Elarion: A Dominação das Bestas (Novel) - Capítulo 11
A brisa fria da madrugada varria o campo de batalha, carregando o cheiro de ferro e suor. Valeryn havia sido defendida com sucesso, mas a vitória parecia amarga. Kaelion caminhava lentamente ao longo das muralhas da fortaleza, seu olhar repousando sobre os corpos caídos de criaturas e soldados. Os soldados estavam exaustos não só pela batalha, mas também pelo trabalho árduo de limpar o campo de batalha, recolhendo os corpos das criaturas e sepultando os de seus companheiros que haviam se sacrificado pelo bem de Valeryn.
Kaelion havia se encostado em uma parte da muralha, suspirando e respirando pesadamente. Ele não conseguia entender o que levou as bestas das selvas a atacarem Valeryn, e essa era uma dúvida que realmente perturbava seus pensamentos. No meio desses devaneios, uma voz familiar o tirou da imersão. “Kaelion”, a voz firme e imponente era de Darius. O veterano guerreiro, com sua armadura negra como a noite e sua espada embainhada, observava-o à distância, seus olhos carregando o peso de inúmeras batalhas. Ele acenou para que o jovem se aproximasse.
“Precisamos conversar, vamos à sala de guerra”, disse Darius, com o semblante sério, enquanto se dirigia à fortaleza. Sem dizer uma palavra, Kaelion o seguiu para dentro da fortaleza, com uma curiosidade crescente em seu peito. Afinal, o jovem nunca tinha visto a sala de guerra, apesar de residir na fortaleza junto com os demais recrutas de sua idade. Era um ambiente proibido.
A sala de guerra era o coração estratégico da fortaleza de Valeryn. Seu teto alto, sustentado por colunas de pedra escura, transmitia uma sensação de vastidão. A arquitetura, rígida, mas imponente, inspirava respeito e foco, refletindo a importância das decisões tomadas ali.
Ao entrar, a primeira coisa que Kaelion notou foi a grande mesa no centro da sala. Ela era feita de madeira maciça, delicadamente entalhada com símbolos de guerra e uma grande espada. No centro, um mapa mágico flutuava, projetando as regiões conhecidas de Elarion em uma representação viva e dinâmica. As linhas e contornos do mapa pulsavam suavemente, e luzes mágicas se moviam por ele, marcando territórios, dividindo terras, áreas de conflito e avanços recentes de inimigos. Cada símbolo brilhava em tons diferentes, representando as forças de Valeryn, as bestas que atacavam e outras facções em constante movimento pelo mundo.
Nas paredes, pendiam bandeiras dos quatro grandes reinos humanos, desgastadas pelo tempo, mas ainda orgulhosamente representando cada uma das famílias imperiais que governavam o continente de Azura.
Em uma das extremidades da sala, uma lareira rugia com chamas. Ao redor da lareira, poltronas de couro robustas estavam dispostas em semicírculo, onde Darius e os demais oficiais de Valeryn costumavam se sentar para planejar campanhas ou tomar decisões a respeito do funcionamento da fortaleza.
O teto era decorado com intrínsecas pinturas que retratavam antigas batalhas, heróis lendários de Valeryn e as criaturas sombrias que habitam as lendas de Elarion. As imagens pareciam contar a história do próprio reino, suas glórias e sacrifícios, com detalhes vívidos de cada vitória e derrota.
Nas laterais da sala, grandes janelas arqueadas permitiam a entrada de luz natural. Ao lado das janelas, estantes cheias de pergaminhos antigos e livros de estratégia se empilhavam.
O chão, feito de pedra, estava coberto por um tapete de pelos de lobos da sombra, que contrastava com a rigidez da pedra sob ele. Cada passo sobre o tapete parecia amortecer o som dos pés. Darius foi o primeiro a entrar na sala, enquanto Kaelion ficou parado na porta, ainda com receio de entrar sem permissão. Vendo isso, Darius deu um leve sorriso e disse: “Venha, criança, pode entrar.”
Darius se aproximou da mesa central, estudando as marcações no mapa com um olhar pesado. “Você lutou bem”, começou Darius, “Mas algo estava diferente hoje. Os soldados me contaram sobre sua destreza e papel na defesa da fortaleza, principalmente seu confronto com o lobo das sombras, uma criatura que a maioria de nossos guerreiros formados teria dificuldade em enfrentar. Um pouco antes do início da batalha, eu o procurei, mas não o encontrei. Gostaria de saber o que aconteceu. Onde estava e o que foi fazer?”
Kaelion relembrou os acontecimentos de pouco antes de retornar à fortaleza, especialmente sobre o homem misterioso que o visitara, a gigantesca Serpente Alada e o encontro com o guardião da caverna. Ele contou como parecia sentir um chamado das criaturas da floresta, sobre o surgimento repentino do homem dentro da fortaleza e os acontecimentos até seu encontro com a colossal serpente alada e as criaturas do vale, além do poder misterioso que estava sentindo. Nesse momento, Darius ficou extremamente preocupado ao ouvir Kaelion falar da serpente. “Conte-me mais sobre essa serpente”, disse Darius.
“A serpente alada é uma criatura colossal de pelo menos uns 300 metros, cujas asas são tão grandes que, ao baterem no ar, criam correntes de vento que sacodem as árvores e as criaturas ao redor. Suas escamas prateadas são antigas, marcadas pelo tempo e pelas batalhas travadas nos céus. Seus olhos são de um rubro intenso. Ela sempre esteve na floresta, mas nunca me atacou”, explicou Kaelion.
Darius ficou ainda mais preocupado, lembrando-se de uma história antiga sobre uma Serpente Alada Colossal cuja descrição coincidia com a de Kaelion. “Essa criatura deve estar no Rank Lendário. Se ela tivesse nos atacado, estaríamos perdidos”, disse Darius, pensando alto. Então Kaelion perguntou: “Rank Lendário? O que é isso?”
Darius respondeu: “Continue, eu já lhe explicarei.”
Kaelion então contou sobre as sensações misteriosas que sentiu, sobre seu encontro com o guardião das sombras na caverna, a misteriosa torre e os ataques das criaturas, além da luta pela sobrevivência. A parte mais importante, no entanto, foi sobre o guardião ter dito que Kaelion havia despertado seu Códex da Vida e sobre o desaparecimento misterioso da caverna e da torre. Então, ele perguntou a Darius: “O que é um Códex da Vida? O que está acontecendo?”
Darius passou a mão sobre o mapa, mudando sua imagem, e disse: “Criança, irei lhe contar o que sei sobre este mundo, suas divisões e, especialmente, sobre o Códex da Vida e como utilizá-lo.”