A Sombra do Criador (Novel) - Capítulo 2
Capítulo 2: O despertar de Raven
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Após jogar o corpo inconsciente de Raven dentro da sala, Ismael se retirou, estalando os dedos enquanto abria um sorriso de êxtase. Com o estalar dos dedos, a porta da sala onde Raven estava preso desapareceu misteriosamente.
Dentro da sala, as mãos de Raven começaram a se mover lentamente, até que seus olhos se abriram. Ao perceber que estava deitado e acorrentado pelos pulsos, ele rapidamente se levantou, ficando de pé. Estava em um estado de extrema confusão; seus punhos estavam acorrentados, mas não por correntes normais — eram transparentes e emitiam uma luz branca etérea. Raven olhou ao redor, sem conseguir processar o que estava diante de seus olhos. O ambiente parecia infinito; não havia chão visível, nem paredes discerníveis, embora ele conseguisse sentir ambos ao toque.
Enquanto explorava o espaço, ele se perguntou:
— Estou sonhando?
Foi quando notou que a sala, na verdade, era um cubo perfeito de 4m², sem nenhuma porta ou saída aparente. Sua cabeça doía, especialmente na nuca, onde ele sentia uma dor aguda, como se tivesse recebido um golpe. De repente, ele olhou para suas mãos e percebeu que estavam manchadas de sangue seco.
Raven começou a entrar em pânico, tentando entender de onde vinha o sangue, e sua mente voltou-se imediatamente para sua mãe.
— Isso deve ser um sonho, não é? — ele gritava, repetidamente. — MÃE, VOCÊ ESTÁ AÍ?
Seus gritos ecoaram por vários minutos, mas, ao perceber que estava sozinho, ele parou. Quando a adrenalina começou a baixar, seu corpo começou a suar frio, e o pânico o dominou novamente. Aquele ambiente fugia totalmente ao conceito de realidade que ele conhecia.
Desesperado para se acordar, ele mordeu seus próprios lábios com força até que começaram a sangrar. A dor o trouxe de volta à realidade; tudo aquilo era real, por mais ilógico que parecesse. Ele olhou novamente para suas mãos e viu marcas de unhas cravadas em suas palmas. De repente, uma enxurrada de memórias inundou sua mente.
Ao relembrar o que havia acontecido, sua expressão mudou para uma mistura de pânico, melancolia e luto. Raven não sabia como reagir, incapaz de assimilar o que havia acontecido com ele e sua mãe.
— Estou ficando louco? — ele perguntou, olhando novamente para o ambiente ao seu redor.
Raven respirou fundo, e lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Naquele momento, ele aceitou a verdade inquestionável: sua mãe havia sido assassinada. A tristeza profunda tomou conta de seu coração, e ele não conseguia sentir ódio, apenas dor. Ele se agachou, sentando-se no chão, encostando a cabeça na parede atrás de si. Soluçando alto, suas lágrimas ecoaram pela sala.
Enquanto chorava, Raven relaxou seu corpo e deitou-se no chão, com as mãos cobrindo o rosto. Ficou imóvel por várias horas, tentando entender tudo o que havia acontecido. Ele relembrou os últimos momentos com sua mãe e, ao fazê-lo, percebeu o quanto ela se preocupava com ele. Nas últimas palavras dela, havia uma imensa preocupação pelo bem-estar do filho, mais do que pela própria vida. Ela sabia que morreria, mas não pensava em nada além do filho que deixava para trás.
Essa compreensão trouxe um sentimento profundo de culpa. As lágrimas de Raven continuaram a cair, e seu rosto demonstrava uma dor imensa, não física, mas emocional. Ele se culpava por não ter percebido o quanto sua mãe o amava e por não ter dado o devido valor a ela em tantos momentos. Mas agora era tarde demais para arrependimentos.
A mente de Raven estava em caos, mas ele não conseguia demonstrar isso. Voltar aos acontecimentos recentes o levou a questionar por que sua mãe foi assassinada e não ele.
Levantando-se do chão, com ódio em seus olhos, Raven começou a bater nas paredes com força, gritando intensamente:
— Você está ai, seu desgraçado?! Por que matou minha mãe? Por que fez isso?! Não era a mim que você queria?!
Mas nada aconteceu. Nenhum som, além de sua própria respiração e do eco de sua voz, podia ser ouvido naquela sala.
