações. A verdadeira força de um domador está na capacidade de se conectar profundamente com sua besta. Vocês serão testados não apenas fisicamente, mas emocionalmente e mentalmente.”
Kaelion ouviu as palavras com atenção. Black, seu fiel lobo, que havia acabado de ser invocado, estava ao seu lado, observando-o com seus olhos flamejantes. Kaelion sentia muita confiança em Black e queria desenvolver cada vez mais a ligação com ele.
A primeira parte do teste começou com um exercício de meditação conjunta. Cada domador deveria se sentar de frente para sua besta e tentar entrar em um estado profundo de concentração, conectando-se com a alma da criatura. O campo de treinamento, que antes era palco de batalhas intensas, agora estava envolto em um silêncio quase sagrado.
Kaelion fechou os olhos, respirando profundamente enquanto tentava esvaziar sua mente. Ele sentia a presença de Black, seu espírito feroz e indomável, mas também uma calma profunda que Kaelion raramente via. A conexão entre os dois já era forte, mas ele sabia que poderia ser ainda mais poderosa.
De repente, uma onda de emoções intensas o atingiu. Raiva, medo, determinação, e uma sensação de isolamento. Eram os sentimentos de Black, sentimentos que o lobo carregava desde seus primeiros dias, antes de ser domado por Kaelion. Ele viu imagens de batalhas anteriores, feras imensas e caóticas, e entendeu que, embora fosse uma criatura de grande poder, Black havia vivido uma vida cheia de perigos e tentava constantemente sobreviver. Mas o sentimento mais pesado que ele carregava era a solidão; em seu âmago, Black sentia falta de seus pares.
Kaelion sentiu uma pontada de culpa. Ele percebia agora que, apesar de lutar ao lado de Black, nunca havia verdadeiramente compreendido a profundidade de suas emoções. Ele se conectou mais profundamente, permitindo que seus próprios sentimentos de lealdade, proteção e amizade fluíssem para o lobo.
Quando abriu os olhos, Black o encarava de forma diferente. O vínculo entre eles estava mais forte, mais claro. Kaelion sorriu, sentindo que finalmente havia compreendido o que Marcus queria dizer sobre o verdadeiro poder de um domador.
O teste seguinte era uma luta entre domadores. Desta vez, os combates não seriam apenas físicos, mas espirituais. As bestas lutariam com todo o seu poder, e os domadores precisariam manter a conexão de alma para garantir que sua criatura não perdesse o controle.
Kaelion foi chamado para lutar contra Zara, a garota que havia ficado em terceiro lugar no teste anterior. Sua companheira, um gato lunar de pelos prateados, era ágil e mortal, capaz de se mover nas sombras com uma velocidade assustadora.
Assim que o duelo começou, Kaelion manteve sua conexão com Black. Ele sentia cada movimento do lobo, sua respiração, o pulsar de seu coração. A batalha foi feroz, com o gato lunar atacando rapidamente, mas Black, com sua força bruta e agilidade, conseguia desviar e contra-atacar com precisão.
Zara, por outro lado, parecia se concentrar intensamente em manter seu vínculo com o gato lunar, mas a tensão entre os dois era visível. Ela tentava controlar cada movimento da criatura, o que acabava limitando suas ações. Kaelion, percebendo isso, avançou com toda a sua força, quebrando a defesa do gato lunar e forçando Zara a recuar.
Kaelion, ao contrário, confiava nos instintos de Black. Ele não tentava forçar o lobo a agir de certa maneira, mas sim fluía com seus movimentos, permitindo que Black lutasse com sua própria ferocidade. Quando o gato lunar foi finalmente derrubado, Kaelion foi declarado vencedor.
Ao final do dia, Marcus reuniu os alunos para uma última lição.
“Vocês aprenderam hoje que ser um domador não é apenas sobre força bruta ou controle absoluto. Trata-se de confiança mútua. Um verdadeiro domador entende sua besta, sente suas emoções e luta ao seu lado como um parceiro, não como um mestre.”
Kaelion ouviu as palavras com um novo entendimento. Ele entendia que ainda tinha muito a aprender, mas o vínculo com Black estava mais forte do que nunca. E isso era a chave para se tornar um grande domador.