A Sombra do Criador (Novel) - Capítulo 3
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Capítulo 3: O Ciclo da Agonia
A possibilidade de ficar preso ali para sempre assolava a mente de Raven como uma sombra crescente. O desespero ameaçava devorá-lo por completo, e seu coração martelava em um ritmo irregular. O ambiente era tão desprovido de qualquer parâmetro humano de realidade que cada segundo ali parecia um ataque direto à sua sanidade. O espaço não tinha contornos claros, nem uma lógica palpável que ele pudesse compreender; uma prisão que não só confinava seu corpo, mas também sua mente.
Ele sabia que, se não agisse, sucumbiria ao caos. Movido por um impulso primal de sobrevivência, Raven começou a explorar as paredes. Suas mãos se moviam com uma precisão obsessiva, tocando cada centímetro daquele cubo misterioso. Não havia sinais de cansaço físico—o lugar parecia suspender qualquer necessidade básica—mas sua mente era um campo de batalha, cada pensamento uma faca perfurando sua lucidez.
À medida que suas mãos deslizavam pelas superfícies lisas e impenetráveis, pensamentos negros se enraizavam em sua mente. A perspectiva de nunca encontrar uma saída o levou a intensificar sua busca, mas depois de incontáveis horas, seus esforços se mostraram inúteis. Nenhuma rachadura, nenhum indício de que aquilo era algo além de um pesadelo sem fim.
Exausto, embora seu corpo não sentisse isso, ele afundou no chão, abraçado pelo vazio. Com os olhos fixos nas mãos, ele notou algo perturbador: as marcas que havia deixado nelas, arranhando-se por frustração, haviam desaparecido sem deixar vestígios.
— Meu corpo está se regenerando… mais rápido do que o normal — ele murmurou, intrigado. Essa revelação despertou uma curiosidade doentia.
Tomado pela necessidade de testar os limites daquela regeneração acelerada, Raven fez algo impensável. Sem hesitar, mordeu seu próprio braço, rasgando carne e pele. A dor foi intensa, como uma lâmina cortando diretamente seu nervo, e ele gritou:
— Aaah, porra! — sua voz reverberou no espaço vazio, distorcida pelo eco.
Com o braço latejando, ele pressionou a ferida, observando o sangue escorrer lentamente. Contando os segundos, queria saber quanto tempo levaria para seu corpo se curar dessa vez. Quando completou 3.600 segundos, ou uma hora, o ferimento estava completamente fechado. Apenas uma cicatriz fina marcava o que antes havia sido uma ferida aberta.
— Uma hora… — disse ele, com uma risada perturbada que não continha nenhum traço de alegria. A loucura parecia apenas uma questão de tempo.
A estranheza do lugar desafiava qualquer compreensão que ele pudesse ter. Seus pensamentos corriam em círculos, e o medo, agora uma constante, alimentava-se de suas incertezas. Ele se encostou na parede, o olhar vazio, e sussurrou para si mesmo:
— Eu vou sair daqui… certo?
O tempo passou, ou pelo menos o que Raven acreditava ser tempo. A ausência de fome, sede ou sono o desconcertava. Ele perdeu a noção dos dias, mas estimava que já estava ali há cerca de três dias. Sem ter para onde correr, começou a testar os limites de seu corpo de forma mais agressiva. A automutilação, antes uma curiosidade mórbida, tornou-se um ritual. A cada novo corte, seu corpo se regenerava, mais forte, mais resistente.
“E se eu usar isso para me fortalecer?”
Sempre fascinado pela ideia de poder, Raven decidiu transformar aquele espaço de tormento em sua academia pessoal. Começou a fazer exercícios: flexões, abdominais, agachamentos. Inicialmente, seu corpo cedia rapidamente à exaustão, mas em questão de segundos, ele se recuperava e voltava a treinar. No final do primeiro ciclo, ele havia completado 100 repetições de cada exercício. O ciclo se repetiu incessantemente, dia após dia.
Ao sexto dia, Raven era um homem transformado. Seus músculos estavam mais definidos, e ele sentia sua força crescendo exponencialmente, mas sua mente… essa estava afundando em um abismo. Vozes sussurravam em sua mente, vultos dançavam nas sombras inexistentes, e a luz constante da sala parecia penetrar em seu cérebro, desintegrando sua sanidade a cada minuto.
A regeneração, embora poderosa, não curava a tortura mental. Cada segundo ali ampliava sua angústia, cada vez mais insuportável. Raven, agora com os olhos fechados para evitar a luz incômoda, encostava-se na parede, sussurrando palavras sem sentido:
— Céu… luz… mãe… sangue…
Sua mente era um vazio, mas algo diferente aconteceu. Um sussurro, tão baixo quanto uma brisa, chegou a seus ouvidos:
— Filho, olhe para mamãe.
A voz doce e familiar perfurou o véu de sua loucura, trazendo uma nova forma de dor.
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Nota do autor:
Este capítulo foi um dos mais intensos e difíceis de escrever, mas estou satisfeito com o resultado. Espero que vocês, leitores, sintam a tensão e a transformação de Raven neste ciclo de agonia. Mal posso esperar para ouvir seus pensamentos e te
orias nos comentários.
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