Ele desistiu de obter respostas de terceiros, pois parecia não haver ninguém por perto. O ódio começou a dissipar-se, dando lugar a um rosto sério. Raven lembrou-se do profundo amor e preocupação que sua mãe tinha por ele e decidiu que não jogaria fora a vida que ela lhe deu. Então, ele se agachou novamente e disse:
— Mãe, perdoe seu filho por não ter chegado a tempo em casa. — Enquanto falava, seu rosto alternava entre expressões de tristeza profunda e ódio extremo. — Mãe, eu prometo valorizar a vida que você me deu. Então, por favor, descanse em paz e não se preocupe comigo. E, apesar de saber que você não vai gostar do caminho que vou seguir, não se sinta culpada. A culpa não é sua. Eu te amo, mãe. Desculpe por não ter dito isso nos últimos dias.
Seus olhos inchados e marejados transbordavam de lágrimas. Raven sentia que aquelas palavras de alguma forma alcançariam sua mãe. Ele se levantou e fez outra promessa, dessa vez para si mesmo. Seu rosto estava extremamente sério, e, mesmo com os olhos inchados de tanto chorar, qualquer um que os olhasse poderia sentir o ressentimento que emanava daquele jovem.
Ele se levantou novamente, olhou para o teto da sala, apontou para cima e começou a falar, com raiva:
— Juro sobre o sangue de minha mãe que a vingança será minha única resposta a todos vocês que estejam envolvidos. Não haverá perdão, não haverá piedade. Cada suspiro que vocês tomaram de mim, eu arrancarei de volta com força dez vezes maior. Eu me levantarei das cinzas quantas vezes for necessário, alimentado pelo ódio que me consome, e esmagarei tudo o que vocês amam. Não haverá descanso enquanto vocês existirem, pois minha fúria não conhece limites e minha vingança não conhece fronteiras. Eu serei a sombra que espreita nos seus pesadelos, o fogo que consome suas esperanças, a lâmina que atravessa seus corações. E quando a última gota de sua miséria for derramada, quando seus nomes forem esquecidos e suas memórias apagadas, só então encontrarei paz. Pois não descansarei até que tudo esteja resolvido. Eu sou o apocalipse que vocês invocaram, e sua destruição será minha glória.
Naquele momento, todo o calabouço onde a sala branca estava localizada tremeu.
Raven respirou fundo e começou a pensar em como sair daquele lugar. Ele nem sequer cogitava conseguir sua vingança rapidamente, então fechou os olhos e começou a refletir sobre a situação ao seu redor, reunindo informações sobre o local. Ele disse a si mesmo:
— Primeiro, este lugar dá a impressão de ser infinito, mas é, de fato, um cubo. As paredes e o chão são extremamente brancos e emitem uma luz tão forte que até olhar para elas incomoda. Não parece haver nenhum tipo de porta ou saída.
Coçando a cabeça com ambas as mãos algemadas, ele relembrou quem o jogou ali dentro, cravando as unhas nas palmas das mãos, e pensou:
— Aquele anjo maldito provavelmente virá aqui.
Apesar do misto de emoções, Raven começou a planejar uma maneira de escapar daquela sala quando o anjo de alguma forma entrasse. Ele sabia que, se tentasse enfrentar aquele ser, seria esmagado unilateralmente, sem qualquer chance de revidar. Embora sua mente estivesse completamente devastada, ele ainda se mantinha racional e lógico.
Raven passou horas tentando formular um plano, mas não conseguia pensar em nada. Permaneceu sentado, mantendo-se acordado por várias horas. De repente, percebeu que, com base no estado de suas mãos, já haviam se passado pelo menos 14 horas desde que ele estava ali, e, curiosamente, ele não sentia fome, sede ou sono. Movido por sua curiosidade, tentou dormir, mas, após horas de tentativas, não conseguiu.
Ele então mordeu o dedo, escrevendo o número “1” na parede com seu próprio sangue, mas o líquido evapora instantaneamente. Raven percebeu que aquele lugar era totalmente anormal e murmurou:
— Essa sala tem algum tipo de magia? Aqui não sinto fome, sede, nem sono… Qual é o objetivo de me manter preso aqui?
De repente, ele pensou na possibilidade de que o anjo nunca voltasse e ele
ficasse preso ali eternamente.
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