A Sombra do Criador (Novel) - Capítulo 21: Inimigos?
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capítulo 21: inimigos?
Enquanto Raven caminhava pela floresta, seus sentidos estavam em alerta máximo. Ele não permitia que a mudança de cenário o distraísse, mas não pôde deixar de notar como a vegetação à sua volta havia mudado. As árvores ao redor eram mais finas e imponentes, parecendo alcançar as alturas do céu, mas o que realmente chamava sua atenção era o musgo que cobria os troncos e o chão em uma coloração esverdeada, quase brilhante, e as plantas ao redor que emitiam uma luz suave, como pequenas lâmpadas naturais que iluminavam o caminho. O contraste com a floresta anterior era claro: ali, o sol parecia não existir.
A estranheza do ambiente o deixou ainda mais desconfiado. “Por que está tão escuro aqui? Não vi sinais de dia ou noite desde que entrei nessa parte da floresta…” Pensou, com a sensação crescente de estar em um território desconhecido e potencialmente perigoso. Raven sabia que qualquer deslize poderia custar sua vida. Mesmo sem conhecer o terreno, ele mantinha uma distância calculada de dois metros dos elfos à frente, o suficiente para reagir a qualquer ataque súbito, mas não tão distante a ponto de parecer desconfiado.
“Essas plantas iluminadas… será que têm alguma função além de meramente brilhar?”, ele se perguntava. Raven sempre esteve atento aos detalhes, e algo sobre aquelas luzes o incomodava. Ele não conseguia decidir se era uma armadilha disfarçada ou apenas parte do ambiente natural do lugar, mas em todo caso, não deixaria de observar.
Os elfos, por outro lado, pareciam bastante à vontade. Caminhavam com passos confiantes e rápidos, como se soubessem exatamente onde estavam indo, o que reforçava as suspeitas de Raven. “Se eles quisessem me atrair para uma emboscada, esse seria o lugar perfeito…”, ele refletia, suas mãos quase formigando com a ansiedade de estarem preparadas para agir em um piscar de olhos.
Enquanto os sons suaves da floresta envolviam seus pensamentos, Raven sentia algo além da natureza — uma presença, quase imperceptível, que o observava nas sombras das árvores. Mas ele não podia dizer se era fruto de sua paranoia ou se, de fato, estavam sendo seguidos.
Ainda assim, ele seguiu em silêncio, sem dar nenhum sinal de sua crescente inquietação. Mantinha-se pronto, os músculos relaxados, mas a mente afiada como uma lâmina prestes a ser sacada. “Eles que tentem algo…”, pensou ele, com um sorriso frio escondido em sua expressão controlada.
Eles seguiram por mais alguns minutos, e a presença persistia, movendo-se nas sombras atrás deles. Raven, com a mente sempre afiada, ponderou sobre as possibilidades. “Será que é um batedor do império humano?” A ideia de estar levando uma ameaça ao lar dos elfos o incomodava. Ele não tinha afeição por eles, mas também não desejava ser o causador de um ataque iminente.
Sem desviar o olhar do caminho à frente, Raven falou em um tom calmo e controlado:
— “Não sei se vocês perceberam, mas estamos sendo seguidos. Continuem andando normalmente, sem demonstrar nada. Não quero que ele perceba que o notamos.”
A tensão momentânea foi evidente. Elric, que carregava Thalion sobre o ombro, parou brevemente, mas logo voltou a caminhar. A voz dele, ainda que baixa, estava carregada de nervosismo:
— “Eu… não tinha percebido… Como eles escaparam dos meus sentidos?”
Por outro lado, Lytharia não demonstrou reação alguma. Ela continuou andando com a mesma calma de antes, sem qualquer mudança em sua postura. Isso surpreendeu Raven. “Interessante…”, ele pensou, observando a frieza da elfa. “Ela definitivamente é a mais forte dos três. A forma como controla suas emoções é notável.”
Raven começou a reconsiderar suas próximas ações. “Se isso realmente for um batedor humano, poderia ser uma oportunidade de descobrir mais sobre este império que eles mencionaram…”, ele ponderava, enquanto mantinha os sentidos apurados para qualquer movimento repentino atrás deles.
A floresta parecia quase mágica, envolta em um brilho suave das plantas que emanavam luz própria, como se estivessem conspirando junto à natureza para ocultar os segredos que ali se desenrolavam. O ar denso carregava uma tensão crescente, e a presença desconhecida que os seguia se tornava mais iminente.
