A Sombra do Criador (Novel) - Capítulo 8
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Capítulo 8: O Abismo
O espaço ao redor de Raven se fechou, e a escuridão tomou conta de tudo. Ele sentia seu corpo sendo esmagado pelo vazio, a pressão aumentando lentamente até que seus ossos começaram a estalar, o som ressoando como o prelúdio de sua destruição iminente.
Era como se a própria realidade estivesse se fechando sobre ele, comprimindo sua existência até o limite.
O frio invadia sua pele como milhares de agulhas finíssimas, perfurando cada camada de carne até penetrar seus ossos, onde se enraizava, transformando-se em uma dor constante e insuportável.
Não havia refúgio da dor, nenhuma fuga da sensação esmagadora que o envolvia. O vazio não era apenas um espaço ausente de matéria, mas um inimigo implacável, consumindo sua essência, sua própria existência. A cada instante, algo dentro dele desaparecia.
Cada segundo arrancava um fragmento de sua identidade, apagando-o da realidade de forma lenta e tortuosa. Ali, o conceito de “existir” parecia irrelevante.
“O que significa existir? O que sou eu agora? Apenas memórias? Sensações? Quando tudo isso desaparecer, o que restará de mim?”
Raven se perguntava, sentindo a fragilidade de sua própria consciência. *Serei apenas uma sombra esquecida no nada?*
O vazio ao seu redor parecia seguir regras próprias, um caos silencioso que apagava Raven de forma imperceptível, mas constante. O tempo se distorcia, esticando cada momento até o ponto em que a própria noção de tempo parecia não existir.
Minutos? Horas? Dias? Não havia diferença. Sua mente, antes afiada e controlada, agora se fragmentava, diluída na vastidão infinita que o engolia.
O arrependimento, misturado ao medo do desconhecido, corroía sua sanidade, cada pensamento sendo despedaçado pela implacável escuridão.
Ali, não havia som. O silêncio absoluto o envolvia, e o pânico começava a se infiltrar em sua mente. A perspectiva de ser apagado da existência — de ser esquecido como se nunca tivesse sido real — era mais aterrorizante do que qualquer dor física.
“De que vale ter tentado tanto?” pensava.
O vazio parecia devorar não apenas seu corpo, mas a própria ideia de quem ele era, seu passado, suas memórias, seu orgulho e sua vingança.
Ele tentava se agarrar aos últimos fragmentos de sua identidade, mas eles escorriam entre seus dedos como areia fina de um vasto deserto.
A pressão esmagadora roubava seus sentidos. Não havia luz para enxergar, som para ouvir, cheiro, sabor ou qualquer coisa que pudesse lhe dar a sensação de que ainda estava vivo.
Sua mente se desfazia, como um castelo de cartas derrubado por uma tempestade. Pensar se tornava um esforço monumental, um desafio que ele não sabia se conseguiria superar.
“Estou desaparecendo… é assim que tudo termina?”
O pensamento emergiu com a força de um último suspiro, ecoando em sua consciência enquanto ele sentia as camadas de si mesmo se dissipando na escuridão.
Quando a sua inexistência parecia certa, uma onda de calor explodiu de dentro de seu corpo. Foi súbito e devastador, como se algo dentro de sua essência se recusasse a ser destruído.
Seu corpo começou a ferver, como se estivesse em chamas, mas não havia fogo visível. Algo incomum estava acontecendo. Cada célula do seu corpo lembrava o processo regenerativo que ele havia treinado e adquirido na Sala Branca, e agora esse conhecimento estava se manifestando de forma instintiva, inconsciente e violenta.
O vazio que tentava apagá-lo encontrou uma resistência inesperada. Suas células, antes à beira da aniquilação, estavam se adaptando, reagindo à ameaça de serem apagadas.
O frio que antes o esmagava foi substituído por um calor feroz que queimava de dentro para fora. A luta entre a aniquilação e a regeneração era tão intensa que quase levou sua mente à beira da loucura.
Ele estava preso entre essas duas forças — uma que desejava apagá-lo e outra que insistia em mantê-lo vivo.
