Elarion: A Dominação das Bestas (Novel) - Capitulo 0
Em tempos antigos, muito antes da ascensão dos domadores, Elarion era um mundo dividido entre o reino dos homens e o domínio das criaturas. As terras selvagens, vastas e inexploradas, eram lar de monstros colossais e seres de poder inimaginável. No coração dessas terras, entre montanhas sombrias e florestas impenetráveis, criaturas antigas andavam livres, cada uma carregando em si a essência dos elementos que moldavam o mundo. Fogo, gelo, vento, escuridão e luz competiam pelo controle da criação.
A humanidade, confinada às suas cidades e fortalezas, não ousava cruzar as fronteiras das regiões monstruosas. Havia histórias – lendas contadas ao pé da lareira – sobre domadores ancestrais que uma vez controlaram esses seres imensos, guiando-os em batalhas épicas. Mas essas lendas foram perdidas no tempo, e a humanidade agora via as criaturas como ameaças, e não como possíveis aliadas.
No entanto, a verdadeira força de Elarion sempre esteve nas criaturas, seres de alma pura e poder bruto. E em meio ao caos que ameaçava romper as barreiras do mundo, Kaelion, uma criança nascida das sombras, estava prestes a mudar para sempre o equilíbrio entre homens e monstros.
Os ventos uivavam através das planícies devastadas, onde árvores secas e deformadas se curvavam como se fossem moldadas pela própria força da tempestade que nunca cessava. A Região dos Monstros, como os humanos a chamavam, era um lugar que ninguém ousava atravessar. Diziam que os deuses haviam abandonado aquelas terras, permitindo que as criaturas mais antigas e selvagens reinassem sobre tudo o que restava. Mas em uma pequena caverna, escondida entre penhascos cortados por raios, uma criança soluçava sozinha.
Kaelion mal se lembrava dos rostos de seus pais. Sua memória era uma névoa distante, misturada aos rugidos das feras e ao calor do fogo que consumiu sua aldeia. Ele era apenas um menino quando sua vida fora tragada pela brutalidade das criaturas. Criado pelas mãos da própria escuridão, ele aprendera a sobreviver com os instintos mais básicos, vagando pela fronteira entre o medo e a morte. Mas algo nele era diferente. As criaturas não o devoravam. Elas o cercavam, observando com olhos atentos, como se reconhecessem algo em sua alma que os outros humanos não tinham.
As criaturas o seguiram, protegendo-o das ameaças maiores. Ele não sabia o porquê, mas a cada dia que passava, sentia que havia uma conexão. O silêncio era sua companhia, e o poder que emanava das bestas ao seu redor era tanto intimidador quanto familiar.
Ele se lembrava de uma noite particularmente fria, quando uma enorme serpente alada, com escamas prateadas que brilhavam ao luar, desceu dos céus e pousou diante dele. Os olhos da criatura se encontraram com os seus, e naquele momento, ele sentiu algo despertar dentro de si. Algo profundo, primitivo. Ela não o atacou. Em vez disso, permaneceu imóvel, como se esperasse algo dele.
Foi assim que Kaelion aprendeu a não temer as criaturas, mas a compreendê-las. Elas não eram simplesmente monstros. Eram seres com almas tão complexas quanto as dos homens. E ele sabia, mesmo tão jovem, que algum dia seria capaz de controlá-las.