Lytharia, que até então permanecera quieta e concentrada, se aproximou de Raven e sussurrou:
— “Você acha que consegue capturá-lo? Eu tenho um plano.”
Raven ponderou por um breve momento, avaliando o estado de sua mana, que havia se recuperado levemente durante a caminhada. Seu corpo ainda não estava no máximo, mas ele sentia que poderia ser o suficiente.
— “Acredito que sim,” respondeu Raven com um leve sorriso no rosto. “Mas estou com pouca mana. Não estou completamente recuperado.”
Lytharia assentiu, seus olhos brilhando com uma mistura de confiança e determinação.
— “Isso será o suficiente,” disse ela calmamente. “Vou criar uma ilusão residual de nós dois. Vai parecer que ainda estamos caminhando normalmente, enquanto, na verdade, não estaremos mais aqui.”
Raven, admirando o controle que ela demonstrava sobre a magia, sorriu de canto.
— “Certo. Vamos nessa.”
A floresta parecia mais viva do que nunca, enquanto as palavras de Lytharia flutuavam pelo ar, repletas de um poder antigo e quase tangível. Raven, atento ao ambiente e à sua própria mana limitada, esperava o momento certo para agir. Lytharia começou a murmurar suavemente, e Raven, graças às runas de tradução, pôde compreender cada palavra daquele cântico ancestral.
— “Ó espíritos da floresta, criai um véu de sombras e luz, onde minha presença e a dele permaneçam invisíveis, como o eco de passos que jamais foram dados.”
À medida que Lytharia entoava o cântico, Raven sentiu a energia ao redor se moldar, como se a própria floresta conspirasse para criar aquela ilusão. “Ela realmente tem um controle impressionante sobre a magia da natureza…”, pensou ele, admirado com a suavidade e a precisão do feitiço.
A ilusão estava pronta. De onde estavam, parecia que Raven e Lytharia continuavam a caminhar normalmente, sem levantar suspeitas. Mas, na realidade, Raven se preparava para agir. Ele parou de caminhar, diminuindo a respiração, fundindo-se com o ambiente de maneira quase imperceptível.
— “Agora,” Lytharia sussurrou, mantendo os olhos à frente, “vá e capture o que nos persegue. Deixe o resto comigo.”
Enquanto Raven avançava em direção à presença que os seguia, sua mente estava alerta, sabendo que o sucesso do plano de Lytharia era crucial. Se falhasse, seriam expostos, e o resultado poderia ser desastroso. Ao se aproximar, notou que a presença pertencia a um único homem, aproximadamente na casa dos 40 anos, com cicatrizes no rosto e uma aparência desgastada, mas forte. Sua roupa, embora suja, carregava um símbolo de família nobre, o que chamou a atenção de Raven.
Raven, em silêncio, subiu em uma árvore com um único salto, suas runas escondendo sua presença enquanto ele avançava ágil como um predador. Observando o homem de uma posição vantajosa, ele percebeu um bordão pendurado em suas costas e concluiu que o homem provavelmente era um mago, já que não portava nenhuma arma visível. “Ele é um mago,” pensou Raven, “mas não parece estar preparado para o que estou prestes a fazer.”
Porém, um estalo quebrou o silêncio. Um descuido. Raven pisou em falso, e o som da madeira se partindo ecoou pela floresta. O mago, reagindo rapidamente, se virou e, em uma fração de segundos, lançou uma gigantesca bola de fogo na direção de Raven. A esfera flamejante, do tamanho do corpo de Raven, rugia enquanto atravessava o ar.
Instintivamente, Raven saltou para trás, entrando em queda livre enquanto a bola de fogo passava sobre sua cabeça e colidia com uma árvore atrás dele, gerando um impacto ensurdecedor. As chamas começaram a consumir a árvore, espalhando uma fumaça densa pela floresta.
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Não muito longe dali, Lytharia e Elric ouviram o estrondo e o som das chamas rasgando a tranquilidade da floresta. Eles se viraram rapidamente em direção à fumaça que agora se erguia.
— “Será que ele está bem?” murmurou Lytharia, desativando a magia de ilusão. Sua expressão estava tomada pela culpa. “É minha culpa, ele não deveria se machucar por nossa causa.”
Elric suspirou profundamente, seu olhar fixo na direção do som.
— “Ele é forte, Lytharia. Mas vá lá, ajude-o se necessário, mesmo que isso signifique arriscar a própria vida.”