Ele estava sendo destruído, mas seu corpo recusava-se a desistir. Cada pedaço de carne que desaparecia surgia novamente no mesmo instante, numa dança insana entre a vida e a morte.
“Como posso me regenerar se estou sendo apagado?”
Raven não sabia a resposta, mas sentia que essa habilidade oculta, talvez herdada de seu pai, era sua única esperança de sobrevivência. Um dom escondido nas profundezas de seu ser, agora despertado pela situação extrema.
A cada ciclo de regeneração, algo mudava. Não era apenas uma restauração; era uma transformação.
Raven percebia que seu corpo estava se adaptando de uma forma que transcendia a compreensão humana.
Cada célula renascia com uma pequena diferença, uma mudança sutil que o tornava algo novo, algo além do que ele fora antes.
“Eu vou sobreviver… mas o que restará de mim depois disso? Serei ainda humano? Ou estou me tornando algo incompreensível?”
Seu modo de pensar também mudava constantemente. Ele já não era o mesmo Raven que havia sido preso na Sala Branca. Suas memórias estavam intactas, mas seu corpo e mente estavam evoluindo para algo novo, algo que ele ainda não compreendia completamente.
O processo de adaptação era rápido demais, anormal demais. Era como se ele estivesse atravessando eras de evolução em questão de segundos, cada célula vibrando com uma energia desconhecida, adaptando-se ao vazio de uma maneira que desafiava as leis da natureza.
As respostas biológicas que ele conhecia pareciam inadequadas para explicar o que acontecia com ele.
O tempo era uma ilusão ali, distorcido, e Raven estava em uma zona onde as leis naturais não mais se aplicavam.
“Essa habilidade… é adaptação? Isso é ridículo!” pensava ele, enquanto sua mente tentava processar o impossível.
Na biologia, a evolução causada pela adaptação é um processo que leva milênios, uma lenta dança entre a vida e o ambiente. Mas ali, no vazio, as regras foram distorcidas.
O tempo não existia. Era como se Raven estivesse testemunhando eras inteiras de mudanças em poucos segundos, seu corpo reagindo ao ambiente hostil com uma velocidade assustadora.
A habilidade sempre estivera dentro dele, latente, mas nunca se manifestou de forma tão poderosa e rápida.
Agora, cada parte de seu ser estava sendo renovada de uma maneira que ele mal compreendia.
O calor em seu corpo não era apenas uma reação física; era algo primal, algo que fazia parte de sua própria essência.
Ainda que aliviado, Raven estava inquieto. Sua mente fervilhava de perguntas.
“Como eu me movo? Há um limite para essa regeneração? Conseguirei sair daqui? A adaptação tem regras?”
Essas dúvidas eram como farpas em sua mente, impedindo-o de descansar. Ele sentia que algo extraordinário estava acontecendo, algo que transcendeu as fronteiras do que ele entendia sobre si mesmo e o mundo ao seu redor.
Essas dúvidas o incomodavam, mas também despertavam uma curiosidade sombria. Ele sabia que algo extraordinário estava acontecendo, algo que nem mesmo os anjos mais poderosos poderiam prever.
Sua transformação desafiava o senso comum, elevando-o a um patamar além do humano.
Tentando se mover, Raven sentiu a pressão esmagadora do vazio ainda segurando seu corpo. Cada esforço parecia inútil.
A pressão continuava implacável, mantendo-o preso na vastidão que o envolvia. Tudo o que ele podia fazer era esperar que seu corpo se adaptasse novamente ou que algo — ou alguém — o resgatasse daquela vastidão opressiva.
Ele sabia que o próximo movimento seria decisivo, não só para sua sobrevivência, mas para descobrir o que ele realmente estava se tornando.
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Olá a todos, me desculpem pelo atraso no capítulo de terça. Esta semana foi extremamente corrida, estou dormindo cerca de 4 horas por dia e passando o dia inteiro na faculdade, além de grande parte do tempo dentro de um ônibus. Só a ida leva 2 horas, e a volta também, então nem preciso dizer mais nada, né?
Ilustração do “Abismo”