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Enquanto caía, Raven, com reflexos afiados, agarrou um cipó pendurado entre os troncos. “Huff,” suspirou, aliviado por evitar o impacto direto com o solo. Ele balançou suavemente antes de soltar o cipó e aterrissar no chão com suavidade. “Não quero cair no chão de novo hoje,” murmurou para si mesmo.
O homem estava a poucos metros de distância, se escondendo atrás de uma árvore, seus olhos ainda fixos no local onde a bola de fogo havia sido disparada. Raven, sentindo a adrenalina subir, sorriu com um ar de diversão sombria.
— “Isso está ficando interessante,” ele murmurou para si mesmo, erguendo a voz logo em seguida. “Vamos brincar com fogo, então.”
O homem, que antes observava o impacto de sua magia, baixou o olhar em direção a voz, e viu Raven de pé, completamente ileso. Surpreso, ele reagiu rapidamente, levantando a mão e conjurando, em uma fração de segundos, dezenas de bolas de fogo que cortavam o ar com um brilho intenso, rumando em alta velocidade na direção de Raven.
Raven, ao invés de recuar, avançou. Seus reflexos eram aguçados e seu corpo se movia com precisão quase sobre-humana. A primeira bola de fogo passou tão perto que ele sentiu o calor no rosto, mas desviou no último momento. Saltando para o tronco de uma árvore próxima, ele bateu os pés contra ela, usando o impulso para se lançar lateralmente, desviando de mais duas bolas que explodiram no ar atrás dele.
Sem parar, Raven correu para a direita, usando as árvores como proteção enquanto se aproximava do mago. Suas mãos já estavam cerradas em punhos quando ele ativou a runa de força, sentindo o poder fluir por seus braços. Ele não tinha tempo a perder—cada segundo era vital. Com um soco potente, atingiu uma árvore fina que estava diretamente em sua frente. O impacto foi devastador, partindo a árvore ao meio. Com a árvore caída, Raven, sem hesitar, ergueu o tronco e, com toda a força amplificada pela runa, arremessou-o como uma lança na direção do mago.
O tronco cortou o ar, girando violentamente. O mago, ao perceber a movimentação, tentou conjurar um escudo de fogo, mas não foi rápido o suficiente. O tronco atingiu seu corpo com força brutal, derrubando-o no chão com um estrondo surdo. A aura mágica que o cercava se dissipou momentaneamente enquanto ele tentava se levantar, visivelmente atordoado com o impacto.
Antes que o mago de fogo se levantasse, Raven sentiu o calor de uma flecha passando de raspão por sua orelha, o corte causando uma dor aguda. Ele mal teve tempo de reagir antes de ver uma fileira de homens armados emergindo da floresta. Suas armaduras de ferro brilhavam sob a luz que atravessava as árvores, espadas longas em mãos, enquanto arqueiros já preparavam novas flechas e magos com cajados estavam prontos para conjurar mais feitiços. A situação tornava-se cada vez mais caótica.
Ele respirou fundo, analisando rapidamente a situação. “Se eu avançar para acabar com o homem que derrubei, posso ser cercado e capturado. Mas se recuar agora, perco qualquer chance de descobrir quem ele era ou o que estava fazendo aqui… Sem falar que, se esses soldados estão aqui, o assentamento élfico também corre perigo.”
Antes que pudesse chegar a uma decisão, o homem ferido à sua frente conseguiu se levantar novamente, erguendo a mão para lançar mais uma magia. Mas, num instante, um som cortante ecoou pela floresta. Uma adaga atravessou o ar e cravou-se diretamente no olho do mago. Que caiu no chão, morto instantaneamente, sem sequer ter tempo de reagir.
Raven se virou em direção ao som e viu Lytharia acenando para ele, seus olhos dizendo tudo: “Fuja!”
Sem hesitar, ele tomou uma decisão. Não era o momento para tentar enfrentá-los todos de uma vez, especialmente sem informações suficientes. As flechas já começavam a chover em sua direção. Usando a cobertura das árvores e sua velocidade aumentada pela runa de agilidade, Raven se lançou em uma corrida frenética para escapar, desviando habilmente de cada ataque.
Enquanto fugia, sua mente trabalhava em ritmo acelerado. “Por que esses humanos estavam seguindo os elfos? E quem era aquele homem com o símbolo de uma família nobre? Se eles estão aqui, isso significa que o império já está ciente do assentamento élfico… Isso não pode ser coincidência.”
Ao correr pela densa floresta, ele sabia que tinha
que ir à aldeia o mais rápido possível, avisar os elfos de lá. O perigo era maior do que haviam imaginado.